terça-feira, 28 de maio de 2013

A FELICIDADE E A DEPRESSÃO

“Há uma perpétua distância entre mim e minha alegria e quanto mais procuro vivê-la mais me parece que ela se afasta de mim: como se os esforços que faço para conquistar a luz só servissem para tornar mais espessa e impenetrável à cortina que me separa dela.” (Jacques Lavigne)

segunda-feira, 27 de maio de 2013

A LENDA DO OVO

Vivia num belo país um casal humilde e feliz. O casal tinha tudo o que necessitava para viver em alegria. Um belo casebre, embora pequeno, com um bonito jardim, um rio que passava perto e um belo conjunto de árvores de diversos tipos. Sol brilhava radiante.
Mas um dia a tristeza começou a cobrir a casa. Havia uma coisa que o casal não tinha e desejava muito: filhos. Faltava-lhes o riso e as brincadeiras das crianças. Todos os dias acordavam com o mesmo desejo no coração.
Ora, numa bela noite estrelada, um raio de luz intenso entrou pela janela do quarto. Na sua cauda vinha sentada uma fada.
O casal ficou muito espantado, mas não se assustou porque sabia que a fada era boa. Então a fadinha começou a falar:
— Eu conheço os seus desejos, e já estava à espera que um dia isto lhes acontecesse. Fiz todo o possível para felicidade de suas vidas, mas calculei que não seria o suficiente. Pois bem, vou dar-lhes duas filhas, com dois anos de diferença. Terão de fazer com que elas sejam muito unidas, para que continuem a ser uma família feliz.
— Oh, sim! Nós prometemos boa fada. Isto foi tudo o que sempre desejamos - replicou o casal.
— Aviso-lhes que a tarefa não é fácil. Se o desejarem conseguirão cumpri-la, senão eu voltarei com melhor solução. E com estas palavras a fada desapareceu.
O casal ficou muito feliz e esperou ansiosamente pela chegada da primeira filha.
Um dia, finalmente chegou. Era uma linda menina. Tinha uma pele muito rosada, uns olhos claros e brilhantes e um belo cabelo muito louro, que mais tarde se tornou numa cabeleira loura. A esta filha, o casal deu o nome de Gema.
Tinham desejado tanto esta filha que lhe dedicaram todo o seu amor e acabaram por mimá-la demais.
Gema tornou-se indolente, vaidosa e preguiçosa, mas os seus pais não a achavam assim.
Passaram-se dois anos e a outra filha nasceu. Esta, ao contrário de Gema, não era tão bonita. O cabelo era muito claro, quase transparente como a água, a pele era muito branca - os olhos, esses, eram claros, cintilantes, a única semelhança com Gema. Os pais deram-lhe o nome de Clara.
As duas crianças cresceram felizes e muito brincalhonas, apesar das brincadeiras que Gema fazia a Clara. Elas pareciam gostar muito uma da outra. Gema era muito mais viva e brincalhona que Clara e muito mais forte também. Clara era mais séria e trabalhadora. Gema irritava-se com Clara, pois esta, nem sempre queria brincar, e por isso passava a vida a apoquentá-la.
O tempo foi passando e as maldades crescendo, assim como as arrelias que faziam uma à outra. Quando os pais repararam, já era tarde demais para que conseguissem mudar alguma coisa. A felicidade nunca mais voltou a reinar naquela casa. O tempo passou e a situação mantinha-se.
Um dia a fada voltou:
— Eu avisei-os, a tarefa não era fácil, não quiseram ouvir-me e deixaram que a alegria desaparecesse. Infelizmente, terei que agir e como castigo ordeno que Clara e Gema se unam num só alimento, rico e completo. As duas partes serão indispensáveis e assim vivam em conjunto para sempre.
Dizendo isto, apontou a varinha para Clara e Gema, apareceu uma luz muito forte e quando desapareceu no lugar das duas estava um ovo. E assim, Clara e Gema viveram juntas para sempre, tornando-se úteis para nós. O casal aprendeu bem a lição e a partir daí tiveram muitos filhos e filhas. ®Sérgio.
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Nota sobre o Texto: Alguns contos conseguiram manter suas autorias, outros, porém, como este, pularam das fronteiras do livro e do registro autoral e caíram na memória do povo, em tantas feições e línguas, que acabaram por passar ao domínio de ninguém, isto é, ao uso de todos.

