segunda-feira, 12 de julho de 2010

MAIS BEM e MAIS MAL - Linguagem e Dúvidas

Antes de verbos no particípio, use mais bem e mais mal em vez de pior e melhor. Em português, o particípio é a forma nominal do verbo, geralmente, formado com o sufixo [-ado, -ada] para os terminados em [ar] (amado, parado) e [-ido, -ida], para os terminados em [er, ir] (vendido, sentido): Aquelas alunas estavam mais bem preparadas que as outras. E não: estavam melhor preparadas que as outras.
    Seu trabalho está mais bem elaborado que o meu (não melhor).
    Esta roupa parece mais mal acabada que aquela (não pior).
Nos demais casos, use pior e melhor. ®Sérgio.

MAS... NO ENTANTO

Estabelecem redundância, se usados na mesma frase: Saiu cedo, mas não conseguiu, no entanto, chegar na hora.
Para evitar a redundância use [mas] ou [no entanto]:
    Saiu cedo, mas não conseguiu chegar na hora.
    Saiu cedo, no entanto, não conseguiu chegar na hora. ®Sérgio.

PADRE LOURENÇO E O CABOCLO - Recontando Contos Populares

Deu de acontecer que o padre Lourenço e seu sacristão viajavam pelo interior, a rezar missas nos vilarejos, tendo como guia um caboclo. O sacristão montado numa mulinha troncha vermelha mais o caboclo em seu cavalo viajeiro iam adiante. Atrás o vigário na sua mulona ferrada lendo o breviário. Beirando aí às cinco horas, ameaçou uma trabuzana de água que parecia que o mundo vinha abaixo. O vento assobiava danado de brabo. Fosse o que fosse tava na hora de procurar um abrigo.
Vencida obra de duas léguas, os três chagaram a porteira de um sítio e avistaram uma cabana que parecia devastada de dono. Mais que depressa dela se aproximaram. Acercando-se da porta chamaram por alguém. Veio então atender o sitiante; o vigário sem mais delongas explicou a situação e pediu que lhes dessem abrigo. O sitiante então mandou que os hóspedes entrassem. Sentaram à mesa e ele lhes diz que para comer só tinha uma sobra de queijo de cabra. Se fosse do gosto deles... Não sabendo como dividir, pois que o queijo era muito pequeno mesmo, o padre Lourenço resolveu que fossem dormir e o queijo seria daquele que tivesse, durante a noite, o sonho mais bonito (pensando, claro, em engambelar os outros dois com a sua oratória). Todos aceitaram e foram dormir. Quando a noite ia grossa, o caboclo acordou, foi ao queijo e comeu-o.
Pela manhã, os três sentaram à mesa para tomar café e ver quem ia comer o queijo. Cada qual teve que contar seu sonho. O padre disse que sonhou com a escada de Jacó e descreveu lindamente como, por ela, subiu triunfalmente para o céu. O sacristão então contou que sonhara já estar no céu esperando pelo padre que subia. O caboclo riu e contou:
- Sonhei que via seu padre subindo a escada e seu ajudante lá no céu, rodeado de amigos. Eu que fiquei aqui na terra e gritei:
- Seu padre, seu sacristão o queijo! Vosmicês esqueceram o queijo!
Então vosmicês responderam do céu:
- Come o queijo, caboclo! Come o queijo, caboclo! Nós estamos no céu, não precisamos mais do queijo.
- O sonho foi tão real que eu pensei que era verdade, levantei enquanto vocês dormiam e comi o queijo... ®Sérgio.
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MALASARTE E A CARTOLA DO JUIZ

A noite já ia alta e Pedro Malasarte, sem nenhum vintém, procurava um bom lugar para dormir, quando aconteceu dele passar frente à casa de um juiz. Bateu a porta e pediu pousada, dando o nome de tal doutor fulano, que estava de passagem por aquelas terras.
O juiz costumava a chegar tarde, pois ficava até a meia-noite jogando truco com seu compadre e amigos. Vai então que o filho do juiz, na sua simplicidade, mandou entrar o hóspede e, depois de Malasarte comer até se fartar, deu-lhe pousada, no quarto onde o juiz costumava se vestir.
Quando o juiz chegou a casa, o filho lhe contou o que ocorrera e o magistrado ficou muito satisfeito com a hospedagem. Nem por sombras podia imaginar o que ia suceder.
Lá pela madrugada, quase amanhecendo, Malasarte começou a sentir umas coisas na barriga... Procurou o vaso e, não o encontrando, abriu a janela... Mas lá fora havia uma cachorrada, que pegou a latir e foi um barulho de latidos do inferno.
Malasarte estava suando frio. Mas, nisto, avistou na prateleira uma caixa. Abriu; dentro havia uma cartola de feltro. Estava salvo! Tirou a cartola e, fez nela... Bem, vocês já sabem. Depois pôs outra vez, com muito cuidado, a cartola na caixa e, esta, no lugar onde estava.
Nesse tempo, a manhã já rompia e Malasarte quando ouviu o tropel dos criados na casa, tratou de cair fora. Quando vieram chamá-lo para o café, não o encontraram mais.
Na hora do almoço, o Juiz saiu do quarto e foi para o cômodo em que costumava se vestir. Era dia júri. Vestiu a sobrecasaca, e, distraído, tirou da caixa a cartola e num só golpe a enterrou na cabeça. Não deu outra coisa, o Juiz ficou com a cara... digamos, enlameada. Além disso, sentiu um cheiro que quase o sufocou. Começou então a gritar. A família veio em seu socorro, achando que alguma desgraça tinha acontecido.
Ao vê-lo naquele estado, o filho foi buscar um balde de água, a filha sabonete de cheiro e a mulher um frasco de perfume. O Juiz bufava de raiva. Mas Pedro Malasarte já estava longe. ®Sérgio.