quarta-feira, 27 de abril de 2011

O ENCONTRO DE MALASARTE E O DIABO

Pedro Malasarte, em suas andanças, ouviu, por um acaso, que o diabo era a criatura mais esperta do mundo. Todos os dias que depois vieram, uma ideia fixa dominou-o por completo: enganar o diabo, para mostrar que era mais esperto que o maldito. Acordado, dormindo, amanhecendo, anoitecendo, por cada dia, Malasarte remoia mil e um planos. Nisto ele soube que sua mãe havia morrido, e, como era muito amoroso, foi logo a casa da mãe. Lá encontrou os irmãos que se fingiam de chorosos e, estirada sobre uma mesa, o corpo da pobre mãe. Foi nessa visão que lhe veio a ideia que andava buscando há tanto tempo. Ele derramou, também, algumas lágrimas e resolveram logo fazer a partilha.
Os irmãos começaram a escolher o que havia de melhor. Mas Malasarte disse:
— Eu quero somente duas coisas: o corpo de minha mãe e o cavalo.
Os outros estranharam, porém como eram umas "coisicas" de nada, aceitaram. Pedro amarrou o corpo da velha na sela do cavalo, em posição de cavaleiro e cobriu-a com um xale. Depois, saiu, puxando o cavalo, rumo ao inferno.
Quando o dia já estava pronto para amanhecer, Pedro foi dar numa grande e funda grota, entre duas montanhas. Escondido muito lá embaixo ficava o inferno, um casarão longo com teto de zinco. Malasarte bateu à porta e nada. Bateu de novo, uma, duas, três vezes, nada. Por "embirra" começou arremessar pedras no telhado de zinco; é inarrável a barulhada que fez. Não teve espera, a porta abriu-se surgindo um diabinho que perguntou a Pedro o que desejava.
— Falar com o diabo, respondeu.
O diabinho desapareceu e logo se apresentou o Diabo em pessoa. Malasarte mostrando-lhe a velha, que à luz minguada daquele lugar parecia viva, contou que se achava na extrema miséria e a família passando fome. Sabendo que o Diabo comprava almas, trazia ali a sua mãe, cuja alma estava decidido a vender; pois era o único recurso que tinha para salvar a família da fome. O Diabo consultou o livro do inferno e viu que o nome da velha não estava registrado, então pulou de contente e mostrou-se disposto a fechar o negócio.
Depois de discutirem todos os termos da transação, o Diabo entregou a Pedro 500 contos, conforme ficara combinado. Pedro voltou para a cidade, acompanhado por um diabinho que tinha por missão carregar a alma da velha logo que esta morresse. O diabinho que o acompanhava era um tanto sonso. Então, ao chegarem a uma campina, Malasarte, a pretexto de que a cidade, ainda, estava muito longe e que a velha não podia apanhar friagem, pediu ao diabinho para abrir um buraco fundo ao pé de uma árvore e nele colocou a velha mãe.
— Se ela morrer nesta cova, disse ao diabinho, mal não será.
O diabinho achou que era verdade e riu-se com gosto.
Como a noite vinha caindo, ali mesmo acamparam, e logo que raiou o dia, Pedro explicou ao emissário do demo, que a velha não tinha aguentado, morreu dentro do buraco, e pediu-lhe que fosse avisar o Diabo. Este logo viu que tinha sido ludibriado, pois a alma comprada não havia chegado ao inferno, sendo que não podia estar no Céu nem no Purgatório. Rubro de raiva partiu à procura de Pedro, e encontrou-o; mas este sem lhe dar tempo para o menor movimento, mostrou-lhe uma cruz que trazia consigo. E nesse ponto o diabo transformou-se num vulto negro e terrível; depois, elevou-se no ar, e desapareceu, com grande estrondo, numa nuvem negra. ®Sérgio.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

