segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

UM CASO DE HIGIENE

Você acreditaria que o papel higiênico quando foi inventado encontrou resistência para ser aceito? É um detalhe sórdido, porém verdadeiro. Pois a higiene pessoal, tal como a concebemos hoje, só começou a se estabelecer no século XIX, antes disso, as pessoas não só toleravam a sujeira como também, muitas vezes, nutriam certo deleite pessoal com ela.
Pesquisadores famosos contam que praticamente todas as civilizações da Antiguidade deram grande valor à higiene pessoal e ao bem-estar físico. No entanto, alguns fizeram uma constatação chocante e polêmica: o cristianismo representou um retrocesso na história da higiene. Será?
Eles argumentam que na Antiguidade os egípcios já fabricavam sabão; na Grécia o banho era uma instituição cotidiana. Os romanos criaram aquedutos para abastecer suas principais cidades e frequentavam diariamente banhos públicos, onde o corpo era lavado e esfregado vigorosamente (não se usava sabão) para tirar a sujeira. Mas, que tudo isso desapareceu com a queda do império e a ascensão dos cristãos. É claro que o banho não desapareceu, assim, da noite para o dia. Porém, aos poucos, esses locais de banhos, foram associados a costumes pagãos e, consequentemente, ao pecado. Neste caso, vários registros históricos comprovam o fato. Por exemplo, no século VI era regra da vida monástica a determinação de São Bento de que só os monges doentes ou muitos velhos fossem autorizados a se banhar. Na maioria dos monastérios da Europa medieval o banho era praticado três vezes, no máximo, ao ano. E como a Igreja tinha grande influência entre a população que vivia fora do claustro, supõe-se que o costume não fosse muito superior a esses três dias.
Por muitos séculos a higiene pessoal do cristão europeu não passou de lavar as mãos antes das refeições e esfregar seus dentes com paninhos, até que a prática de lavar o corpo todo retornou ao seu cotidiano.
Anotei alguns fatos que comprovam esse enunciado. Veja:
No palácio de Versalhes, um decreto de 1715, estipulava que as fezes seriam retiradas dos corredores uma vez por semana. Ora bem, se decretaram uma vez por semana; eu suponho que o recolhimento antes do decreto demorava muito mais.
Atribuíam-se perigos ao banho: lavar o corpo todo abriria os poros facilitando a infiltração de doenças. Além disso, acreditava-se que a roupa absorvia a sujeira do corpo. Portanto, era só trocar de roupa todos os dias para manter-se limpinho. No entanto, Dom João VI, não acreditava muito nesse conceito. Ele detestava banho e costumava a vestir a mesma roupa até que apodrecesse.
Relatos de palacianos contam que a rainha espanhola Isabel (1451 – 1504) só tomou, em toda a sua vida, dois banhos de corpo inteiro.
Hoje a higiene pessoal parece ter chegado a extremos, especialmente entre os americanos. Alguns cientistas já alertaram que essa superproteção higiênica está debilitando a resistência imunológica das crianças e aumentando a incidência de doenças.
Pois bem, mas... e o papel higiênico? Ainda, segundo os historiadores, o papel higiênico só surgiu nos Estados Unidos, em 1857; e o produto demorou a vencer a resistência do mercado pela palha de milho, pela esponja, entre outros. Certo mesmo é que antes do papel higiênico, cada um se virava como podia. ®Sérgio.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

MORREU MESMO - Recontando Contos Populares

Um dia, foi um jovem empregar-se na prefeitura de uma cidadezinha do interior. No seu primeiro dia de trabalho lhe mandaram podar as árvores da prefeitura. Como não tinha prática desse serviço e era um tanto tapado, apoiou a escada num dos galhos e pôs-se a serrá-lo. Deu de acontecer que passava por ali, numa mulinha avermelhada e troncha; breviário na mão e guarda-sol aberto, o vigário da freguesia. Ao ver o jovem, advertiu-o:

— Menino, serrando desse modo, vai cair daí!

O novato que era, além de estúpido, teimoso; fingiu não ter escutado o padre, e continuou o trabalho.

O vigário, então, prosseguiu seu caminho. Não passou muito tempo... zás! Vem ao chão tanto a escada, como o jovem podador, que ficou com um braço em petição de miséria. Quando voltou do desmaio e retomou os sentidos, ficou muito admirado do certo que saiu o conselho do reverendo; pensou lá consigo que o padre era um adivinhão e como tinha profetizado sua queda, podia acertar o dia de sua morte.

Foi ter com ele:

— A bença, seu vigário.

— Deus te abençoe.

— Vossa Reverendíssima me falhou que eu havia de cair da árvore e, dito e feito, caí mesmo. Bem... queria que agora adivinhasse o dia de minha morte.

Bonachão, o padre achou muita graça no pedido que o jovem lhe fazia e resolveu zombar um pouco dele.

— Olhe, sei quando você há de morrer. Será na hora em que, indo para sua casa, montado em sua mula, a ouça dar três zurros seguidos.

O jovem podador agradeceu muito e foi-se embora.

Toda vez, que voltava para casa, montado em sua mula, ia muito atento a fim de ouvir quando ela dava os tais zurros. E foi que, certo dia, ao chegar numa volta do caminho, a mula preparou-se toda e soltou um, dois, três zurros.

O jovem, que os havia contado com o coração aos pulos e crente na previsão do reverendo, julgou chegada sua hora. De imediato, atirou-se da sela abaixo e soltou um grito:

— Morri!

Não se moveu mais, certo de que estava morto. Vai daí que, logo depois, passaram por ali uns trabalhadores e deram, de cara, com ele estendido no meio do caminho. Acreditando-o morto, foram buscar uma rede no vizinho mais próximo, puseram-no dentro e o conduziram para sua casa, rezando um terço.

Não muito adiante, havia duas encruzilhadas. Os trabalhadores ficaram bestando: qual delas seria o caminho mais curto para chegarem à casa do morto.

Começaram a teimar entre si, até que o defunto ergueu a cabeça do fundo da rede e lhes disse:

— Olhem, amigos, no tempo em que eu era vivo o caminho mais curto era à esquerda.

Assombrados, os trabalhadores atiraram a rede ao chão, com o defunto dentro, e fugiram a toda disparada.

Com a queda o moço veio a morrer mesmo. E a adivinhação do padre saiu certa. ®Sérgio.

