quinta-feira, 29 de julho de 2010

COISAS QUE AFETAM NOSSO COTIDIANO

Existem muitas "coisas" que afetam nossa vida cotidiana. Porém, nada pior do que aquelas que nos acontecem nas horas mais inoportunas. Para muitos, entre os quais "eu", tornaram-se regras, ou melhor, leis. E leis comprovadas. Uma das mais comuns é aquela que determina: no café da manhã, a torrada ou a fatia de pão cairá no chão com o lado da manteiga virado para baixo. Pode parecer estranho, mas alguns estudiosos do assunto recomendam que quando a torrada estiver caindo, o melhor a fazer é dar-lhe uma tapa na horizontal. Isso vai aumentar a sua velocidade e impedi-la de virar. Não salva a torrada, mas evita ter de limpar a manteiga no chão. É..., mas... eles não pensaram que uma tapa bem dada pode, em vez de impedi-la de virar, fazê-la voar até a parede mais próxima e, certamente, lá ficar grudada. Em 1993, a rede de televisão BBC reuniu 300 pessoas para jogar torradas para cima e observar como caíam no chão. Calcule o resultado.
Outra das comuns é aquela de que o telefone só tocará quando você estiver prazerosamente acomodado(a) no vaso sanitário, a ler sua revista ou jornal preferido. Ou então, de que a campainha da porta só tocará quando você estiver sozinho(a) em casa e iniciando um delicioso banho de chuveiro.
Reuni algumas das leis que fazem parte do meu cotidiano e, com toda certeza, algumas ou todas, também policiam seu cotidiano. Nesse caso, teremos, pelo menos, algo em comum. Vamos a elas:
01 – Se você sabe que em seu projeto alguma coisa pode dar errado e toma todo o cuidado para que não dê, outra coisa, nele, dará errado.
02 – Quando você precisa anotar algo que te ditam pelo telefone, se tem caneta, não tem papel. Se tiver papel, não tem caneta. Mas se está com ambos, ninguém te liga.
03 — Quando você "tecla" um número de telefone enganado, ele nunca "dá" ocupado.
04 — Aquele único arquivo que se esqueceu de passar pelo antivírus, fatalmente, estará contaminado com o pior dos vírus.
05— A fila ao lado da sua é a que sempre anda mais rápida. E se você muda de fila, a que você estava, passa a andar mais rápida.
06 — Toda a partícula que voa, encontrará, sempre, seus olhos abertos.
07 — Quando você precisa colocar no corte um esparadrapo, ou ele não gruda, ou se gruda, depois não sai.
08 — Tudo o que vamos fazer dura mais tempo do que o tempo que temos disponível.
09 — Na hora de fechar ou abrir a porta, a chave correta é uma das últimas do chaveiro.
10 — O objeto mais inanimado de sua casa tem movimento suficiente para ficar na sua frente e provocar uma canelada.
11 — Entregas de caminhão que normalmente levam um dia levarão cinco quando você depender da entrega.
12 — Quando o texto sai mal feito qualquer tentativa de melhorá-lo piora.
13 — Sejam quais forem os seus comentários, haverá sempre alguém para interpretá-lo mal.
Concorda comigo? Pois então. ®Sérgio.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

TESTE PARA LEITOR VICIADO

No início desta semana, passava, distraidamente, frente a uma livraria, quando, de repente, notei que meus olhos se espichavam para sua vitrine, voltei-me para ela e lá estava o que meus olhos tinham visto, de relance: um belo livro, em primeiro plano, estrategicamente colocado e iluminado. 
Aproximei-me e a adrenalina, a serotonina, e outras ninas dispararam; tudo porque nele estava escrito: Gênio – Os Cem Autores Mais Criativos da História da Literatura, por Harold Bloom (um gigante entre os críticos literários). Um exame cuidadoso de trechos inspirados de diversos autores. Respirei fundo; aquela obra era um excelente teste para um leitor viciado e cardíaco como eu. Passei no cardíaco e reprovei no viciado. Não houve alternativa, meus pés já se encaminhavam para o interior da loja, mesmo antes de decidir-me. Entrei confiante, resoluto e num lance de incrível rapidez, como obreiro em porta de templo, três atendentes já disputavam o conteúdo de minha carteira. O mais rápido foi logo perguntando:
 — Deseja alguma coisa senhor!
 Estufei o peito e lhe respondi com eloquência:
 — O livro da vitrine!
 O atendente, agora vendedor, levou-me até um balcão onde havia uma pilha do livro, uns sobre os outros, idênticos ao exposto na vitrine. Mal me encostei ao balcão, veio aquele blá, blá, blá, decorado de vendedor treinado. Falou da qualidade das folhas, das fotografias, das gravuras, etc., etc., etc. Finalmente o preço: 110 reais pelas oitocentas e vinte e oito páginas de pura erudição. Desta vez o que disparou foi minha pressão, dois testes para leitor viciado cardíaco em questão de minutos, é coisa que nem Super-Homem resistiria. O vendedor, notando que de repente fiquei mais branco que lençol lavado com OMO, procurou amenizar me propondo pagá-lo em três vezes, no cheque ou cartão, com um pequeno juro de 10 reais. O livro custaria, então, 120 reais e, gratuito, um marcador de páginas com a publicidade da livraria. Gostaria de ter reprovado no teste de leitor viciado, mas viciado é viciado e lá se foi meu cenzinho. Sem olhar para os lados, saí da loja; já pensou se vejo outro livro interessante.
 Baixas vendas preocupam os livreiros e, etcetra. E altos preços a nós leitores viciados.
Viva o sebo; e, salve-se quem puder! ®Sérgio.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

