Numa noite fui surpreendido, em minha casa,
por portas que se abriam e se fechavam sozinhas. Em outras noites, eram as luzes
que se acendiam como que por magia, além de copos que voavam da pia para o
chão. Até pedras caíam no telhado. Apesar desses acontecimentos, felizmente,
ninguém se feria.
Tivesse um raio caído aos meus pés, não me
mostraria eu tão aturdido com esses acontecimentos. Envolto em fria mortalha de medo, decidi recorrer ao padre
capelão. Pedi-lhe que fosse a minha casa, fizesse umas rezas e expulsasse os
espíritos. O capelão bebeu uma grande taça de
vinho, ficou um instante a refletir e, então, pediu ao sacristão para lhe trazer
a grande cruz de madeira, a bíblia e o vaso de água benta. Colocou a estola e
julgando-se armado para afugentar aquelas almas demoníacas, seguiu comigo para
a casa assombrada.
Não queria acreditar,
quando assistiu, ele próprio o que lhe tinha relatado na sacristia. Aquelas
coisas estranhas aconteciam mesmo. Todos, em casa, lhe rogaram para que
benzesse o lar e, mais, que fizesse um exorcismo e terminasse com aquela aflição.
Entoando os sete salmos
e orações (o sacristão, por ordem do padre, à frente com a cruz erguida) o
capelão ia espalhando água benta por todos os cantos gritando: “Vai-te embora
satanás, vai-te embora...”.
Mesmo na presença
capelão, os espíritos não se
aniquilaram. Choveram pedras, portas e janelas abriram e fecharam-se
sozinhas e até alguns peças de roupa começaram a arder.
Não se deixando
convencer, ainda que tenha presenciado tão estranhos eventos, sem solução, o
capelão recorreu a uns amigos ligados à parapsicologia.
Um dos parapsicólogos
perguntou-me, pela idade de todos que frequentavam a casa, na esperança de que
o causador fosse algum adolescente dado a brincadeiras. Segundo os estudos de
parapsicologia, são eles os responsáveis por 90% destes casos. Respondi que
adolescente na minha casa só o meu neto, um rapaz de 15 anos, que viera passar
as férias. Por sugestão do parapsicólogo afastamos meu neto de casa por alguns
dias e, tal como se supunha, não houve mais nenhum objeto voador. Ele confessou
ao parapsicólogo que seus pais tiveram de viajar, a trabalho, e deixaram-no na
casa dos avós, cuja cidadezinha detestava. ®Sérgio.