sábado, 8 de janeiro de 2011

O JURAMENTO - Recontando Contos Populares

Conta-se que viviam em uma região do sertão dois compadres muito amigos, como se fossem irmãos. Um era fazendeiro, viúvo e muito rico; o outro, sitiante pobre e rodeado de filhos pequenos. Sua mulher era alta, magra e como todas as mulheres de sua condição seu traje habitual era uma blusa preta sobre um vestido qualquer, um lenço branco e engomado ao pescoço, outro na cabeça e um raminho de arruda atrás da orelha. No entanto, essa diferença financeira nunca afetou a amizade dos compadres.
Eis que, de repente o compadre pobre passou a ficar quieto, recolhido num canto virado bicho; emagreceu, definhou, inté dar a alma para Deus. Fosse o que fosse nada mais remediava. No velório, o compadre rico, agoniado, debulhado em lágrimas, acercou-se do caixão e, para que todos testemunhassem, disse ao compadre morto:
— Compadre! Aqui diante de sua mulher e de todos os seus filhos, eu quero fazer um juramento. Deste dia em diante, onde meus filhos estudarem, os seus filhos também vão estudar. Vou arrumar uma boa casa para sua família. Vou mandar todos os meses, por meio de um capataz, carne e alimentações gerais. Hei de respeitar sua memória, meu compadre. E ninguém há de proceder mal com sua mulher!
Pois não é que o compadre rico cumpriu religiosamente seu juramento, mesmo tendo ficado um bom tempo sem ver a família do falecido. Um belo dia resolveu fazer uma visita à comadre. Caminho longo de quatro léguas. Chegando a casa da comadre, qual não foi sua surpresa ao ser atendido por uma mulher alta, o corpo cheio de relevos, linda que só vendo. Linda de qualquer homem virar o tal do juízo.
Esta vida quando descansa de ser ruim, é até engraçada.
Penetrando na casa o compadre rico deu de cara com a foto do falecido; pensou: "Eu preciso de um particular urgente aqui com o compadre". Olhando para o retrato, disse:
 – Compadre! Quero sempre respeitar sua memória, por isso zelo para ninguém proceder mal com sua mulher! Mas, meu compadre, no dia que ela resolver proceder mal, que eu tenha a preferência.
Salve-se quem puder! ®Sérgio.

VIRANDO O ANO SEM SIMPATIAS

Nesta passagem do ano-velho para o ano-novo, resolvemos (a família) despojarmos-nos das tradicionais simpatias que costumávamos realizar em todas as outras passagens de ano.
Comecei abolindo a mania de usar roupa branca; francamente, toda noite de Ano-Novo, parecia que tínhamos, aqui em casa, reunião da Associação Médica ou de Enfermagem.
Foi um alívio não ter mais de guardar a rolha do champanhe estourado. Digo alívio porque no final do ano passado, foi o "ó do borogodó" achar o pedaço de cortiça, com todo o álcool na "cachola".
Manter as minúsculas sete sementes de romã e uma folha de louro no porta-moeda da carteira era um verdadeiro milagre.
O pior era pisar com o pé direito exatamente à meia-noite e dar três pulinhos com uma taça de champanhe na mão, sem derramar uma gota e depois, jogar todo o champanhe para trás, de uma vez só, sem olhar. Imagine todos pisando com o direito o tempo todo minutos antes da meia-noite, depois dando pulinhos e lavando o ambiente com champanhe. Dava a impressão de estarmos no hospício.
Salve-se quem puder!
É comum ouvir que nós, somos um povo muito supersticioso. Creio ser verdade. Entretanto, não sou uma pessoa supersticiosa, porque a pessoa supersticiosa possui apego infundado a qualquer coisa que lhe dizem, crê em fatos sem fundamento real. As simpatias que fazíamos, eram apenas formalidades, costumes passados de avós para netos, e assim, de geração a geração. É ou Noé? ®Sérgio.