quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

MARTÍRIO

Seleta de Poemas representa as poesias que li e tocaram-me a alma. Assim, posso compartilhar com vocês as minhas preferências poéticas e homenagear os autores que admiro.
MARTÍRIO
Beijar-te a fronte linda
Beijar-te o aspecto altivo
Beijar-te a tez morena
Beijar-te o rir lascivo
Beijar o ar que aspiras
Beijar o pó que pisas
Beijar a voz que soltas
Beijar a luz que visas
Sentir teus modos frios,
Sentir tua apatia,
Sentir até repúdio,
Sentir essa ironia,
Sentir que me resguardas,
Sentir que me arreceias,
Sentir que me repugnas,
Sentir que até me odeias,
Eis a descrença e a crença,
Eis o absinto e a flor,
Eis o amor e o ódio,
Eis o prazer e a dor!
Eis o estertor de morte,
Eis o martírio eterno,
Eis o ranger dos dentes,
Eis o penar do inferno!
• Luís José Junqueira Freire (1832 —1855 ) ®Sérgio.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

A FARSA

A farsa - principal forma de teatro cômico medieval -, despontou no crepúsculo da Idade Média francesa, por volta do século XVI. A princípio consistia numa breve peça cômica, apresentada, a modo de intervalo, no meio dos mistérios (peça de longa duração sobre a história da religião); mais tarde passou a desenvolver existência autônoma. Por sua origem cômica, a farsa tende para a comédia de costumes e de caracteres.
Dentre todas as peças curtas do teatro profano, este tipo pretende provocar o riso sem intenção didática ou moralizante; mas sim, a partir de exageros tirados da observação da vida quotidiana. A farsa depende mais da ação do que do diálogo; mais dos aspectos externos (cenários, roupas, gestos, etc.) do que do conflito dramático. É simples (não usa alegorias), é maliciosa, grosseira e direta (vai diretamente as coisas). Mostra gente do povo em seu ambiente familiar. Seus personagens, em número restrito, são tirados da vida urbana em desenvolvimento. Não estão investidos de requintes psicológicos, mas representam "condições" (marido, mulher, amante, patrão, empregado), ou tipos facilmente reconhecíveis tomados à burguesia (o comerciante, o advogado, o louco, o médico, o tolo, etc.). Seu esquema repousa no trapalhão, enganado por alguém mais esperto.
A farsa se distingue da comédia propriamente dita por não observar regras de verossimilhança e difere da sátira ou da paródia por não pretender questionar valores. Também é possível definir a farsa como o oposto da fábula, na medida em que a farsa, ao contrário da fábula, apresenta o que se pode denominar de uma falso moral.
Dentre os numerosos exemplares desse gênero (mais de cento e cinquenta) produzidos entre 1440 e 1560, época de seu florescimento, destaca-se La Farce de Maîte Pathélin,  composta entre 1460 e 1470. Após exercer notável influência sobre o teatro seiscentista (Molière, Shakespeare, Commedia Dell'arte) a farsa continou até nossos dias com Labiche, Tristan Bernard, para citar apenas dois nomes. A comédia romântica, não raro, utilizou expedientes peculiares a farsa. ®Sérgio.

O BURLESCO

Termo proveniente do latim burrula = gracejo, brincadeira, farsa; em italiano burla e em francês burlesque.
O Burlesco rotula as obras literárias ou teatrais que visam à comédia de obras clássicas de assunto sério como as epopeias, por meio do ridículo, da zombaria ou da paródia; quer dizer, transveste o nobre em vulgar. Tomemos como exemplo a obra Virgile Travesti (1648) do autor francês (século XVII) Paul Scarron, uma paródia ao poema épico de Virgílio. Scarron foi o primeiro autor a empregar o termo burlesco (1643) e adotá-lo como rótulo de sua paródia. Do mesmo autor, destaca-se: Le Roman Comique (1651), em que satiriza a vida e os costumes provincianos da época. Na frança o burlesco perdurou até 1660.  
O Burlesco acabou por migrar para outras formas de exposição pública, como a rádio e a televisão, sendo que hoje muitos espetáculos musicais e humorísticos da televisão e do teatro devem seu sucesso ao burlesco. ®Sérgio.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

A ONÇA, O BURRO E A RAPOSA - Recontando Contos Populares

No tempo em que os animais falavam a Onça, o Burro e a Raposa, se juntaram para uma caçada. Os três conseguiram abater um animal muito grande, e a Onça pediu ao Burro que repartisse a caça, para cada um ter a sua porção.
O Burro partiu o animal em três porções iguais, e disse a Onça e à Raposa que escolhessem suas partes.
A Onça zangou-se por não receber uma porção maior, e atirando-se ao Burro, comeu-o. Depois, disse para a Raposa:
— Agora pegue a sua porção!
A Raposa pegou para ela só um bocadinho da caça; juntou o resto e disse a Onça:
— Pegue o resto. Para mim chega essa porçãozinha!
Diz a Onça:
— Beleza! Quem te ensinou a repartir assim?
Responde a Raposa:
Quem foi?! Foi a desgraça do pobre Burrico.
Salve-se quem puder! ®Sérgio.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