sábado, 25 de maio de 2013

A QUEDA

Seleta de Poemas representa os poemas que li e me emocionaram ou me agradaram no conteúdo. Assim, posso compartilhar com vocês as minhas preferências poéticas e homenagear os autores que admiro.
A QUEDA
É terrível cair.
Não é apenas o orgulho que cai
Quando caímos,
Mas toda a segurança interior
Equilíbrio de cérebro e pessoa.
Caindo nos perdemos;
E alguma coisa fica lá em toda queda.
[...]
Os que já caíram,
No Paraíso, na rua, na História.
Na escada caiu Fidel.
Na aventura da Alice,
Caiu à própria Alice.
Caiu a mãe de Hamlet,
Caem as folhas no outono,
Mais triste quando cai à tarde.
E depois do primeiro homem
E da primeira mulher
Todos os grandes caem
Em seu dia e hora.
Caiu Saul, e Jonas, e Golias,
E também os muros que cercavam
Os poderosos donos de Jericó.
Caiu Tróia e caíram os Romanos.
Há grandeza nos que caem.
Não se respeitam, porém, as decaídas.
A gravidade é a negação da vida
Desde a invenção dos tempos.
Millôr Fernandes (1923) é poeta, desenhista, humorista, dramaturgo, escritor e tradutor brasileiro. ®Sérgio.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

SUPERSTIÇÕES E CRENDICES - Coisas de Nossa Gente

As lendas e crendices de nossa gente. São tão incontáveis e lindas por sua cativante ingenuidade, que não consigo conter o desejo de expor a vocês a minha antologia. Todas as lendas e crendices foram colidas em diversas fontes.
SUPERSTIÇÕES E CRENDICES
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• Quando passa um enterro, não se deve atravessar o acompanhamento, pois isso traz a morte para pessoas da família.
• Pôr o chapéu em cima da cama traz azar.
• Vaga-Lume dentro de casa impede o leite de coalhar.
• Mês de agosto não presta para fazer negócio.
• Varrer a casa à noite causa problemas financeiros ao lar.
• Não tenha coruja em casa porque é ave agourenta.
• Presente de lenço desfaz as amizades.
• Não presta acender só três velas para defunto; deve-se acender quatro.
• Acender muitas velas numa mesa ou numa sala chama defunto e atrai a morte.
• Coser roupa no corpo de pessoa viva atrai a morte.
• Se você e seu noivo já vivem juntos, passem a noite antes do casamento, separados.
• Quando o pedaço de pão cai no chão, não se deve apanhá-lo mais: pertence às almas. A não ser que lhe dê um beijo.
• Não se case em janeiro, para não ter problemas econômicos ao longo da sua vida conjugal.
• Quem pisa em rabo de gato não acha casamento por sete anos.
• Pôr o chapéu em cima da cama traz azar.
Mulher que está amamentando não deve visitar pessoa mordida por cobra. Se o fizer a pessoa morrerá.
• Quem passar por debaixo do arco-íris muda de sexo: o homem vira mulher, e a mulher vira homem.
• Viajar ou fazer mudança em sexta-feira dá azar de toda a espécie.
• Passar por baixo de escada dá azar e atrai desgraças.
• Quando está ventando muito forte é que o diabo está zangado.
• Quando se vê uma pessoa muito preguiçosa, é costume se dizer: Coitado, aquele ali o diabo cruzou os braços.
• Não fique de costa para o umbral de uma porta; dá azar.
• Quando a porta bate forte, após a nossa saída ou entrada em casa, foi o diabo que a fechou.
• Quando várias pessoas estão conversando e param repentinamente, é que algum padre morreu.
• Passar a vassoura, ao varrer a casa, nos pés de moça solteira, atrapalha o noivado ou casamento.
• Não use pérolas no dia do casamento; dizem que elas trazem má-sorte para os noivos.
• Três velas ou três lâmpadas acesas em um mesmo quarto podem ser prenúncio de morte.
Não se deve passar a ferro as costas da camisa de um homem: este se tornará desmoralizado, sem-vergonha etc.
• Colocar a vassoura atrás da porta, de cabeça pra baixo, espanta as visitas.
• Uma pessoa solteira que se senta à quina de uma mesa não se casará nos próximos sete anos.
• Não se deve olhar num espelho à luz de velas, traz azar.
• Guardar espelho quebrado atrai desgraças, dá azar.
• Se um homem levar uma vassourada fica impotente, a não ser que se vingue desferindo 7 vassourada com a mesma vassoura.
• Dentro de casa o guarda-chuva deve ficar sempre fechado. Deixá-lo aberto traz infortúnios e problemas aos familiares.
• Acender três cigarros com um mesmo palito de fósforo significa perigo.
Apontar estrelas com o dedo faz nascer berruga na ponta do dedo.
• Quando desaparece uma coisa qualquer, foi o diabo que levou. O jeito é esperar, porque quando ele não quiser mais, devolve.
• Saltar da cama, de manhã, com o pé esquerdo atrapalha a vida durante o dia todo.
Não presta comer cabeça de galinha: faz perder o juízo.
• Varrer a casa depois de alguém sair afasta os espíritos malignos.
• Casar no mês de agosto é casamento infeliz, porque agosto traz desgosto.
• Redemoinho de vento é diabo que está dançando. E se no redemoinho entrarmos, o diabo nos carrega.
• Não se deve chorar a morte de um anjinho, pois as lágrimas molharão as suas asas e ele não alcançará o céu.
• Perder a aliança do casamento deixa a pessoa viúva ou viúvo.
• Matar gato atrasa a vida de quem o matou por sete anos.
• Marcado o dia do casamento não devem os noivos comer mais qualquer coisa na própria panela em que o petisco foi feito, a fim de que não chova no dia do enlace.
• Colocar criança de colo, que ainda não fala, diante do espelho faz com que ela custe a falar.
• Homem velho que muda de casa, morre logo.
• Nas sextas-feiras, ao nos levantarmos, se virmos uma pessoa preta, o diabo vai nos atentar o dia inteiro.
• Deixar chinelo emborcado no meio da casa dá azar.  
• Coloque vaga-lumes sob um copo, e na manhã seguinte encontrará uma moeda junto deles.
• Varrer uma casa logo pela manhã afasta os espíritos malignos.
Borboleta preta é sinal de que algo de mal vai acontecer.
• Dormir com os pés para a porta da rua agoura morte.
• Duas pessoas juntas lavarem as mãos ao mesmo tempo provoca afastamento e desunião.
• Menino que brinca com fogo urina na cama.
• Não construa casa em local onde caiu raio. O lugar em que cai raio é lugar maldito.
Essas antologias estão reunidas no e-livro: CRENDICES, SUPERSTIÇÕES E SIMPATIAS DE NOSSA GENTE (clique no link para baixá-lo). 