O MITO DE ALECTRION

Alectrion, companheiro de Marte, é encarregado por este de vigiar e guardar os seus encontros noturnos com a deusa Vênus. Alectrion, porém, descuidou-se, e o Sol que acabara de acordar, avistou os dois amantes, e, imediatamente, denunciou-os a Vulcano, o marido enganado.
Como acontece sempre que se descobre um adultério, seguiu-se uma série de confusões, e, ao final, Marte transformou o "descuidado" amigo em galo.
Por isso é, que o galo, lembrando o castigo, canta, enlouquecido, durante a noite, anunciando a aproximação do Sol. ®Sérgio.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

O GLADIADOR

Quando eu lia ou ouvia algo sobre gladiadores, acudia-me a imagem de lutadores altos e musculosos. Dia desses alguém me disse que se eu pensava assim era melhor trocar Hollywood pela realidade, pois, os gladiadores tinham menos de um metro e setenta de altura, gordura sobrando e frequentemente eram executados nos fundos da arena, com golpes de martelo na cabeça. Dizem os estudiosos que as barrigas salientes funcionavam como uma estratégia de defesa, pois dificultavam a perfuração de órgãos vitais.
Eles eram escolhidos entre os escravos, soldados fugitivos e prisioneiros de guerra. Dormiam em celas apertadas, comiam bem e tinham acesso a médicos e massagistas.
Tatuagens conhecidas como stigma marcavam os lutadores no rosto, nas pernas ou nas mãos. Os desenhos identificavam a origem do guerreiro e quem era seu proprietário. Fugitivos recapturados tinham tatuagens na testa. ®Sérgio.

PALAVRAS DE ORIGEM TUPI

As palavras de origem estrangeira normalmente passam por um processo de aportuguesamento fonológico e gráfico. Essas palavras são tão frequentes em nosso cotidiano que, muitas vezes nem percebemos que estamos usando um estrangeirismo, pois já as sentimos como portuguesas. Eis, abaixo, uma pequena lista de palavras que o Português tomou de empréstimo ao Tupi-Guarani:
Araponga, araçá, arara, carijó, Araxá, Avaré, biboca, caboclo, canoa, capenga, carioca, Goitacá, Guarani, Guaratinguetá, Iguaçu, Ipanema, Ipiranga, Itajubá, Iracema, Itu, Iguaçu, jiboia, jururu, mandioca, pajé, Paraíba, Paraná, pereba, Pernambuco, Piauí, pitanga, pindaíba, saci, Sergipe, tatu, Tocantins, xará, Xavante, etc.®Sérgio.

terça-feira, 19 de abril de 2011

O ROMANCE POLICIAL

O Romance Policial clássico tem como enredo o esclarecimento de um crime pela habilidade e coragem de um detetive. As primeiras narrativas policiais se devem a Edgar Allan Poe. Um precursor do romance policial foi Conan Doyle, autor de O Cão dos Baskervilles (1902), e criador do detetive Sherlock Holmes. Doyle criou o esquema que dominou o romance policial até cerca de 1930. Entre os mais famosos autores destacam-se Aghata Christie e o belga Georges Simenon, que escreveu nada menos que 125 romances policiais entre 1931 e 1952. Na ficção brasileira Rubem Fonseca é considerado o melhor do gênero policial, sobretudo em A Grande Arte (1983). Outro bom autor é Marcelo Rubens Paiva (Bala na Agulha), entre outros. ®Sérgio.