AS FIGURAS FONÉTICAS

Onomatopeia do grego onomatopoiía (= ação de inventar nomes) é a criação de uma palavra a partir da imitação ou reprodução aproximada (nunca exata) de um som natural a ela associado. A onomatopeia transforma-se, assim, num processo de formação de palavras. As onomatopeias têm sua carga significativa na sonoridade e não no conceito, ou seja, velem apenas pelo que significam. Fazem parte do universo da onomatopeia: ruídos, gritos, canto de animais, som de instrumentos musicais ou o barulho que acompanha os fenômenos da natureza:

=> Ergue a voz o tique-taque estalado das máquinas de escrever. (F. Pessoa)

Numa leitura em voz alta, você perceberia, facilmente, os estalos do [t] e [q].

As Onomatopeias Puras - serão puras quando procuram - com os recursos que a língua dispõe - reproduzir, imitar o mais aproximado possível os sons que representam; por exemplo: bip, clic, toc-toc, brrr, atchim, etc. Estas onomatopeias não representam palavras, apenas imitam os sons que representam. São, muitas vezes, formadas apenas por consoantes (zzzz), facilmente pronunciadas, porém difícil de serem representadas ortograficamente. Muitos dos ruídos e sons representados por onomatopeias acabam por se incorporar à língua. Algumas vão até motivar a criação, por derivação, de novas palavras.

As Onomatopeias Vocalizadas estão no campo da gramática e da linguística e constituem palavras como outras quaisquer. Seguem as regras de construção ortográficas e possuem uma classificação sintática e morfológica, como é o caso de roncar e mugir (verbos), que correspondem às onomatopeias puras “ronc e muuu”, respectivamente. Quase todas as onomatopeias puras são passíveis de lexicalização, bastando para tal antepor-se um artigo, por exemplo: o tic-tac, um toc-toc.

Neste fragmento do poema Vozes dos Animais de Pedro Dinis, temos uma boa ilustração das onomatopeias vocalizadas:

Muge a vaca, berra o touro

Grasna a rã, ruge o leão,

O gato mia, uiva o lobo

Também uiva e ladra o cão.

Relincha o nobre cavalo

Os elefantes dão urros,

A tímida ovelha bala,

Zurrar é próprio dos burros.

É de se esperar que as formações nitidamente onomatopaicas fossem, em geral, de caráter universal. Contudo, têm poucas semelhanças nos diferentes idiomas quando se traduzem graficamente. Cada língua convencionou a onomatopeia de uma maneira própria. Por exemplo: auuu (latido de cães) em francês é wou, ou, ouuuu; em russo vau, ou, oouu; beee (ovelhas) é baa em inglês e bäh em alemão.

A onomatopeia é um dos recursos expressivos mais comuns usados na prosa e na poesia para produzir um efeito especial e reforçar a capacidade comunicativa do texto Na poesia tem grande importância estilística e poética, pois nela se concentram a melodia, a harmonia e o ritmo da frase. Os valores sonoros da onomatopeia podem ser reforçados pela aliteração (repetição do mesmo som). Daí a sensível aproximação da poesia a esta figura fonética, como se pode verificar neste fragmento de Vicente de Carvalho:

Ouves acaso quando entardece

Vago murmúrio que vem do mar,

Vago murmúrio que mais parece

Voz de uma prece

Morrendo no ar?

Nestes versos há um conteúdo onomatopaico criado pelo termo murmúrio e reforçado pela aliteração (repetição do termo).

A onomatopeia tornou-se moda durante o Simbolismo, a ponto de atribuir-se a cada vogal uma carga sonora, correspondente a um instrumento: A > órgão — E > harpa — I > violino — O > metais — U > flauta.

Nas histórias em quadrinhos, podemos encontrar inúmeros exemplos de onomatopeias. ®Sérgio.

Neste link há uma lista de onomatopeias puras para o seu texto:

http://recantodasletras.uol.com.br/teorialiteraria/1186781

___________________________________________

Ajudaram na elaboração deste texto:

Helio Seixas Guimarães, Ana Cecília Lessa - Figuras de Linguagem – Atual Editora

Rocha Lima – Gramática Normativa da Língua Portuguesa – José Olympio.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

CASOS DE “PULIÇA” (2)

O segundo caso de "puliça" vem lá da China. Se você acha que somos campeões dos crimes hediondos, veja este:
A polícia chinesa prendeu cinco homens acusados de matar mulheres jovens para vendê-las como “noivas fantasmas”. Segundo a tradição de camponeses do norte do país, homens que morrem solteiros têm a linhagem comprometida na próxima vida. Para evitar o mau agouro na eternidade e para quebrar o galho do solteirão, os familiares tentam arranjar um minghun, “casamento após a morte”, enterrando uma noiva fantasma ao lado do solteirão. Segundo a polícia, o preço dos corpos varia, geralmente, de acordo com a idade da noiva: as mais jovens chegam a ultrapassar dois mil dólares.
Fique agora você sabendo o porquê do velho clichê: “Nem morto eu me caso”.

Salve-se... quem puder! ®Sérgio.

CASOS DE “PULIÇA” (1)

Nestes últimos dias, descobri, através da leitura de periódicos, alguns acontecimentos inusitados. Dois deles me deixaram surpreso. O primeiro se passou aqui, na minha terrinha.
No meu bairro, ou em qualquer outro da cidade, se você sair a passear, em cada cinco casas que passar, quatro tem um pit bull, a outra um cãozinho qualquer. As autoridades no assunto dizem que tal fato se deve a incidência de assaltos a residências. Tá certo. Os pit bulls seriam, além das cercas elétricas e outras parafernálias, mais uma forma de proteção, e, diga-se, pelos sustos que se toma nos passeios, bem barulhenta.
Foi com o intuito de se proteger dos amigos do alheio que dona Adelina Correia da Silva comprou aquele cachorrinho, que se transformou num enorme pit bull, guardião da casa.
Não dizem os estudiosos que para cada regra há uma exceção. Pois é! O pit bull de dona Adelina é a exceção. Explico:
No início desta semana, dona Adelina compareceu a uma delegacia para registrar uma ocorrência: o furto do enorme pit bull dela. Segundo o boletim de ocorrência, ela saiu de casa para umas compras no supermercado e quando retornou notou que a casa tinha sido invadida e que seu enorme pit bull, de pelagem caramelo, fora roubado; levado embora, no mínimo, por um ladrão conquistador.
Pois é, hoje em dia, não dá mais para se confiar nem nos pit bulls! É ou Noé, dona Adelina?
Salve-se quem puder! ®Sérgio.