A ARTE E O ARTISTA - Seleta de Pensamentos

"Na arte, a inspiração tem um toque de magia, porque é uma coisa absoluta, inexplicável. Não creio que venha de fora pra dentro, de forças sobrenaturais. Suponho que emerge do mais profundo eu da pessoa, do inconsciente individual, coletivo e cósmico." (Clarice Lispector)
"As demais pessoas estão por vezes famintas, mas a alma de um artista está eternamente sedenta." (E. Geibel)
"O trabalho de cada homem, seja na literatura, música, pintura, arquitetura, ou qualquer outra arte, é sempre um retrato dele mesmo." (Samuel Butler)
"Pobre do país cujo governo despreza, hostiliza e fere seus artistas." (Fernanda Montenegro)
"A arte é uma mentira que revela a verdade." (Pablo Picasso)
"O artista, se está sujeito à censura, não está sujeito ao silêncio." (Pedro Lyra)
"Todos os artistas, os verdadeiros artistas, abominam a sujeição e adoram a independência." (Honoré de Balzac)

terça-feira, 20 de julho de 2010

UMA SITUAÇÃO DE SUSPENSE

Há muitos sites de humor onde podemos encontrar as já conhecidas pérolas de vestibular, de redação, ou de provas secundaristas. O Jô Soares é um incansável propagador delas. Volta e meia, as repassa em seu programa.
Fui professor durante trinta e dois anos, e nesse período apliquei milhares de provas e cobrei inúmeras redações. Nesse sentido, trabalhei com alunos das mais diversificadas classes sociais. Raríssimas vezes deparei-me com respostas tão absurdas como algumas dessas das pérolas. Portanto, não tenho dificuldade em lhes afirmar que são frutos da imaginação dos coletores de pérolas. A pergunta é convenientemente feita, de modo, a resultar numa resposta que provoque risos. No entanto, outras têm fundamentação lógica, como por exemplo, essa feita em um concurso:
“Comente a frase de Sócrates: conhece-te a ti mesmo”. Resposta da aluna: “Acho uma frase muito profunda, tão profunda que nem consigo captar seu real significado. Mas acho que Sócrates estava certo quando disse a frase, pois sendo um sábio não teria dito besteira. Assim, mesmo que eu nada entenda do que ele disse, tenho certeza que a frase tem um grande significado em todos os aspectos em que for analisada".
Tem essa outra: "Onde ficam as brânquias do camarão"? Resposta do aluno: "No corpo dele".
O raro, que mencionei na entrada do texto, foi quando me deparei com uma resposta curiosa, inusitada, mas longe de ser absurda. Trabalhavam, os alunos, na construção de parágrafos narrativos; então, lhes pedi que imaginassem e escrevessem um parágrafo contendo uma situação de suspense; de maneira, que levasse o leitor a querer saber o que viria a seguir.
Não se passaram cinco minutos, e um dos alunos entrega-me sua folha. Fiquei impressionado com seu poder de imaginação. Curioso, ali mesmo, dei uma olhada no parágrafo dele. Dizia: Socorro!
Salve-se quem puder! ®Sérgio.

sábado, 17 de julho de 2010

QUESTÃO DE PONTUAÇÃO - Seleta de Poemas

Seleta de Poemas representa as poesias que li e me emocionaram ou me agradaram no conteúdo. Assim, posso compartilhar com vocês as minhas preferências poéticas e homenagear os autores que admiro.
QUESTÃO DE PONTUAÇÃO
Todo mundo aceita que ao homem
Cabe pontuar a própria vida:
Que viva em ponto de exclamação
(dizem: tem alma dionisíaca):
Viva em ponto de interrogação
(foi filosofia, ora é poesia)
Viva equilibrando-se entre vírgula
E sem pontuação (na política)
O homem só não aceita do homem
Que use a só pontuação fatal:
Que use, na frase que ele vive
O inevitável ponto-final.
João Cabral de Melo Neto (1920-1999), poeta e diplomata brasileiro.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