SIMPATIAS E CRENDICES - Coisas de Nossa Gente

As lendas e crendices de nossa gente. São tão incontáveis e lindas por sua cativante ingenuidade, que não consigo conter o desejo de expor a vocês a minha antologia, todas colidas em diversas fontes.
1. SIMPATIAS
Para as moscas mudarem de sua casa, faça em jejum, e, em qualquer sexta-feira pela manhã, o seguinte pedido:
Moscas malvadas,
da sexta pro sábado
estejam mudadas.
Quando beber água de uma fonte, de um poço, ou doutro local qualquer. Diga antes de beber a água:
Aqui passou S. João,
Com uma cruzinha na mão.
Se esta água tiver baba,
Não me chega ao coração.
Quando uma visita está demorando a ir-se embora e começa a aborrecer joga-se um punhado de sal no fogo. A visita vai-se embora logo.
Para emagrecer, amarrar na cintura, por baixo das roupas, um cordão bem fininho.
Devemos sair de casa ou entrar em qualquer lugar, sempre com o pé direito, para evitar o azar.
Na hora de acordar, abra os dois olhos ao mesmo tempo para ver, durante o dia, tudo com clareza e não ser enganado por ninguém.
Quando se perde alguma coisa e não se consegue encontrar, toma-se uma palha de milho e damos-se nela três nós, com o que se amarra o diabo, e o objeto perdido aparecerá. Mas, depois de encontrá-lo não se deve esquecer-se de desmanchar os nós, se não tudo de ruim acontecerá na casa.
Queimar chifre de boi e casca de coco no canto da casa, à noite, espanta o capeta.
Ponha um caroço de melancia na testa e, antes que ele caia, faça um desejo.
Se tivermos um gato e formos mudar de casa, é bom passar manteiga em suas patinhas, para que ele não volte para a casa antiga.
Pôr um chifre de boi estrepado na ponta de um pau, no terreiro, espanta o capeta.
Para garantir muito sol no seu dia de seu casamento, dias antes, leve alguns ovos a uma igreja de Santa Clara.
Quando tiver um tremor, é porque a morte passou por perto de você. Diga rápido: Sai morte, que estou bem forte.
Deixar um copo de vidro cheio de sal grosso no canto da sala traz sorte. ®Sérgio.

