segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
UM CASO DE HIGIENE
quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
MORREU MESMO - Recontando Contos Populares
Um dia, foi um jovem empregar-se na prefeitura de uma cidadezinha do interior. No seu primeiro dia de trabalho lhe mandaram podar as árvores da prefeitura. Como não tinha prática desse serviço e era um tanto tapado, apoiou a escada num dos galhos e pôs-se a serrá-lo. Deu de acontecer que passava por ali, numa mulinha avermelhada e troncha; breviário na mão e guarda-sol aberto, o vigário da freguesia. Ao ver o jovem, advertiu-o:
— Menino, serrando desse modo, vai cair daí!
O novato que era, além de estúpido, teimoso; fingiu não ter escutado o padre, e continuou o trabalho.
O vigário, então, prosseguiu seu caminho. Não passou muito tempo... zás! Vem ao chão tanto a escada, como o jovem podador, que ficou com um braço em petição de miséria. Quando voltou do desmaio e retomou os sentidos, ficou muito admirado do certo que saiu o conselho do reverendo; pensou lá consigo que o padre era um adivinhão e como tinha profetizado sua queda, podia acertar o dia de sua morte.
Foi ter com ele:
— A bença, seu vigário.
— Deus te abençoe.
— Vossa Reverendíssima me falhou que eu havia de cair da árvore e, dito e feito, caí mesmo. Bem... queria que agora adivinhasse o dia de minha morte.
Bonachão, o padre achou muita graça no pedido que o jovem lhe fazia e resolveu zombar um pouco dele.
— Olhe, sei quando você há de morrer. Será na hora em que, indo para sua casa, montado em sua mula, a ouça dar três zurros seguidos.
O jovem podador agradeceu muito e foi-se embora.
Toda vez, que voltava para casa, montado em sua mula, ia muito atento a fim de ouvir quando ela dava os tais zurros. E foi que, certo dia, ao chegar numa volta do caminho, a mula preparou-se toda e soltou um, dois, três zurros.
O jovem, que os havia contado com o coração aos pulos e crente na previsão do reverendo, julgou chegada sua hora. De imediato, atirou-se da sela abaixo e soltou um grito:
— Morri!
Não se moveu mais, certo de que estava morto. Vai daí que, logo depois, passaram por ali uns trabalhadores e deram, de cara, com ele estendido no meio do caminho. Acreditando-o morto, foram buscar uma rede no vizinho mais próximo, puseram-no dentro e o conduziram para sua casa, rezando um terço.
Não muito adiante, havia duas encruzilhadas. Os trabalhadores ficaram bestando: qual delas seria o caminho mais curto para chegarem à casa do morto.
Começaram a teimar entre si, até que o defunto ergueu a cabeça do fundo da rede e lhes disse:
— Olhem, amigos, no tempo em que eu era vivo o caminho mais curto era à esquerda.
Assombrados, os trabalhadores atiraram a rede ao chão, com o defunto dentro, e fugiram a toda disparada.
Com a queda o moço veio a morrer mesmo. E a adivinhação do padre saiu certa. ®Sérgio.
AS FIGURAS FONÉTICAS
Onomatopeia do grego onomatopoiía (= ação de inventar nomes) é a criação de uma palavra a partir da imitação ou reprodução aproximada (nunca exata) de um som natural a ela associado. A onomatopeia transforma-se, assim, num processo de formação de palavras. As onomatopeias têm sua carga significativa na sonoridade e não no conceito, ou seja, velem apenas pelo que significam. Fazem parte do universo da onomatopeia: ruídos, gritos, canto de animais, som de instrumentos musicais ou o barulho que acompanha os fenômenos da natureza:
=> Ergue a voz o tique-taque estalado das máquinas de escrever. (F. Pessoa)
Numa leitura em voz alta, você perceberia, facilmente, os estalos do [t] e [q].
As Onomatopeias Puras - serão puras quando procuram - com os recursos que a língua dispõe - reproduzir, imitar o mais aproximado possível os sons que representam; por exemplo: bip, clic, toc-toc, brrr, atchim, etc. Estas onomatopeias não representam palavras, apenas imitam os sons que representam. São, muitas vezes, formadas apenas por consoantes (zzzz), facilmente pronunciadas, porém difícil de serem representadas ortograficamente. Muitos dos ruídos e sons representados por onomatopeias acabam por se incorporar à língua. Algumas vão até motivar a criação, por derivação, de novas palavras.
