quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

OS HINOS HOMÉRICOS - Estudos Literários

Atribui-se ao poeta Homero a coletânea de uma série de poemas - de diferentes autores (devido às diversidades entre os poemas), épocas e regiões da Grécia - dedicados a várias divindades. Daí o tradicional título de Hinos Homéricos. Chegaram até nós por meio de muitos manuscritos. Entretanto, nenhum deles contém todos os hinos e a maioria está em más condições.
Esses hinos eram compostos com o mais antigo tipo de metro: o hexâmetro.   O mesmo hexâmetro que formavam os versos da Ilíada, da Odisseia, dos poemas de Hesíodo e de outros poemas épicos. Apesar dos hinos apresentarem diferenças no número de versos, todos tinham a estrutura dividida em três partes:
Inuocatio (invocação) - apóstrofe ao deus homenageado.
Pars Epica (parte épica) - descrição dos atributos divinos, eventualmente acompanhada do relato de um ou mais episódios de seu mito.
Precatio (súplica) - contém uma saudação final, uma prece e, muitas vezes, uma referência a outro hino ou poema cantado no festival.
De acordo com o historiador grego Tucídides (460-400 a. C.), eles eram recitados pelos rapsodos (declamadores ambulantes, que iam de cidade em cidade propagando a Ilíada e a Odisseia) a título de introdução, prelúdio ou proêmio (canto introdutório) de solenidades religiosas ou de festivais religiosos. A finalidade era, logicamente, a de invocar a divindade solenizada ou enaltecida na ocasião.
Os hinos não possuem a mesma extensão e, no que tange a qualidade, são desiguais. O mais extenso deles é o dedicado a Hermes (580 versos); o mais curto a Demeter (três versos). Os mais importantes são, naturalmente, os mais longos: a Demeter, a Apolo, a Hermes e a Afrodite. Entretanto, entre os curtos, há hinos notáveis como: a Dionísio (quando capturado pelos piratas); a Pã (sobre as atividades nos campos e nos bosques); a Gaia, a Helio e a Selene.
De todos os hinos da antologia apenas dois tem autoria reconhecida: o do mais longo hino dedicado a Apolo (um rapsodo chamado Cineto de Quios) e a Ares (o filósofo neoplatônio Proclo). Os demais são anônimos.
A antologia é formada por 33 hinos para 22 divindades:
Afrodite
Apolo
Ares
Ártemis
Asclépio
Atena
Deméter
Dioniso
Dióscuros
Gaia
Hélio
Hefesto
Héracles
Hera
Hermes
Héstia
Musa
Réia
Posídon
Selene
Zeus
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®Sérgio.
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Informações foram retiradas e adaptadas ao texto de: RIBEIRO JR., W.A. Portal Graecia Antiqua, São Carlos. Disponível em www.greciantiga.org. / Bernabé Pajares, Alberto (ed.). Fragmentos de épica griega arcaica. Biblioteca Clássica Gredos, 20. Madrid: Gredos, 1999.

A FESTA NO CÉU - Recontando Contos Populares

Espalhou-se entre a bicharada que haveria uma festa no céu e só compareceriam as aves porque podiam voar. Isso começou a fazer inveja aos animais e outros bichos incapazes de voar. Mas, teve um que não se deu por satisfeito, e dizia a todos que também ia à festa... Imagine quem? O sapo! Isso mesmo, o sapo! Logo ele, gorducho, que nem uma carreira era capaz de arriscar, achando-se capaz de aparecer naquelas alturas. Pois, afirmava que fora convidado e que ia, chovesse ou fizesse sol. Os bichos só faltavam morrer de rir. Calcule os pássaros.
Entretanto, o seu sapo tinha um plano. Na véspera, foi até a casa do urubu para uma boa prosa, depois de prosearem bastante, disse:
— Bem, amigo urubu, quem é coxo, parte cedo; vou indo porque o caminho é comprido.
O urubu respondeu:
— Você vai mesmo?
— É claro que vou! Inté lá, sem falta!
Entretanto, em vez de sair, o sapo deu uma volta, entrou no quarto do urubu e, vendo a viola em cima da cama, meteu-se dentro dela, e ali ficou, todo encolhido.
Chegando a hora de partir para a festa, o urubu, pegou na viola, amarrou-a a tiracolo e bateu asas para o céu, rru-rru-rru...
Cegando ao céu, o urubu arriou a viola num canto e foi tagarelar com as outras aves. O sapo botou um olho de fora e, vendo que estava sozinho, num pulo ganhou o chão, todo satisfeito.
Vocês não imaginam o espanto que as aves tiveram ao verem o sapo, todo cheio de razão, pulando no céu. Queriam todas, saberem, como ele conseguiu chegar ali. Porém o sapo desconversava, e pulava pra frente. A festa começou e o seu sapo tomou parte com grande animação. Lá pela madrugada, tendo ciência que só podia voltar do modo que veio, foi se esgueirando para fora do salão e correu para o lugar onde o urubu havia deixado a viola.
O sal saindo, acabou-se a festa, e os convidados foram deixando o céu, voando para suas casas. O urubu, não fez por menos, agarrou a viola e tocou para casa, rru-rru-rru...
Ia pelo meio do caminho quando numa curva, o sapo deu uma esticada de perna e o urubu, espiando para dentro da viola, viu o amigo sapo lá no escuro, todo curvado, feito uma bola.
— Ah! Amigo sapo! É assim que você vai à festa no céu? Deixe de ser confiado...
E naquelas alturas emborcou a viola e o sapo despencou-se para baixo, zunindo que nem fecha. E dizia na queda:
— Béu-béu, se eu desta escapar, nunca mais festa no céu...!
Bateu em cima das pedras, como uma jaca madura, espatifando-se todo. Ficou em pedaços. Nossa Senhora, com pena de seu sapo, juntou os pedaços, e o sapo viveu de novo.
Por isso o sapo tem o couro todo cheio de remendos. ®Sérgio.

