domingo, 11 de outubro de 2009

ALMOÇO COM O DIABO

Havia para os lados do sertão de Minas, um fazendeiro rico, viúvo de muito tempo, que vivia sozinho. Por isso, sonhava com um companheiro para almoçar, nem que fosse o diabo.
Certo dia, quando bateu meio-dia e o fazendeiro preparava-se para almoçar, um homem bateu à porta. Era o diabo. Pois bem. Almoçaram, excederam-se no copo e conversaram como velhos e bons amigos.
O diabo não se queixou em nenhum momento e, de nenhum modo, da péssima reputação que gozava no mundo todo. Disse até, que era uma pessoa que maior interesse tinha na queda dessa reputação; sobretudo, porque a tentação agora é completamente inútil. Os homens pecam por si mesmo, natural e espontaneamente, sem necessidade de tentações e convites. Que correm para ele como os rios correm para o mar.
Finalmente, quando as primeiras sombras da noite se precipitaram sobre o dia, o demo despediu-se do fazendeiro e, à saída, disse:
— Quero que guarde de mim boa impressão e para provar-lhe que eu, de quem se diz tanto mal, sou, às vezes, um bom diabo, convido-o para almoçarmos juntos qualquer dia desses no inferno.
Marcaram a data e no dia tratado o diabo veio buscar o fazendeiro. Depois do almoço, o velho fazendeiro foi visitar as dependências do inferno. Havia La dentro, um ar esquisito que lhe fazia lembrar todos os aborrecimentos da sua vida, o desejo de rever seu antigo lar, sua esposa e seus filhos. Em um salão todo em chamas, havia vários caldeirões. E dentro de cada caldeirão estava uma alma fervendo. Havia ali, estranhos rostos de homens e mulheres, marcados por expressões de dor; estranhas caras que davam, ao velho fazendeiro, a impressão de já havê-las visto em épocas e regiões de que lhe era impossível recordar. Mas, num dos caldeirões, ele reconheceu um de seus parentes. Investigando melhor, acabou por descobrir que toda a sua família estava lá. Ficou impressionado e, quando voltou a terra, fez tantas boas obras, que se salvou. ®Sérgio.
___________________________________________
Nota sobre o Texto: Esta história foi inspirada em um causo da oralidade popular.

A INTRANSIGENTE VISÃO DO FREI AMADOR

Para muitos pregadores da verdade, não existe no céu, nem na terra, nem debaixo da terra, criatura alguma que em si e por si mesma possua a sapiência e as virtudes divinas que eles propagam terem.
Tocar nesse assunto me fez recordar do Frei Amador Arrais, que tive a oportunidade de ler quando estudava Literatura Portuguesa no curso de Letras.
Frei Amador (1530-1600), ortodoxo cristão, pertencia à Ordem dos Carmelitas Descalços, e publicou, em 1519, a obra "Diálogos", um precioso documento da cultura portuguesa do Renascimento. A obra é composta de dez diálogos, numa prosa límpida, de qualidade e que se tornou clássica, travados entre Antíoco, um homem doente, e uma série de pessoas que o visitam.
O excerto que transcrevo abaixo, intitulado: "Em que consiste a verdadeira sapiência", acho que serviria, muito bem, para alguns "sapientes" de hoje:
"[...]. Se quiser conhecer o quanto tem de sábio volva os olhos atrás, lembre-se quantas vezes na carreira de sua vida haja tropeçado, quantas caído, quantas errado, quantas coisas vergonhosas, quantas dignas de dor e arrependimento haja cometido, e, sobretudo conheça, e confesse suas imperfeições e faltas. Poucos são os verdadeiros letrados e quase nenhuns os sábios; porque uma coisa é sabiamente falar, e outra sabiamente viver, uma é chamar-se sábio, e outra sê-lo: como também uma coisa é nomear-se de prudente, e outra sê-lo realmente."
Esta é a intransigente visão de Frei Amador Arrais. Cabe a você julgá-la e concordar comigo ou não. ®Sérgio.

MANIAS, MANIAS E MANIAS

Você tem a mania de roer unhas? Console-se até o Maradona tem. Quer mais?! Confesso-lhe que nunca tive tanto prazer em ver alguém roer unhas.
O nome dessa mania é Onicofagia. A "roeção", que logicamente é de seu conhecimento, começa em momentos de nervosismo; porém, não só nesses momentos, nos de tédios também. É ou Noé? Não sei se você chegou a esse ponto; mas, há pessoas que roem, mastigam e engolem a unha (imagine aqueles que não têm o hábito de limpar as unhas). Roem tanto, a ponto de causar ferida a pele em volta, que, por vezes, inflamam.
Eu já tive uma terrível mania: o colecionismo. Acumulava tralhas: jornais, revistas, livros (de qualquer estilo) e coisas desnecessárias. Cheguei a encher o quarto da empregada (que nunca tive), que mal podia mover-me dentro dele. E assim foi, até que minha mulher resolveu dar um basta na mania. Não perdi a mania, porém está bem controlada. Agora coleciono só os recortes que tiro de revistas e jornais. Quanto aos livros... só os literários. Já vi manias de colecionismo que eram verdadeiros casos de saúde publica.
Bem, já que o assunto é mania, aqui vão outras:
Ablutomania: essa está em voga ultimamente. Devido à suinofobia, causada pela "neuropropaganda", muitos a desenvolveram da noite para o dia. O medo de contágio faz a pessoa lavar as mãos excessivamente, tomar banhos por horas, usar máscaras, talheres descartáveis, não tocar em maçanetas, etc. Num piscar de olhos você está ablutomaníaco, ou seja, maníaco por limpeza.
Tricotilomania: você deve estar a pensar que é mania de fazer tricô. É o que todos pensam. No entanto, é o impulso de puxar os cabelos, ou então, ficar a enrolá-los entre os dedos, até que, por fim, acabam arrancados. É tão automático que o cara só se dá conta quando aparecem falhas visíveis.
Aritomania é a mania de verificação, ou melhor, de repetir tarefas. É a mania de minha mãe. Piorou depois do setenta anos. Ela verifica se uma porta está realmente trancada inúmeras vezes. Levanta, no meio da noite, para verificar se a televisão está desligada ou então se uma determinada luz está apagada, entre outras coisas. Os aritomaníacos acham que isso impede que algo de grave aconteça.
E tem aquela que a pessoa fica cutucando nervosamente a própria pele; chama-se dermatilomania. Depois do nervosismo, vem o alívio.
Vou parar por aqui, porque já estou ficando com mania de falar das manias. ®Sérgio.