sexta-feira, 17 de julho de 2009

A REGÊNCIA DO VERBO ANSIAR

Ansiar no sentido de desejar ardentemente é transitivo indireto Use-o com a preposição [por]:
Ansiou por ir ao seu encontro.
Ansiava por me ver fora de casa.
Ansiava por me ver fora daquele bar.
Ansiava pelo novo dia.
Ansiar no sentido de causar mal-estar, angustiar é transitivo direto. Use-o sem preposição:
O cansaço ansiava o trabalhador.
A espera ansiava o noivo. ®Sérgio.

UMA HISTORIETA BEM CRETINA

Esta semana "correu" aqui, pela minha cidade, uma historieta bem cretina; tanto é cretina, que poderíamos classificá-la como "humor negro" - um gênero frequente na cultura popular brasileira. Fora a cretinice, tem um enredo bem desenvolvido e bem ao estilo do conto, onde tudo chama, tudo convoca, a um final bastante inspirado. Quanto à autoria, é de costume quando se narra oralmente uma historieta, ninguém perguntar pelo autor. De maneira que uns vão passando aos outros sem se preocupar com nome do "inventor"; e, foi assim, que ela chegou até minhas orelhas:
Um rapaz ganhara um reality show, e como prêmio, foi contratado para filmar um comercial com a Gisele Bündchen. Ao eufórico rapaz fora marcado o dia 15 de determinado mês, para o embarque rumo ao local da filmagem. No entanto, esta viagem poderia ser cancelada caso acontecesse algum imprevisto com a Gisele; neste caso ele seria comunicado via telegrama. Se não recebesse, embarcaria no dia determinado para iniciar as filmagens com a nossa famosa modelo.
O rapaz combinou com os colegas que se não viesse o telegrama até a véspera, daria, nesse dia, uma grande festa de despedida. E assim aconteceu. Na noite de 14, a casa se encheu e haja farra. Música e dança, comes e bebes, entre outras coisas. Como o dia 14 só terminaria à meia-noite, a angústia do rapaz era imensa. Por volta das 10 horas, alguém toca a campainha. Faz-se um silêncio de morte. Como se marchasse para a cadeira elétrica, o jovem se encaminha à porta, tentando convencer-se de que era algum convidado atrasado; de lá, porém, traz pálido e ansioso, o envelope do cabograma. Nervoso, tremulo, abre-o, para depois berrar numa imensa e não contida alegria:
— Pessoal, não é nada, não! Foi minha mãe que morreu!
Que falta de vergonha desse filho da mãe que morreu. ®Sérgio.

QUANDO EU MORRER... - Seleta de Poemas

Seleta de Poemas representa as poesias que li e tocaram-me a alma. Assim, posso compartilhar com vocês as minhas preferências poéticas e homenagear os autores que admiro.
Quando Eu Morrer...
Quando eu morrer o mundo continuará o mesmo,
A doçura das tardes continuará a envolver as coisas todas.
Como as envolve agora neste instante.
O vento fresco dobrará as árvores esguias
E levantará as nuvens de poesia nas estradas...
Quando eu morrer as águas claras dos rios rolarão ainda,
Rolarão sempre, alvas de espuma
Quando eu morrer as estrelas não cessarão de acender-se
no lindo céu noturno,
E nos vergéis onde os pássaros cantam as frutas
continuarão a ser doces e boas.
Quando eu morrer os homens continuarão sempre os mesmos.
E hão de esquecer-se do meu caminho silencioso entre eles,
Quando eu morrer os prantos e as alegrias permanecerão
Todas as ânsias e inquietudes do mundo não se modificarão.
Quando eu morrer os prantos e as alegrias permanecerão.
Todas as ânsias e inquietudes do mundo não se modificarão.
Quando eu morrer a humanidade continuará a mesma.
Porque nada sou, nada conto e nada tenho.
Porque sou um grão de poeira perdido no infinito.
Sinto porém, agora, que o mundo sou eu mesmo
E que a sombra descerá por sobre o universo vazio de mim
Quando eu morrer...
Augusto Frederico Schmidt (1906-1965), poeta da segunda geração modernista, obcecado
com a ideia da morte, cujo sentimento escapa em muitos de seus poemas.