O AMIGO DA ONÇA - Recontando Contos Populares

A Onça estava quietinha no seu canto quando lhe apareceu o compadre Lobo, que logo foi lhe dizendo:

— Comadre Onça, com o perdão da palavra, você não é o bicho mais valente e destemido que existe neste mundo, nem o Leão, com toda a sua prosa dos reis dos animais.

— Como assim? Berrou a Onça enfurecida. Quem é esse bicho mais valente e poderoso que eu?

O Lobo amaciando a voz respondeu:

— Ó comadre, me perdoe. Já estou arrependido de dizer tal coisa... Mas minha intenção era apenas preveni-la de um bicho terrível que apareceu nesta paragem.

— Bem... Você não deixa de ter alguma razão, retrucou a Onça, mais sossegada. Mas quero saber o nome desse bicho. Como se chama?

— Esse bicho, comadre, chama-se homem, conforme me disse o papagaio. Em toda a minha vida, nunca vi um bicho mais valente. Ele sim e mais ninguém é o rei dos animais. Basta dizer, que de longe, o vi matar, com dois espirros, nada menos do que um jacaré dos grandes. Ih! Comadre, com o estrondo dos espirros parecia que tudo ia pelos ares. Deus me livre!

— Oh! Compadre, não me diga!

— É como lhe conto. E o que mais me deixa admirado é o bicho-homem ser tão baixinho que parece ser fraco; além disso, é mal servido de unhas e dentes.

— Pois bem, compadre, fiquei curiosa. Quero que me leve, sem demora, ao lugar onde se encontra tal animal.

— Ah, comadre, peça-me tudo menos isso. Você nem imagina os estragos que ele fez com seus malditos espirros. Não me atreveria a tal aventura.

— Pois queira ou não queira, vai me mostrar o bicho, ou então não sairá daqui com vida.

— Está certo, disse o Lobo amedrontado. Iremos. Mas temos de tomar todo o cuidado possível. Eu — com sua licença — posso correr mais que a senhora. Assim, levaremos um cipó, daqueles que não arrebentam nunca. Amarro uma das pontas no pescoço da comadre e a outra em minha cintura. Em caso de perigo, se for preciso fugir, a comadre e eu corremos...

— Fugir! Veja lá o que diz! Você já viu, seu “cagão”, alguma vez onça fugir?

— Não me expliquei bem. Eu é que fugirei. A comadre será apenas arrastada por mim. Isso não é fugir. Está certo?

— Está bem. Faremos como quer.

Partiram. A Onça com o cipó atado no pescoço, e o Lobo muito respeitoso e tímido, a puxá-la.

Quando chegaram ao destino, o “bicho-homem”, surpreendido, ao avistá-los, tirou da cinta a garrucha e lascou fogo, isto é, espirrou, uma, duas vezes, foi um estrondo dos diabos.

O Lobo, então, mais que depressa, disparou numa corrida desabalada, empenhando um enorme esforço para arrastar a Onça pelo cipó “que tinha atado no pescoço dela”.

De repente, já muito distante, sentiu que a Onça estava mais pesada. Então parou, e contemplou a companheira estendida no chão, com os dentes arreganhados, sem o mais leve movimento.

O Lobo sem perceber que a Onça tinha morrido enforcada no laço do cipó, mas pensando que apenas estivesse cansada, disse-lhe tremendo que nem vara verde:

— Eh, comadre! Não ri, não, que o negócio é sério. ®Sérgio.

______________________________________________________

• Esse é um causo com inúmeras variantes em diversos Estados. Em alguns deles, em vez de Lobo figuram outros animais. Lindolfo Gomes, em Contos Populares Brasileiros, já o havia registrado em 1931. É provável que deste conto, advenha à frase: “Amigo da Onça”. Quanto à origem do conto, prevê Lindolfo, ser de uma antiga historieta que tinha como título a expressão: “Não ri, não, que o negócio é sério”.

NOTAS CURIOSAS (4)

O enigma do prisioneiro da Máscara de Ferro jamais foi decifrado. Quando a Bastilha caiu em 1789, nada se encontrou que provasse sequer a própria existência do prisioneiro. A lembrança do misterioso personagem estava apenas na memória dos carcereiros.

Victor Hugo teve – até a idade mais avançada – diversas amantes. A mais famosa delas foi Juliette Drovet, atriz sem talento que lhe dedica sua vida, e a quem ele escreveu diversos poemas. Ambos passavam juntos os aniversários de seu encontro e preenchiam, nestas ocasiões, um caderno comum que nomearam o "livro do aniversário".

Quando Victor Hugo morreu as prostitutas de Paris ficaram de luto.

Sócrates, que costumava começar o dia, com uma prece agradecendo aos deuses por ter nascido homem, mandou embora suas mulheres, ao ingerir a cicuta, para que seus últimos minutos na terra não fossem preenchidos com as incômodas demonstrações emocionais. ®Sérgio.

MOLIÈRE: DO PALCO PARA A MORTE - Notas Biográficas

Da biografia de Molière (1622-1673), um dos mais marcantes momentos foi sua morte, que se tornou lenda.

É dito que ele morreu em 17 de janeiro de 1673, aos cinquenta e um anos, durante a encenação de uma comédia de sua autoria, ironicamente intitulada, Malade Imaginaire (O doente imaginário), em que representava o papel principal. Na verdade, Molière apenas desmaiou no palco, ou melhor, tuberculoso, teve um ataque de hemoptise, expectoração sanguinolenta através da tosse, em cena aberta. Molière, porém, insistiu em terminar seu desempenho. Mas, em seguida, desabou de novo. O público imaginou tratar-se apenas de mais uma interpretação brilhante do grande ator e aplaudiu estrondosamente, enquanto Molière se curvava de sofrimento e perdia sangue pela boca. Depois de o pano cair, Molière foi levado agonizante para a sua casa de Paris, morrendo horas mais tarde, sem tomar os sacramentos já que dois padres se recusaram a dar-lhe a última visita, e o terceiro já chegou tarde. No momento de sua morte, Molière estava vestido de amarelo, o que gerou a superstição de que esta cor traz má sorte para os atores.

Para piorar as coisas, os atores (comediantes) da época não podiam, por lei, serem sepultados no solo sagrado de um cemitério, já que o clero considerava a profissão como mera "representação do falso". No entanto, a viúva de Molière, Armande, pede a Luís XIV que interceda em favor de seu cônjuge para que lhe seja permitido um funeral normal. O rei consegue obter do arcebispo a autorização para que o enterrem, durante a noite, na parte do cemitério reservado para crianças não batizadas.

