sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

OS AMANTES DE AFRODITE

Segundo a Teogonia de Hesíodo¹, Cronos (tempo), o mais jovem dos Titãs, filho de Gaia (Terra) e de Urano (Céu), nutria intenso ódio por seu pai. Um dia, quando Urano veio se estender sobre Gaia, Cronos saiu de seu esconderijo, e com uma foice de dentes agudos castra o pai e lança ao mar o membro cortado que ejacula uma última vez. Da espuma nasce Afrodite (Aphroditê = espuma do mar), a ciumenta deusa da beleza, do amor, do desejo e da sexualidade. Possuía um cinturão mágico de grande poder sedutor, cujos efeitos eram irresistíveis.
Casou-se com Hefesto (deus do fogo), coxo e um dos mais feios deuses do Olimpo. Porém, nunca se satisfez em ser a esposa caseira e, por isso não hesitava em arrumar amantes.
Com Hermes (mensageiro dos deuses) deu à luz a um menino que tinha os dois sexos; recebeu o nome de Hermafrodito. Eros (deus da paixão) e Anteros (deus da ordem) foi o que lhe deu Ares (deus da guerra). Seduziu Dionísio (deus do vinho) com o qual teve um filho chamado Priápo (deus da fertilidade). Este era tão promíscuo que os deuses proibiram sua entrada no Olimpo. Outro que não resistiu a magia de seu cinturão foi Apolo (deus do Sol), teve com ele o filho Himeneu (deus do casamento).
Entretanto, sua verdadeira paixão foi o jovem, belo e mortal Adônis; no entanto Afrodite teve de disputar a companhia do jovem com Perséfone. Afrodite pediu a ajuda de Zeus que se recusou a ser o juiz, passando o caso para um tribunal presidido pela musa Calíope que sentenciou: Afrodite e Perséfone teriam o mesmo direito sobre Adônis. Ele passaria um terço do ano com cada uma delas, e o terço restante poderia descansar das deusas insaciáveis. No entanto, Adônis, que preferia Afrodite, permanecia com ela os oito meses. Perséfone, ofendida, segredou a Ares que sua amante secreta iria trocá-lo por um vil mortal. Ares, sentindo-se ultrajado, tomou a forma de um javali e enquanto Adônis caçava, o matou com uma "chifrada" mortal. Afrodite teve com ele três filhos: dois mortais e um imortal.
 Outro caso famoso de Afrodite foi com o também mortal Anquises (príncipe troiano, primo do rei Príamo) com quem teve Enéias, herói da Guerra de Tróia.
As deusas Venus (romana), Freya (nórdica), Turan (etrusca), Ishtar (mesopotâmica), Inanna (suméria) e Astarte (mitologia babilônica), têm tudo a ver com Afrodite. ®Sérgio.
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1 - Há uma segunda versão sobre o nascimento de Afrodite: a de Homero. Entretanto, mais comum é a de Hesíodo.
Ajudaram na elaboração do texto: Bulfinch, Thomas, O Livro de Ouro da Mitologia: Histórias de Deuses e Heróis, 26º edição, Rio de Janeiro, 2002, Ediouro. / Gandon, Odile. Deuses e Heróis da Mitologia Grega e Latina. 1. Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
Imagem: O Nascimento de Afrodite (detalhe), óleo sobre tela de William-Adolphe Bouguereau.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

IRONIA OU ANTÍFRASE - Figuras de Linguagem

A Ironia (figura de pensamento e palavra) consiste em dizer o contrário do que pensamos, mas dando a entender o tom irônico, geralmente, com a intenção de obter uma reação do leitor, ouvinte ou interlocutor, ou seja, pertubá-lo. A ironia estabelece um contraste entre o que se pensa e seu conteúdo. O elemento positivo (conteúdo) seve para demonstrar, realçar o valor negativo (aquilo que se pensa); maneira pela qual a ironia se assemelha a antífrase, a sátira e a hipocrisia:
Veja que belo serviço você fez!
Embora esta expressão contenha a ideia de que a pessoa fez um bonito serviço, a ideia de beleza é desmentida pela ênfase dada ao termo [belo], evidenciando que a intenção do falante é oposta aquela que está expressa na frase.
Você, realmente, é muito esperto.
Esta frase, aparentemente, não contém nenhuma ironia. Mas, dependendo da situação em que ela é utilizada, da entonação que se der às palavras, ela pode ser altamente irônica. Este é um aspecto bastante importante da ironia: o fato de ela não estar nas palavras em si, mas "por trás" das palavras.
Como a ironia está especialmente exposta ao perigo da incompreensão, precisa ser muito bem construída para não passar uma ideia completamente oposta à desejada, transformando-se em uma "ironia sarcástica"; isto é, uma ironia ofensiva, insultante. O sarcasmo é sempre um deboche altamente crítico:
"Olá! Tu que destróis o templo de Deus e o reedifica em três dias, livra-te a ti mesmo descendo da cruz". (São Marcos).
Exemplos de ironia na fala:
Você parece realmente um santinho digno do altar.
Seu café está ótimo: fraco, frio e sem açúcar.
Não é encantador o trânsito de São Paulo?
Muito competente aquele candidato! Construiu viadutos que ligam nenhum lugar a lugar nenhum.
Exemplos de ironia em Literatura
"... Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis..." (M. Assis)
"Moça linda bem tratada, / três séculos de família, /burra como uma porta: / um amor!" (M. de Andrade)
"A excelente dona Inácia era mestra na arte de judiar crianças." (Monteiro Lobato) ®Sérgio.

