sábado, 30 de maio de 2009

SÓ RINDO...

Em 1995, um pato voando, colidiu com a fachada de vidro do Museu de História Natural de Roterdã (Holanda). O pesquisador Kees Moeliger ouviu o barulho e foi ver do que se tratava. O pato caíra morto, mas outro pato o atacava sexualmente. Impassível, Moeliger acompanhou o "estupro" por 75 minutos e só então espantou a ave pervertida. Desta observação, escreveu um estudo intitulado: “O Primeiro Caso de Necrofilia Homossexual entre Patos”, que foi contemplado com o prêmio IgNobel de Biologia.

Você deve estar se perguntando: que prêmio é esse? É uma espécie de paródia do Nobel, ou seja, um prêmio anual aos mais ridículos, inúteis e absurdos trabalhos científicos do mundo. Essa “brincadeira” é feita, anualmente, desde 1991, pela revista inglesa de humor científico “AIR” (Anais da Pesquisa Improvável), editada pela Universidade de Harvard (Massachusetts). A cerimônia de entrega lota o Teatro Sanders, de Harvard; e, ao contrário do que se possa imaginar, os homenageados recebem com muito humor seus prêmios. Muitos consideram até mesmo uma honra, pois, dessa maneira, dá-se evidência a sua pesquisa.

Para que você tenha uma noção de quanto absurdas e inúteis são essas pesquisas, selecionei, da antologia do IgNobel, alguns vencedores, cujas pesquisas são por demais ridículas. Veja:

• Os cientistas F. Kanda, E. Yagi, M. Fukuda, K. Nakajima, T. Ohta e O. Nakata chegaram a uma inusitada conclusão cientifica: as pessoas que acham que têm chulé, realmente têm, e aquelas que não acham, não têm.

• George e Charlotte Blonsky (falecidos) de New York, reconhecendo a dificuldade das mulheres no parto, inventaram um aparato médico baseado na forca centrífuga, onde a mulher é amarrada numa mesa circular com a cabeça colocada no centro da mesa, que é girada em alta velocidade. Eles só não explicam como aparar o bebê quando expelido da mãe.

• Gregg Miller, dos Estados Unidos, pela invenção dos “Neutículos”, testículos de borracha para cães obviamente sem testículos. “Considerando que, quando era criança, meus pais pensarem que eu era um idiota, esta é uma grande honra", disse Miller.

• A Dra. Mara Sidoli de Washington, DC, pelo interessante estudo intitulado Soltar Gases como Reação de Defesa Diante de Uma Situação Apavorante. A banca que examinou a Dra. Sidoli foi muito dura no exame e a ameaçou tirar seu título. Pois, foi nesse exato momento que a doutora soltou, desculpe, deu a prova cabal de seu estudo. Assim, ao constatarem que a pesquisadora tinha razão, a banca examinadora não cumpriu a ameaça.

• O Dr. Len Fisher da cidade de Bath, England, é premiado por calcular a melhor maneira de molhar um biscoito (no chá, café, etc.).

• Os cientistas Claire Rind e Peter Simmons da Newcastle University, do Reino Unido, por monitorar a atividade de células do cérebro de gafanhotos enquanto eles assistiam (sem pipoca e refrigerante) a trechos dos filmes da série "Guerra nas Estrelas".

• Premiou-se um grupo da Universidade de Adelaide, na Austrália, que analisou odores produzidos por 131 espécies diferentes de sapos quando estressados. Foram selecionados voluntários para cheirar os sapos e descrever o odor que eles perceberam.

• Os pesquisadores Wasmia Al-Houty e Fatem Al-Mussalam demonstraram que a reputação dos besouros-vira-bostas não é verdadeira. Suas pesquisas mostram que esses insetos têm paladar refinado e não comem qualquer tipo de...

• Os pesquisadores, Basile Audoly e Sebastien Neukirch, descobriram em quantos pedaços um fio de macarrão seco se quebra ao ser dobrado: em mais de dois pedaços.

Três investigadores franceses por descobrirem que as pulgas que vivem nos cães saltam mais alto do que as pulgas que vivem nos gatos.

• Dois invetigadores americanos que conseguiram provar matematicamente que fios de cordel ou cabelo acabam inevitavelmente por se embaraçar.

• E por fim, no campo da ornitologia Ivan R. Schwab (Universidade da Califórnia) pesquisou porque os pica-paus não têm dor de cabeça, apesar de baterem o bico contra as árvores 12 mil vezes por dia.

Salve-se quem puder! ®Sérgio.