O VISITANTE INESPERADO

Os sinos da paróquia de Monte Castelo começaram a tocar em horário bastante incomum, pois havia morrido um famoso juiz da região. Era um juiz orgulhoso, muito cheio de si, que não tirava o chapéu para ninguém. Além disso, não era para ninguém, modelo de virtude e de honestidade. Muitas das famílias que lhe caíram nas mãos, foram extorquidas. Tinha quarenta anos, alto, magro, meio curvo, o pescoço desabado sobre o ombro (como um atirador que aponta o alvo), os olhos inquietos e perturbador (como os de um alucinado), que lançava em redor de si um mal-estar, na alma e no corpo.
Era este senhor um daqueles a quem cristo chamou de sepulcros caiados: por fora caiado de branco, e por dentro podridão e vermes. Fingindo no exterior honestidade, e sendo no íntimo da alma um devasso.
Os sinos tocavam e a notícia se espalhava; na reação dos habitantes da região, não havia lamento. Pelo contrário, em muitos, notava-se uma ponta de júbilo. Por isso, era consenso geral que a alma daquele juiz não tinha salvação. Discutia-se até se ele teria direito a um enterro cristão. Criava-se, assim, a polêmica, e só não se acirrou porque os frades do Convento de Santo Antônio se ofereceram para sepultá-lo, porém, nem por sombras, eles podiam imaginar o que lhes iria acontecer.
Nesse mesmo dia à meia-noite, os franciscanos foram acordados por sonoras batidas na porta do convento e por uma voz que pedia para falar-lhes. Os frades estranharam estar alguém naquele horário a bater na porta, e foram todos para a capela. Quando abriram a porta, um vulto imponente, de olhar vivo e penetrante entrou. Os frades assustados reparam que apesar de estar muito bem vestido, tinha os sapatos grandes e toscos que deixavam os pés um tanto estranho. O visitante dirigiu-se para onde estava sendo velado o juiz e, parando à frente do caixão, levantou a tampa, segurou o corpo amortalhado e fez com que este vomitasse a hóstia que tinha na boca.
— Que é isto?! – perguntou-lhe com espanto um dos frades. – Não lhe tire a hóstia, pois ele era um homem endemoninhado!
— Não é um homem endemoninhado – respondeu o visitante. - É um servo meu!
E nesse ponto o visitante transformou-se num vulto negro e terrível; depois, elevou-se no ar com o corpo do defunto, e saiu por uma janela com um grande estrondo. Os frades correram para a janela, a tempo de ver os dois corpos unirem-se num só e, com uma risada diabólica, voarem rumo ao espaço, deixando atrás de si um medonho cheiro de enxofre queimado. ®Sérgio.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

PALAVRAS DE LÍNGUAS AFRICANAS

As palavras de origem estrangeira normalmente passam por um processo de aportuguesamento fonológico e gráfico. Essas palavras são tão frequentes em nosso cotidiano que, muitas vezes nem percebemos que estamos usando um estrangeirismo, pois já as sentimos como portuguesas. Eis, abaixo, uma pequena lista de palavras que o Português tomou de empréstimo das línguas Africanas: 
Acarajé, agogô, angu, axé, banguela, bunda, batuque, berimbau, búzio, cacunda, cachaça, cachimbo, chuchu, cacimba, cafundó, cafuné, canjerê, canjica, calombo, calundu, candomblé, camundongo, carimbo, capenga, caruru, caxambu, caxumba, dendê, dengo, Exu, farofa, fubá, gongá (ou congá), inhame, Iemanjá, jiló, macumba, mandinga, maracatu, marimba, marimbondo, maxixe, miçanga, milonga, molambo, moleque, muamba, mungunzá, Orixá, Oxalá, Ogum, pomba-gira, quenga, quiabo, quibebe, quilombo, quindim, quitute, samba, senzala, tutu, vatapá, xangô, zumbi, etc. ®Sérgio.