sábado, 18 de dezembro de 2010

CURRÍCULO VITAE OU CURRICULUM VITAE?

Currículo vitae não existe. Em Latim, é curriculum vitae (abreviado CV). Significa "a trajetória (carreira, curso, percurso) da vida". O plural é curricula vitae.
A menos que queira dar muita "ênfase" a sua carreira profissional, "prefira" a forma aportuguesada currículo / currículos, que é bem mais fácil que a forma latina. ®Sérgio.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

QUAL A LÓGICA DO ARTISTA?

Uma noite dessas conversava com um amigo e não tenho mais lembrança de como a caiu em uma pergunta: qual a lógica do artista?
Ora, pois, há muitos conceitos que responderiam a essa pergunta (você mesmo deve conhecer alguns), porém, um deles, escrito pelo poeta Ronald de Carvalho (1893 – 1935), me ficou na memória. Aqui vai tal qual:
"A arte é uma aspiração à liberdade. O que nós, poetas, músicos, pintores, escultores desejamos é criar o nosso ritmo pessoal, é transmitir a nossa harmonia interior. Cada um de nós é um instrumento por onde passa a corrente da vida. Não queremos regras nem admitimos preconceitos. Não nos atraem as teorias especiosas. A lógica do artista não cabe nas fronteiras de um teorema, a lógica do artista é um problema cujos dados mudam a cada instante, e cuja solução varia de momento a momento. Para empregar uma simples e admirável imagem de Nietzsche, dançamos acorrentados, dançamos sobre as coisas sem que a ela nos adaptemos, mas, ao contrário, tirando do espetáculo do mundo a substância da criação. A obra de arte não repete, mas advinha e transforma a natureza. O artista é um transfigurador. Recebe a energia da vida e, em troca, lhe dá forma.”
Antes que você me compare a Ezequias querendo queimar os livros de Salomão, vale dizer que o que leu é a reflexão de um poeta e, por isso, não posso, absolutamente, garantir que ele esteja certo, embora concorde com ele. ®Sérgio.
"Olha a vida primeiro, longamente, enternecidamente,
Como quem a quer adivinhar...
Olha a vida, rindo ou chorando, frente a frente,
Depois deixa o coração falar."
(Poeta Ronald de Carvalho, 1893 – 1935)

DOS PROPÓSITOS AOS REMORSOS...

"Tu não és o senhor de teu amanhã, não adies o momento de gozar o prazer possível. Consumimos nossa vida a esperar e morremos empenhados nessa espera do prazer." (Epicuro de Samos, filósofo grego)
Dos propósitos aos remorsos, dos erros aos desejos, nós mortais, arrastamos por toda parte, nosso manto de loucura e dor. Nas infelicidades passadas, nas mazelas presentes e nas esperanças futuras não vivemos nunca, esperamos a vida.
Amanhã, dizemos; amanhã estaremos melhores, realizar-se-ão todos os nossos desejos. O amanhã vem e nos deixa mais infelizes. E da noite que passa, esperamos, ainda, o que nos prometeram os nossos mais belos sonhos.
Amanhã são acasos da sorte!
É a vida no seu amargor,
Amanhã – o triunfo ou a morte;
Amanhã - o prazer ou a dor.
Hoje o dia nos cabe e nos toca,
De amanhã Deus somente é senhor!
                        (Gonçalves Dias, Amanhã)
O homem desperta e sai cada alvorada
Para o acaso das cousas... e, à saída,
Leva uma crença vaga, indefinida,
De achar o Ideal nalguma encruzilhada...
As horas morrem sobre as horas... Nada!
E ao Poente, o Homem, com a sombra recolhida
Volta, pensando: "Se o Ideal da Vida
Não veio hoje, virá noutra jornada..."
Ontem, hoje, amanhã, depois, e, assim,
Mais ele avança, mais distante é o fim,
Mais se afasta o horizonte pela esfera;
E a vida passa... efêmera e vazia:
Um adiamento eterno que se espera,
Numa eterna esperança que se adia.
(Raul de Leoni, Legenda dos Dias, in Luz Mediterrânea.) ®Sérgio.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

