sexta-feira, 26 de junho de 2009

A PANTERA - Memórias de Um Bipolar

Um dia, e isso já faz tempo, eu ainda era garoto, vi numa pequena jaula de um circo, uma pantera. Ela caminhava de um canto a outro da jaula, incessantemente, seguindo com matemática exatidão, uma linha invariável e virando, a cada vez, na mesma barra. A cada virada, seus pelos negros possuíam estranhos reflexos dourados.

Sua jaula era colocada à frente da entrada do circo; para chamar a atenção do público. Desde manhã até a noite, uma multidão se apinhava diante da jaula; gritavam, resmungavam, mas a pantera em sua patética caminhada, com o focinho abaixado, olhava direto diante de si, sem nunca voltar-se a multidão. Alguns espectadores sorriam, mas a maior parte, como eu, olhava sério, quase triste, aquela imagem viva de um infinito desespero.

Aquela imagem ficou gravada para sempre em minha memória. Sempre que algo não ia bem à minha vida, eu me lembrava da pantera; o que poderia ser pior do que a vida daquele magnífico animal, encarcerado para sempre em uma jaula pouco maior que o tamanho dele?!

Hoje eu acho que aquela visão me marcou, porque havia algo de comum entre o meu destino e o da infeliz pantera. Pois, agora em minha jaula de tijolos, eu também me tornei igual a ela.

Todos aqui são panteras enjauladas. Dia após dia, caminham de um canto a outro do corredor, seguindo sempre uma única direção, sem se importar com o que se passa a sua volta.

Minto!... Nem todos são panteras enjauladas. Há aqueles que abandonados pelos que o colocaram aqui, sozinhos, a mercê do destino, perderam qualquer esperança de dias melhores. Deixaram de caminhar e permanecem sentados, imóveis, mudos, sem um gesto, sepultados até os ombros nos sofás, poltronas e cadeiras do salão; como se todos fossem sombras do nada! Nada do nada!

Há, porém, algo inacreditável aqui: essas panteras enjauladas têm coragem de rirem. Trocam dizeres zombeteiros. Apelidam-se, ridicularizando suas próprias desgraças. Riem da própria infelicidade.

Dizem, entre risadas e gracejos "que aqui o diabo não entra para não ficar com complexo de inferioridade". ®Sérgio.