quinta-feira, 5 de julho de 2012

O BESTIÁRIO

O termo vem do latim bestiariu(m) = besta, fera. Eram, durante a Idade Média, sobretudo nos séculos XIII e XIV, livros em prosa ou verso, que retratavam animais (verdadeiros ou ficcionais) considerados simbolicamente portadores de qualidades sobrenaturais, geralmente, ligados ao Cristianismo.
Vindos do Oriente, através de textos gregos, como o Physiologus ­- de autor desconhecido e escrito na segunda metade do século II, em Alexandria – que narra uma sucessão de histórias baseadas nos fenômenos da Natureza, divididas por quarenta e oito seções, uma para cada planta, pedra ou animal vinculados com a Bíblia. o Physiologus teve ampla divulgação no mundo latino e germânico medieval, a ponto de só perder para a Bíblia.
Apesar dos Bestiários evocarem um mundo de valores desaparecidos, deles se originaram mitos que vieram incorporar-se definitivamente na simbologia das artes, como o da fênix, para só citar esse exemplo. ®Sérgio.

A METÁFORA HIPERBÓLICA

Do Grego hyperbolê (excesso), é a figura do exagero deliberado, que leva o escritor a deformar a realidade exagerando de uma ideia, seja por amplificação, seja por atenuação, visando à obtenção de maior expressividade, quer no sentido positivo, que no negativo, segundo o seu modo particular de sentir. Exemplos:

   - Corria feito um raio. – A sua alma era um vulcão.
- Comi sem parar a noite inteira! – Sou louca pelos meus filhos.
Expressões como essas fazem parte das hipérboles do dia-a-dia e, por isso mesmo, seu valor estilístico praticamente já desapareceu, porque já se incorporaram ao falar cotidiano de tal forma que as expressões não provocam mais surpresa ou estranheza. Contudo, o valor afetivo dessas expressões, permanece. Na literatura, não raro, a hipérbole é usada como um recurso estilístico: Envio beijos, mas tantos beijos / Quantas estrelas há no Brasil. Nestes versos de Martins Fontes, é fácil sentir o efeito expressivo da hipérbole. ®Sérgio.

CATACRESE: A METÁFORA VICIADA

Do Grego katákhresis (= uso impróprio, abuso) e denominada abusio em Latim. A catacrese é uma metáfora estereotipada, mas obrigatória, por atender a uma necessidade de uso, e não por um efeito expressivo. De feição nitidamente popular, resulta a catacrese da ausência de um termo próprio para designar determinado objeto ou coisa (pernas da mesa, cabeça de alfinete, etc.). É um fenômeno da pobreza (inópia) do sistema linguístico, que falha diante da necessidade de designação de uma palavra, fazendo esta representar com base numa pura analogia, um objeto ou parte de um objeto para os quais não existem nomes de referência particulares; conduzindo-a, às vezes, ao estabelecimento de relações de semelhança, até abusivas e forçadas. Ou, existindo a palavra, no caso um termo exato ou técnico, substituí-lo por um menos formal. A catacrese aproxima-se da metáfora, ou chega mesmo a confundir-se com esta: Veja os exemplos:
- Barriga da perna em vez de panturrilha.
- Céu da boca em vez de palato.
- Embarcar num trem (embarca-se na barca).
- Enterrou uma farpa no dedo (enterra-se na terra).
- Braço de mar - dente de alho - pé de montanha.
Essas metáforas já foram incorporadas pela língua, ou seja, perderam seu caráter inovador, original e transformaram-se numa metáfora comum, morta, que não mais causa estranheza. Em outras palavras, transformaram-se numa catacrese. Porém será um deslize gramatical quando não vier duma necessidade, ou seja, quando o ser ou coisa já ostentar expressão própria; por exemplo:
- Bebeu a sopa, em vez de, tomou a sopa.
- Arrancou laranjas, em vez de, colheu laranjas.
 Fora daí, admite-se a catacrese como enriquecimento metafórico:
"Dobrando o cotovelo da estrada, Fabiano sentia distanciar-se um pouco dos lugares onde tinha vivido alguns anos; [...]." (Graciliano Ramos, Vidas Secas.) ®Sérgio.