O CASAMENTO DA FILHA DA ONÇA - Recontando Contos Populares

Foi uma vez, por esses cafundós do sertão, uma onça que tinha uma filha. O lagarto, conhecido por teiú, queria casar com ela e seu amigo cágado também. Sabendo da pretensão do amigo, o cágado, atreito a ciumeira, disse em casa da onça que o teiú para nada valia e que era seu cavalo. O teiú, logo que soube disso, foi à casa da comadre onça e assegurou que ia buscar o cágado para ali e dar-lhe muita pancada à vista de todos e partiu.
O cágado cuidava de sua horta quando avistou, de longe, o compadre teiú. De pronto, correu para dentro da casa e amarrou um lenço na cabeça, fingindo que estava doente. O teiú acercou-se da porta e convidou o cágado para darem um passeio na casa da comadre onça. O cágado arrumou muitas desculpas dizendo que estava doente e que não podia sair de pé naquele dia. O teiú, porém, teimou que teimou. Então o cágado disse:
— Bem... só se você me levar montado nas costas.
— Está bem. Faremos como quer, respondeu o teiú, mas há de ser até longe da porta da comadre onça.
— Tá certo, mas você há de me deixar botar minha selinha, pois não sabe que assim na pele é muito ruim.
O teiú pensou, repensou, e disse:
— Não, que eu não sou seu cavalo!
— Não é por ser meu cavalo, compadre teiú, é por ser muito dolorido.
Afinal o teiú consentiu.
— Agora, disse o cágado, me deixa botar o conjunto de freio.
Novo barulho do teiú e novos pedidos de desculpa do cágado, até que conseguiu pôr todo o conjunto de freio no teiú e munir-se da correia de couro, esporas etc... Partiram. Depois de caminharem algum tempo e chegaram a um lugar perto da casa da onça, o teiú pediu ao cágado que descesse e tirasse os arreios, pois era muito feio para ele servindo de cavalo.
— Eh, compadre! - disse o cágado - Tenha paciência, caminhemos mais um bocadinho, pois estou muito doente e não consigo chegar a pé!
E assim, o cágado foi ganhando o teiú até a porta da casa da onça, onde ele meteu-lhe a correia e as esporas pra valer. Então gritou para dentro da casa:
— Olha, eu não disse que o teiú era o meu cavalo? Venham ver!
Houve muita risada e o cágado, vitorioso, disse à filha da onça:
— Ande moça, monte-se na minha garupa e vamos casar. ®Sérgio.
Eh, mundão! Quem me mata é Deus, quem me come é o chão!...
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Advertência: Em muitas passagens deste conto, uso grafia própria, divergente em muitos pontos da ortografia oficial.
Nota sobre o texto: Esse é um causo com inúmeras variantes em diversos Estados. Lindolfo Gomes, em Contos Populares Brasileiros, já o havia registrado em 1931.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

O SUPREMO CASTIGO

Em todos os aeródromos, em todos os estádios, no ponto principal de todas as metrópoles, existe – e quem é que não viu? – aquele cartaz...
De modo que, se esta civilização desaparecer e seus dispersos e bárbaros sobreviventes tiverem de recomeçar tudo desde o princípio – até que um dia também tenham os seus próprios arqueólogos – estes hão de sempre encontrar, nos mais diversos pontos do mundo inteiro, aquela mesma palavra. E pensarão eles que Coca-Cola era o nome de nosso Deus!
Mário Quintana (1906-1994), poeta, tradutor e jornalista brasileiro.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

MAIS BEM e MAIS MAL - Linguagem e Dúvidas

Antes de verbos no particípio, use mais bem e mais mal em vez de pior e melhor. Em português, o particípio é a forma nominal do verbo, geralmente, formado com o sufixo [-ado, -ada] para os terminados em [ar] (amado, parado) e [-ido, -ida], para os terminados em [er, ir] (vendido, sentido): Aquelas alunas estavam mais bem preparadas que as outras. E não: estavam melhor preparadas que as outras.
    Seu trabalho está mais bem elaborado que o meu (não melhor).
    Esta roupa parece mais mal acabada que aquela (não pior).
Nos demais casos, use pior e melhor. ®Sérgio.

MAS... NO ENTANTO

Estabelecem redundância, se usados na mesma frase: Saiu cedo, mas não conseguiu, no entanto, chegar na hora.
Para evitar a redundância use [mas] ou [no entanto]:
    Saiu cedo, mas não conseguiu chegar na hora.
    Saiu cedo, no entanto, não conseguiu chegar na hora. ®Sérgio.