PALAVRAS DE ORIGEM FRANCESA

As palavras de origem estrangeira normalmente passam por um processo de aportuguesamento fonológico e gráfico. Essas palavras são tão frequentes em nosso cotidiano que, muitas vezes nem percebemos que estamos usando um estrangeirismo, pois já as sentimos como portuguesas. Eis, abaixo, uma pequena lista de palavras que o Português tomou de empréstimo ao Francês:
Abajur, avenida, balê ou balé, batom, bibelô, bidê, bijuteria, boate, boné, bufê, buquê, bege, clichê, cabaré, cachê, cachecol, camioneta ou caminhonete, camelô, carnê, carroceria, cassetete, cavanhaque, chalé, champanha, chantagem, chassi, chique, chofer, complô, conhaque, creiom, crepom, crochê, croqui, cupão ou cupom, dossiê, edredom, envelope, filé, detalhe, elite, etiqueta, gafe, greve, garçom, glacê, guichê, guidom ou guidão, jargão, maçom, madama ou madame, maiô, maionese, maquete, maquilagem ou maquiagem, marrom, matinê, metrô, omelete, paletó, patê, pasteurizar, patoá, pierrô, pivô, placar, pose, purê, rendevu, raquete, toalete, tricô, etc. ®Sérgio.

O ROMANCE MEMORIALISTA - Tipos de Romance

O Romance Memorialista e/ou Autobiográfico surgiu na ficção brasileira na década de 80. Mistura autobiografia, relatos de viagens e reflexões de intelectuais que viveram no exílio ou foram testemunhas das atrocidades cometidas pelo regime militar. Entre os autores estão: Pedro Nava , Baú de Ossos; Érico Veríssimo, Solo de Clarineta I e II; Fernando Gabeira, O que é isso Companheiro?; Graciliano Ramos, Memórias do Cárcere. ®Sérgio.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

O COVEIRO

Até que enfim consigo te escrever, meu amigo,
O episódio para o qual peço espaço, nesta carta, foge um pouco do comum, mas eu "num guentei"  e resolvi enviá-lo. Lá vai:
Corre por aqui, que o coveiro de nosso cemitério era corcunda e que a perdeu em um fato notável. Ele estava limpando um dos túmulos da residência dos mortos, quando um fio de luz intenso formou-se por cima da cova que ele limpava. O coveiro, assustado, fez menção de correr.
— Não corra... Eu não vou te fazer mal – diz uma voz que começou a materializar-se à sua frente.
E ele pergunta com a voz tremula:
— Quem é você?
— Eu sou o espírito do morto desse túmulo que está limpando. Você tem amigos?
— Não! Responde o coveiro.
— Tem dinheiro guardado?
— Não!
— Tem família?
— Também não!
— Então me dá essa corcunda!
Dito isso, o espírito materializado, desmaterializou-se e desapareceu no ar.
Bêbado de felicidade, o coveiro sai contando para todo mundo o ocorrido. Um amigo paraplégico tomou conhecimento do fato e resolveu tentar a mesma sorte do coveiro. De maneira que, passa a depositar regularmente flores no túmulo milagroso.
Um dia, ao depositar um ramalhete, ouve a mesma voz.
— Que é você? Pergunta o paraplégico.
— Sou o espírito do... Você tem amigos?
— Não! Respondeu o cadeirante, felicíssimo.
— Você tem dinheiro guardado?
— Não!
— Tem família?
— Não tenho, não!
— Então, toma essa corcunda!
Pois é, Leo, milagre não acontece duas vezes no mesmo lugar. Nosso amigo, além de paraplégico, passou a ser corcunda também. Salve-se quem puder!
Aguardo notícias tuas.
Ricardo Sérgio.
Inté!