MESTRE GALO E A COMADRE ONÇA - Recontando Contos Populares

Certo dia, a comadre Onça resolveu dar uma festa e convidou todos os bichos da região. O pagode devia começar ao primeiro sinal da manhã, e nessa hora, todos os convidados deveriam estar presentes.
Entre a bicharada o comentário é de que a festa seria de arromba, a melhor de que havia notícia até aquela data.
Chegando o dia do evento, a mata estava no maior burburinho. Nenhum dos bichos queria faltar ao convite, nem perder a hora.
A primeira luz do dia a casa da comadre Onça estava tão entupida de bicho que até parecia um formigueiro. Ninguém faltara, a não ser Mestre Galo. Tinha esquecido completamente do convite.
Não demorou muito para que a ausência do galo fosse notada. A Comadre se enfureceu, achou que aquilo era pouco caso sem desculpa, além de que, poderia arruinar sua majestade. Então, chamou a raposa e o gambá e lhes ordenou que fossem buscar o galo a sua presença.
Quando a escolta chegou ao galinheiro, pôs a galinhada em polvorosa e o Mestre Galo despertou sobressaltado, no poleiro.
— Vimos lhe buscar seu galo tratante - disse a raposa - da ordem da comadre Onça.  Ela lhe dá a honra de um convite para a maior festa da mata e você fica a dormir!
— Ah! É verdade! Responde o galo ainda espreguiçando. Tinha-me esquecido...
— Pois, é por isso, que a Comadre está furiosa com você.
— Perdão pessoal, perdão! O que ela quererá fazer de mim?...
— Ainda pergunta? Vai devorá-lo, se der a você essa honra, caso contrário deixará darmos cabo de você.
E dizendo isso, a raposa ameaçou destroçar todo o galinheiro de Mestre Galo caso ele se negasse a acompanhá-la, e ordenou-lhe:
— Vamos! Marcha! A comadre está a sua espera; e furiosa!
Mestre Galo não teve outro remédio senão acompanhar, muito do jururu, a escolta.
Chegando a casa da Comadre, a escolta e o preso compareceram diante de sua majestade comadre onça, que soltou um urro de raiva.
— Seu patife! Galo duma figa. Como então ousou desobedecer meu decreto, não se apresentado à hora marcada à minha festa? Vai pagar esse atrevimento.
— Saiba V. Comadre Onça que não foi por querer, mas por esquecimento. Perdão, perdão! Rogo-lhe o perdão ajoelhado aos seus pés.
— Você é um cabeça de vento!... Ia dar-lhe a morte, mas como se humilha, e, para não perturbar a alegria de minha festa, terá, de agora em diante como castigo de seu esquecimento, de não dormir além da meia-noite. Dormirá ao pôr do sol, mas a meia-noite cantará até as duas. E ao vir o dia cantará novamente, dando sempre sinal que está alerta. Se dormir e não cantar, você e sua família correm o risco de serem destroçados pelo gambá e pela raposa. Assim ficará punida tua vil memória.
Mestre Galo ficou muito contente com a solução achada pela comadre Onça e para não esquecer de que havia de cantar à meia-noite, cantou também ao meio-dia. E dessa data em diante começou a cumprir sua condenação, cantando pela madrugada fora.
Mestre Galo quando canta fecha os olhinhos para não esquecer de que tem de cantar outra vez e canta de dia para se lembrar de que tem da cantar de madrugada. ®Sérgio.
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Nota Sobre o Texto: Há duas variantes deste conto: a primeira, em que me baseei, em vez da onça é o leão que dá a festa; e, uma segunda, onde em vez do leão é o sol que dá a festa.