PADRE LOURENÇO E O CABOCLO - Recontando Contos Populares

Deu de acontecer que o padre Lourenço e seu sacristão viajavam pelo interior, a rezar missas nos vilarejos, tendo como guia um caboclo. O sacristão montado numa mulinha troncha vermelha mais o caboclo em seu cavalo viajeiro iam adiante. Atrás o vigário na sua mulona ferrada lendo o breviário. Beirando aí às cinco horas, ameaçou uma trabuzana de água que parecia que o mundo vinha abaixo. O vento assobiava danado de brabo. Fosse o que fosse tava na hora de procurar um abrigo.
Vencida obra de duas léguas, os três chagaram a porteira de um sítio e avistaram uma cabana que parecia devastada de dono. Mais que depressa dela se aproximaram. Acercando-se da porta chamaram por alguém. Veio então atender o sitiante; o vigário sem mais delongas explicou a situação e pediu que lhes dessem abrigo. O sitiante então mandou que os hóspedes entrassem. Sentaram à mesa e ele lhes diz que para comer só tinha uma sobra de queijo de cabra. Se fosse do gosto deles... Não sabendo como dividir, pois que o queijo era muito pequeno mesmo, o padre Lourenço resolveu que fossem dormir e o queijo seria daquele que tivesse, durante a noite, o sonho mais bonito (pensando, claro, em engambelar os outros dois com a sua oratória). Todos aceitaram e foram dormir. Quando a noite ia grossa, o caboclo acordou, foi ao queijo e comeu-o.
Pela manhã, os três sentaram à mesa para tomar café e ver quem ia comer o queijo. Cada qual teve que contar seu sonho. O padre disse que sonhou com a escada de Jacó e descreveu lindamente como, por ela, subiu triunfalmente para o céu. O sacristão então contou que sonhara já estar no céu esperando pelo padre que subia. O caboclo riu e contou:
- Sonhei que via seu padre subindo a escada e seu ajudante lá no céu, rodeado de amigos. Eu que fiquei aqui na terra e gritei:
- Seu padre, seu sacristão o queijo! Vosmicês esqueceram o queijo!
Então vosmicês responderam do céu:
- Come o queijo, caboclo! Come o queijo, caboclo! Nós estamos no céu, não precisamos mais do queijo.
- O sonho foi tão real que eu pensei que era verdade, levantei enquanto vocês dormiam e comi o queijo... ®Sérgio.
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MALASARTE E A CARTOLA DO JUIZ

A noite já ia alta e Pedro Malasarte, sem nenhum vintém, procurava um bom lugar para dormir, quando aconteceu dele passar frente à casa de um juiz. Bateu a porta e pediu pousada, dando o nome de tal doutor fulano, que estava de passagem por aquelas terras.
O juiz costumava a chegar tarde, pois ficava até a meia-noite jogando truco com seu compadre e amigos. Vai então que o filho do juiz, na sua simplicidade, mandou entrar o hóspede e, depois de Malasarte comer até se fartar, deu-lhe pousada, no quarto onde o juiz costumava se vestir.
Quando o juiz chegou a casa, o filho lhe contou o que ocorrera e o magistrado ficou muito satisfeito com a hospedagem. Nem por sombras podia imaginar o que ia suceder.
Lá pela madrugada, quase amanhecendo, Malasarte começou a sentir umas coisas na barriga... Procurou o vaso e, não o encontrando, abriu a janela... Mas lá fora havia uma cachorrada, que pegou a latir e foi um barulho de latidos do inferno.
Malasarte estava suando frio. Mas, nisto, avistou na prateleira uma caixa. Abriu; dentro havia uma cartola de feltro. Estava salvo! Tirou a cartola e, fez nela... Bem, vocês já sabem. Depois pôs outra vez, com muito cuidado, a cartola na caixa e, esta, no lugar onde estava.
Nesse tempo, a manhã já rompia e Malasarte quando ouviu o tropel dos criados na casa, tratou de cair fora. Quando vieram chamá-lo para o café, não o encontraram mais.
Na hora do almoço, o Juiz saiu do quarto e foi para o cômodo em que costumava se vestir. Era dia júri. Vestiu a sobrecasaca, e, distraído, tirou da caixa a cartola e num só golpe a enterrou na cabeça. Não deu outra coisa, o Juiz ficou com a cara... digamos, enlameada. Além disso, sentiu um cheiro que quase o sufocou. Começou então a gritar. A família veio em seu socorro, achando que alguma desgraça tinha acontecido.
Ao vê-lo naquele estado, o filho foi buscar um balde de água, a filha sabonete de cheiro e a mulher um frasco de perfume. O Juiz bufava de raiva. Mas Pedro Malasarte já estava longe. ®Sérgio.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

TORÁXICO ou TORÁCICO?

Toráxico não existe. O correto é: torácico.
   Disseram que ele está com um problema torácico. ®Sérgio.

DUAS METADES É PLEONASMO - Linguagem & Dúvidas

Metade são sempre duas. Escreva ou diga:
   Cortou a fruta em duas partes. ®Sérgio.

BUJÃO ou BOTIJÃO? - Linguagem & Dúvidas

Tanto faz "bujão ou botijão" de gás. Ambos constam do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP). Portanto:
   Comprei um bujão ou botijão de gás. ®Sérgio.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

NÃO SE ENGANE...