Em 1792, os seus restos mortais são levados para o Museu dos Monumentos Franceses e, em 1817, transferidos para o cemitério do Père Lachaise, em Paris, ao lado da sepultura de La Fontaine. ®Sérgio.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

OS DOZE SONHOS

Tenho o costume de me reunir com alguns amigos, todo final de semana, em um café no centro da cidade. Conversamos e discutimos sobre os mais variados assuntos. Num desses encontros, chamou-me a atenção, o relato de um deles, sobre o sonho que tivera e que não lhe saía da cabeça.
Na verdade, o que ele queria era encontrar um significado, caso houvesse, para seu sonho. Não daqueles que encontramos nos almanaques de farmácia ou nas brochuras de astromantes de turbante, mal-intencionados. Meu amigo procurava um significado que tivesse como base um estudo mais apurado, ou melhor, que oferecesse algum respaldo científico. Difícil não é? Todavia, lhe prometemos nos empenharmos na procura.
Tentar desvendar o significado de um sonho, não é nenhuma novidade. Acredito que poucos são aqueles que não tiveram essa curiosidade. Aliás, desde épocas remotas, o homem vem se questionando a respeito do sonho. A própria Bíblia, está repleta, tanto no Velho como no Novo Testamento, de histórias onde um "ser" aparece na noite para indicar caminhos, quebrar grilhões, trazer soluções. "Mesmo os povos primitivos costumavam descer ao recôndito de suas cavernas e dormir sobre os túmulos dos antepassados ou sobre as peles de animais oferecidos em sacrifícios, na esperança de conseguir curas através dos sonhos1".
Portanto, o assunto também me interessou e, como era de se esperar, fui à pesquisa, e encontrei a Doutora Patrícia Garfield, Ph.D. pela Universidade Montreal, Canadá. Patrícia é uma autoridade mundial em sonhos, além de ser uma das fundadoras da Associação Internacional de Estudos do Sonho. Melhor ainda, ela reuniu em uma lista, os doze sonhos comuns na população e seus possíveis significados; e lá estava o do meu amigo, alguns dos meus e, quem sabe, não estarão os seus. Acompanhe:
01 – Sonhar em ser perseguido ou atacado por qualquer coisa é uma resposta natural ao stress da vida. Muitas vezes está associado a emoções como: ansiedade, medo, raiva e inveja.
02 – Sonhar com ferimento, doença ou morte é um possível de que algo com a pessoa ferida ou doente, às vezes o próprio sonhador, não está funcionando.
03 – Sonhar com carro ou outro meio de transporte com problemas - pesadelo comum mesmo entre quem não dirige -, pode ser conseqüência de quem sente que alguma coisa está fugindo do controle. Mas, se for uma viagem prazerosa, o significado está mais para liberdade ou aprovação dum caminho que se está seguindo.
04 – Sonhar com incêndio, inundação, acidentes que destruam ou causem danos a casa, é sinal de que algum aspecto importante na vida está em risco. Pode significar também a necessidade de se defender o território.
05 – Sonhar com fracasso em provas ou desempenho ruim pode significar que a pessoa está sendo testada por alguém ou por uma situação. Isso não quer dizer que a pessoa ira fracassar, todavia se o sonho for oposto, é capaz de ajudá-la a sair-se bem numa atividade.
06- Sonhar com queda ou afogamento é reflexo de insegurança, impotência ou falta de apoio. Algumas condições propiciam mais esses sonhos: ser idoso, porque está mais propenso a tombos. Estar bastante gripado, porque há a sensação de estar se afogando.  O lado positivo é voar, nadar ou dançar. São imagens que remetem à liberdade ou à exploração de sentimentos puros; principalmente o caso da natação.
07 – Sonhar estar nu ou não estar apropriadamente vestido está relacionado a quem se sente exposto ou vulnerável. A nudez parcial é a imagem mais corriqueira. Normalmente envolve vergonha ou embaraço.
08 – Sonhar com a perda de um barco ou outro transporte (causa de tristeza ou frustração), talvez indique que a pessoa sinta que está perdendo algo na vida.
09 – Sonhar com máquina ou telefone que não funciona pode estar relacionado à ansiedade em relação uma ligação sentimental, ou perda de contato com alguém.
10 – Sonhar com desastres naturais ou provocados pelo homem sugere que a pessoa está enfrentando problemas que fogem demasiadamente de seu controle. Por outro lado, sonhar com belezas naturais, milagres, sugere que a pessoa passa por um momento de engrandecimento, além de inspirar e revigorar o sonhador.
11 – Sonhar em estar perdido ou ser prisioneiro, em geral, significa desespero. Outro sonho comum é não conseguirmos se mover ou mesmo respirar. Pode significar frustração, sensação de estar preso num relacionamento ou estar num trabalho que não traz prazer.
12 – Sonhar com ameaçada de pessoa morta, com assombração ou ser repreendido por alguém que já morreu, é possível que o sonhador esteja sofrendo de culpa por essa morte; ou forte ansiedade a respeito do momento. Entretanto, se o sonho é de um encontro com a pessoa amada, a sensação pode ser de conforto e esperança, e inspirá-lo a fazer mudanças na vida.
Aí está uma lista de significados dos sonhos que nos inspira certa confiança, porque é o resultado de anos de estudo científico. Mas, o que você deve estar se perguntando é: qual foi mesmo, o sonho do meu amigo. Ora... bem..., nós lhe prometemos não contar a ninguém.
Bons Sonhos! ®Sérgio.
_____________________________________
1 - Garfield, 1972. Sonhos Criativos. Nova Fronteira: Rio de Janeiro.
No site da Drª. Patrícia <http://www.patriciagarfield.com/> você pode fazer download de seus livros dos quais destaco dois: A diferença dos sonhos dos homens e das mulheres e Os sonhos de Hans Christian Andersen. Este mesmo site serviu de fonte para essa crônica.

POR QUE "XÉROX" É PALAVRA FEMININA?

Porque se trata de uma [fotocópia], de uma [xerografia]. ®Sérgio.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

MARY SHELLEY - Grandes Prosadores

Mary Wollstonecraft Shelley (1797-1851), escritora britânica, mais conhecida por Mary Shelley, era filha do filósofo William Godwin e da pedagoga e escritora Mary Wollstonecraft, uma das primeiras feministas da História, autora da famosa Declaração dos Direitos da Mulher. Em 1814, Mary, que contava 17 anos, foge com o poeta britânico Percy Bysshe, casando com ele dois anos depois.