sábado, 18 de maio de 2013

PARADOXO - Figuras de Linguagem

Paradoxo é a reunião de idéias contraditórias e aparentemente inconciliáveis, num só pensamento, o que nos leva a expressar uma verdade com aparência de mentira. Quando falamos, por exemplo:
     ●   Eles são ricos pobres.
Tanto "rico" quanto "pobre" são adjetivos que se referem ao sujeito [eles]. Os dois adjetivos pertencem a uma mesma unidade da frase, ambos qualificam um mesmo ser. Mas estes dois adjetivos têm sentidos opostos. Estamos a conciliar dois julgamentos distintos: pensamos na riqueza deles porque têm dinheiro, mas simultaneamente na pobreza, por sabermos do vazio de vida que vivem, ou da aridez de alma.
Todo o paradoxo, em última análise, encerra uma antítese, porém uma antítese especial, que em vez de opor, enlaça idéias contrastantes: Antítese: Eu sou velho, você é moço. Paradoxo: Eu sou um velho moço.
O paradoxo revela-nos que a conciliação de contrários é possível e, por vezes, indispensável para se exprimir a verdade. Exemplos de paradoxos modernos: Inocente culpa / lúcida loucura / silêncio eloquente / ditadura democrática / ilustre desconhecido / um silêncio ensurdecedor / um supérfluo essencial / boatos fidedignos / espontaneidade calculada / mentiras sinceras / É proibido proibir. / Foi sem querer, querendo.
Quando Camões em célebre soneto sobre as contradições do amor, disse que esse sentimento:
“Amor é fogo que arde sem se ver, / É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente, / É dor que desatina sem doer.”
Criou um dos mais bonitos paradoxos do lirismo português. O contrário do paradoxo é o pleonasmo. ®Sérgio.

ANTÍTESE - Figuras de Linguagem

A língua latina, posteriormente, adotou a grafia de antithese, designando oposição, contraste. Antítese é uma figura de pensamento que consiste na aproximação de dois pensamentos de sentido antagônicos, contrários. O contraste pode realizar-se entre palavras, frases ou orações; geralmente ligadas por coordenação:
       Nesta cidade habitam o amor e o ódio.
   Você se preocupa com o passado; eu, com o presente.
   O esforço é grande e o homem é pequeno. (Fernando Pessoa)
   Amigos e inimigos estão, amiúde em posições trocadas. Uns nos querem mal, e fazem-nos bem. Outros nos almejam o bem, e nos trazem o mal. (Rui Barbosa)
A antítese, em outras palavras, harmoniza dois conceitos contraditórios numa só expressão, formando assim um terceiro. Este recurso expressivo veio a ter extraordinário desenvolvimento no Barroco; foi apreciado por poetas e prosadores, em particular, por Gregório de Mattos, Por exemplo, no poema A Instabilidade das Cousas do Mundo:
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia, (antítese: nascer / morrer)
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura, (antítese: feio / belo)
Em contínuas tristezas a alegria. (...)
A antítese realça, dá ênfase a dualidade de sentimentos do poeta. Por isso eles a empregam com frequência. ®Sérgio.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

O TROVADOR

Trovador (trouvère em francês) designava na lírica trovadoresca, o poeta completo, que compunha a letra e a melodia das cantigas e também as executava acompanhado de instrumento musical.
O mais das vezes, o trovador pertencia à aristocracia ou era um fidalgo decaído. É precisamente sua condição de nobre que lhe explica a múltipla capacidade, pois ao talento individual acrescentava o estudo apurado das regras da Retórica, da Poética e da Música. Era igualmente de nobres, na sua grande maioria, o público ouvinte. Reis e outros membros da família real partilhavam esse dom da composição poética: tal foi o caso de D. Dinis (chamado o Rei-trovador) a quem se creditam umas cento e trinta e nove canções.
Os trovadores de maior destaque na lírica galego-portuguesa são: Dom Duarte, Dom Dinis, Paio Soares de Taveirós, João Garcia de Guilhade, Aires Nunes e Meendinho.®Sérgio.