Não se engane, diz o Dr. Edward M. Hallowel², a Internet e o telefone celular não economizam tempo, apenas aceleram o nosso já movimentado ritmo de vida. Ficamos maravilhados com a velocidade da Internet e adotamos seu ritmo instantaneamente; sentimos-nos obrigados a obter respostas imediatas, ou seja, abrir e responder e-mails e mensagens eletrônicas por impulso. Devemos preencher nossas horas de folga com tarefas agradáveis e não com obrigações.
Há uma frase, título de um livro do qual não me recordo mais o autor, que resume em poucas palavras todo o assunto tratado nesse texto: A vida é incerta... coma a sobremesa primeiro!  ®Sérgio.
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1 - Edward M. Hallowel e 2 - David B. Posen são especialistas no diagnóstico e tratamento do transtorno do déficit da atenção e distúrbio bipolar.

terça-feira, 6 de julho de 2010

MINHA FÉ, MINHA DÚVIDA

“Levanta-te, por que dormes, Senhor? Levanta-te e não nos desampare para sempre. Porque apartas teu rosto, e te esqueces da nossa miséria e da nossa tribulação? Levanta-te, senhor, ajuda-nos, e resgata-nos por amor do teu nome.” (Davi, Salmo 43 - 24, 25, 26, 27)
Em certo momento aflitivo de minha vida, deparei-me com dúvidas em relação a minha fé religiosa. Naquele momento roguei a ajuda de Deus, pois só ele poderia ajudar-me; porém não o senti ao meu lado e duvidei de sua existência. No entanto, logo vem o arrependimento, o sentimento de culpa, e passamos a lutar contra a ausência de fé.
Consola-me a fato de que, o próprio Cristo, segundo os relatos bíblicos, teve um momento de dúvida na cruz, ao questionar: “Deus, Deus, por que me abandonaste?” Consola-me, também, ter Santo Agostinho (354-430) se deparado com muitas dúvidas em sua fé. O padre Antônio Vieira, indignado, em um de seus sermões, pergunta a Deus: “Sois o mesmo, ou és outro...?”
No entanto, deixou-me mais convicto de que não é nada anormal passarmos por essas crises de fé, o livro do padre Brian Kolodiejchuk, que traz o título: Madre Tereza: Venha Ser Minha Luz (uma compilação de cartas confessionais da Missionária).
A missionária deixou-nos o exemplo de uma fé inabalável e sessenta anos de trabalho ininterrupto com os miseráveis, doentes e abandonados, que lhe renderam a alcunha de “santa das sarjetas” e um Prêmio Nobel da Paz (1979).
Agora, dez anos após sua morte o livro do padre Brian, traz à tona outro lado da vida interior de Madre Teresa. No livro iremos encontrar cartas em que ela também manifesta dúvidas com a própria fé. Dúvidas quanto à presença de Cristo em sua vida, quanto ao poder das orações e até mesmo quanto à existência de Deus. No seu íntimo, Madre Teresa lutava para acreditar no que pregava.
Chamou-me a atenção este trecho de uma das cartas ao padre confessor:
“Disseram-me que Deus me ama, e ainda assim a escuridão, o frio e o vazio são tão grandes que nada toca minha alma. Terei eu errado ao me entregar cegamente ao chamado do Sagrado Coração?”
A certa altura, ela desabafa: “Há uma escuridão terrível dentro de mim. Tem sido assim desde que comecei meu trabalho”.
A Igreja considera que essas crises de fé são ritos de passagem, muitas vezes necessários para alcançar a verdadeira iluminação. O padre Brian, que conduz o processo de canonização da Missionária e que compilou e publicou as cartas, diz que essa longa jornada de angústia e de dúvidas, em vez de desmerecer Madre Teresa, apenas enaltece suas virtudes. “Ela não sentia o amor de Cristo dentro de si e poderia ter-se fechado. Mas estava de pé toda a manhã às 4h30, sempre pronta a se dedicar em tempo integral aos menos favorecidos. Isso continua sendo um exemplo poderoso”.
Quanto a mim e aos meus momentos de dúvida, só me resta repetir os versos de Camões:
“Que não se arme e se indigne o céu sereno

Contra um bicho da terra tão pequeno." ®Sérgio.

