segunda-feira, 24 de junho de 2013

sábado, 15 de junho de 2013

A ARMADILHA DE ZEUS

Para punir o titã Prometeu e seu irmão Epimeteu pela ousadia de furtar o fogo divino, Zeus armou uma armadilha: Ordenou que Hefesto, o deus-ferreiro do mundo subterrâneo, fizesse a mulher.
Hefesto fez uma mulher belíssima, fascinante e cada um dos deuses do olimpo contribuiu com algum atributo para aperfeiçoá-la. Recebeu de Atena a arte da tecelagem, de Venus a beleza e o poder de sedução, de Hermes as artimanhas e assim por diante. Por fim, batizou-a como Pandora (pan = todos, dora = presente) e mandou-a à Terra ao atrapalhado Epimeteu, que, despeito da advertência de seu irmão para ter cuidado com Zeus e seus presentes, ingenuamente a aceitou.
A vingança planejada por Zeus estava contida numa grande e belíssima caixa de marfim, que foi levada como presente de núpcias para Epimeteu com a seguinte instrução: jamais, em hipótese alguma, deveria abrir aquela caixa.
Pandora, levada pela curiosidade feminina, Resolveu abri-la. Ao fazê-lo descobriu que a caixa continha todas as desgraça da humanidade, ou seja, nossos vícios: egoísmo, crueldade, inveja, ciúme, ódio, intriga, ambição, desespero, tristeza, violência e todas as outras coisas que causam miséria e infelicidade. Rapidamente a fechou, mas todas as desgraças e calamidades já haviam escapado, restando apenas à Esperança.
Com a liberação de todos nossos vícios, o paraíso terrestre acabou; o homem e a mulher antes imortais tornam-se mortais, e assim, conhecem a dor e o sofrimento que antes não existiam. O Fogo Olímpico que ardia no interior do homem quase apagou. Restou apenas uma centelha que é a própria Esperança de um dia regressar ao Paraíso Perdido. ®Sérgio.

domingo, 9 de junho de 2013

O COVEIRO E O BÊBADO

Por diversas vezes resisti à tentação de compartilhar com vocês esta Fábula de Millôr Fernandes¹, a tentação, porém, acabou vencendo-me:
Ele foi cavando, cavando, pois sua profissão – coveiro – era cavar. Mas, de repente, na distração do ofício que amava, percebeu que cavara demais. Tentou sair da cova e não conseguiu. Levantou o olhar para cima e viu que sozinho não conseguiria sair. Gritou. Ninguém atendeu. Gritou mais forte. Ninguém veio. Enrouqueceu de gritar, cansou de esbravejar, desistiu com a noite. Sentou-se no fundo da cova, desesperado. A noite chegou, subiu, fez-se o silêncio das horas tardias. Bateu o frio da madrugada e, na noite escura, não se ouvia um som humano, embora o cemitério estivesse cheio de pipilos e coaxares naturais do mato. Só pouco depois da meia-noite é que lá vieram uns passos. Deitado no fundo da cova o coveiro gritou. Os passos se aproximaram. Uma cabeça ébria apareceu lá em cima, perguntou o que havia: “O que é que há?”
 O coveiro então gritou desesperado: “Tire-me daqui, por favor. Estou com um frio terrível!” – “Mas, coitado!” – condoeu-se o bêbado. – “Tem toda a razão de estar com frio. Alguém tirou a terra de cima de você, meu pobre mortinho!” E, pegando a pá, encheu-a de terra e pôs-se a cobri-lo cuidadosamente.
Moral: Nos momentos graves é preciso verificar muito bem para quem apela. ®Sérgio.
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¹ - Fernandes, Millôr, Socorro. Fábulas fabulosas. Rio de Janeiro, Nórdica, 1977. p.13.

O GATO E O RATO

Contaram-me esta fábula moderna, que achei "pra lá de ótima". Com a devida licença, conto para vocês. Mas vou logo explicando que o amigo que me contou essa história, não se lembra quem lhe contou, e que não inventei nada, vou escrevê-la da maneira que ouvi.
O ratinho na toca e do lado de fora o gato:
— Miau, miau, miau...
O tempo passava e do lado de fora o gato continuava:
— Miau, miau, miau...
Depois de passadas muitas horas e já com muita fome o rato ouviu:
— Au! Au! Au!
Então deduziu: "Se tem cachorro lá fora, o gato foi embora". Mal terminou sua dedução, saiu disparado em busca de comida.
Nem bem saiu da toca, o gato, Crau!
Inconformado, já na boca do gato, perguntou:
— Pô gato! Que sacanagem e essa????
E o gato respondeu:
— Meu filho, hoje, nesse mundo "globalizado", quem não fala, pelo menos, dois idiomas... morre de fome... ®Sérgio.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

OS ANIMAIS E A PESTE

Em certo ano terrível de peste entre os animais, o leão, mais apreensivo, consultou um macaco de barbas brancas.
— Esta peste é um castigo do céu – respondeu o macaco – e o remédio é aplacarmos a cólera divina sacrificando aos deuses um de nós.
— Qual? – perguntou o leão.
— O mais carregado de crimes.
O leão fechou os olhos, concentrou-se e, depois duma pausa, disse aos súditos reunidos em redor:
— Amigos! É fora de dúvida que quem deve sacrificar-se sou eu. Cometi grandes crimes, matei centenas de veados, devorei inúmeras ovelhas e até vários pastores. Ofereço-me, pois, para o sacrifício necessário ao bem comum.
A raposa adiantou-se e disse:
— Acho conveniente ouvir a confissão das outras feras. Porque, para mim, nada do que Vossa Majestade alegou constitui crime. São coisas que até que honram o nosso virtuosíssimo rei Leão.
Grandes aplausos abafaram as últimas palavras da bajuladora e o leão foi posto de lado como impróprio para o sacrifício.
Apresentou-se em seguida o tigre e repete-se a cena. Acusa-se de mil crimes, mas a raposa mostra que também ele era um anjo de inocência.
E o mesmo aconteceu com todas as outras feras.
Nisto chega à vez do burro. Adianta-se o pobre animal e diz:
— A consciência só me acusa de haver comido uma folha de couve da horta do senhor vigário.
Os animais entreolharam-se. Era muito sério aquilo. A raposa toma a palavra:
— Eis amigos, o grande criminoso! Tão horrível o que ele nos conta, que é inútil prosseguirmos na investigação. A vítima a sacrificar-se aos deuses não pode ser outra porque não pode haver crime maior do que furtar a sacratíssima couve do senhor vigário.
Toda a bicharada concordou e o triste burro foi unanimemente eleito para o sacrifício. (Monteiro Lobato, Fábulas.)
Moral da Estória: Aos poderosos, tudo se desculpa… Aos miseráveis, nada se perdoa. ®Sérgio.