ACONTECEU MESMO

Este causo é tão certo como se passou. Eu o extraí do arquivo da Folha de São Paulo (publicado em 15 de agosto de 1994). Vou lhes contar com minhas palavras. Foi o seguinte:
Em 1990, era prefeito da cidade de Itambacuri (MG) – não me pergunte onde fica – o Sr. Ataliba Magalhães e o seu vice, o Sr. Kemel Ali Modad. A prefeitura, na pessoa de Ataliba, estava às voltas com uma série de reclamações dos agricultores do município sobre uma liberação de crédito do Banco do Brasil. Daí, então, para resolver a situação, o prefeito e seu vice decidiram ir a Brasília.
Na antessala do diretor da Carteira Agrícola, a secretária ofereceu-lhes um café, para amenizar a espera. Como a copeira resolvera tirar uma folga naquele dia, ela mesma foi buscá-lo. Voltou trazendo o bule e as xícaras, porém percebeu que havia se esquecido do açúcar, retornou à copa.
Na volta, viu que os visitantes já haviam tomado o café.
— Ah, doutor Ataliba, o senhor preferiu tomar sem açúcar. É, por acaso, diabético?
E Ataliba:
— Não, eu sou de Itambacuri.
Educada, a moça segurou o riso. Virou-se para o vice e repetiu a pergunta:
— E o senhor, é diabético.
E o vice:
— Não, eu também sou de Itambacuri. Sou o vice dele.
Diante da gargalhada incontida da jovem secretária, os dois se entreolharam sem entender nadinha de nada.
Salve-se quem puder! ®Sérgio.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

QUAL O MELHOR POETA? Cartas ao Leo

Pergunta-me quem foi o melhor poeta do Romantismo. Meu amigo, não espere de mim uma resposta. Pois, essa é uma questão profundamente estranha ao meu sentimento de poesia. Entretanto é a pergunta que sempre se faz quando se fala em poesia e poetas. Qual é o melhor poeta? É o que sempre ouço e, provavelmente, ouvirei enquanto viver neste mundo de Deus.
Para comprovar esse fato, basta você adentrar num fórum virtual de amantes dessa arte, para constatar que é o que mais interessa a um grande número de participantes. Não se contentam enquanto não se define o melhor, ou os melhores entre eles e em nossa literatura.
Entretanto, podemos perceber, com meio olho mesmo, que nada é mais difícil que a tarefa de se fazer comparações poéticas. Mesmo nos mais variados concursos poéticos virtuais em que se fornecem temas, se estabelecem prazos e se impõem condições aos concorrentes, o julgamento pode falhar, porque há uma quantidade de pequenas coisas, porém importantes no seu todo, que perfazem a obra de cada autor.
Imagine, agora, os obstáculos a enfrentar, quando se trata de comparar a produção inteira de vários poetas de nosso Romantismo, com estilos, temperamentos e de pensamentos diversos. A não ser, é claro, que haja uma diferença extraordinária, mas muito extraordinária mesmo, que por si só se estabeleça de um poeta sobre os demais.
Essa mania de comparações é algo que não consigo absorver. A mim, desde que um poeta me toque à alma e a faça vibrar, o que me importa saber, se ele é maior ou menor que qualquer outro? Por isso faço coro com Amadeu Amaral¹ quando diz: "Sorrindo, e chorando, e meditando, e aprendendo, e recordando, percorro os jardins maravilhosos da poesia, colhendo aqui e ali as flores que no momento mais me atraem, sem curar muito de saber quem foi o melhor jardineiro".
Contudo a mania ira permanecer. E a pergunta há de sempre se repetir: Quem é o melhor poeta? Eu de mim, meu caro amigo, não saberia dizê-lo.
Mas essas reflexões são minhas e não posso, absolutamente, lhe garantir que estou certo. Cabe a você julgar-me.
RSérgio.
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1 - A. Amaral (1875-1929): poeta, jornalista, filólogo, prosador, conferencista, está entre os legítimos valores da literatura brasileira contemporânea.