A TRADIÇÃO DO SANTO ROUBADO

Tenho um amigo cuja leitura favorita é antigos livros dos mais variados assuntos. Uma noite dessas, conversava com meu amigo e não me lembro, mais, de como a conversa recaiu em um antigo costume do interior da Paraíba. Não sei se esse costume ainda é praticado por lá, mas, com toda certeza, era.
Há uma frase filosófica que diz que a qualidade mais preciosa da arte, do costume, da tradição popular é a ingenuidade. E a tradição do santo roubado para que chova é mais um ato da magia popular que vem comprovar essa filosofia.
Um grupo de paraibanos combina com certa antecedência o roubo de uma imagem de santo. Escolhem o ladrão do santo e a casa onde deve o padroeiro ser tirado. De acordo com o combinado o plano é executado. Roubado, fica o santo em poder da pessoa que o roubou, até que ele (o santo) resolva fazer chover, quando, então, é devolvido.
Aqui, no meu Mato Grosso do Sul, chuva não falta. E, ao contrário do costume paraibano, há uma tradição muito antiga para fazer cessar a chuva, da qual, eu, na minha meninice, fiz uso muitas vezes. Vou lhe ensinar direitinho: Para fazer cessar uma chuva incômoda e inoportuna faça no chão o olho do sol, também chamado de olho de boi. Finque o calcanhar no chão e curve fortemente o dedão do pé para baixo; rode o pé, de modo a obter um círculo perfeito pelo dedão, com o sinal do calcanhar no meio. Assim, o sol é invocado e, rapidamente, a chuva cessa e ele aparece.
Fora cessar a chuva, tem uma simpatia muito boa para aquela visita que está demorando a ir embora e você não aguenta mais fazer sala. Peça para alguém de casa jogar um pouquinho de sal no fogo do fogão. A visita logo vai embora.
Você costuma (como eu costumo) perder alguma coisa em sua casa e não consegue encontrar? Pegue uma palha de milho e dê nela três nós, com o que se amarra o diabo que está escondendo o objeto; e o perdido aparecerá. Mas, depois de encontrá-lo não se esqueça de desmanchar os nós, se não tudo de ruim acontecerá na casa.
Têm outras, como chamar o vento, como impedir a chuva, como ter boa pescaria, para só citar essas. Outra hora eu lhe ensino, porque agora tenho de ir até a cozinha fazer uma simpatia para acabar com as formigas doceiras.
Inté! ®Sérgio.

domingo, 4 de julho de 2010

UM AMOR COM OUTRO SE PAGA¹

Dizem que um amor com outro se paga, e mais certo é que um amor com outro se apaga. Assim como dois contrários em grau intenso não podem estar juntos em um sujeito, assim no mesmo coração não podem caber dois amores, porque o amor que não é intenso não é amor. [...] É o amor entre os afetos como a luz entre as qualidades. Comumente se diz que o maior contrário da luz são as trevas, e não é assim. O maior contrário de uma luz é outra luz maior. As estrelas no meio das trevas luzem e resplandecem mais, mas em aparecendo o sol, que é luz maior, desaparecem as estrelas. Em aparecendo o maior e melhor objeto, logo se desarmou o menor.
Padre Antônio Vieira (1608-1697), Sermão do Mandato, parte VI, in Sermões (1643).
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1 – Título Fantasia. (N. T.)

segunda-feira, 28 de junho de 2010

QUEM TE MATOU, CAVEIRA? - Recontando Contos Populares

Durante toda esta minha vida ouvi muitos causos. Dos que guardei em mente, tem este que vou reproduzir conforme aconteceu. Foi o seguinte:
Numa tarde de certo dia, deu de acontecer que um caboclo ao passar perto da porteira de um sítio, pôs a atenção numa caveira feia como deve ser a Morte. É comum ouvir que nós, sertanejos, somos um povo muito supersticioso. Mas esse caboclo não tinha "um pingo" de medo; pois se acercou da caveira, deu-lhe um pontapé e caçoou:
— Quem te matou, caveira?
Você calcule qual não foi o espanto do caboclo, quando, com um estalejar dos ossos muito brancos, lavados de chuva e estorricados ao sol, a caveira respondeu:
— Foi a língua.
Lá se foi a coragem do homem. Na mesma hora o caboclo ficou aturdido, se arrepiou todo, tocou no crucifixo que no peito trazia, benzeu-se e se pôs numa carreira despinguelada.  Vencida obra de meia légua, estava no vilarejo; e foi logo botando a "boca no mundo". A história do caboclo tornou-se logo alguma coisa de fantástico ou mal-assombrada para aquela gente simples. Alguns acreditaram nele, mas a maioria, não. E como notícia, se boa corre, a ruim avoa... O delegado do vilarejo logo mandou chamar o caboclo.
— Que história é essa de caveira que fala?
— Eu juro senhor delegado, que ela respondeu.
— Vou lá ver isso. Mas veja lá, se for mentira sua, e você me fizer bancar o bobo, eu mando te pendurar pelo pescoço, na primeira árvore que encontrar.
— Foi verdade, excelência – murmurou o moço.
Formou-se, então, uma grande comitiva. O caboclo ia adiante, a pé; seguido do delegado na sua mulona ferrada, guarda sol aberto, muito seu fresco. Atrás, as outras autoridades do vilarejo e, por fim, e os moradores curiosos.
Chegando à porteira, a comitiva estacou.  Ao verem a caveira, todos se calaram, tão maligna parecia. Trêmulo, o caboclo perguntou:
— Quem te matou, caveira?
A caveira nada de responder. Quieta estava e quieta ficou.
O caboclo pensou que talvez tivesse perguntado muito baixo. Em voz mais alta, novamente inquiriu:
— Quem te matou, caveira?
E a caveira "nadica".
— Quem te matooou, caveiiira? – gritava agora, com as veias do pescoço saltadas, e o pavor da forca apertando-lhe o coração.
— Quem te matou, caveira? Quem te matou, caveira?
E a caveira muito branca, luzindo ao sol, em silêncio. O moço perdeu a cabeça, começou a dar-lhe pontapés, jogando-a a distância; e, ia atrás dela de um lado para outro, suando, amaldiçoando.
— Quem te matou, caveira? Quem te matou, caveira? Quem te matou, caveira?
O delegado convencido da mentira do caboclo ordenou, então, aos soldados que lhe acompanhavam que pendurassem o sertanejo na árvore ao lado da porteira. Os soldados fizeram o nó corrediço, e o caboclo ficou enforcado à beira do caminho, enquanto a comitiva voltava espalhafatosa, mas sem animação, para o vilarejo.
Depois disso, tudo, ficou em silêncio na porteira. Não passava vivalma. E, assim, decorreu a tarde quente; e, assim, anoiteceu; até que, a caveira, que parecia não ter movimento, rolou um pouco sobre si mesma e, aos pulos veio, chegou até sob a árvore onde estava o caboclo enforcado. E ali, com o feio buraco das órbitas vazias virado para cima, exclamou:
— Eu não te falei que quem me matou foi a língua! ®Sérgio.