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Fonte: http://chem.harvard.edu/pipermail/mini-air/2008-October/000027.html

O USO DO HÍFEN DE ACORDO COM O NOVO VOCABULÁRIO ORTOGRÁFICO

Emprega-se o hífen em todos os compostos formados pelos prefixos [além-] [aquém-] [recém-]:

[além-]: além-Atlântico, além-eras, além-fronteiras, além-mar, além-mundo, além-país, além-túmulo.

[aquém-]: aquém-fronteiras, aquém-mar, aquém-oceano.

[recém-]: recém-chegado; recém-aberto, recém-achado, recém-admitido, recém-adquirido, recém-casado, recém-colhido, recém-concluído, recém-conquistado, recém-convertido, recém-criado, recém-depositado, recém descoberto, recém-desvendado, recém–fabricado, recém-falecido, recém-nascido.

[sem-]: sem-amor, sem-bagulho, sem-cerimônia; sem-dinheiro; sem-deus; sem-fim; sem-fio; sem-justiça; sem-lar; sem-luz; sem-modos; sem-nome; sem-número; sem-pão; sem-par; sem-pátria; sem-partido; sem-pudor; sem-pulo; sem-razão; sem-sal; sem-terra; sem-teto; sem-termo; sem-trabalho; sem-vergonha; sem-vergonhice. ®Sérgio.

terça-feira, 26 de maio de 2009

OS DUELOS DE OLAVO BILAC - Notas Biográficas

Em 1889, o jornalista João Carlos Pardal Mallet desafiou Olavo Bilac a um duelo, ofendido com a saída do poeta do jornal A Rua, sob sua direção. Marcado para 19 de setembro, o confronto foi adiado duas vezes porque a polícia os vigiava. Finalmente, no dia 24 de setembro, Pardal Mallet e Bilac, sem testemunhas, se enfrentaram com espadas. A luta durou apenas 4 segundos. Mallet foi ferido na barriga, sem gravidade. Foi o bastante para que, conforme as normas do duelo, a luta terminasse.

Em 1892, Olavo Bilac e o escritor Raul Pompéia (1863-1895) tiveram uma grande desavença. Um texto de uma revista dirigida por Bilac criticou Pompéia. Acusava-o de sofrer de "amolecimento cerebral" por masturbar-se muito à noite ao lembrar de beldades que via na rua. Pompéia, que tinha dificuldades com as mulheres, revidou dizendo que seus desafetos eram "marcados pelo estigma do incesto". Era uma referência a Bilac, que dizia não precisar de filhos, pois já tinha seu sobrinho. Para resolver a questão, organizaram um duelo de espada, que não foi realizado. ®Sérgio.

Olavo Bilac (1865-1918), O Príncipe dos Poetas Brasileiros, foi jornalista, poeta e membro fundador da Academia Brasileira de Letras.

sábado, 23 de maio de 2009

COPIANDO UMA IDEIA

Já li muitos artigos e comentários a respeito do plágio. Em alguns, percebi que seus autores confundem plágio explicito com «copiar uma idéia». Na verdade, tal atitude não caracteriza um plágio, embora possa parecer. Segundo doutrina aceita no direito autoral, «o que deve ser protegido é a forma de uma obra, e não suas idéias». As idéias de uma obra é o que chamamos de «assunto», que em seu significado etimológico (histórico), é aquilo que foi tomado emprestado. O escritor tem a liberdade de tomar por empréstimo um assunto, seja do jornal, da História, de outra obra, do folclore ou da mitologia. Tomemos como exemplo a história de Medéia, uma tragédia grega escrita por Eurípides há mais de dois mil anos, cujo assunto foi aproveitado por Sêneca, Corneille, Anouill, Chico Buarque de Holanda e Paulo Pontes. A peça de teatro Gota D’Água é a história de Medéia transposta para o subúrbio carioca. Assim como Medeia é uma história de reis e feiticeiros, Gota D’Água é uma história de pobres e macumbeiros, uma realidade bem nossa. Como Medéia, temos Mandala de Dias Gomes (da tragédia Édipo) etc.

Para melhor exemplificar meu argumento, temos o caso do escritor brasileiro Moacyr Scliar. Em 2002 quando o escritor canadense Yann Martel, vence o prestigioso prêmio BooKer de literatura com a obra «A Vida de Pi» — que narra a história de um garoto Indiano que, depois do naufrágio do seu navio, divide o bote com um tigre — ganha evidência, a acusação do escritor brasileiro Moacyr Scliar, de que "A Vida de Pi era" era um plágio de seu livro «Max e os Felinos», que tem como personagens um rapaz alemão, vítima de um naufrágio, dividindo o bote com um jaguar. Com a notoriedade do suposto plágio, Martel, admitiu ter usado a idéia original do brasileiro, (telefonou a Moacyr para pedir desculpas). Como Martel não copiou trechos da obra do autor brasileiro, só o assunto — o que deve ser protegido é a forma de uma obra, e não suas idéias — o caso ficou somente nas desculpas.