OS CHIFRES DE MOISÉS

Tenho em meu arquivo de imagens, a famosa escultura representando Moisés, esculpida por Michelangelo. Como meu hobby é o entalhe, não raro, estou a admirá-la, até mesmo para retirar detalhes anatômicos.
Sempre que a visualizava, intrigava-me o porquê de Michelangelo ter esculpido o Moisés ornado com dois corninhos, ou melhor, com dois chifres. 
Dias atrás, lendo um artigo de José Francisco Botelho, intitulado “Quem Escreveu a Bíblia?”, e vinculado à revista Super Interessante (dezembro de 08), descobri a verdadeira razão dos dois chifrinhos. Você já sabia? Maravilha!... Mas para quem não havia reparado, ou para quem nunca apreciou a obra de Michelangelo, ou ainda para quem desconhece o motivo, vou, com sua permissão, repassar, a meu modo, o que li e descobri.
Após a conversão do imperador Constantino o eixo do cristianismo se deslocou do Oriente Médio para Roma; porém para completar a romanização da fé, faltava traduzir o Antigo e Novo Testamento para o latim. Coube ao teólogo Eusebius Hyeronimus, que mais tarde viria a ser canonizado São Jerônimo, esta missão. Sob ordens do papa Damasco, ele viajou a Jerusalém para aprender hebraico e realizar a tradução, que duraram 17 anos.
Daí saiu a Vulgata, a Bíblia latina. Ela se tornou tão influente, mas tão influente, que até seus erros de tradução se tornaram clássicos. São Jerônimo, ao traduzir uma passagem do Êxodo que descreve o semblante do profeta Moisés escreveu em latim: cornuta esse fácies sua, isto é, sua face tinha chifres. Esse esquisito detalhe foi levado a sério por artistas como Michelangelo. Tudo porque Jerônimo tropeçou na palavra hebraica Karan, que pode significar tanto chifre quanto raios de luz. Portanto, a tradução correta seria: sua face tinha raios de luz e não chifres, ou melhor, tinha o rosto iluminado.
Aí está a resposta do que me intrigava: um erro na tradução bíblica levada a sério pelo mestre Michelangelo. Não seria este mais um caso da chamada fé cega? Afinal, Miguelangelo devia ter-se questionado, pois quem tem chifres é o demônio. É ou Noé? ®Sérgio.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

OS HINOS HOMÉRICOS - Estudos Literários

Atribui-se ao poeta Homero a coletânea de uma série de poemas - de diferentes autores (devido às diversidades entre os poemas), épocas e regiões da Grécia - dedicados a várias divindades. Daí o tradicional título de Hinos Homéricos. Chegaram até nós por meio de muitos manuscritos. Entretanto, nenhum deles contém todos os hinos e a maioria está em más condições.
Esses hinos eram compostos com o mais antigo tipo de metro: o hexâmetro.   O mesmo hexâmetro que formavam os versos da Ilíada, da Odisseia, dos poemas de Hesíodo e de outros poemas épicos. Apesar dos hinos apresentarem diferenças no número de versos, todos tinham a estrutura dividida em três partes:
Inuocatio (invocação) - apóstrofe ao deus homenageado.
Pars Epica (parte épica) - descrição dos atributos divinos, eventualmente acompanhada do relato de um ou mais episódios de seu mito.
Precatio (súplica) - contém uma saudação final, uma prece e, muitas vezes, uma referência a outro hino ou poema cantado no festival.
De acordo com o historiador grego Tucídides (460-400 a. C.), eles eram recitados pelos rapsodos (declamadores ambulantes, que iam de cidade em cidade propagando a Ilíada e a Odisseia) a título de introdução, prelúdio ou proêmio (canto introdutório) de solenidades religiosas ou de festivais religiosos. A finalidade era, logicamente, a de invocar a divindade solenizada ou enaltecida na ocasião.
Os hinos não possuem a mesma extensão e, no que tange a qualidade, são desiguais. O mais extenso deles é o dedicado a Hermes (580 versos); o mais curto a Demeter (três versos). Os mais importantes são, naturalmente, os mais longos: a Demeter, a Apolo, a Hermes e a Afrodite. Entretanto, entre os curtos, há hinos notáveis como: a Dionísio (quando capturado pelos piratas); a Pã (sobre as atividades nos campos e nos bosques); a Gaia, a Helio e a Selene.
De todos os hinos da antologia apenas dois tem autoria reconhecida: o do mais longo hino dedicado a Apolo (um rapsodo chamado Cineto de Quios) e a Ares (o filósofo neoplatônio Proclo). Os demais são anônimos.
A antologia é formada por 33 hinos para 22 divindades:
Afrodite
Apolo
Ares
Ártemis
Asclépio
Atena
Deméter
Dioniso
Dióscuros
Gaia
Hélio
Hefesto
Héracles
Hera
Hermes
Héstia
Musa
Réia
Posídon
Selene
Zeus
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®Sérgio.
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Informações foram retiradas e adaptadas ao texto de: RIBEIRO JR., W.A. Portal Graecia Antiqua, São Carlos. Disponível em www.greciantiga.org. / Bernabé Pajares, Alberto (ed.). Fragmentos de épica griega arcaica. Biblioteca Clássica Gredos, 20. Madrid: Gredos, 1999.