sábado, 26 de junho de 2010

O PRIMO DE MALASARTE

Era aniversário de Pedro Malasarte. Ele adorava uma festa, mas estava sem dinheiro para festejar o aniversário. Resolveu então, visitar o primo que tinha muito dinheiro e, certamente, lhe ofereceria alguma coisa, apesar de ser um tanto pão-duro. Chegando a fazenda do primo, este o recebeu com muito entusiasmado, não pela visita, mas por economizar assim a viagem a casa do aniversariante. Entraram e o primo foi logo oferecendo:
— Ó, primo Pedro! Tenho aqui uma broa, fresquinha, que sinhá assou. É tanta que vai durar a semana inteira.
— Broa de milho, primo?
— É sim, quer um pedaço?
— Não, primo - agradeceu Malasarte - basta um cafezinho.
— Mas é seu aniversário primo, eu reconheço que sou um pão-duro, mas um pouco de cortesia ao primo não faz mal! Se quiser é só pedir.
Malasarte novamente agradeceu, porém continuou só com o café. Continuaram proseando e, em meio à prosa, o primo lhe diz:
— Olha Pedro, ontem mandei matar aquele leitão capado que eu vinha engordando. Temos uma porção de torresmo e toucinho frescos que mandei preparar. Quer um pouco, pois tenho bastante?
— Não me diga isso! Tem muito mesmo?
— É o que lhe digo! Tenho bastante, quer?
— Nada primo, pode deixar, basta um cafezinho.
— Seja dito..., mas quando quiser é só pedir.
Continuaram proseando mais e mais, até que o primo fez nova oferta:
— Pedro, faz tempo que guardo umas garrafas de cachaça. Vamos tomar uns goles para comemorar?
— E é dá boa?
— Da melhor.
— Não primo, para mim basta um cafezinho.
— Não se faça de rogado que você tá em casa. Quando ficar com vontade é só pedir.
E assim, o primo de Pedro Malasarte, querendo lhe agradar pela passagem do aniversário e ao mesmo tempo percebendo que Malasarte não estava querendo lhe dar despesa, foi oferecendo um pouco de cada coisa que tinha na despensa. Malasarte ouvia e recusava; contentando-se só com o cafezinho. E continuaram nessa toada até que ouviram uma tímida batida na porta. O primo de Malasarte se levantou, abriu a porta e pegou de espiar; do lado de fora havia uma verdadeira multidão de conhecidos. O primeiro foi logo falando:
— Olha, desculpa a intrusão, mas ficamos sabendo que Pedro Malasarte estava por aqui e passamos somente para dar lhe dar os parabéns.
Desconfiado, mas sem ter como recusar, o primo convidou a todos para entrar, mas foi logo avisando:
— Meus amigos! Gostaria de lhes oferecer alguma coisa, porém... quase nada tenho na despensa...
Malasarte, deixando de lado o cafezinho e interrompendo o primo, falou:
— Primo, sabe aquele torresmo, aquele toucinho, aquela broa, a cachaça, a suco de laranja, a rosca, a linguiça, e tudo mais que você me ofereceu? Agora eu até quero um pouquinho, que já me cansei desse cafezinho que tomava pra modo de esperar o pessoal chegar...
Vosmecê calcule: o primo ficou aturdido, tonteou... parecia inté que estava para dar a alma a Deus; entretanto, uma vez que o oferecido estava em vigor, acabou bancando toda a festa. Pois foi assim que Pedro Malasarte teve a sua festança. ®Sérgio.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