Exemplos à parte, se caracterizarmos o empréstimo de um assunto como plágio, os programas dos canais abertos da televisão brasileira, seriam, na grande maioria, plágios. Suas principais atrações são idéias copiadas das TVs americanas entre outras. Se você repassar as muitas novelas apresentadas, observará que seus núcleos trazem notória semelhança com filmes que já rodaram nos cinemas mundiais. Pior ainda seria o Caldeirão do Huck, que tem toda a programação baseada em assuntos das TVs estrangeiras. Porém essas coisas pouco se comentam, mesmo porque tomar um assunto emprestado não é plagio, porém, com certeza, confirma o clichê de que: na televisão (e no geral) nada se cria tudo se copia. ®Sérgio.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

A CRUEL VINGANÇA DE D. PEDRO - Notas Biográficas

Esta história, já passou pela pena de vários escritores e poetas; entretanto, não custa nada recontá-la, pois acredito que muitos, ainda, não a conhecem.
D. Pedro foi o oitavo rei de Portugal, governou o país por 10 anos (1357-1367). Antes de ser coroado quando seu pai (Afonso IV) ainda governava Portugal, D. Pedro e Inês de Castro viveram, talvez, do mais famoso e trágico caso de amor da história portuguesa.
D. Pedro era casado com D. Constança que tinha como dama de companhia Inês de Castro, pertencente à poderosa família de Castela. Foi D. Pedro bater os olhos em Inês para apaixonar-se e vice-versa. O romance, embora adúltero, tomou rédeas e chegaram a ter filhos. Tal situação vinha deixando os nobres portugueses preocupados, pois temiam que essa ligação de D. Pedro com Inês de Castro, pudesse afastar o sucessor legal do trono, D. Fernando, filho de D. Pedro com D. Constança. O Rei Afonso IV resolveu, então, expulsar Inês de Portugal. D. Constança, porém, vem a falecer e D. Pedro traz Inês de volta e passam a viver juntos. Novamente os nobres portugueses ficaram aflitos com a sucessão. Certa vez, aproveitando a ausência do príncipe, instigaram D. Afonso IV a concordar com o assassinato de Inês, que foi degolada em Coimbra, no dia sete de janeiro de 1355. Segundo a lenda, D Pedro, inconformado com a morte de sua amada, manda vestir a noiva com roupas núpciais, senta o cadáver de Inês no trono e faz os nobres lhe beijaram a mão. Daí falar-se que Inês de Castro foi "rainha depois de morta". Na verdade, D. Pedro manda transladar os restos mortais de Inês. Com pompas de rainha, seis anos após o assassinato, em 1361, quando já era rei. Quando D. Pedro em 1357 assumiu o trono, conseguiu que dois dos três assassinos – Alvoro Gonçalves, Pero Coelho e Diogo Lopes - fossem capturados. Os dois primeiros foram cruelmente mortos. Depois da tortura, o carrasco, a mando de D. Pedro, arrancou, pelo peito, o coração de Pero Coelho, e o de Alvoro Gonçalves pelas espátulas, enquanto D Pedro comendo um coelho assado, olhava o que mandará fazer. O terceiro conseguiu fugir e, assim, livrar-se da morte, fato que deixou o Rei contrariado. Assim, vingou D. Pedro a cruel morte de sua amada Inês de Castro.
Esse fato histórico transformou-se em verdadeiro mito. Daqueles tempos (século XV) até os dias de hoje, vários poetas homenagearam Inês; Camões dedicou-lhe um episódio, em Os Lusíadas. Confira no Canto III, entre as estrofes 118 e 135. ®Sérgio.
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Esta narrativa é baseada na Crônica de D Pedro apud Campos, Agostinho de. Antologia Portuguesa. Lisboa, Bertrand, p. 57 – 59.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

COISA QUE METE DÓ

O Visconde de São Lourenço, cego de um olho, mandou construir um grande prédio na Rua Matacavalos, hoje Riachuelo, no Rio. Um gaiato escreveu-lhe à porta:

Comer nozes e não ter dentes

É coisa que mete dó.

De que servem tantas janelas

Para quem tem um olho só.