quarta-feira, 13 de abril de 2011

A MOEDA DE VINTE CENTAVOS

Em uma dessas lojas de 1,99, aguardava eu, tranquilamente, no início da extensa fila, a sonolenta operadora do caixa digitar a compra de uma senhora, quando a máquina acusou doze reais por um conjunto de lâmpadas de abajur. A senhora, imediatamente interrompeu a operadora do caixa, exclamando:
— Minha filha! As lâmpadas custam 11,60 e não 12,00 reais!
A operadora, como se recebesse um eletrochoque, despertou da sonolência. Com a fisionomia de quem comeu um doce estragado, parou o hipnótico trabalho que estava fazendo e contestou a cliente lhe dizendo que aquele era o valor que a barra de preços acusava.
— Mas não é o preço que está na prateleira – responde a cliente um tanto nervosa.
A operadora, agora, alumiando raiva no olhar, acenou para uma atendente, que se aproximou do caixa e, após ouvir o pedido para verificar o preço, desapareceu por entre as prateleiras da loja.
Passaram-se minutos, e mais minutos, e nada da atendente voltar. Na fila, ataques de nervos, hipertensão, crianças chorando, princípios de enfarte e derrame cerebral. Contudo, a operadora do caixa e a senhora reclamante, estavam impassíveis, como que: não estamos nem aí para vocês.
Quando a explosão da fila parecia iminente, a atendente retorna e confirma o preço na prateleira: 11,60 reais. Ao devolver para a senhora os vinte centavos, a menina do caixa, nervosa, deixa cair à moeda no chão, que rola para baixo do balcão do caixa. A atendente tentava recuperar a moeda, passando uma régua por debaixo do balcão, quando a senhora diz:
— Não se preocupe minha filha, são só vinte centavos!
E foi embora. 
Salve-se quem puder! ®Sérgio.

sábado, 9 de abril de 2011

A LINGUAGEM

"A linguagem é inseparável do homem, segue-o em todos os seus atos. A linguagem é o instrumento graças ao qual o homem modela seu pensamento, seus sentimentos, suas emoções, seus esforços, sua vontade, seus atos, o instrumento graças ao qual ele influencia e é influenciado, a base mais profunda da sociedade humana." (Louis Hjelmslev, linguista dinamarquês)

COMO FALAR DE LIVROS QUE NÃO LEMOS?

Você já teve uma sensação de angústia ao entrar em uma livraria?
Você deve estar pensando: "Mas que pergunta mais besta. Onde já se viu ficar angustiado por entrar numa livraria".
Pois eu já tive e tenho. Quando entro, tenho a impressão de estar sendo, repreendido, execrado por todos os livros que lá estão e que não os li.
Entretanto, pior do que a angústia da livraria é a de admitir, numa roda literária, que não leu um romance de Jorge Amado, de Machado de Assis, de Tolstoi, ou mesmo qualquer outro que lhe perguntem. É uma situação um tanto embaraçosa. Pior ainda se lhe pedirem uma opinião sobre o livro. Mentir, nesse caso, seria a alternativa, embora nem sempre bem-vinda. A não ser que tomemos a corajosa atitude de confessar, de forma súbita, a não leitura, como fez Ezra Ponde quando Ernest Hemingway lhe perguntou o que achava de Dostoievski. Pond, detentor de uma cultura literária impressionante, decepcionou Hemingway ao responder: "Para lhe ser franco, nunca li os russos". De quebra, aconselhou o amigo a ler "os franceses". Pond, com certeza, sabia quem é Dostoievski e da importância dele na literatura, mas preferiu confessar sua ignorância em relação à obra do escritor russo.
Na verdade, largar um livro na metade ou nas primeiras páginas, ou ainda, lê-lo aos pedaços, faz parte do histórico de qualquer leitor. Além disso, nossa memória possui limitações. Não raro, começamos a esquecer duma página quando ainda estamos lendo à seguinte, imagine, agora, uma obra inteira. Depois, com o tempo as obras lidas vão se misturando na memória, até ficarem completamente embaralhadas; isso, quando não as esquecemos, totalmente. Há até quem recomende deixar de lado a leitura de um livro ruim. É o caso do filósofo alemão Arthur Schopenhauer, autor do ensaio Sobre Livros e Leituras. "Para ler o bom, uma condição é não ler o ruim: porque a vida é curta, e o tempo e a energia escassos", diz o filósofo. Vou mais além, o tempo é escasso até mesmo para a leitura dos bons.
Para aqueles que preferem argumentar uma falsa leitura em vez de admitir a não leitura, repasso, abaixo, algumas dicas que o psicanalista e professor de literatura francesa, Pierre Bayard, recomenda em livro: Como Falar Dos Livros Que Não Lemos?  O título é polêmico e dá a sensação que a opinião do autor é a de incentivar a não leitura, mas o que ele pretende é ensinar a "ler", não é ler por ler (sem reter), mas saber ler de forma a conseguir falar daquele livro e de outros, sem ter lido tudo.
 Todos têm lacunas na sua formação cultural. Nas rodas em que se discute literatura, não há porque imaginar que o sujeito ao seu lado conheça mais uma obra que você.
Opiniões sobre literatura são sempre um tanto arbitrárias. Fale bem ou mal de um livro, mas fale com convicção – e ninguém desconfiará que você não o leu.
Todo leitor é traído pela memória. Assim você pode inventar novos episódios para um livro, ou até falar de autores e livros que não existem. Se alguém apontar o erro, diga, rindo que sua memória confundiu as coisas.
Há várias maneiras indiretas de conhecer um livro: pela crítica, por resumos, pelo que os amigos falam.
  Oscar Wilde ensina que a crítica literária é uma forma de autobiografia. Fale do significado especial que o livro tem para você – mesmo que não o tenha lido.
Pronto, agora você já pode entrar, sem receio, naquela rodinha, ou naquele fórum, e impor sua opinião sobre a obra discutida, mesmo que não a tenha lido. ®Sérgio.
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Fontes: http://www.webboom.pt/ficha.asp?ID=164176#sinopse e Jerônimo Teixeira: Veja On-Line.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