A FESTA NO CÉU - Recontando Contos Populares

Espalhou-se entre a bicharada que haveria uma festa no céu e só compareceriam as aves porque podiam voar. Isso começou a fazer inveja aos animais e outros bichos incapazes de voar. Mas, teve um que não se deu por satisfeito, e dizia a todos que também ia à festa... Imagine quem? O sapo! Isso mesmo, o sapo! Logo ele, gorducho, que nem uma carreira era capaz de arriscar, achando-se capaz de aparecer naquelas alturas. Pois, afirmava que fora convidado e que ia, chovesse ou fizesse sol. Os bichos só faltavam morrer de rir. Calcule os pássaros.
Entretanto, o seu sapo tinha um plano. Na véspera, foi até a casa do urubu para uma boa prosa, depois de prosearem bastante, disse:
— Bem, amigo urubu, quem é coxo, parte cedo; vou indo porque o caminho é comprido.
O urubu respondeu:
— Você vai mesmo?
— É claro que vou! Inté lá, sem falta!
Entretanto, em vez de sair, o sapo deu uma volta, entrou no quarto do urubu e, vendo a viola em cima da cama, meteu-se dentro dela, e ali ficou, todo encolhido.
Chegando a hora de partir para a festa, o urubu, pegou na viola, amarrou-a a tiracolo e bateu asas para o céu, rru-rru-rru...
Cegando ao céu, o urubu arriou a viola num canto e foi tagarelar com as outras aves. O sapo botou um olho de fora e, vendo que estava sozinho, num pulo ganhou o chão, todo satisfeito.
Vocês não imaginam o espanto que as aves tiveram ao verem o sapo, todo cheio de razão, pulando no céu. Queriam todas, saberem, como ele conseguiu chegar ali. Porém o sapo desconversava, e pulava pra frente. A festa começou e o seu sapo tomou parte com grande animação. Lá pela madrugada, tendo ciência que só podia voltar do modo que veio, foi se esgueirando para fora do salão e correu para o lugar onde o urubu havia deixado a viola.
O sal saindo, acabou-se a festa, e os convidados foram deixando o céu, voando para suas casas. O urubu, não fez por menos, agarrou a viola e tocou para casa, rru-rru-rru...
Ia pelo meio do caminho quando numa curva, o sapo deu uma esticada de perna e o urubu, espiando para dentro da viola, viu o amigo sapo lá no escuro, todo curvado, feito uma bola.
— Ah! Amigo sapo! É assim que você vai à festa no céu? Deixe de ser confiado...
E naquelas alturas emborcou a viola e o sapo despencou-se para baixo, zunindo que nem fecha. E dizia na queda:
— Béu-béu, se eu desta escapar, nunca mais festa no céu...!
Bateu em cima das pedras, como uma jaca madura, espatifando-se todo. Ficou em pedaços. Nossa Senhora, com pena de seu sapo, juntou os pedaços, e o sapo viveu de novo.
Por isso o sapo tem o couro todo cheio de remendos. ®Sérgio.

MESTRE GALO E A COMADRE ONÇA - Recontando Contos Populares

Certo dia, a comadre Onça resolveu dar uma festa e convidou todos os bichos da região. O pagode devia começar ao primeiro sinal da manhã, e nessa hora, todos os convidados deveriam estar presentes.
Entre a bicharada o comentário é de que a festa seria de arromba, a melhor de que havia notícia até aquela data.
Chegando o dia do evento, a mata estava no maior burburinho. Nenhum dos bichos queria faltar ao convite, nem perder a hora.
A primeira luz do dia a casa da comadre Onça estava tão entupida de bicho que até parecia um formigueiro. Ninguém faltara, a não ser Mestre Galo. Tinha esquecido completamente do convite.
Não demorou muito para que a ausência do galo fosse notada. A Comadre se enfureceu, achou que aquilo era pouco caso sem desculpa, além de que, poderia arruinar sua majestade. Então, chamou a raposa e o gambá e lhes ordenou que fossem buscar o galo a sua presença.
Quando a escolta chegou ao galinheiro, pôs a galinhada em polvorosa e o Mestre Galo despertou sobressaltado, no poleiro.
— Vimos lhe buscar seu galo tratante - disse a raposa - da ordem da comadre Onça.  Ela lhe dá a honra de um convite para a maior festa da mata e você fica a dormir!
— Ah! É verdade! Responde o galo ainda espreguiçando. Tinha-me esquecido...
— Pois, é por isso, que a Comadre está furiosa com você.
— Perdão pessoal, perdão! O que ela quererá fazer de mim?...
— Ainda pergunta? Vai devorá-lo, se der a você essa honra, caso contrário deixará darmos cabo de você.
E dizendo isso, a raposa ameaçou destroçar todo o galinheiro de Mestre Galo caso ele se negasse a acompanhá-la, e ordenou-lhe:
— Vamos! Marcha! A comadre está a sua espera; e furiosa!
Mestre Galo não teve outro remédio senão acompanhar, muito do jururu, a escolta.
Chegando a casa da Comadre, a escolta e o preso compareceram diante de sua majestade comadre onça, que soltou um urro de raiva.
— Seu patife! Galo duma figa. Como então ousou desobedecer meu decreto, não se apresentado à hora marcada à minha festa? Vai pagar esse atrevimento.
— Saiba V. Comadre Onça que não foi por querer, mas por esquecimento. Perdão, perdão! Rogo-lhe o perdão ajoelhado aos seus pés.
— Você é um cabeça de vento!... Ia dar-lhe a morte, mas como se humilha, e, para não perturbar a alegria de minha festa, terá, de agora em diante como castigo de seu esquecimento, de não dormir além da meia-noite. Dormirá ao pôr do sol, mas a meia-noite cantará até as duas. E ao vir o dia cantará novamente, dando sempre sinal que está alerta. Se dormir e não cantar, você e sua família correm o risco de serem destroçados pelo gambá e pela raposa. Assim ficará punida tua vil memória.
Mestre Galo ficou muito contente com a solução achada pela comadre Onça e para não esquecer de que havia de cantar à meia-noite, cantou também ao meio-dia. E dessa data em diante começou a cumprir sua condenação, cantando pela madrugada fora.
Mestre Galo quando canta fecha os olhinhos para não esquecer de que tem de cantar outra vez e canta de dia para se lembrar de que tem da cantar de madrugada. ®Sérgio.
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Nota Sobre o Texto: Há duas variantes deste conto: a primeira, em que me baseei, em vez da onça é o leão que dá a festa; e, uma segunda, onde em vez do leão é o sol que dá a festa.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

