Caminhando pelo mato, o
bode descobriu um bom lugar para fazer uma casa. Como o terreno estava coberto
pelo capim duro do cerrado, capinou-o, deixando-o limpinho para dar início à
construção. Cansado, preferiu ir embora e começar no dia seguinte.
A onça também procurava
um terreno para erguer sua casa. Deparando com o lugar que o bode capinara,
achou que estava com muita sorte. Cortou e empilhou as madeiras para fazer a
estrutura de uma casa. Depois foi embora, pois precisava dormir.
No dia seguinte, ao ver
a madeira à sua disposição, o bode ergueu a estrutura da casa. “Que sorte que
estou dando!”, pensou ao fim do trabalho, quando já se retirava do terreno.
Mais tarde foi a vez de
a onça chegar ao terreno e ver a estrutura pronta. “Que sortuda eu sou!”,
disse, enquanto cobria a madeira com taipa (barro amassado). Terminado o
trabalho, foi buscar seus móveis e, ao voltar, deu de cara com o bode, sentado
numa poltroninha, embrulhando um cigarro, muito à vontade. Os dois não custaram
a perceber que haviam dividido o trabalho da construção. Quem havera de supor!
Decidiram, então, morar juntos.
A convivência ia bem,
entretanto, viviam desconfiados um do outro e não lhes faltava uma boa razão
para isso. Um dia, a onça voltou da caçada, arrastando um cabrito entre os
dentes. O bode, assustado, saiu de fininho para o mato, certo de que, mais dia
menos dia, aquele seria o seu destino.
Naquele mesmo dia,
porém, o bode encontrou uma onça morta por um caçador e levou-a para casa,
deixando seu corpo estendido na porta de entrada. Vendo a companheira morta, a
onça quis saber do bode como é que ele a tinha matado. O bode explicou que era
dono de um anel mágico. Bastava colocá-lo no dedo e apontar alguém para
matá-lo. A onça fingiu não acreditar, então o bode, colocando o anel no
indicador, perguntou:
— Quer que eu lhe
mostre?
Travou um medo e a onça
disparou mato adentro, apavorada, voando que nem um corisco e, sem olhar pra
aqui nem pra acolá. Nunca mais voltou. O bode, feliz da vida, ficou vivendo
sozinho na sua casa, sem motivo para preocupações. ®Sérgio.