terça-feira, 24 de janeiro de 2012

AUTO: O TEATRO RELIGIOSO

Auto é uma designação genérica para textos poéticos normalmente em redondilhas. O termo é específico do espanhol e do português, referindo-se de início a toda obra teatral, especialmente às de caráter religioso. Do século XV em diante a palavra se limita às peças em versos (normalmente em redondilhas), em um ato (auto), e de caráter predominantemente religiosos, embora existam obras de temática profana e satírica (as farsas), sempre com preocupações moralizantes. Os personagens encarnam abstrações ou ideias puras (e até atributos divinos), para serem representadas em solenidades cristãs. Com o surgimento de grandes autores, o “auto” transcendeu essa finalidade, tornando-se gênero autônomo e de alto significado literário.
O mais antigo auto, conhecido, é o de "los Reyes Magos", talvez escrito no século XIII. Juan Del Encina e Torres de Naharro são considerados, no final do século XV, os criadores do teatro (auto) espanhol. Um dos autos mais famosos é o "Monólogo do Vaqueiro ou Auto da Visitação", de Gil Vicente.
O auto, no Brasil, foi cultivado pelo Padre José de Anchieta, em seu trabalho de catequese.
Modernamente, especialmente no nordeste, encontramos textos notáveis que revelam certa influência medieval. É o caso do Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna. O poeta Joaquim Cardozo escreveu um belo auto de Natal, De Uma Noite de Festa. Em ambos é conservado o espírito religioso tradicional, mas os personagens são popularizados e a tradição folclórica é aproveitada. Poderíamos também citar o Auto de Natal Pernambucano (mais conhecido como Morte e Vida Severina) e Auto do Frade, ambos de João Cabral de Melo Neto. No campo da música popular, o Auto da Catingueira, de Elomar Figueira Melo.
Morte e Vida Severina, é um texto escrito em versos curtos, onde predomina a redondilha e diálogos entre personagens. Daí resulta num texto propício a encenação do Auto ou a leitura em voz alta. O espírito religioso se manifesta nos nomes de alguns personagens (Maria, José, o carpinteiro) e na exaltação a vida, a partir do nascimento de uma criança nos mangues de recife. Aí esta a razão do subtítulo Auto de Natal Pernambucano. ®Sérgio.

O EUFEMISMO - Figuras de Pensamento

O eufemismo é uma espécie de perífrase, ou seja, é atenuação, a substituição - por motivos religiosos, éticos, supersticiosos ou emocionais - de uma palavra ou expressão de sentido rude, desagradável, por outra de sentido agradável ou menos chocante. Por exemplo, a infinidade de eufemismo popular para dissimular o nome do Diabo: Arrenegado, Cão, Coisa-ruim, Tinhoso, etc.
[...] pelo menos ele descansou.
A utilização do verbo descansar atenua o impacto da ideia de "morrer". A morte, na nossa cultura, ê considerada algo desagradável, assustador, daí a grande quantidade de eufemismos criados e utilizados para designar essa ideia - falecer, passar desta para a melhor, ganhar a vida, etc.:
  Depois de muito sofrimento, entregou a alma ao senhor.
  Quando a indesejada da gente chegar. (Manuel Bandeira)
  Era uma estrela divina que ao firmamento voou! (A. de Azevedo)
Expressões populares como: Ir para a terra dos pés juntos; Comer capim pela raiz; Vestir o paletó de madeira; são exemplos de eufemismo, porém o caráter cômico dessas expressões em situações de grande impacto como a morte, subtrai a função do eufemismo.
Outros exemplos:
  Ele faltou com a verdade. (= mentiu)
  [...] trata-se de um usurpador do bem alheio. (= ladrão)
  Vivia de caridade pública. (= esmolas) (Machado de Assis)
  O aluno foi convidado a sair da escola. (= expulso da escola)
  Paulo não foi feliz nos exames. (= foi reprovado)
  Enriqueceu por meios ilícitos. (= roubou)
  Querida, ao pé do leito derradeiro. (= túmulo) (A. de Azevedo)
Como se vê, no eufemismo, existe uma intenção, por parte do falante ou do escritor, de não chocar o seu interlocutor ou leitor. ®Sérgio.