VELHAS USANÇAS

"Nesta nossa terra, onde as tradições tão depressa se apagam, tão cedo se esquece as velhas usanças, o encontro muito raro de algum texto antigo tem sempre para mim coisa de comovente. Na sua figura esmaecida, no seu todo de dó – eles me falam no sentido como uma música longínqua e maravilhosa, onde se contam longas histórias de amor ou se referem a dramas pungentes de não sabidas lutas e miséria. (Afonso Arinos)

ILUSÃO E FANTASIA

"Os jovens são munidos de asas feitas de fantasia e de ilusão, que os levam para além das nuvens, de onde vêem a existência colorida como um arco-íris e onde ouvem canções de glória e de grandeza. Mas estas asas não tardam a ser partidas pela tempestade da experiência. Caem, então, os jovens sobre a terra dura, e passam a ver-se num espelho estranho onde o homem é deformado e diminuído."
Gibran

PASSAVA DAS DEZ ou PASSAVAM DAS DEZ?

Na expressão passar de, referindo-se a números de horas, o verbo permanece sempre no singular:
    Passava das oito horas, e nada de ele acordar.
    Já passava das dez horas, e nada de ele chegar.
    Já terá passado das onze quando chegarmos lá. ®Sérgio.

A PRINCÍPIO / EM PRINCÍPIO / POR PRINCÍPIO

Veja a diferença entre as locuções formadas pela palavra princípio:
1. A princípio significa: no começo, inicialmente, antes de mais nada, antes de tudo, antes de qualquer coisa:
    A princípio, gostaria de dizer que estou bem.
    A princípio, pensava em sair, mas arrependeu-se.
2. Em princípio equivale a: em tese, de modo geral:
    Todos, em princípio, são iguais perante a lei.
    Em princípio, todos o estimavam.
    Em princípio, todos concordaram com minha sugestão.
3. Por princípio quer dizer por convicção:
    Por princípio, não tolero pessoas racistas. ®Sérgio.

terça-feira, 5 de abril de 2011

O POETA–RAPSODO

Para os gregos da Antiguidade Clássica o mito era uma narrativa verdadeira, pois eles confiavam no poeta–rapsodo (o narrador). Acreditavam que o poeta era um dos escolhidos pelos deuses para lhes confidenciar os acontecimentos passados. Também lhe permitiam que visualizasse a origem dos seres e de todas as coisas. Os deuses assim faziam, para que o poeta pudesse transmitir aos humanos os fatos verdadeiros. A função básica do mito era tranquilizar os homens diante de um mundo desconhecido e assustador. Assim como recorriam aos deuses para aplacar a sua aflição, recorriam também aos mitos. ®Sérgio.