O Visconde de São Lourenço chamava-se Francisco Gonçalves Martins (1807-1872), foi o primeiro e único visconde brasileiro da grandeza de São Lourenço; era juiz e jornalista. ®Sérgio.

A BANDEJINHA - Notas Biográficas

Certa vez, Gregório de Mattos, enviara uma bandeja de doces a uma família amiga. Tão agradecida ficou a família que não lhe devolveu a bandeja, que era de prata. O poeta não gostou do esquecimento e, na primeira oportunidade, encontrando-se com uma pessoa da família, perguntou-lhe com esta quadrinha:

As almas do outro mundo

Dizem que vão e não vêm;

E a minha bandejinha

Será alma também?

O poeta Gregório de Mattos e Guerra ficou conhecido como Boca do Inferno ou Boca de Brasa e foi um dos maiores representantes do Barroco brasileiro. ®Sérgio.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

O ESPLENDOR DA MEDIOCRIDADE LITERÁRIA

Afirmam alguns literatos que, regra geral, a obra total de um escritor de fama é uma série de livros que vão da mediocridade ao esplendor literário. Há exemplos que confirmam essas afirmações; um deles é a obra de Cervantes. Se formos verificar, veremos que a glória inteira de sua obra está na cúpula de uma enorme pirâmide literária: D. Quixote; o resto ficou para sempre mergulhado na sombra, como um grande casarão que só conserva iluminado, no meio da noite, o andar mais alto.
Certos ou não, o fato é que nem sempre obtemos o êxito que esperamos. Um dos melhores autores da recente safra inglesa, David Mitchell, viu um trecho de seu romance Black Swan Green, ser considerado a pior cena de sexo em um romance:
 "Ela ofegou e o abraçou com as pernas, batraquiamente. E então as solas sujas dela se encontraram, como se ela estivesse rezando. E então a pele dele brilhou com um suor de leitão assado. E então ela fez um ruído como um Smurf torturado."
Pior que o trecho de David é o de Irvine Welsh, no seu Bedroom Secrets of de Master Chefs:
 "Deitada na cama, a velha era monstruosa, com rugas de carne flácida se espalhando pelo lençol. Um aroma pútrido subiu do suor acumulado nas suas dobras de pele. — Pensei que você era maior — ela disse quando Skinner tirou sua calça Calvin Klein."
É incrível como Welsh, autor do famoso Trainspotting, consegue transformar o sexo em uma experiência grotesca.
Renomados críticos afirmam que é uma tolice comum aos escritores contemporâneos, a idéia de que o sexo representa um rompimento de convenções. E ainda, que nada mais batido do que descrever o momento do êxtase como uma explosão. Pois, foi o que fez Ian Hollingshead:
 "Ela abre meu cinto. A expectativa me faz gemer. E então estou dentro dela, e tudo é branco puro quando nos perdemos em um êxtase de grunhidos e guinchos, imagens rápidas, desconexas, e explosão de pequenas partículas."
Salve-se quem puder! ®Sérgio.

A MÁXIMA DE PITÁGORAS - Notas Biográficas

Pitágoras aprendeu com os sofistas, como todos sabem, a linguagem dos animais e das plantas. Durante a sua estada na Índia, passeando, um dia, por um campo à beira-mar, ouviu estas palavras:

— Que desgraça a minha ter nascido relva! Mal chego a duas polegadas de altura, vem logo um monstro devorador, um animal horrível, que me pisa com seus largos pés; a sua boca é armada com uma dupla fila de foices cortantes, com a qual me arranca, me tritura e me engole. Os homens chamam a esse monstro de ovelha. Não creio que haja no mundo mais abominável criatura.

Pitágoras avançou alguns passos e topou com uma ostra que bocejava sobre um rochedo. O filósofo ainda não havia adotado essa admirável lei que nos proíbe comer aos animais nossos semelhantes. Ia, pois, engolir a ostra, quando a pobrezinha pronunciou estas comoventes palavras:

— Ó Natureza! Como é feliz a relva, que é como eu, obra tua! Ela, depois de cortada, renasce. É imortal. E nós, miseráveis ostras, em vão somos defendidas por uma dupla couraça, porque uns criminosos nos comem às dúzias, ao almoço, e tudo se acaba para sempre. Que terrível o destino de uma ostra; como são bárbaros os homens!

Pitágoras estremeceu; sentiu a enormidade do crime que ia praticar. Debulhado em pranto, pediu perdão à ostra e colocou-a cuidadosamente sobre o seu rochedo.