A FRITADA DO JOÃO

Era uma vez um fazendeiro que resolveu fazer uma grande criação de galinhas num rancho que tinha lá nas suas terras.
O fazendeiro tinha como capataz um preto velho chamado João e entendeu de encarregá-lo desse serviço, pois, com a idade que tinha, devia ter uma boa prática de criações. Entretanto, receando que João lhe passasse a perna e fosse um gambá de galinheiro, embora morasse há tanto tempo na fazenda, o fazendeiro usou de manha para ver se ele gostava de ovos. Perguntou-lhe:
— João, você gosta de ovos cozidos?
— Eh! Eh! João não gosta nem um pouquinho disso não!
— E de ovos assados na brasa?
— Não sinhô.
— E de ovos estrelados?
— Não, não, sinhô. Eh! Eh!
— E de ovos crus, você gosta João.
— Não, não. Antão João é gambá pra modo de gostá de comê zovo cru?!
Depois dessas respostas do velho, o fazendeiro cegou a conclusão de que João não gostava de ovos de modo nenhum; assim, achou que ele estava no ponto para cuidar do rancho das galinhas e deu-lhe a empreitada.
O velho João tratava muito bem das galinhas e a criação prosperava que dava gosto.
O fazendeiro aparecia por lá de vez em quando e ficava para lá de satisfeito.
Certa vez, João que era um perfeito gambá de galinheiro, estava fritando ovos para o seu almoço quando, de repente, o fazendeiro apontou na porteira que rangeu: rim... ri... im... Depois, dobrou e deu o baque de aviso: blaaaam...
João ficou todo atrapalhado e não tendo mais tempo, nem onde esconder os ovos, que estralavam na frigideira, e vendo que o senhor chegava, despejo-os dentro do chapéu de couro que logo pôs na cabeça.
Muito vexado, correu ao encontro do fazendeiro, que olhando para ele, viu a gordura da fritada escorrendo pela cara abaixo de João. Além do mais, era a primeira vez que o velho lhe falava de chapéu na cabeça. Desconfiado o fazendeiro gritou:
— João, que é isso! Falando de chapéu na cabeça?! Tire o chapéu, João!
O nego velho abobou.
— Vamos tire o chapéu!
João não teve outro remédio senão tirá-lo. Em cima do cabelo da cabeça apareceu a fritada.
— Então, João, que é isso. Mentiu para mim? Pois não me disse que não gostava de ovos?
— Eh! Eh! Senhor! João disse que não gostava di zovo cuzido, di zovo assado, di zovo estrelado, di zovo cru; mas não disse que não gostava di zovo fritangado. João não minte! ®Sérgio.

NA ÉPOCA DAS CAVERNAS


segunda-feira, 13 de maio de 2013

BATEU A OU À PORTA?

Se você bateu a porta, significa que você fechou a porta (a porta é objeto direto do verbo bater):
    ●   Furiosa, Sandra entrou no quarto e bateu a porta.
    ●   Tive de bater a porta com força.
Se você bateu à porta, quer dizer que bateu na porta (à porta = adjunto adverbial de lugar):
    ●   De manhã cedo, bateram à porta de dona Joana.
    ●    Bati à porta, mas ninguém me atendeu.
Belo exemplo do assunto abordado no dá o poeta Cineas Santos: "Quando o amor bate à porta, tudo é festa / Quando o amor bate a porta, nada resta". ®Sérgio.

AULA NO CAMPO

O professor de geografia chamou-me, à porta de minha sala de aula. Interrompi a exposição que fazia aos alunos e fui atendê-lo.
— Pois não!
— Ricardo! Vou levar meus alunos para uma aula de campo na chácara do diretor; escalei você para me ajudar a controlar a meninada no mato! - Explicou o professor.
Luís Carlos, professor de geografia, era um dos bons amigos que fiz naquela escola; não havia como não aceitar o pedido. Concordei com um, OK!
Retornei ao centro da sala, notifiquei e dispensei os alunos, que levaram menos de um minuto para arrumarem suas mochilas, e fui reunir-me com Luís, que já me aguardava no ônibus que levaria a molecada para o campo. Antes, porém, fui até a sala dos professores e guardei no meu armário todos os objetos que porventura poderia perder na mata.
Seguíamos, vagarosamente, por uma trilha, com o professor Luís explicando aqui e ali os acontecimentos geográficos, quando nos deparamos com um riacho e uma ponte estreita feita com dois troncos de árvore, presos ao solo em cada uma das margens. Tipo de ponte que aqui se dá o nome de pinguela.
— Ricardo!... Temos de atravessar!... Vou atravessar primeiro e você só depois que o último aluno atravessar! - Grita-me Luís em meio à algazarra da meninada.
Fiz-lhe um positivo e ele partiu, não sem antes advertir os alunos para tomarem cuidado com os objetos pessoais e, principalmente, com as mochilas. Caso elas caíssem no riacho, seria difícil de recuperá-las, devido à correnteza.
Logo após os primeiros passos na pinguela, o professor Luís, perde o equilíbrio e, se não se agarra a um dos troncos, cairia, inteiro, no riacho. Depois desse incidente, atravessamos a garotada normalmente.
Eu, sem noção do tempo, ali no meio da mata, pois tinha deixado meu relógio na escola, perguntei ao professor Luís quanto tempo faltava para retornamos:
— Não sei mesmo – respondeu-me, constrangido, olhando para a ponte – deixei cair meu relógio, no riacho, ao atravessá-la.
Salve-se quem puder! ®Sérgio.