O ANIMISMO OU PERSONIFICAÇÃO

Também chamada de prosopopeia. A personificação atribui vida ou qualidades humanas a seres inanimados, irracionais, ausentes, mortos ou abstratos. A humanização ou animismo pode dar-se de vários modos, a saber:
a) Quando se conferem a objetos inanimados e a abstrações qualificativos próprios do ser humano, por exemplo: O dia amanheceu enfurecido.
b) Ao emprestar às coisas inanimadas poder de ação peculiar aos seres humanos: A chuva semeou um pouco de esperança no solo calcinado.
c) Quando nas apóstrofes, nos dirigimos aos seres inanimados como se fossem capazes de inteligência ou compreensão: E tu, nobre Lisboa, que no mundo [...]. (Camões)
d) Quando a matéria inerte e os seres abstratos adquirem [voz], como, por exemplo, no Criton, diálogo acerca de Sócrates na prisão, em que Platão põe as Leis a falar.
A mais genialmente arrojada prosopopeia da língua portuguesa é, sem dúvida, a personificação do Cabo das Tormentas na figura do Gigante Adamastor. (Camões, Os Lusíadas, V, 39-59.)
Há, todavia, quem estabeleça distinção entre Prosopopeia, Personificação e Animismo, reservando os dois primeiros para referir a atribuição de qualidades ou comportamentos humanos a seres que não o são e o último para a expressão de sinais ou comportamentos vitais atribuídos a coisas inanimadas, como as rochas, os metais, os objetos, etc.; mas sem os elevar à categoria de humanos. Exemplificando:
   As árvores torciam-se e gemiam, vergastadas pelo vento. (Prosopopéia e personificação)
   Chegada à noite, os cumes das montanhas e os picos das serras deixavam-se adormecer no travesseiro celeste. (animismo) ®Sérgio.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

AS DUAS MÃES

Seleta de Poemas representa as poesias que li e me tocaram a alma. Assim, posso compartilhar com vocês as minhas preferências poéticas e homenagear os autores que admiro.
AS DUAS MÃES
Numa igreja se encontraram
Duas mães em certo dia;
Uma entrava, e nesse instante,
Toda cheia de alegria,
Orgulhosa e triunfante,
Levava, chegando ao peito,
Um filhinho a batizar.
Outra, a infeliz que saía
Levava um filho também...
Oh! Mas essa pobre mãe
Levava um filho a enterrar!
Cruzaram-se, a poucos passos,
A que trazia nos braços
Cheio de vida e conforto,
O filho dos seus encantos,
E a triste, lavada em prantos,
Que seguia o filho morto!
Trocaram ambas o olhar...
Nisto a mãe afortunada
Foi que rompeu a chorar;
Enquanto a desventurada
Que o filho tinha perdido
— Oh! Maravilha do amor –
No meio de sua dor
Sorriu ao recém-nascido!
Soulary (1815-1891), poeta francês (tradução de Bulhão Pato). ®Sérgio.

O ENTERRO DA CIGARRA

Seleta de Poemas representa as poesias que li e tocaram-me a alma. Assim, posso compartilhar com vocês as minhas preferências poéticas e homenagear os autores que admiro.
O ENTERRO DA CIGARRA
As formigas levaram-na... Chovia...
Era o fim... Triste outono fumarento!
Perto uma fonte, em suave movimento,
Cantigas de água trêmula fazia.
Quando eu a conheci, ela trazia
na voz um triste e doloroso canto.
Era a cigarra de maior talento,
Mais cantadeira desta freguesia.
Passa o cortejo entre árvores amigas...
Que tristeza nas folhas... Que tristeza!
Que alegria nos olhos das formigas!
Pobre cigarra! Quando te levavam,
Enquanto te chorava a natureza,
Tuas irmãs e tua mãe cantavam...
• Olegário Mariano Carneiro da Cunha (1889 - 1958). ®Sérgio.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

sábado, 12 de janeiro de 2013

O QUE FAÇO É SIMPLES...

Sempre fui colecionador de frases e porque não compartilhar com vocês, minhas citações preferidas colhidas em inúmeras fontes:
"O que faço é simples: ponho pão na mesa e compartilho." (Madre Teresa de Calcutá)

SE ACASO... ou SE CASO...?