LUA DE MEL INTERROMPIDA - Histórias de Assombração

Quando o assunto é fantasmas, assombrações, quem é que não tem um causo para contar? Pois, eu tenho um, tão certo como se passou - comigo.
Recém-casado, fui morar em uma casa alugada. A lua de mel ia bem até que, decorridas algumas semanas, coisas estranhas e inexplicáveis começaram a acontecer na casa. Começou com portas que se abriam ou se fechavam sozinhas; não demos muita importância porque pensávamos ser obra do vento. Mas quando passamos a ouvir, durante a noite, sons de passos, murmúrios, conversas sussurradas e o barulho de crianças correndo pela casa, nos espantamos. Vasculhamos a casa, mas não havia nada. Tudo parecia normal. A coisa complicou quando passei a ver vultos.
Um dia, quando a noite já ia alta, acordei com a bexiga por estourar; tateando nas sombras dirigi-me ao banheiro, porém ao passar pela sala, vi um vulto, de livro na mão, sentado numa das poltronas. Nesse instante, deu-me um passamento pelo corpo que me deixou todo arrepiado; a vista quis escurecer e a urina, quente, escorreu pelas pernas. Benzi-me e retornei às carreiras para quarto sem saber o que faria, de que elementos de coragem e força dispunha para resolver essa situação. Daí por diante, passamos a rezar para não acordarmos à noite, pois era certo que ouviríamos ou veríamos alguma coisa. Entretanto, a sensação de alguém pegando em meus pés e o choro alto de criança acordavam-me na calada da noite.
Queríamos deixar a casa, porém, onde encontraríamos outra com o aluguel tão baixo? Quem sabe, então, um padre resolveria o problema. Chamamos o vigário da paróquia; ele veio rezou uns versículos da oração dos mortos e benzeu a casa toda. As aparições diminuíram por uns dias; depois, voltaram com a mesma intensidade.
Falamos com a dona da casa, e ela resolveu contar tudo. A casa estava construída onde antigamente era um cemitério. Que sabe essa era a razão da casa estar assombrada. Disse-nos, ainda, que nenhum inquilino passou mais de 5 meses na casa, a não sermos nós, que já estávamos há 6 meses. A dona resolveu baixar o preço do aluguel em 40%, mesmo assim não ficamos.
A pessoa que me indicou a casa, pois mora em frente, contou-me que, depois que saímos, muitos já a alugaram; entretanto, não ficaram por muito tempo. O último inquilino saiu três dias depois de se instalar. ®Sérgio.

sábado, 2 de abril de 2011

A BORBOLETA E A MOSCA

Seleta de Poemas representa as poesias que li e tocaram-me a alma. Assim, posso compartilhar com vocês as minhas preferências poéticas, ou homenagear autores que admiro.
A Borboleta e A Mosca
Inexperta borboleta
Com asas de nívea cor,
Sem receio, sem temor,
Dava giros inquieta
De uma vela em derredor
De seu brilho namorada,
Tanto a luz se avizinhou,
Que nela enfim se queimou,
E, caindo desasada,
Em um momento expirou.
Vendo-a uma mosca dizia:
"Bem castigada loucura!..."
E voou pronta a doçura
Do mel que num vaso via,
E a seu folgo* ali chupou.   *com prazer.
Porém quando a voadora
Pretendeu erguer-se ao ar,
Foi baldado* o forcejar,      *frustrado.
Que na doçura traidora
Ficou presa até findar.
O prazer nos cega a todos,
E após aquele que amamos,
O dos outros condenamos,
Mas sempre por vários modos
O mesmo fruto tiramos.
Costa e Silva, José Maria da, (1788-1854). Ilustre poeta português.