As Onomatopeias Vocalizadas estão no campo da gramática e da linguística e constituem palavras como outras quaisquer. Seguem as regras de construção ortográficas e possuem uma classificação sintática e morfológica, como é o caso de roncar e mugir (verbos), que correspondem às onomatopeias puras “ronc e muuu”, respectivamente. Quase todas as onomatopeias puras são passíveis de lexicalização, bastando para tal antepor-se um artigo, por exemplo: o tic-tac, um toc-toc.
Neste fragmento do poema Vozes dos Animais de Pedro Dinis, temos uma boa ilustração das onomatopeias vocalizadas:
Muge a vaca, berra o touro
Grasna a rã, ruge o leão,
O gato mia, uiva o lobo
Também uiva e ladra o cão.
Relincha o nobre cavalo
Os elefantes dão urros,
A tímida ovelha bala,
Zurrar é próprio dos burros.
É de se esperar que as formações nitidamente onomatopaicas fossem, em geral, de caráter universal. Contudo, têm poucas semelhanças nos diferentes idiomas quando se traduzem graficamente. Cada língua convencionou a onomatopeia de uma maneira própria. Por exemplo: auuu (latido de cães) em francês é wou, ou, ouuuu; em russo vau, ou, oouu; beee (ovelhas) é baa em inglês e bäh em alemão.
A onomatopeia é um dos recursos expressivos mais comuns usados na prosa e na poesia para produzir um efeito especial e reforçar a capacidade comunicativa do texto Na poesia tem grande importância estilística e poética, pois nela se concentram a melodia, a harmonia e o ritmo da frase. Os valores sonoros da onomatopeia podem ser reforçados pela aliteração (repetição do mesmo som). Daí a sensível aproximação da poesia a esta figura fonética, como se pode verificar neste fragmento de Vicente de Carvalho:
Ouves acaso quando entardece
Vago murmúrio que vem do mar,
Vago murmúrio que mais parece
Voz de uma prece
Morrendo no ar?
Nestes versos há um conteúdo onomatopaico criado pelo termo murmúrio e reforçado pela aliteração (repetição do termo).
A onomatopeia tornou-se moda durante o Simbolismo, a ponto de atribuir-se a cada vogal uma carga sonora, correspondente a um instrumento: A > órgão — E > harpa — I > violino — O > metais — U > flauta.
Nas histórias em quadrinhos, podemos encontrar inúmeros exemplos de onomatopeias. ®Sérgio.
Neste link há uma lista de onomatopeias puras para o seu texto:
http://recantodasletras.uol.com.br/teorialiteraria/1186781
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Ajudaram na elaboração deste texto:
Helio Seixas Guimarães, Ana Cecília Lessa - Figuras de Linguagem – Atual Editora
Rocha Lima – Gramática Normativa da Língua Portuguesa – José Olympio.
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
CASOS DE “PULIÇA” (2)
CASOS DE “PULIÇA” (1)
O AMIGO DA ONÇA - Recontando Contos Populares
A Onça estava quietinha no seu canto quando lhe apareceu o compadre Lobo, que logo foi lhe dizendo:
— Comadre Onça, com o perdão da palavra, você não é o bicho mais valente e destemido que existe neste mundo, nem o Leão, com toda a sua prosa dos reis dos animais.
— Como assim? Berrou a Onça enfurecida. Quem é esse bicho mais valente e poderoso que eu?
O Lobo amaciando a voz respondeu:
— Ó comadre, me perdoe. Já estou arrependido de dizer tal coisa... Mas minha intenção era apenas preveni-la de um bicho terrível que apareceu nesta paragem.
— Bem... Você não deixa de ter alguma razão, retrucou a Onça, mais sossegada. Mas quero saber o nome desse bicho. Como se chama?
— Esse bicho, comadre, chama-se homem, conforme me disse o papagaio. Em toda a minha vida, nunca vi um bicho mais valente. Ele sim e mais ninguém é o rei dos animais. Basta dizer, que de longe, o vi matar, com dois espirros, nada menos do que um jacaré dos grandes. Ih! Comadre, com o estrondo dos espirros parecia que tudo ia pelos ares. Deus me livre!
— Oh! Compadre, não me diga!
— É como lhe conto. E o que mais me deixa admirado é o bicho-homem ser tão baixinho que parece ser fraco; além disso, é mal servido de unhas e dentes.
— Pois bem, compadre, fiquei curiosa. Quero que me leve, sem demora, ao lugar onde se encontra tal animal.
— Ah, comadre, peça-me tudo menos isso. Você nem imagina os estragos que ele fez com seus malditos espirros. Não me atreveria a tal aventura.