O romance que lhe deu fama foi Frankenstein, ou o Prometeu Moderno [1818]. Nele, o doutor Frankenstein desafia a Ciência e a natureza e, como um pequeno deus, cria um ser disforme a partir de restos humanos e do cérebro de um condenado. Mas sua obra não é um simples conto de terror, está cheio de implicações metafísicas sobre Deus e o homem, além das preocupações religiosas. Simboliza a impossibilidade de se opor às leis da natureza e ao poder de criação de Deus. Mary Shelley também editou as obras poéticas do marido. Morreu em 1851, aos 54 anos. ®Sérgio.

Veja Também: (clique no link)

Herman Melville: Moby Dick - Grandes Prosadores.

Alexandre Dumas (Pai) – Grandes Prosadores.

Marie Henri: O Vermelho e O Negro - Grandes Prosadores.

Daniel Defoe: Robinson Crusoé – Grandes Prosadores.

Robert Louis: O Médico E O Monstro - Grandes Prosadores.

Júlio Verne – Grandes Prosadores.

Victor Hugo: Os Miseráveis - Grandes Prosadores.

____________________

Fontes: http://www9.georgetown.edu/faculty/irvinem/

http://www2.lucidcafe.com/ lucidcafe/ library/

NOTAS CURIOSAS (3)

Boa parte das histórias que se conta sobre Arquimedes (287 a.C-212 a.C.) não passa de lenda. Como a de que saiu nu pelas ruas de Siracusa gritando "heureca" (eu achei) depois de perceber que a quantidade de água transbordada em uma banheira é igual ao volume do corpo imerso nela.

O grande Victor Hugo (1802-1885) costumava pedir ao criado que lhe escondesse as roupas; desse modo, não tendo o que vestir, podia ficar em casa para escrever.

Voltaire (1694-1778), após ler a obra de Rousseau (1712-1778), Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens, enviou uma cartinha ao autor com os seguintes dizeres: "Quando se lê o seu trabalho, da vontade de andar sobre quatro patas".

Dois dias antes de sua morte, em cinco de julho de 1948, Monteiro Lobato declarou numa entrevista: "Meu cavalo está cansado e o cavaleiro tem muita curiosidade em verificar, pessoalmente, se a morte é vírgula ou ponto final". ®Sérgio.

O CRIME DO CORONEL HONÓRIO

Coronel Honório - fazendeiro rico e viúvo precocemente - não era, nem um pouquinho, um homem virtuoso. Não senhor. Ele estava sempre "de olho" nas senhoras e senhoritas do vilarejo; olhos perscrutadores, vivos e buliçosos. Quando se encantava com uma, perseguia-a até conseguir o que queria. Depois, como uma criança que se enjoou do brinquedo, largava-a.
Ora bem, veio morar no vilarejo, uma bonita moçinha, solteira e de família não conhecida. Não demorou muito para o coronel cortejar, como um galo de quintal, a bonita mocinha. Ela, moça pobre, começou a olhar para Honório, na esperança de arrumar a vida. Uma coisa levou à outra, e um dia, ele transformou a sua bela mocinha, em mãe solteira; e "babau", deixou-a "na mão".
Agora, o vilarejo tinha um menino, uma moça bonita, e um tempo difícil face às despesas crescentes com o filho. Ela, então, começou a fazer pressão sobre Honório para assumir as responsabilidades para com menino. Mas o som de seus soluços morreu no ouvido dele.
Pressionado, o Coronel, arquitetou um plano para eliminar a mocinha que ousava lhe afrontar. Começou a espalhar pela vila o boato de que ela era uma macumbeira, uma bruxa. Acontecera tudo tão rapidamente que a princípio, o vilarejo mal podia compreendê-lo e ficaram em estado de expectativa, como se alguma coisa mais devesse acontecer. Por isso, passaram a temê-la.
O tempo passou e, um dia, a vila incitada pelo coronel, agarrou a "bruxa" e levou-a ante os conselheiros da justiça, que, por sinal, eram "paus mandados" do coronel. Condenaram-na à morte na fogueira por sua magia. A mocinha, já mulher, gritou uma maldição ao coronel, jurando que ele, e a vila, iam carregar para sempre a marca desta injustiça.
Seu pobre filho foi obrigado a assistir sua mãe ser queimada como bruxa. Quando o fogo queimava o corpo de sua mãe, um dos braços caiu próximo a fogueira; seu filho, correndo, atravessou a multidão e, frente à fogueira, pegou o braço e fugiu. Era a única parte de sua mãe que lhe sobrou para enterrar.
Depois da morte do coronel, uma grande pedra tumular foi erguida em sua honra. Algumas semanas mais tarde, uma estranha descoloração começou a se formar sobre a pedra. Era a imagem de um braço de mulher. A lembrança da mulher e sua maldição assustaram o povo da vila; trouxe-lhes a insônia, pois aquilo representava algo fora das leis naturais que conheciam.
Quando uma idéia muito forte obceca uma criatura no momento de morrer, basta isso para mantê-la presa a este mundo material. Tudo provem de um desejo violento, e só quando esse desejo se satisfaz o espírito se acalma.
Removeram a pedra tumular e a atiraram no rio que "atravessava" a cidade. Mas a pedra reapareceu na sepultura do coronel, com a imagem do braço ainda a marcá-la. Quebraram a pedra em pedaços, e colocaram uma nova lápide na sepultura. E o fato se repetiu: a imagem do braço reapareceu na nova pedra, que não pôde mais ser removida, por mais que tentassem. Ela permanece lá até hoje. Lembrança de uma pobre menina enganada em sua inocência e, depois, assassinada pelo Coronel Honório. ®Sérgio.

NOTAS CURIOSAS (2)

No leito de morte, o dramaturgo inglês Robert Greene (1558-1616) escreveu um panfleto para espinafrar o então iniciante Willian Shakespeare (1564-1616). Chamava-o de "gralha emergente" e sugeria que ele era um plagiário.

Dois dos maiores poetas da Espanha, Francisco de Quevedo (1580-1645) e Luís de Góngora (1561-1627) eram inimigos ardorosos? Atacavam-se por meio de poemas. Quevedo chegou a comprar a casa em que o rival morava – só para expulsá-lo.

Dionísio de Trácia escreveu a Téchné grammatiké, a primeira gramática tradicional do ocidente. Um livro de quinze págias e vinte e cinco sessões onde ele apresenta uma explicação da estrutura do grego e constituíram a base das formulações gramaticais posteriores. Esta gramática foi preservada até os dias de hoje. Portanto, a gramática tradicional é herança dos gregos, enquanto que a gramática moderna é fruto de pesquisas lingüísticas. ®Sérgio.