O ENTERRO DE SEVERINO

Lá pelos lados de Pernambuco, mais precisamente na zona canavieira; havia (não sei se ainda há) um costume bem interessante: quando morria algum morador do engenho, os parentes, quase sempre gente pobre, se dirigiam ao delegado de polícia e pediam licença para rezar num "quarto de defunto". Com a licença concedida pelo delegado, eles vão até um boteco, ou bodega, ou ainda, bolicho, e compram de oito a dez garrafas de aguardente, das piores, e um ou dois quilos de bolacha comum, marca popular. Passam então a noite toda cantando ladainhas e ofícios; tomando aguardente e comendo bolacha.
Pois bem, morreu lá, um tal de Severino, e os parentes pediram licença para rezar num "quarto de defunto", compraram o caixão, dez garrafas de aguardente e dois quilos de bolacha, levando tudo para o velório. Passaram a noite velando o morto, entornando a cachaça, comendo a bolacha e cantando ladainhas. Lá pelas tantas da noite, homens e mulheres um tanto embebedados, já não sabiam mais o que estavam cantando. A viúva nem tempo tinha de chorar; atendendo um aqui, outro ali, outro acolá, que chegava até a esquecer do finado.
De manhã, na hora do enterro, fecharam o caixão e foram para o cemitério, num cortejo ziguezagueado que dava dó de se ver. Mais mal do que bem, chegaram ao cemitério; abriram a cova e enterraram o caixão. Depois voltaram até a casa do morto, na esperança de ter sobrado alguma cachacinha no fundo da garrafa. Levaram, então, a maior descompostura de um parente do falecido Severino. É que, o pessoal mais bêbado do que "embolachado", fecharam o caixão, foram ao cemitério fazer o enterro, mas esqueceram do falecido em cima da mesa.
Salve-se quem puder! ®Sérgio.

sábado, 20 de novembro de 2010

A ANTONOMÁSIA - Figuras de Linguagem

É uma variante da metonímia, ou seja, uma substituição de um nome por outro que com ele tenha relação, isto é, designamos uma pessoa pelos seus atributos ou por uma qualidade, ou ainda por uma característica (ou fato) que a distingue. A antonomásia é muito utilizada nos textos escritos e falados. Veja alguns exemplos:

• O Divino Mestre passou pela vida praticando o bem.
• O Poeta dos Escravos morreu na flor dos anos.
Eis uma pequena lista de antonomásias:
- O Poeta dos Escravos - Castro Alves.
- O Patriarca da Independência - José Bonifácio.
- O Águia de Haia - Rui Barbosa.
- O Salvador, o Nazareno, o Redentor, O Divino Mestre - Jesus Cristo.
- O Herói de Tróia - Aquiles.
- O Berço dos Faraós - Egito.
- O Herói das Termópilas - Leônidas.
- O Pai da Medicina - Hipócrates.
Na linguagem popular, o apelido, a alcunha é uma forma de antonomásia. ®Sérgio.

ACIMA DO PESO

Maria Moura, nossa vizinha de Cuiabá (MT), nos contou que estava preocupada com seu pai, que se achava acima do peso e não conseguia fazer regime. Então, disse a ele que parasse de jantar e comesse apenas uma fruta à noite. Na noite seguinte ele apareceu com uma melancia e a comeu inteirinha!
Salve-se quem puder! ®Sérgio.