De regresso à cidade, a meditar profundamente sobre essa aventura, viu aranhas que comiam moscas, andorinhas que comiam aranhas, gaviões que comiam andorinhas. Disse, então, para si mesmo:

— Esse pessoal todo não tem a mínima filosofia. ®Sérgio.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

A LENDA DO DIABO NA GARRAFA - Recontando Contos Populares

Segundo o que me contou seu Joaquim, numa dessas belas noites de outono, os caboclos que viviam na região mineira do Vale de São Francisco, chamavam de famaliá um diabinho preto, que se conservava preso dentro de uma garrafa. Quem estivesse precisando de dinheiro era só pedir ao diabinho que o dinheiro aparecia na hora. Se por acaso um caboclo estivesse necessitando de um dinheirinho e quisesse aprisionar um famaliá, usava a seguinte receita:
Matava um gato preto e tirava-lhe os dois olhos. Punha cada olho dentro de um ovo de galinha preta e enfiava os ovos dentro de esterco de cavalo, que ainda estivesse quente. Depois o caboclo ia todo dia até perto do monte e dizia: "Ó, diabão! Eu te entrego estes dois olhos de um gato preto para que me sejas favorável nesta apelação: Que deles nasçam dois diabinhos para eu cria-los dentro de uma garrafa e me darem dinheiro na hora da precisão".
Dizia isso durante trinta dias. Ao fim desse tempo, nasciam dois diabinhos, na forma de pequeno lagarto. O caboclo apanhava os diabinhos, colocava-os dentro da garrafa e os alimentava com pó de ferro ou aço moído (Bombril). Aí era só pedir dinheiro em qualquer quantidade, que aparecia na hora.
Conclui seu Joaquim que, embora essa tradição fosse muito combatida pelos religiosos, era muito comum comprar nas feiras, principalmente nordestinas, garrafas com o famaliá. ®Sérgio.
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Nota Sobre o Texto: Como esta lenda veio-me por meio da oralidade, estou recontando-a com o que retive na memória, dentro do meu estilo de prosear. Por isso, há, com toda certeza, versões diferentes.
Imagem: Heliorola.sites.uol.com.br/odiabodagarrafa.jpg

domingo, 17 de maio de 2009

EU COMPUTO, TU COMPUTAS?

Não é correto, nem recomendável expressar-se assim, tanto na escrita quanto na fala. Irão, com certeza, entender outra coisa. O verbo computar é defectivo, isto é, tem conjugação incompleta (não apresenta todas as pessoas). Portanto, no presente do indicativo, só tem forma [plural]:
Nós computamos
Vós computais
Eles computam
No fundo, no fundo, eu acho que eles decidiram torná-lo defectivo, ou seja, proibir a conjugação das pessoas do singular, para evitar mal-entendidos mais ou menos desagradáveis com essas pessoas.
O Pretérito e o futuro, no entanto, são regulares.
Se não há no presente do indicativo a forma singular, diga ou escreva:
Eu estou computando.
Ele está computando. ®Sérgio.

TRISTEZA DO INFINITO - Seleta de Poemas

Seleta de Poemas representa as poesias que li e tocaram-me a alma. Assim, posso compartilhar com vocês as minhas preferências poéticas e homenagear os autores que admiro.
TRISTEZA DO INFINITO
Anda em mim, soturnamente,
uma tristeza ociosa,
sem objetivo, latente,
vaga, indecisa, medrosa.
Como ave torva e sem rumo,
ondula, vagueia, oscila
e sobe em nuvens de fumo
e na minh'alma se asila.
Uma tristeza que eu, mudo,
fico nela meditando
e meditando, por tudo
e em toda a parte sonhando.
Tristeza de não sei donde,
de não sei quando nem como...
flor mortal, que dentro esconde
sementes de um mago pomo.
Dessas tristezas incertas,
esparsas, indefinidas...
como almas vagas, desertas
no rumo eterno das vidas.
Tristeza sem causa forte,
diversa de outras tristezas,
nem da vida nem da morte
gerada nas correntezas...
Tristeza de outros espaços,
de outros céus, de outras esferas,
de outros límpidos abraços,
de outras castas primaveras.
Dessas tristezas que vagam
com volúpias tão sombrias
que as nossas almas alagam
de estranhas melancolias.
Dessas tristezas sem fundo,
sem origens prolongadas,
sem saudades deste mundo,
sem noites, sem alvoradas.
Que principiam no sonho
e acabam na Realidade,
através do mar tristonho
desta absurda Imensidade.
Certa tristeza indizível,
abstrata, como se fosse
a grande alma do Sensível
magoada, mística, doce.
Ah! tristeza imponderável,
abismo, mistério, aflito,
torturante, formidável...
ah! tristeza do Infinito!
João da Cruz e Sousa, Dante Negro ( 1861 — 1898). ®Sérgio.