DESTINO OU COINCIDÊNCIA?

Dizem que destino não existe, e sim, escolhas diferentes. Tudo bem, pode até ser. Mas o que aconteceu com os gêmeos Mowforth, chamaríamos, então, de coincidência? Veja:
Na noite de 22 de maio de 1975, John Mowforth, um inglês de 65 anos, começou a se queixar de fortes dores no peito e foi levado às pressas para o hospital de Bristol (Inglaterra). Enquanto isso, seu irmão gêmeo, Arthur Mowforth, a 130 km de distância, em Windsor, sem saber o que se passava com John, sofreu subitamente um colapso cardíaco e também foi levado ao mesmo hospital.
Os irmãos faleceram naquela mesma noite, no mesmo hospital, com uma diferença de apenas alguns minutos, sem que tivessem conhecimento um do outro da fatalidade que os uniria na morte.
Coincidência?
Tem mais. Em se tratando de coincidência, o rei Humberto I, da Itália, e o proprietário de um restaurante, onde ele jantou certo dia em 1900, são campeões mundiais. As semelhanças físicas ente o soberano e o dono do restaurante eram tão acentuadas que o rei mandou chamá-lo; depois de alguns minutos de conversa, descobriu que tinham o mesmo nome, eram casados com mulheres chamadas Margarita e o restaurante tinha sido inaugurado no mesmo dia que o rei Humberto fora coroado. Diante de tantas "coincidências", o rei convidou o dono do restaurante para um festival de atletismo que seria realizado em Monza no dia seguinte. Durante a reunião, informaram ao rei que seu convidado não compareceria, pois fora morto a tiros naquela manhã. Na noite desse mesmo dia, um anarquista de nome Gateano Cresci matou o rei a tiros. Isso é verdade histórica Leo, embora não conste no Guinness World Records, o livro de recordes.
Coincidência?
Em fatos como esse, é, realmente, muito comum as pessoas negarem o fator destino e afirmarem que só pode ser uma grande coincidência. Mas aquelas que acreditam nascermos pré-destinados, diriam que esses homens cumpriram o designo divino; e as circunstâncias que os afetaram, é a mais pura evidência da força divina, conduzindo os acontecimentos de nossas vidas.
Eu não sei o que dizer; mas que há algo de misterioso nesses dois casos, isso há. É ou Noé? ®Sérgio.

NOTAS CURIOSAS

O bispo Irlandês James Ussher (1581-1656) somou a idade dos profetas e fixou a criação do mundo na noite que antecedeu o dia 23 de outubro de 4004 a.C., às nove horas, um domingo, no calendário Juliano. Ussher calculou também o dia da expulsão de Adão e Eva do Paraíso (segunda-feira 10 de novembro de 4004 a.C.) e a data em que a Arca de Noé encalhou no monte Ararat depois que as águas do dilúvio baixaram: quarta-feira, cinco de maio de 2348 a.C.

José de Alencar (1829-1877) era filho do padre José Martiniano de Alencar. O escritor foi fruto de uma união ilegal do padre com a prima Ana Josefina de Alencar.

J.K Roling (escritora de Harry Potter) começou a escrever seu primeiro livro, Harry Potter e a Pedra Filosofal, em guardanapos dum bar que freqüentava e, ao terminar o livro, ficou com uma terrível dúvida: usar o dinheiro que tinha, no momento, para comprar o leite de sua filha ou usá-lo para mandar seu livro à editora. Hoje é milionária! Coisas da vida. ®Sérgio.

domingo, 11 de outubro de 2009

ALMOÇO COM O DIABO

Havia para os lados do sertão de Minas, um fazendeiro rico, viúvo de muito tempo, que vivia sozinho. Por isso, sonhava com um companheiro para almoçar, nem que fosse o diabo.
Certo dia, quando bateu meio-dia e o fazendeiro preparava-se para almoçar, um homem bateu à porta. Era o diabo. Pois bem. Almoçaram, excederam-se no copo e conversaram como velhos e bons amigos.
O diabo não se queixou em nenhum momento e, de nenhum modo, da péssima reputação que gozava no mundo todo. Disse até, que era uma pessoa que maior interesse tinha na queda dessa reputação; sobretudo, porque a tentação agora é completamente inútil. Os homens pecam por si mesmo, natural e espontaneamente, sem necessidade de tentações e convites. Que correm para ele como os rios correm para o mar.
Finalmente, quando as primeiras sombras da noite se precipitaram sobre o dia, o demo despediu-se do fazendeiro e, à saída, disse:
— Quero que guarde de mim boa impressão e para provar-lhe que eu, de quem se diz tanto mal, sou, às vezes, um bom diabo, convido-o para almoçarmos juntos qualquer dia desses no inferno.
Marcaram a data e no dia tratado o diabo veio buscar o fazendeiro. Depois do almoço, o velho fazendeiro foi visitar as dependências do inferno. Havia La dentro, um ar esquisito que lhe fazia lembrar todos os aborrecimentos da sua vida, o desejo de rever seu antigo lar, sua esposa e seus filhos. Em um salão todo em chamas, havia vários caldeirões. E dentro de cada caldeirão estava uma alma fervendo. Havia ali, estranhos rostos de homens e mulheres, marcados por expressões de dor; estranhas caras que davam, ao velho fazendeiro, a impressão de já havê-las visto em épocas e regiões de que lhe era impossível recordar. Mas, num dos caldeirões, ele reconheceu um de seus parentes. Investigando melhor, acabou por descobrir que toda a sua família estava lá. Ficou impressionado e, quando voltou a terra, fez tantas boas obras, que se salvou. ®Sérgio.
___________________________________________
Nota sobre o Texto: Esta história foi inspirada em um causo da oralidade popular.

