A farsa - principal forma de teatro cômico medieval -,
despontou no crepúsculo da Idade Média francesa, por volta do século XVI. A
princípio consistia numa breve peça cômica, apresentada, a modo de intervalo,
no meio dos mistérios (peça de longa duração sobre a história da religião);
mais tarde passou a desenvolver existência autônoma. Por sua origem cômica, a
farsa tende para a comédia de costumes e de caracteres.
Dentre todas as peças
curtas do teatro profano, este tipo pretende provocar o riso sem intenção
didática ou moralizante; mas sim, a partir de exageros tirados da observação da
vida quotidiana. A farsa depende mais da ação do que do diálogo; mais dos
aspectos externos (cenários, roupas, gestos, etc.) do que do conflito
dramático. É simples (não usa alegorias), é maliciosa, grosseira e direta (vai
diretamente as coisas). Mostra gente do povo em seu ambiente familiar. Seus
personagens, em número restrito, são tirados da vida urbana em desenvolvimento.
Não estão investidos de requintes psicológicos, mas representam "condições" (marido, mulher, amante, patrão, empregado),
ou tipos facilmente reconhecíveis tomados à burguesia
(o comerciante, o advogado, o louco, o
médico, o tolo, etc.). Seu esquema repousa no trapalhão, enganado por
alguém mais esperto.
A farsa se distingue da
comédia propriamente dita por não observar regras de verossimilhança e difere
da sátira ou da paródia por não pretender questionar valores. Também é possível definir a farsa como o oposto da
fábula, na medida em que a farsa, ao contrário da fábula, apresenta o que se
pode denominar de uma falso moral.
Dentre os numerosos exemplares desse gênero (mais
de cento e cinquenta) produzidos entre 1440 e 1560, época de seu florescimento,
destaca-se La Farce de Maîte Pathélin, composta entre 1460 e 1470. Após exercer
notável influência sobre o teatro seiscentista (Molière, Shakespeare, Commedia
Dell'arte) a farsa continou até nossos dias com Labiche, Tristan Bernard, para
citar apenas dois nomes. A comédia romântica, não raro, utilizou expedientes
peculiares a farsa. ®Sérgio.