sábado, 18 de setembro de 2010

TÁ FARTANDO FUBÁ - Recontando Contos Populares

Foi um dia um matuto queixar-se da falta de fubá nas redondezas onde morava, a um sitiante - homem muito simples que não gostava de contrariar as ideias do próximo.
— Eh, Patrão! É uma verdadeira desgraçia! Esse fubá anda pela horinha da morte. Não hai nem para tapar o buraco de um dente. Se continuar ansim, é coisa de pouco tempo se morrer de fome.
O sitiante, com sua natural cortesia, quis justificar a carestia:
— Há de ser com toda a certeza por falta de milho. Não tem chovido, decerto perderam-se as plantações lá pra suas bandas.
— Ih, Patrão! Choveu todo o ano. Água não fartou com a graça de Deus e ninguém deixou de plantar milho, louvado seja o Senhor, milho veio bonito que não se perdeu uma espiga!
— Então, já sei, será por avarias nos maquinismos dos moinhos lá de sua região.
— Também não é, patrão, os moinhos não têm desarranjo nenhuns, não hai outros como os nossos!
O sitiante já um tanto irritado, sem a natural cordialidade, ficou matutando, a olhar o matuto, e, não tendo mais nada pra dizer, saiu-se com esta:
— Então, patrício, há de ser por falta de fubá mesmo... ®Sérgio.

O REI QUE QUERIA CONHECER A HUMANIDADE - Recontando Contos Poulares

Mitos dos ensinamentos filosóficos da antiguidade Oriental vinham disfarçados em contos ou historinhas aparentemente inocentes, para melhor aproveitamento dos ensinamentos. É o caso deste conto do século VIII.
Conta-se que na Pérsia vivia um rei de nome Zemir. Coroado bastante jovem, descobriu que sabia muito pouco para ser um soberano. De modo que precisava, urgentemente, de instrução. Reuniu então a sua volta um grande número de eruditos, provenientes de muitos países. Pediu-lhes que compusessem, para seu uso, uma obra que contasse a história da humanidade.
Assim, os eruditos passaram a se concentrar nesse trabalho. Durante vinte anos se ocuparam no preparo da obra. Terminada, foram ao palácio, carregando quinhentos volumes acomodados no dorso de doze camelos. O Rei Zamir que já passara dos 40 anos, disse-lhes:
— Estou velho. Não terei mais tempo de ler todos esses quinhentos volumes antes de minha morte. Levando isso em conta, poderiam, por favor, preparar-me uma obra resumida?
Por mais vinte anos trabalharam os eruditos na feitura dos livros e voltaram ao palácio com três camelos apenas. Mas o rei envelhecera mais ainda. Com sessenta anos, sentia-se meio alquebrado:
— Não me será possível ler todos esses livros. Por favor, façam deles uma versão mais resumida!
Os eruditos trabalharam mais dez anos. Voltaram ao palácio com um camelo carregando alguns volumes da obra. A essa altura, com setenta anos, e quase cego, o rei não podia mais ler. Mesmo assim pediu uma versão mais resumida ainda. Os eruditos também tinham envelhecidos; mesmo assim, concentraram-se por mais cinco anos e, momentos antes da morte do monarca, voltaram com um só volume.
— Infelizmente morrerei sem nada conhecer da história do homem - disse o velho Rei.
Então, a sua cabeceira, o mais idoso dos sábios lhe respondeu:
— Vou explicar-lhe em três palavras a história do homem: o homem nasce, sofre e, finalmente, morre.
Pois foi depois de ouvir essas três palavras que o rei morreu. ®Sérgio.