A INTRANSIGENTE VISÃO DO FREI AMADOR

Para muitos pregadores da verdade, não existe no céu, nem na terra, nem debaixo da terra, criatura alguma que em si e por si mesma possua a sapiência e as virtudes divinas que eles propagam terem.
Tocar nesse assunto me fez recordar do Frei Amador Arrais, que tive a oportunidade de ler quando estudava Literatura Portuguesa no curso de Letras.
Frei Amador (1530-1600), ortodoxo cristão, pertencia à Ordem dos Carmelitas Descalços, e publicou, em 1519, a obra "Diálogos", um precioso documento da cultura portuguesa do Renascimento. A obra é composta de dez diálogos, numa prosa límpida, de qualidade e que se tornou clássica, travados entre Antíoco, um homem doente, e uma série de pessoas que o visitam.
O excerto que transcrevo abaixo, intitulado: "Em que consiste a verdadeira sapiência", acho que serviria, muito bem, para alguns "sapientes" de hoje:
"[...]. Se quiser conhecer o quanto tem de sábio volva os olhos atrás, lembre-se quantas vezes na carreira de sua vida haja tropeçado, quantas caído, quantas errado, quantas coisas vergonhosas, quantas dignas de dor e arrependimento haja cometido, e, sobretudo conheça, e confesse suas imperfeições e faltas. Poucos são os verdadeiros letrados e quase nenhuns os sábios; porque uma coisa é sabiamente falar, e outra sabiamente viver, uma é chamar-se sábio, e outra sê-lo: como também uma coisa é nomear-se de prudente, e outra sê-lo realmente."
Esta é a intransigente visão de Frei Amador Arrais. Cabe a você julgá-la e concordar comigo ou não. ®Sérgio.

MANIAS, MANIAS E MANIAS

Você tem a mania de roer unhas? Console-se até o Maradona tem. Quer mais?! Confesso-lhe que nunca tive tanto prazer em ver alguém roer unhas.
O nome dessa mania é Onicofagia. A "roeção", que logicamente é de seu conhecimento, começa em momentos de nervosismo; porém, não só nesses momentos, nos de tédios também. É ou Noé? Não sei se você chegou a esse ponto; mas, há pessoas que roem, mastigam e engolem a unha (imagine aqueles que não têm o hábito de limpar as unhas). Roem tanto, a ponto de causar ferida a pele em volta, que, por vezes, inflamam.
Eu já tive uma terrível mania: o colecionismo. Acumulava tralhas: jornais, revistas, livros (de qualquer estilo) e coisas desnecessárias. Cheguei a encher o quarto da empregada (que nunca tive), que mal podia mover-me dentro dele. E assim foi, até que minha mulher resolveu dar um basta na mania. Não perdi a mania, porém está bem controlada. Agora coleciono só os recortes que tiro de revistas e jornais. Quanto aos livros... só os literários. Já vi manias de colecionismo que eram verdadeiros casos de saúde publica.
Bem, já que o assunto é mania, aqui vão outras:
Ablutomania: essa está em voga ultimamente. Devido à suinofobia, causada pela "neuropropaganda", muitos a desenvolveram da noite para o dia. O medo de contágio faz a pessoa lavar as mãos excessivamente, tomar banhos por horas, usar máscaras, talheres descartáveis, não tocar em maçanetas, etc. Num piscar de olhos você está ablutomaníaco, ou seja, maníaco por limpeza.
Tricotilomania: você deve estar a pensar que é mania de fazer tricô. É o que todos pensam. No entanto, é o impulso de puxar os cabelos, ou então, ficar a enrolá-los entre os dedos, até que, por fim, acabam arrancados. É tão automático que o cara só se dá conta quando aparecem falhas visíveis.
Aritomania é a mania de verificação, ou melhor, de repetir tarefas. É a mania de minha mãe. Piorou depois do setenta anos. Ela verifica se uma porta está realmente trancada inúmeras vezes. Levanta, no meio da noite, para verificar se a televisão está desligada ou então se uma determinada luz está apagada, entre outras coisas. Os aritomaníacos acham que isso impede que algo de grave aconteça.
E tem aquela que a pessoa fica cutucando nervosamente a própria pele; chama-se dermatilomania. Depois do nervosismo, vem o alívio.
Vou parar por aqui, porque já estou ficando com mania de falar das manias. ®Sérgio.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

VOCÊ NÃO ME AMA!

— Você não me ama! Disse, certa vez, meu filho, ao ser repreendido por mim. Naquele dia, desconcentrado, surpreso, agoniado, por tão mentirosa afirmação, um ódio surdo me cresceu na alma e retruquei com raiva, estufando o peito como um galo de quintal. Meu filho tinha se transformado, de uma hora para outra, num insuportável carrasco, num torturador.
Tal fato me espantou, porém, ao mesmo tempo, me confundiu e perturbou que muitos dias se passaram antes que eu pudesse recompor minhas idéias. Não atinei, naquele momento, que tal exclamação, não vinha do fundo da alma de meu filho. Não atinei que era apenas um adolescente, como muitos outros, dando vazão à indignação de um ato repressivo.
Mais tarde, ao ler um artigo sobre psicologia do adolescente, deparei-me com o relato de uma mãe – que passara pela mesma situação – e que me ensinou, tardiamente, como deveria ter procedido naquele dia. Leia, caro amigo, e diga-me se não foi um verdadeiro "tapa de pelica" que ela aplicou no filho:
— Você não me ama! Disse-lhe o filho.
— Amo você o suficiente para incomodá-lo com perguntas sobre onde vai, com quem vai, a que horas volta para casa. Responde a mãe.
- Amo você o suficiente para deixá-lo descobrir que seu amigo era um crápula.
- Amo você o suficiente para ignorar o que outras mães faziam ou diziam.
- Amo você o suficiente para deixá-lo tropeçar, cair, machucar e fracassar.
- Amo você o suficiente para aceitá-lo como é e não como gostaria que fosse. Sobretudo, amo você o suficiente para dizer não quando você me odiava por isso.
É... Pois é, se arrependimento matasse... ®Sérgio.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

“POETA FUI...”

José Abreu Albano (1882 – 1923), é um poeta quase desconhecido em nossa literatura. Cearense, mas, educado em colégios da Inglaterra, Áustria e França, esteve inteiramente fora de nossa poesia.

Albano foi um homem triste. Uma crise mais forte de melancolia exigiu seu internamento por um ano em uma casa de saúde. Ele confessa, no mais famoso de seus sonetos, essa melancolia:

Poeta fui e do áspero destino

Senti bem cedo a mão pesada e dura

Conheci mais tristeza que ventura

E sempre andei errante e peregrino.

Vivi sujeito ao doce desatino

Que tanto engana, mas tão pouco dura;

E ainda choro o rigor da sorte escura,

Se nas dores passadas imagino.

Como agora me vejo isento

Dos sonhos que sonhava noite e dia

E só com saudades me atormento;

Entendo que não tive outra alegria

Nem nunca outro qualquer encantamento

Senão de ter cantado o que sofria.