A EPÍSTROFE - Figuras de Linguagem

Consiste na repetição de uma ou mais palavras no fim de sucessivos versos ou no fim de cada um dos membros da frase:
• "Parece que eles vieram ao mundo para ser ladrões: nascem de pais ladrões, criam-se em meio a ladrões, morrem como ladrões." (Heitor)
• "Os animais não são criaturas? As árvores não são criaturas? As pedras não são criaturas?" (A. Vieira)
 "Não sou nada
    Nunca serei nada
    Não posso querer ser nada" (Álvaro de Campos) ®Sérgio.

domingo, 7 de novembro de 2010

UMA ATIVIDADE SINTÁTICA E RECREATIVA

Esta atividade é muito importante para o desenvolvimento da memória, excelente para a compreensão dos termos acessórios da oração e para a composição frasal, além de uma boa diversão.
Os participantes podem ser divididos em grupos ou participarem individualmente. A disposição deles no espaço físico dependerá do professor ou professora. A sugestão é sentarem-se em círculo.
A atividade consiste em acrescentar palavras que se relacionem a frase: O Homem da Perna de Pau. Outras frases podem ser utilizadas, esta é apenas uma sugestão.
Cada participante, ou os participantes de cada grupo, devem agregar a frase proposta uma palavra (somente uma) sempre que chegue sua vez, ou a vez do grupo. Por exemplo: o primeiro participante começará dizendo:
"Sou o homem da perna de pau."
O que lhe segue dirá:
"Eu sou o homem da perna de pau."
O outro falará:
"Eu sou o sapato do homem da perna de pau."
E mais outro:
"Eu sou o buraco do cordão do sapato do homem da perna de pau."
E assim sucessivamente.
A dicção das palavras deve ser bem clara; quem se equivocar ou titubear será excluído do jogo. Vencerá aquele, ou o grupo, que no final, entre dois, não cometer erro.
Cabe lembrar que o sucesso de uma atividade pedagógica recreativa se deve, em sua maior parte, a quem a dirige. ®Sérgio.
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Fonte: N. Pithan. Recreação. Cia Brasil Editora: São Paulo, s.d.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

O ENCONTRO

Por diversas vezes resisti à tentação de compartilhar com vocês esta Fábula de Millôr Fernandes¹. Entretanto, a tentação, acabou por vencer-me:
Vestido como caçador o homem caçava. Estava metido no mais negro da floresta e caçava. Mas, não procurava qualquer caça não. Procurava uma caça determinada capaz de lhe dar uma pele que aquecesse suas noites hibernais.
E procurava. Procura que procura, eis, senão, quando numa volta da floresta depara nada mais nada menos que com um urso. Os dois se defrontam. O caçador apavorado pela selvageria do animal. O animal pela civilização em forma de rifle do caçador. Mas foi o urso quem falou primeiro:
— Que é que você está procurando
— Eu – disse o caçador – procuro uma boa pele com a qual possa abrigar-me no inverno. E você?
— Eu – disse o urso – procuro algo que jantar, porque faz três dias que não como.
E os dois se puseram a pensar. E foi de novo o urso que falou primeiro:
— Olha caçador, vamos entrar na toca e conversar lá dentro, que é melhor!
Entraram. E dentro de meia hora o urso tinha o seu almoço e consequentemente o caçador tinha o seu capote.
Moral: Falando a gente se entende. ®Sérgio.
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1 - Fabulas Fabulosas. Editora Nórdica: São Paulo, 1973, p.65.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

