quarta-feira, 2 de março de 2011

O CARDEAL MEZZOFANTI - Notas Biográficas

Com a devida licença, lhes apresento o Cardeal Gaspare Mezzofanti, um dos  maiores poliglotas de todos os tempos.
Gaspare nasceu em 19 de setembro de 1774. Filho de um pobre carpinteiro de Bolonha. Ainda menino, se entregou ao conhecimento do idioma. Com a idade de 12 anos fez os três anos do curso filosofia. Quando terminou seus estudos teológicos ainda não tinha idade para ser ordenado. Aos vinte e três anos de idade, há pouco ordenado, já era professor de árabe da Universidade de Bolonha, sua cidade natal. Pouco tempo depois, estendeu suas atividades ao ensino do grego e línguas orientais.
Sua vocação para o estudo das línguas foi tanta, que o astrônomo Zach - de passagem para Genebra, aonde se dirigia para observar um eclipse - ao conhecê-lo, registrou em seu bloco de notas: "Ia observar um milagre no céu, e a terra me forneceu outro fenômeno não menos admirável". E não foi esta a única referência elogiosa a capacidade de Gaspare para assimilar idiomas; Byron já havia dito: "Devia ter vivido no tempo da torre de Babel como intérprete universal". Sua memória era tão privilegiada que uma única leitura lhe bastava para reproduzir, de cor, uma página inteira de São João Crisóstomo.
Certa vez, satisfez a curiosidade do conselheiro de Estado russo, Muravief, remetendo-lhe o nome de Deus escrito em cinqüenta e seis idiomas. Três anos depois, em 1846, já dominava a soma de setenta e oito línguas, excluídos os dialetos. É algo, realmente admirável, principalmente se atentarmos para o fato de que, para ele "dominar uma língua significava falá-la com ótima pronúncia, lê-la, escrevê-la e até compor poesias nela".
Não foi a sede de aventuras espirituais que o motivou a desenvolver essa capacidade - era excessivamente modesto - e sim, a necessidade de dar vazão, num terreno bastante extenso, a uma capacidade prodigiosa, da qual não sabia o que fazer. O domínio sobre os idiomas era tão grande, que notava solecismos (imperfeição) no polaco que o czar Nicolau usava para conversações entre ambos. Ou ainda "palestrar em grego com Byron, em provençal com Manavit, em croata com o imperador Francisco I". Alimentava também uma vaidade natural: passear no pátio do Colégio Propaganda, em Roma, saudando na língua de cada um de seus alunos, procedentes de todos os recantos da Terra, além de sustentar uma conversação em várias línguas com muitos interlocutores ao mesmo tempo.
De acordo com Russell, o Cardeal Mezzofanti falava perfeitamente trinta e oito línguas, e trinta outras línguas, menos perfeitamente. Cinquenta dialetos das línguas acima mencionadas. Eis algumas: Hebraico, Árabe, Caldeu, Armênio (antigo e moderno), Persa, Turco, Albanês, Maltês, Grego (antigo e moderno), Latim, Italiano, Espanhol, Português, Francês, Alemão, Inglês, Russo, Polonês, Chinês, Sírio, Basco, Hindu, para só citar essas. Ele não deixou trabalhos científicos, embora alguns estudos comparativos em Lingüística encontram-se entre os seus manuscritos, que deixou, em parte, à biblioteca municipal e, em parte, à biblioteca da Universidade de Bolonha. ®Sérgio.
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Fonte: Arsênio, Arnaldo; Aspecto da nossa Língua; CERN, 1983.

POR SER PANTANEIRO...

Tenho grande afinidade com a natureza; talvez por ser de uma família de camponeses. Para mim, a natureza é expressiva...
Pelos campos vaguear
sentir o vento, respirando a vida
E livre suspirar
[...] (Álvares de Azevedo)
Por ser pantaneiro, meus sentidos se abrem para a mata, para o riacho e para sentir na mais íntima fibra do meu eu, um dos mais belos poemas descritivos de nossa língua:
A tarde morria! Nas águas barrentas
As sombras das margens deitavam-se longas;
Na esguia vigia das árvores secas
Ouvia-se um triste chorar de arapongas.
A tarde morria! Dos ramos, das lascas,
Das pedras, do líquen, das ervas, dos cardos,
As trevas rasteiras com o ventre por terra
Saíam, quais negros, cruéis leopardos.
A tarde morria! Mais funda nas águas
Lavava-se a gralha do escuro ingazeiro,
Ao fresco arrepio dos ventos cortantes
Em músico estalo rangia o coqueiro.
Somente por vezes, dos jungles da borda
Dos golfos enormes daquela paragem,
Erguia a cabeça surpreso, inquieto,
Coberto de limos – um touro selvagem.
(Crepúsculo Sertanejo - fragmento- Castro Alves)