Se acaso... É a forma correta. Com a conjunção condicional [se], só podemos usar acaso:
     ●   Se acaso você chegasse...
    ●   Se acaso você viajar ainda hoje, não deixe de     me avisar.
Portanto, não existe a construção se caso você viajar... Há, isto sim, o equivalente: Caso você viaje ainda hoje, não deixe de me avisar.
As conjunções [se e caso] são sinônimas. Ou usamos a conjunção [se] ou a conjunção [caso]. Ou uma ou outra:
   Caso você viaje ainda hoje, não deixe de me avisar.
   Se acaso você viajar ainda hoje, não deixe de me avisar.
É possível usar acaso sem a conjunção se:
   Acaso te disseram alguma coisa?
   Isto aconteceu ao acaso.
   Ele veio por acaso. ®Sérgio.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

O NASCIMENTO DE HEFESTO (Vulcano)

Deus do fogo, artesão divino que produzia muitos dos objetos utilizados pelos deuses: os raios de Zeus, a armadura de Aquiles e a primeira mulher mortal, Pandora, que recebeu vida dos deuses. Segundo o poeta Hesíodo, Hefesto foi gerado espontaneamente por Hera, em represália a paixão de Zeus por Metis. Nasceu coxo, sua mãe decepcionada com a feiura do filho, o atirou Olimpo abaixo. Outra versão diz que Zeus atiro-o para fora do Olimpo com um pontapé, devido a sua participação numa briga de Zeus com Hera. O defeito físico de Hefesto seria consequência dessa queda. Sua queda durou um dia inteiro. Hefesto acabou caindo na ilha de Leno e foi recolhido por Tétis e Eurínome, com as quais permaneceu durante nove anos; voltando, depois, ao Olimpo, construindo um magnífico palácio de bronze para si próprio. Em seu livro Paraíso Perdido, John Milton (1608-1674), alude a esse episódio:
Caiu do amanhecer ao meio-dia,
Do meio-dia até a noite vir.
Um dia inteiro de verão, com sol
Posto, de zênite caiu, tal como
Uma estrela cadente, na ilha egéia
De Lenos. ®Sérgio.

A MULHER QUE PRENDEU O DIABO - Recontando Contos Populares

Um marido muito ciumento tendo que fazer uma viagem e não depositando confiança na mulher, disse aborrecido:
— Isto é o diabo!
Mal acabara de exclamar, o cujo lhe apareceu e perguntou:
— Por que me queres?
Como o marido não tinha mesmo solução para seu problema, respondeu:
— Tenho que viajar e queria que você tomasse conta de minha mulher.
O diabo que nem por sombras podia imaginar o que lhe ia suceder, aceitou a incumbência. Além do mais, ia ganhar aquela alma...
No dia seguinte o homem partiu, deixando em casa o diabo - na forma humana - como empregado de cozinha. Mas sua mulher, que não era nada tola, percebeu que o criado era o cujo, porque tudo o que lhe mandava fazer, fazia-o num repente.
— Vá moer aquele quarto de café!
E num instante o diabo voltava com o café em pó.
— Vá moer aquele meio saco de milho!
E, sem mais demora, ele estava de volta com o meio saco de fubá. Mas mulher é bicho pior que o diabo. Vai daí, que o chamou e lhe disse:
— Estou admirada com o seu poder, porque tem feito coisas que parecem milagres. Mas duvido que consiga fazer uma coisa. Não é capaz de entrar naquela garrafa...
E lhe apontou uma, vazia de líquido. Ora, o diabo que é muito vaidoso e orgulhoso, ficou tentado em mostrar todo o seu poder e mais que depressa se meteu pela garrafa adentro. Mal ele acabou de entrar, a mulher arrolhou a garrafa, de maneira que o diabo ficou preso e ela pode gozar da liberdade que ambicionava.
Quando o marido voltou, foi recebido com beijos e afagos pela mulher, a quem ele perguntou pelo criado.
— Ah, maridinho do coração, ele saiu, não sei para que, e não voltou mais. Também aquilo parecia o diabo. Olha que cheiro de enxofre ficou em casa...
Era uma catinga de pano queimado que ela pusera para queimar, pois o diabo estava preso na garrafa, danado de raiva...
— É mesmo, mulher, que catinga! O que havemos de fazer?
— Só há um jeito, corre à igreja com esta garrafa e enche-a de água benta para espalhar na casa. O marido, um tanto aturdido com os acontecimentos, pegou a garrafa e fez o que a mulher lhe mandava.
Quando entrou na igreja e desarrolhou a garrafa para encher na pia benta, esta, ao encostar-se a água, deu um estouro e o diabo atordoado com a água benta e avistando os santos nos altares, saiu zunindo, como um raio, e ninguém mais soube dele. O marido, muito espantado e mais aturdido ainda, voltou para casa sem saber explicar o acontecido e sem ter conhecido o segredo da mulher.
É como diz o ditado: mulher quando quer nem o diabo a guarda. ®Sérgio.
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Nota Sobre o Texto: Este causo também corre em Portugal. Serviu de tema para o conto O Almocreve e o Diabo.