sexta-feira, 16 de julho de 2010

O CASAMENTO DA FILHA DA ONÇA - Recontando Contos Populares

Foi uma vez, por esses cafundós do sertão, uma onça que tinha uma filha. O lagarto, conhecido por teiú, queria casar com ela e seu amigo cágado também. Sabendo da pretensão do amigo, o cágado, atreito a ciumeira, disse em casa da onça que o teiú para nada valia e que era seu cavalo. O teiú, logo que soube disso, foi à casa da comadre onça e assegurou que ia buscar o cágado para ali e dar-lhe muita pancada à vista de todos e partiu.
O cágado cuidava de sua horta quando avistou, de longe, o compadre teiú. De pronto, correu para dentro da casa e amarrou um lenço na cabeça, fingindo que estava doente. O teiú acercou-se da porta e convidou o cágado para darem um passeio na casa da comadre onça. O cágado arrumou muitas desculpas dizendo que estava doente e que não podia sair de pé naquele dia. O teiú, porém, teimou que teimou. Então o cágado disse:
— Bem... só se você me levar montado nas costas.
— Está bem. Faremos como quer, respondeu o teiú, mas há de ser até longe da porta da comadre onça.
— Tá certo, mas você há de me deixar botar minha selinha, pois não sabe que assim na pele é muito ruim.
O teiú pensou, repensou, e disse:
— Não, que eu não sou seu cavalo!
— Não é por ser meu cavalo, compadre teiú, é por ser muito dolorido.
Afinal o teiú consentiu.
— Agora, disse o cágado, me deixa botar o conjunto de freio.
Novo barulho do teiú e novos pedidos de desculpa do cágado, até que conseguiu pôr todo o conjunto de freio no teiú e munir-se da correia de couro, esporas etc... Partiram. Depois de caminharem algum tempo e chegaram a um lugar perto da casa da onça, o teiú pediu ao cágado que descesse e tirasse os arreios, pois era muito feio para ele servindo de cavalo.
— Eh, compadre! - disse o cágado - Tenha paciência, caminhemos mais um bocadinho, pois estou muito doente e não consigo chegar a pé!
E assim, o cágado foi ganhando o teiú até a porta da casa da onça, onde ele meteu-lhe a correia e as esporas pra valer. Então gritou para dentro da casa:
— Olha, eu não disse que o teiú era o meu cavalo? Venham ver!
Houve muita risada e o cágado, vitorioso, disse à filha da onça:
— Ande moça, monte-se na minha garupa e vamos casar. ®Sérgio.
Eh, mundão! Quem me mata é Deus, quem me come é o chão!...
Leia Também: (clique no link)
_________________________
Advertência: Em muitas passagens deste conto, uso grafia própria, divergente em muitos pontos da ortografia oficial.
Nota sobre o texto: Esse é um causo com inúmeras variantes em diversos Estados. Lindolfo Gomes, em Contos Populares Brasileiros, já o havia registrado em 1931.

Nenhum comentário:

Postar um comentário