E DÁ-LHE EUFEMISMO

A metáfora tem, praticamente, presença obrigatória em qualquer texto literário. Qualquer escritor que se preze faz uso das figuras de linguagem, algumas em maior número que outras. Uma figura pouco usada nos textos literários é o "eufemismo". A sua finalidade é substituir uma palavra grosseira, odiosa ou triste por outra palavra mais agradável, ou menos desagradável. Por exemplo, para atenuar a violência do verbo matar, Camões se valeu do eufemismo "tirar ao mundo" na conhecida passagem do episódio de Inês de Castro:
Tirar Inês ao mundo determina,
Por lhe tirar o filho que tem preso...” (Os Lusíadas, III, 123).
Apesar do seu acanhado uso na literatura, o eufemismo alcançou sua glorificação no ramo das profissões, principalmente naquelas tidas como mais grosseiras, odiosas ou ilegais. Pelo menos foi o que constatei nas leituras de artigos sobre profissões. Fique tão interessado pelo assunto que elaborei uma pequena lista (pinçadas de artigos e da internet) dos eufemismos usados para substituir o nome de antigas e tradicionais profissões. Por exemplo:
• Boy da Xérox é, agora, Especialista em Marketing Impresso.
• Faxineiro é: Supervisor Geral de Bem-Estar, Higiene e Saúde.
• Porteiro: Oficial Coordenador de Movimentação Interna.
• Vigia: Oficial Coordenador de Movimentação Noturna.
• Motorista de ônibus: Distribuidor de Recursos Humanos.
• Motorista de táxi: Distribuidor de Recursos Humanos VIP.
• Ascensorista: Distribuidor Interno de Recursos Humanos.
• Limpeza de banheiros: Diretora de Saneamento de Áreas.
• Frentista: Especialista em Logística de Energia Combustível.
• Peão de obra: Auxiliar de Serviços de Engenharia Civil.
• Office-boy: Especialista em Logística de Documentos.
• Motoboy: Especialista Avançado em Logística de Documentos.
• Distribuidor de santinho: Técnico de Marketing Direcionado.
• Garçom: Especialista em Logística de Alimentos.
• Camelô: Distribuidor de Produtos Alternativos de Alta Rotatividade.
• Gari: Técnico Saneador de Vias Públicas.
• Garota de Programa: Especialista em Entretenimento Masculino.
• Travesti: Dublê de Especialista em Entretenimento Masculino.
• Cafetão: Supervisor dos Serviços de Entretenimento Masculino.
• Ladrão: Técnico em Redistribuição de Renda.
Salve-se quem puder! ®Sérgio.

domingo, 20 de junho de 2010

A ARGUMENTAÇÃO NÃO SE CONFUNDE COM BATE-BOCA

A legítima argumentação, tal como deve ser entendida, não se confunde com o bate-boca estéril ou carregado de animosidade. Ela deve ser, ao contrário, construtiva na sua finalidade, cooperativa em espírito e socialmente útil. Embora seja exato que os ignorantes discutem pelas razões mais tolas, isto não constitui motivo para que os homens inteligentes se omitam de advogar ideias e projetos que valham a pena. (J.R. Whitaker. Apud Garcia Othon M. Comunicação em prosa moderna.)

sábado, 19 de junho de 2010

DOR SEM NOME

Jamais nesta vida e, possivelmente, na outra, me cansarei de louvar o poeta Gonçalves Dias. De poesia genuinamente brasileira, foi ele o nosso primeiro e jamais excedido poeta. Digo jamais excedido porque falo de um poeta comum, escrevendo sobre uma realidade comum a todos, na linguagem do homem comum.
Quando Gonçalves Dias viajou para Portugal, acompanhava-lhe seu pai. O poeta buscava instrução e seu pai a saúde. Pouco depois de ali terem chegado, morreu-lhe o pai, que já saíra do Brasil muito doente. Com quatorze anos, achou-se Gonçalves Dias só, em terra estranha. Esta circunstância, agravada pela distância da pátria e da mãe, aumentou-lhe a natural dor da perda do pai. No belíssimo poema autobiográfico “Saudades”, que dedicou à irmã, retirei este fragmento, que expressa os momentos de uma dor que não tem nome:
[...]
De quando sobre as bordas de um sepulcro
Anseia um filho, e nas feições queridas
Dum pai, dum conselheiro, dum amigo,
O selo eterno vai gravando a morte!
Escutei suas últimas palavras,
Repassado de dor! — Junto ao seu leito,
De joelhos, em lágrimas banhado
Recebi os seus últimos suspiros.
E a luz funérea e triste que lançaram
Seus olhos turvos, ao partir da vida,
De pálido clarão cobriu meu rosto
No meu amargo pranto refletido
O cansado porvir¹ que me aguardava!
______________________________
1 - o tempo que está por vir, por acontecer; futuro.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

CARA AMIGA...

Os olhos
Que olhas,
No espelho,
Não são teus olhos;
São os olhos
Da tua dor. ®Sérgio.