sábado, 9 de abril de 2011

A LINGUAGEM

"A linguagem é inseparável do homem, segue-o em todos os seus atos. A linguagem é o instrumento graças ao qual o homem modela seu pensamento, seus sentimentos, suas emoções, seus esforços, sua vontade, seus atos, o instrumento graças ao qual ele influencia e é influenciado, a base mais profunda da sociedade humana." (Louis Hjelmslev, linguista dinamarquês)

COMO FALAR DE LIVROS QUE NÃO LEMOS?

Você já teve uma sensação de angústia ao entrar em uma livraria?
Você deve estar pensando: "Mas que pergunta mais besta. Onde já se viu ficar angustiado por entrar numa livraria".
Pois eu já tive e tenho. Quando entro, tenho a impressão de estar sendo, repreendido, execrado por todos os livros que lá estão e que não os li.
Entretanto, pior do que a angústia da livraria é a de admitir, numa roda literária, que não leu um romance de Jorge Amado, de Machado de Assis, de Tolstoi, ou mesmo qualquer outro que lhe perguntem. É uma situação um tanto embaraçosa. Pior ainda se lhe pedirem uma opinião sobre o livro. Mentir, nesse caso, seria a alternativa, embora nem sempre bem-vinda. A não ser que tomemos a corajosa atitude de confessar, de forma súbita, a não leitura, como fez Ezra Ponde quando Ernest Hemingway lhe perguntou o que achava de Dostoievski. Pond, detentor de uma cultura literária impressionante, decepcionou Hemingway ao responder: "Para lhe ser franco, nunca li os russos". De quebra, aconselhou o amigo a ler "os franceses". Pond, com certeza, sabia quem é Dostoievski e da importância dele na literatura, mas preferiu confessar sua ignorância em relação à obra do escritor russo.
Na verdade, largar um livro na metade ou nas primeiras páginas, ou ainda, lê-lo aos pedaços, faz parte do histórico de qualquer leitor. Além disso, nossa memória possui limitações. Não raro, começamos a esquecer duma página quando ainda estamos lendo à seguinte, imagine, agora, uma obra inteira. Depois, com o tempo as obras lidas vão se misturando na memória, até ficarem completamente embaralhadas; isso, quando não as esquecemos, totalmente. Há até quem recomende deixar de lado a leitura de um livro ruim. É o caso do filósofo alemão Arthur Schopenhauer, autor do ensaio Sobre Livros e Leituras. "Para ler o bom, uma condição é não ler o ruim: porque a vida é curta, e o tempo e a energia escassos", diz o filósofo. Vou mais além, o tempo é escasso até mesmo para a leitura dos bons.
Para aqueles que preferem argumentar uma falsa leitura em vez de admitir a não leitura, repasso, abaixo, algumas dicas que o psicanalista e professor de literatura francesa, Pierre Bayard, recomenda em livro: Como Falar Dos Livros Que Não Lemos?  O título é polêmico e dá a sensação que a opinião do autor é a de incentivar a não leitura, mas o que ele pretende é ensinar a "ler", não é ler por ler (sem reter), mas saber ler de forma a conseguir falar daquele livro e de outros, sem ter lido tudo.
 Todos têm lacunas na sua formação cultural. Nas rodas em que se discute literatura, não há porque imaginar que o sujeito ao seu lado conheça mais uma obra que você.
Opiniões sobre literatura são sempre um tanto arbitrárias. Fale bem ou mal de um livro, mas fale com convicção – e ninguém desconfiará que você não o leu.
Todo leitor é traído pela memória. Assim você pode inventar novos episódios para um livro, ou até falar de autores e livros que não existem. Se alguém apontar o erro, diga, rindo que sua memória confundiu as coisas.
Há várias maneiras indiretas de conhecer um livro: pela crítica, por resumos, pelo que os amigos falam.
  Oscar Wilde ensina que a crítica literária é uma forma de autobiografia. Fale do significado especial que o livro tem para você – mesmo que não o tenha lido.
Pronto, agora você já pode entrar, sem receio, naquela rodinha, ou naquele fórum, e impor sua opinião sobre a obra discutida, mesmo que não a tenha lido. ®Sérgio.
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Fontes: http://www.webboom.pt/ficha.asp?ID=164176#sinopse e Jerônimo Teixeira: Veja On-Line.