— Pois queira ou não queira, vai me mostrar o bicho, ou então não sairá daqui com vida.
— Está certo, disse o Lobo amedrontado. Iremos. Mas temos de tomar todo o cuidado possível. Eu — com sua licença — posso correr mais que a senhora. Assim, levaremos um cipó, daqueles que não arrebentam nunca. Amarro uma das pontas no pescoço da comadre e a outra em minha cintura. Em caso de perigo, se for preciso fugir, a comadre e eu corremos...
— Fugir! Veja lá o que diz! Você já viu, seu “cagão”, alguma vez onça fugir?
— Não me expliquei bem. Eu é que fugirei. A comadre será apenas arrastada por mim. Isso não é fugir. Está certo?
— Está bem. Faremos como quer.
Partiram. A Onça com o cipó atado no pescoço, e o Lobo muito respeitoso e tímido, a puxá-la.
Quando chegaram ao destino, o “bicho-homem”, surpreendido, ao avistá-los, tirou da cinta a garrucha e lascou fogo, isto é, espirrou, uma, duas vezes, foi um estrondo dos diabos.
O Lobo, então, mais que depressa, disparou numa corrida desabalada, empenhando um enorme esforço para arrastar a Onça pelo cipó “que tinha atado no pescoço dela”.
De repente, já muito distante, sentiu que a Onça estava mais pesada. Então parou, e contemplou a companheira estendida no chão, com os dentes arreganhados, sem o mais leve movimento.
O Lobo sem perceber que a Onça tinha morrido enforcada no laço do cipó, mas pensando que apenas estivesse cansada, disse-lhe tremendo que nem vara verde:
— Eh, comadre! Não ri, não, que o negócio é sério. ®Sérgio.
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• Esse é um causo com inúmeras variantes
NOTAS CURIOSAS (4)
• O enigma do prisioneiro da Máscara de Ferro jamais foi decifrado. Quando a Bastilha caiu em 1789, nada se encontrou que provasse sequer a própria existência do prisioneiro. A lembrança do misterioso personagem estava apenas na memória dos carcereiros.
• Victor Hugo teve – até a idade mais avançada – diversas amantes. A mais famosa delas foi Juliette Drovet, atriz sem talento que lhe dedica sua vida, e a quem ele escreveu diversos poemas. Ambos passavam juntos os aniversários de seu encontro e preenchiam, nestas ocasiões, um caderno comum que nomearam o "livro do aniversário".
• Quando Victor Hugo morreu as prostitutas de Paris ficaram de luto.
• Sócrates,
MOLIÈRE: DO PALCO PARA A MORTE - Notas Biográficas
Da biografia de Molière (1622-1673), um dos mais marcantes momentos foi sua morte, que se tornou lenda.
É dito que ele morreu em 17 de janeiro de 1673, aos cinquenta e um anos, durante a encenação de uma comédia de sua autoria, ironicamente intitulada, Malade Imaginaire (O doente imaginário), em que representava o papel principal. Na verdade, Molière apenas desmaiou no palco, ou melhor, tuberculoso, teve um ataque de hemoptise, expectoração sanguinolenta através da tosse, em cena aberta. Molière, porém, insistiu em terminar seu desempenho. Mas, em seguida, desabou de novo. O público imaginou tratar-se apenas de mais uma interpretação brilhante do grande ator e aplaudiu estrondosamente, enquanto Molière se curvava de sofrimento e perdia sangue pela boca. Depois de o pano cair, Molière foi levado agonizante para a sua casa de Paris, morrendo horas mais tarde, sem tomar os sacramentos já que dois padres se recusaram a dar-lhe a última visita, e o terceiro já chegou tarde. No momento de sua morte, Molière estava vestido de amarelo, o que gerou a superstição de que esta cor traz má sorte para os atores.
Para piorar as coisas, os atores (comediantes) da época não podiam, por lei, serem sepultados no solo sagrado de um cemitério, já que o clero considerava a profissão como mera "representação do falso". No entanto, a viúva de Molière, Armande, pede a Luís XIV que interceda em favor de seu cônjuge para que lhe seja permitido um funeral normal. O rei consegue obter do arcebispo a autorização para que o enterrem, durante a noite, na parte do cemitério reservado para crianças não batizadas.
Em 1792, os seus restos mortais são levados para o Museu dos Monumentos Franceses e, em 1817, transferidos para o cemitério do Père Lachaise, em Paris, ao lado da sepultura de La Fontaine. ®Sérgio.