segunda-feira, 22 de novembro de 2010

O ENTERRO DE SEVERINO

Lá pelos lados de Pernambuco, mais precisamente na zona canavieira; havia (não sei se ainda há) um costume bem interessante: quando morria algum morador do engenho, os parentes, quase sempre gente pobre, se dirigiam ao delegado de polícia e pediam licença para rezar num "quarto de defunto". Com a licença concedida pelo delegado, eles vão até um boteco, ou bodega, ou ainda, bolicho, e compram de oito a dez garrafas de aguardente, das piores, e um ou dois quilos de bolacha comum, marca popular. Passam então a noite toda cantando ladainhas e ofícios; tomando aguardente e comendo bolacha.
Pois bem, morreu lá, um tal de Severino, e os parentes pediram licença para rezar num "quarto de defunto", compraram o caixão, dez garrafas de aguardente e dois quilos de bolacha, levando tudo para o velório. Passaram a noite velando o morto, entornando a cachaça, comendo a bolacha e cantando ladainhas. Lá pelas tantas da noite, homens e mulheres um tanto embebedados, já não sabiam mais o que estavam cantando. A viúva nem tempo tinha de chorar; atendendo um aqui, outro ali, outro acolá, que chegava até a esquecer do finado.
De manhã, na hora do enterro, fecharam o caixão e foram para o cemitério, num cortejo ziguezagueado que dava dó de se ver. Mais mal do que bem, chegaram ao cemitério; abriram a cova e enterraram o caixão. Depois voltaram até a casa do morto, na esperança de ter sobrado alguma cachacinha no fundo da garrafa. Levaram, então, a maior descompostura de um parente do falecido Severino. É que, o pessoal mais bêbado do que "embolachado", fecharam o caixão, foram ao cemitério fazer o enterro, mas esqueceram do falecido em cima da mesa.
Salve-se quem puder! ®Sérgio.