quarta-feira, 3 de março de 2010

MUNDO ESTRANHO

Este mundo é mesmo estranho. Imagine: mulheres esvaziando fossas sépticas e carregando os excrementos humanos numa cesta sobre a cabeça; mesmo nos dias de chuva quando a água dilui as fezes que inevitavelmente escorrem pelos rostos dessas mulheres.
Pense em homens abrindo bueiros donde saem baratas e ratos. Quando o movimento de fuga dos pestilentos diminui, esses homens, só de tangas fio-dental, entrando nesses bueiros para desobstruir as tubulações. Sem luvas ou máscaras (no máximo pás, baldes e carriolas), para amontoar do lado de fora a massa escura, mistura de fezes e tudo o mais que você possa imaginar.
Pois é; esse é o trabalho de 650 mil indianos, os chamados "scavengers", termo inglês que significa, mais ou menos, animais que se alimentam de carniça.
Scavengers são dalits, a mais baixa casta indiana e hereditária, ou seja, nascem para trabalhar nas fossas. Muitos morrem envenenados pelo gás metano (fermentação das fezes) que se acumulam nas galerias ou afogados nos excrementos.
Pior; na sociedade indiana, ninguém se incomoda com isso. Tanto que essas mulheres e esses homens são contratados por empresas a serviço do poder público, em cidades como Mumbai e Nova Délhi.
E ainda tem gente que diz: "Meu emprego é uma merda". ®Sérgio.

O ESTILO - Reflexões Literárias

"O estilo é o sol da escrita. Dá-lhe eterna palpitação, eterna vida. Cada palavra é como que um tecido do organismo do período. No estilo há todas as gradações da luz, todas as escalas dos sons.

O escritor é psicólogo, é miniaturista, é pintor – gradua a luz, tonaliza, esbate e esfuminha os longes da paisagem.

O princípio fundamental da Arte vem da Natureza, porque um artista faz-se da Natureza. Toda a força e toda a profundidade do estilo esta em saber apertar a frase no pulso, domá-la, não a deixar disparar pelos meandros da escrita.

O vocábulo pode ser música ou pode ser trovão, conforme o caso. A palavra tem a sua anatomia; e é preciso uma rara percepção estética, uma nitidez visual, olfativa, palatal e acústica, apuradíssima, para a exatidão da cor, da forma e para a sensação do som e do sabor da palavra." (Cruz e Souza. Outras Evocações. In: Obra Completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1961, p. 677-8)