OS TRÊS IRMÃOS E A PRIMA RICA - Recontando Contos Populares

Conta-se que, certa vez, uma moça muito bonita, filha de um rico fazendeiro, foi hospedar-se em casa de um tio pobre, pai de três garotões solteiros.
No fim de poucos dias, a moça entendeu que estava sendo paquerada pelos três primos, sendo que cada um, guardava em segredo, essa paixão.
Depois de três semanas, a prima marca sua partida para o dia seguinte. Foi então, que cada um dos primos resolveu confessar-lhe seu amor, pedindo-a em casamento. O mais velho que se chamava Everaldo, tomado de coragem, foi o primeiro a lhe falar. A moça ouviu-lhe o pedido, mas como não sentia nada por ele, e sendo um tanto espirituosa lhe propôs o seguinte:
— Só me casarei com o homem que me der provas de sua coragem. Aceitarei seu pedido se hoje, à meia noite, vestido de preto e levando um lençol branco, você penetrar no cemitério e deitar-se sobre o túmulo que estiver de frente ao portão de entrada, cobrindo-se com o lençol como se este fosse uma mortalha. Mas antes deve acender velas em volta do túmulo e não pode sair dele antes de clarear o dia, hora que lá irei para confirmar tua coragem.
Everaldo, apaixonado, não teve dúvidas em aceitar a proposta.
Mal Everaldo deixa a moça, apresenta-se Arnaldo. Feita a declaração, obteve a mesma resposta, porém com proposta diferente:
— Serei tua esposa se esta noite, à uma hora da madrugada, você penetrar no cemitério, mascarado, vestido de preto e levando consigo uma banqueta; deve sentar-se junto ao túmulo que encontrar iluminado por velas, tendo um defunto deitado sobre ele. Ao raiar do dia irei ver se é corajoso.
Arnaldo, também apaixonado, aceitou de imediato a proposta.
Clodoaldo, o mais moço, levou mais tempo para tomar coragem, e só foi ter com a moça, no cair da tarde. Esta lhe respondeu como já fizera aos outros:
Caso-me contigo, se está noite, às duas da madrugada, você penetrar no cemitério, vestido de diabo, com uma sineta numa mão e uma tocha na outra. Entrará pela porta principal e irá até o túmulo bem em frente, que estará iluminado por velas, de onde me trará certo objeto que está sobre ele.
Clodoaldo, mais apaixonado ainda, jurou cumprir o acordo.
A moça, depois disso, correu até a casa do coveiro, guardião do cemitério, e propôs-lhe, por uma boa gorjeta, deixar o portão do cemitério sem tranca durante a noite e manter absoluto segredo do que lhe contara. Dito e feito.
Antes da meia-noite, Everaldo vestiu a roupa preta e com o lençol embrulhado debaixo do braço, partiu para o cemitério. Experimentou o portão principal; encontrando-o destrancado, agradeceu a sorte, e entrou. Lá estava o túmulo, aproximou-se vagarosamente, olhou para um lado e para o outro, embora sentisse arrepios de medo, acendeu as velas em volta, subiu para o túmulo e nele deitou-se, cobrindo-se com o lençol; justamente quando o relógio da matriz dava as badaladas da meia-noite.
Ali se deixou ficar, tremendo que nem vara verde. Passada uma hora, ouviu rumor no portão de entrada. Sentiu que alguém, passo a passo, se aproximava. Percebeu que o visitante arrastara uma banqueta e sentou-se junto do túmulo, se borrando de medo.
Everaldo, sem saber de que elementos de coragem e força dispunha, segurava-se para não estremecer e denunciar o pavor que sentia. A vontade era pular daquele túmulo e fugir.
Por outro lado, Arnaldo, de cabelo em pé, tremia mais do que gelatina. O silêncio no cemitério era profundo, só interrompido, de vez em quando, pelo canto das corujas e o voo dos morcegos. E para piorar as coisas para o suposto defunto, Arnaldo começou a cochichar, numa voz cavernosa, padre-nossos, ave-marias, Credo em cruz e o que mais podia se lembrar de rezas.
A coisa já ia de mal a pior, quando se ouviu um badalar de sineta. No portão aberto do cemitério apareceu a figura diabólica de Clodoaldo. Era o que faltava; diante daquela encarnação de essência diabólica, Arnaldo ergue-se da banqueta e Everaldo, arrancando lençol do corpo, pula do túmulo. Ambos sem se reconhecerem, puseram-se em desnorteada carreira.
Clodoaldo, por ver um defunto pular do túmulo, assombrado, treme, e quanto mais tremia mais badalava a sineta. As aves adormecidas nos galhos das árvores fugiam espavoridas, ao ranger frenético da sineta. Ao ver os dois passarem por ele, feito flechas, não se deu por rogado e disparou atrás... E lá se foram os três, correndo na mesma direção: a da casa deles.
A prima, que não era nada boba, já os esperava na janela e, ao vê-los chegar ao mesmo tempo, naquela situação, não se conteve e caiu na gargalhada, exclamando: "Perderam a aposta! Não é culpa minha que não tivessem coragem!"
Os irmãos então caíram em si e perceberam o papelão que tinham representado. Pediram à prima que não revelasse o acontecido, que foi prontamente prometido. Assim, fizeram as pazes; podendo, no outro dia, a moça retirar-se para sua fazenda.
O caso veio a conhecimento do arraial pelo coveiro. Com a sobra do dinheiro recebido, encheu a cara no boteco e contou todo o acontecido.®Sérgio.
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Nota Sobre o Texto: Em contato com pessoas pela internet, interei-me que este causo já correu o Brasil, em versões mais ou menos diferenciadas. Lindolfo Gomes em Contos Populares (1931) já o havia ouvido em Mata de Minas. Aqui, contou-me o senhor Otacílio, por três vezes. Qualquer um que pegue de prosa com ele, vai ouvi-lo na primeira oportunidade, principalmente, se ele já tiver tomado umas.