sábado, 16 de maio de 2009

DIGNO DE NOTA

Só Deus sabe o quanto gosto de bisbilhotar arquivos de jornais. Tem coisas que achamos neles que não "dá" para deixar em branco. Foi o que me passou aos olhos ao "xeretar", dia desses, uma antologia de publicações jornalísticas curiosas, para não dizer desastrosas. No dia 14 de maio de 1999, um cidadão pelotense mandou publicar (a postagem saiu no dia 16), no Diário Popular, a seguinte nota de esclarecimento:
Esclarecimento
Torno público, a quem interessar possa, que a intimação que me foi feita pelo Serviço Notorial e Registral Rocha Brito, relativa a protesto de título do Banco General Motors S.A., no valor de R$ 178,00, com vencimento para o dia 7/4/1999, deveu-se a extravio do carnê de pagamento e descuido da pessoa encarregada de pagar a dita prestação, "sendo que a mesma foi, de pronto, liquidada".
Pelotas, 14 de maio de 1999.
W.S.R. (firma reconhecida)
Para fugir dessas armadilhas do texto, Graciliano Ramos, numa entrevista concedida em 1948, nos dá a recita como se deve escrever:
“Deve-se escrever, da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem o seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa." [...]
Para "arrematar" a conversa, veja este trecho (de quem não levou a sério a receita de Graciliano) retirado de uma reportagem  do Jornal Estado de Minas de 28 de novembro de 1999:
"Há cerca de dez anos, uma família paranaense desafia a polícia do Sudeste brasileiro, acusada de cometer repetidos sequestros..."
Salve-se quem puder! ®Sérgio.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

O ROTEIRO DO PADRE LOURENÇO - Recontando Contos Populares

Lá para as bandas de Minas, em um lugar chamado Palmira, havia um vigário de nome Lourenço, a quem as beatas do lugar não davam descanso, com confissões e mais confissões, nem antes, nem depois das missas. O padre já não agüentava mais, precisava se livrar delas (as beatas) e das confissões, pois não o deixavam nem mais descansar. Fosse o que fosse nada mais remediava... Então foi que teve a idéia de fazer um roteiro para as confissões.
No domingo seguinte, no final da missa, o leu na igreja:
— Minhas devotas, eu estou velho e cansado, e por isso, de agora em diante, vocês terão de seguir o seguinte roteiro para as confissões:
Aos domingos confessarei as preguiçosas; as segundas, as fofoqueiras; as terças, as namoradeiras; as quartas, as hipócritas; as quintas, as comilonas; as sextas, as feiticeiras e, aos sábados, as adúlteras.
Desse dia por diante nenhuma beata ou mulher quis mais confessar naquela freguesia e o Padre Loureiro pode descansar e, assim, viveu ainda muitos anos, sempre descansando. ®Sérgio.
Leia Também (clique no link):
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Nota sobre o Texto: Este causo me foi contado pelo capataz da fazenda Lembrança (município de Rochedo – MS), onde, a convite, passei um fim de semana.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

FRASES CURIOSAS RECORTADAS DE AVISOS

Em uma fantasia do Super-Homem para crianças:
O uso deste traje não o habilita a voar.
Em um espelho montado em um capacete americano para ciclistas:
Lembrem-se, os objetos no espelho estão na realidade atrás de você.
Em um cordão de luzes de Natal chinês:
Somente para uso interno ou externo.
No quadro de avisos de uma grande empresa:
Todos os funcionários estão convidados para a festa anual de natal. Todas as crianças com menos de 10 anos receberão presente de natal. Os funcionários que não tiverem filhos podem trazer os netos.
Em uma embalagem de sal:
Aviso: alto teor de sódio.
Em uma caixa de remédio:
Tome uma cápsula três vezes por via oral.
Aviso na entrada de um cemitério numa pequena cidade do interior de São Paulo:
Só tem direito de serem sepultados, aqui, os mortos que vivem nesta cidade.
Em outro cemitério:
É proibido apanhar flores das sepulturas. a não ser da própria sepultura.
Em um cartaz na borda da piscina dum luxuoso clube paulista, depois de terem contratado um forte e bonito salva-vidas:
Pede-se às senhoras e senhoritas que solicitem o salva-vidas somente se estiverem realmente para se afogar.
Em uma embalagem contendo um termômetro:
Não use por via oral após o uso retal.
Em uma máquina automática:
É só colocar as moedas, girar a manivela e ter a escova já com pasta embalada nas mãos.
Em uma caixa de tachinhas:
Não engula. Pode causar irritações.
Na embalagem de um barbeador descartável:
Não use esse produto durante um terremoto.
Em uma placa rodoviária:
Cuidado! Água na estrada durante a chuva.
Na embalagem de um refletor:
Este refletor é capaz de iluminar grandes áreas mesmo no escuro.
Na embalagem de um secador de cabelos:
Não utilize este produto durante o banho.
Na embalagem de um isqueiro descartável:
Não utilize perto de fogo, chamas ou faíscas.
Em um spray de pimenta:
Pode irritar os olhos.
Em alguns computadores pessoais ao serem ligados:
Teclado não detectado. Pressione qualquer tecla para continuar. ®Sérgio.
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Alguns dos conteúdos deste texto foram obtidos a partir de DumbWarnings.com.

