sexta-feira, 15 de abril de 2011

O COVEIRO

Até que enfim consigo te escrever, meu amigo,
O episódio para o qual peço espaço, nesta carta, foge um pouco do comum, mas eu "num guentei"  e resolvi enviá-lo. Lá vai:
Corre por aqui, que o coveiro de nosso cemitério era corcunda e que a perdeu em um fato notável. Ele estava limpando um dos túmulos da residência dos mortos, quando um fio de luz intenso formou-se por cima da cova que ele limpava. O coveiro, assustado, fez menção de correr.
— Não corra... Eu não vou te fazer mal – diz uma voz que começou a materializar-se à sua frente.
E ele pergunta com a voz tremula:
— Quem é você?
— Eu sou o espírito do morto desse túmulo que está limpando. Você tem amigos?
— Não! Responde o coveiro.
— Tem dinheiro guardado?
— Não!
— Tem família?
— Também não!
— Então me dá essa corcunda!
Dito isso, o espírito materializado, desmaterializou-se e desapareceu no ar.
Bêbado de felicidade, o coveiro sai contando para todo mundo o ocorrido. Um amigo paraplégico tomou conhecimento do fato e resolveu tentar a mesma sorte do coveiro. De maneira que, passa a depositar regularmente flores no túmulo milagroso.
Um dia, ao depositar um ramalhete, ouve a mesma voz.
— Que é você? Pergunta o paraplégico.
— Sou o espírito do... Você tem amigos?
— Não! Respondeu o cadeirante, felicíssimo.
— Você tem dinheiro guardado?
— Não!
— Tem família?
— Não tenho, não!
— Então, toma essa corcunda!
Pois é, Leo, milagre não acontece duas vezes no mesmo lugar. Nosso amigo, além de paraplégico, passou a ser corcunda também. Salve-se quem puder!
Aguardo notícias tuas.
Ricardo Sérgio.
Inté!