No entanto, os versos que me tocaram a alma são estes em que ele diz coisas tristes e suavíssimas, e, conforme M. Bandeira, “versos que pareciam cantiga para adormecer a sua loucura”:

Há no meu peito uma porta

A bater continuamente:

Dentro a esperança jaz morta

E o coração jaz doente.

Em toda parte onde eu ando

Ouço este ruído infindo:

São as tristezas entrando

E as alegrias saindo.

José Abreu Albano faleceu em Montauban (França), onde estão seus restos mortais, a 11 de julho de 1923. ®Sérgio.

A RAINHA DO FLAGELO - Notas Biográficas

Você, por acaso, já ouviu falar na Madame Theresa Berkley? Bem, se não ouviu, vou lhe contar algo interessante sobre ela. Se já ouviu, paciência; vou contar assim mesmo.

Theresa Berkley foi dona de um bordel no número 28 da Charlotte Street, Portland Place, bairro de Londres. Mas, sua casa de entretenimento masculino e feminino, não era como outra qualquer do ramo.

Em 1718, quando foi publicado, na Inglaterra, anonimamente, um livro chamado Tratado sobre o Uso do Açoite - embora o título tenha um caráter um tanto científico - o conteúdo continha um teor claramente pornográfico. Rapidamente, o tratado se espalhou pela Europa e virou moda com o nome de vício inglês; o que equivalia dizer que ninguém gostava mais de apanhar na cama do que um inglês. É aí que entra madame Berkley. Determinada a atuar na área do entretenimento masculino e tendo ciência do gosto de seus conterrâneos, montou no mencionado endereço, um bordel especializado em tortura e flagelação e, assim, tornou-se a pioneira do sadomasoquismo.

Theresa era uma amante perfeita dessa arte, por isso não ficou só na tradicional coleira e o dolorido chicotinho. Sua casa era realmente um local de tortura. Para satisfazer os clientes, ela aprimorou e criou numerosos instrumentos de tortura. Usava diversos tipos de chicotes, de vários tamanhos, com nove correias de couro, conhecido como gato-de-nove-rabos, porque tinham nas pontas, unhas de metal, semelhantes a dos felinos. As varas para o açoite eram mantidas na água, de modo que quando usadas, estivessem sempre verdes e flexíveis. Cintas feitas de exclusivo couro grosso com pregos de uma polegada, que perfuravam a pele mais dura e deixavam flagelos que levavam um bom tempo para cicatrizarem. Vários tipos de escovas, como: a escova de furze (uma sempre-viva espinhosa), de urtigas. Além diisso tudo, na primavera de 1828, uma obra-prima de tortura foi inventada para sua casa: o Cavalo de Berkley.

A descrição desse aparelho, responsável pelos gritos dos clientes de Madame, vem de um nobre inglês vitoriano, aficionado em sacanagens, chamado Henry Spencer Ashbee: “(...) era uma espécie de pau-de-arara móvel que podia ser girado tanto na vertical como na horizontal. Assim, sem muito esforço, a Madame, ou as moças e os rapazes que trabalhavam para ela, infligiam a dor exatamente no ponto desejado pelo cliente”. E, por incrível que pareça, conclui Henry, “muitos nobres exibiam com orgulho as marcas e cicatrizes deixadas pelas torturas a que se submeteram”. O cavalo original está, hoje, exposto na Sociedade Real de Artes, e foi doado pelo Doutor Vance, o testamenteiro dela.

Assim, no bordel de Madame Theresa Berkley, quem ia com bastante dinheiro, poderia ser açoitado, chicoteado, fustigado, agulhado, pendurado, escovado, perfurado, ou seja, torturado até ficar satisfeito.

Segundo o texto abaixo, extraído da correspondência de um devoto apaixonado pela flagelação, e profundo conhecedor do assunto, naquela época, as mulheres eram muito mais apaixonadas em agitar a vara de flagelo e vice-versa, que os homens:

"Em minha experiência eu conheci pessoalmente várias senhoras da nobreza que tiveram uma paixão extraordinária e uma severidade impiedosa em administrar a vara. Eu conheci a esposa de um clérigo, jovem e bonito, que levou o gosto ao excesso. Eu soube que a pessoa quando bebia tornava-se vulgar e se permitia ser açoitada até que o fundo dela ficasse totalmente em carne viva e a vara saturada com sangue; ela durante a flagelação gritava: 'mais forte! mais forte! ' e blasfemava se assim não fizessem. Dum estabelecimento em Londres, do qual eu suprimo o nome, vinham vinte meninas que passavam por todas as fases do chicote até se tornarem professoras.”

Numa noite de setembro de 1836, a famosa casa de Miss Berkley estava silenciosa. Nem um grito, nem uma visita, madame Theresa Berkley havia falecido. Foi uma morte súbita e inesperada, pois era um tanto jovem. Durante oito anos ela não só governou seu bordel com maestria, como foi uma completa mulher de negócio, acumulou durante esse tempo uma considerável soma de dinheiro...

Nessa mesma noite, chega ao número 28 da Rua Charlotte, apressado e aparentando estar nervoso, o Dr. Vance, responsável pelo testamento. “Onde está o cofre de Theresa”? Pergunta para um criado. Era nesse cofre que Theresa guardava todas as cartas, nomes e recibos dos clientes de seu bordel. O doutor, sem nenhum remorso, queimou toda a papelada.

Conta-se que algumas das figuras (masculinas e femininas), de maior destaque da nobreza britânica eram clientes exclusivas do local, como o rei da Inglaterra, George IV. Portanto, a história da Inglaterra poderia ser outra, se o doutor não tivesse ateado fogo aos papéis.

Logo após a morte de Theresa, seu irmão, missionário durante 30 anos na Austrália, chegou à Inglaterra, mas quando ele tomou conhecimento de que sua irmã lhe havia deixado a mais famosa casa de flagelação da Inglaterra como herança, renunciou a propriedade e voltou imediatamente para a Austrália. Na falta do herdeiro, a propriedade passou ao Dr. Vance (médico e testamenteiro dela) ele também se recusou a administrar o bordel, e tudo ficou para a coroa inglesa.

Por essa época, já havia em Londres diversas casas especializadas em flagelação, como a da senhora Collette e da senhora Emma Lee. No entanto, em matéria de dor como êxtase, Miss Berkley foi, indubitavelmente, a rainha de sua profissão, ninguém a superava. ®Sérgio.

_________________________________________________

Fonte: http://public.diversity.org.uk/deviant/ssflg1.htm