terça-feira, 12 de maio de 2009

VAIVÉM - Recontando Contos Populares

Havia numa certa cidadezinha do sertão, um excelente carpinteiro conhecido por velho Juvenal. Sua oficina era um brinco, sempre muito limpa e organizada, tudo nos seus devidos lugares.

A mania do velho Juvenal era batizar cada uma de suas ferramentas com um nome apropriado. O martelo, por exemplo, chamava-se toc-toc, o formão rompe madeira, o serrote vaivém.

Quando alguém do lugar precisava de uma ferramenta de carpinteiro, corria logo a oficina do velho Juvenal, a pedir-lhe de empréstimo.

Mas tantas lhe fizeram, demorando a lhe devolver ou ficando com a ferramenta de uma vez por todas, que o velho Juvenal resolveu parar com os empréstimos.

Certo dia, um menino foi à oficina, a mando de seu pai, e disse ao velho:

— Papai manda-lhe lembranças e pede emprestado o vaivém.

Mestre carpinteiro Juvenal fechou a cara e respondeu:

— Menino, volta e diz a teu pai que se vaivém fosse e viesse, vaivém ia; mas como vaivém vai e não vem; vaivém não vai.

Juvenal tá certo, não é mesmo? ®Sérgio.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

AMOR E ÓDIO - Notas Biográficas

Rudolph Binion (psicohistoriador), em seu livro Hitler Entre os Alemães (1984)¹, considera que o ódio de Hitler pelos judeus teria sido motivado por um incidente ocorrido em sua infância: a morte de sua mãe.

Hitler era o quarto filho de Klara, que perdera os três primeiros, ainda pequenos, pela difteria. Cinco anos depois de Adolf, nascia Edmund, que também morreria (de sarampo), e, finalmente Paula, que cresceria junto com Adolf. Em vista da má sorte com os filhos homens, Klara agarrou-se tremendamente ao pequeno Adolf, que também temia perder. Mãe e filho viviam numa intrínseca associação afetiva associação afetiva.

Quando Klara desenvolveu câncer de seio, a aflição tomou conta da vida de Adolf. Desesperado, ele decidiu contratar o Dr. Edmund Bloch, famoso médico judeu, de honorários elevados. O Dr. Edmund deixou-nos, como testemunho, jamais ter visto um jovem tão transtornado com a já esperada morte de sua mãe. Bloch propõe a Adolf, usar como única medida para tentar minorar o terrível sofrimento de Klara, a aplicação de gaze embebida em iodo sobre as feridas cancerosas; deixando bem claro que tal medida poderia envenenar a paciente. O jovem Hitler, talvez esperançoso que tal tratamento trouxesse a cura de Klara, insistiu em que o procedimento fosse realizado e, de fato, Klara morreu da intoxicação provocada pelo iodo.

Na verdade, o iodo apenas abreviou o curso da morte de Klara, muito próxima e inevitável. Hitler sentiu-se culpado pela morte de sua mãe, e por ter permitido o tratamento. Desde então, passou a nutrir um tremendo rancor pelo médico, e, evidentemente, pelos judeus. ®Sérgio.

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1- BINION, Rudolph. Hitler Entre os Alemães. Northern Illinois University Press, 1984. Northern Illinois University Press, 1984.

QUANDO EU A VER ou VIR?

O verbo [ver] quando usado no futuro do subjuntivo precedido de [se] ou de [quando], assume a forma [vir]:
Quando eu vir, quando tu vires, quando ele vir, quando nós virmos, quando vós virdes, quando eles virem.
Se eu vir, se tu vires, se ele vir, se nós virmos, se vós virdes, se eles virem.
Exemplos:
• Quando eles me virem (não verem), ficarão alegres.
 Se vires (não veres) o menino, chama-o.
• Quando eu a vir (não ver) dar-lhe-ei o recado.
 Se nos virmos (não vermos) novamente, contaremos a mãe.
 Quando mamãe vir (não ver) ficará contente.
 Se virdes (não verdesque Joana está errada oriente-a.
Os derivados de o verbo [ver] (antever, precaver, rever etc.) seguem o verbo ver.
Mas atenção: Prover não segue essa norma: Quando (ou: se) eu prover, proveres, prover, provermos, proverdes, proverem.
O futuro do subjuntivo do verbo [vir] é [vier]:
Quando (se) eu vier, quando tu vieres, quando ele vier, quando nós viermos, quando vós vierdes, quando eles vierem. ®Sérgio.

domingo, 10 de maio de 2009

CHORANDO - Seleta de Poemas

Seleta de Poemas representa as poesias que li e me emocionaram. Assim, posso compartilhar com vocês as minhas preferências poéticas e homenagear os autores que admiro.
CHORANDO (à Júlia)
(Tradução Ary de Mesquita)
Se alguma dor te atormenta,
E por isso choras tanto,
Vem a mim, experimenta,
Eu farei cessar teu pranto.
Mas se choras mesmo quando
Risonha a vida te apraz...
És tão bela assim chorando...
Pedirei que chores mais.
       • Thomas Moore, poeta inglês (1779-1852) –. ®Sérgio.

SAUDADES E DESALENTO - Fragmentos Poéticos

SAUDADES (fragmento)

Pálida sombra dos amores santos!

Passa quando eu morrer no meu jazigo,

Ajoelha ao luar e entoa um canto...

Que lá na morte eu sonharei contigo.

DESALENTO (fragmento)

Feliz daquele que no livro d’alma

Não tem folhas escritas

E nem saudade amarga, arrependida,

Nem lágrimas malditas!

Manuel Antônio Álvares de Azevedo (São Paulo, 1831 — Rio de Janeiro, 1852) poeta da segunda geração romântica (Ultra Romântica, Byroniana ou Mal do Século), contista, dramaturgo, escritor e ensaísta brasileiro. ®Sérgio.

SELETA DE PENSAMENTOS

"Raros são os homens dotados de bastante caráter para se regozijarem com os sucessos de um amigo sem uma sombra de inveja." (Esquilo)
"Qualquer um de nós pode compadecer-se do sofrimento de um amigo, mas é preciso uma 'natureza muito elevada' para compartilhar do seu sucesso." (Oscar Wilde)

A CAÇADA - Recontando Contos Populares

Havia em Rio Negro, um caboclo muito trabalhador que, nos dias de folga, gostava de uma boa caçada.
Foi então que esse caboclo convidou seu amigo, que era muito medroso, para uma caçada em um lugar onde diziam haver onças.
— Nessa eu não caio – respondeu o convidado. Dizem que por lá há cada pintada que é mesmo um perigo...
— Que perigo nada! Não aparece onça nenhuma! É tudo conversa fiada!...
— E se aparecesse uma onça macha e viesse para nosso lado? Onça é bicho doido; mal percebe no caçador qualquer sinal de vacilação, ela vem feito gato querendo pegar passarinho: deitada, escorregando, devagarzinho, com a barriga no chão, numa maciota, só com o rabo balançando... Os olhos alumiando verde e as presas enormes começando a brotar dos cantos da boca...
— Se ela aparecesse, bicho doido ou não, fosse o que fosse, engatilhava minha espingarda de dois canos, e esperava... Quando a onça apanhasse certa distância, tacava-lhe fogo, e ela já era...
— E se o tiro falhasse?
— Disparava o outro cano.
— E se negasse fogo?
— Então, ora essa! Num pronto arrancava meu facão de mato, e esperava a "bicha", e não tinha talvez...
— E se o facão não estivesse na bainha? Como às vezes acontece à gente perder na mata ou esquecer em casa, com a pressa de sair...
— Ah! Mano velho! Vou lhe dizer, nesse caso, não há outro remédio: pernas para que te quero...
— E se a onça, vai que vai, estivesse quase nos apanhando?
— Sem mais demora, ia para perto de um angico novo, trepava mais que depressa e ali ficava, chamando a onça de todo o nome feio que tem, até ver que a pintada alisasse a cara e fosse embora. Onça não sobe em árvore fina – se diz – porque ela não tem poder de abraçar com as munhecas.
— E me deixava no perigo, não é?! O que eu estou vendo é que você é mais "amigo da onça" do que meu! Nada de caçada! ®Sérgio.