quarta-feira, 28 de julho de 2010

TESTE PARA LEITOR VICIADO

No início desta semana, passava, distraidamente, frente a uma livraria, quando, de repente, notei que meus olhos se espichavam para sua vitrine, voltei-me para ela e lá estava o que meus olhos tinham visto, de relance: um belo livro, em primeiro plano, estrategicamente colocado e iluminado. 
Aproximei-me e a adrenalina, a serotonina, e outras ninas dispararam; tudo porque nele estava escrito: Gênio – Os Cem Autores Mais Criativos da História da Literatura, por Harold Bloom (um gigante entre os críticos literários). Um exame cuidadoso de trechos inspirados de diversos autores. Respirei fundo; aquela obra era um excelente teste para um leitor viciado e cardíaco como eu. Passei no cardíaco e reprovei no viciado. Não houve alternativa, meus pés já se encaminhavam para o interior da loja, mesmo antes de decidir-me. Entrei confiante, resoluto e num lance de incrível rapidez, como obreiro em porta de templo, três atendentes já disputavam o conteúdo de minha carteira. O mais rápido foi logo perguntando:
 — Deseja alguma coisa senhor!
 Estufei o peito e lhe respondi com eloquência:
 — O livro da vitrine!
 O atendente, agora vendedor, levou-me até um balcão onde havia uma pilha do livro, uns sobre os outros, idênticos ao exposto na vitrine. Mal me encostei ao balcão, veio aquele blá, blá, blá, decorado de vendedor treinado. Falou da qualidade das folhas, das fotografias, das gravuras, etc., etc., etc. Finalmente o preço: 110 reais pelas oitocentas e vinte e oito páginas de pura erudição. Desta vez o que disparou foi minha pressão, dois testes para leitor viciado cardíaco em questão de minutos, é coisa que nem Super-Homem resistiria. O vendedor, notando que de repente fiquei mais branco que lençol lavado com OMO, procurou amenizar me propondo pagá-lo em três vezes, no cheque ou cartão, com um pequeno juro de 10 reais. O livro custaria, então, 120 reais e, gratuito, um marcador de páginas com a publicidade da livraria. Gostaria de ter reprovado no teste de leitor viciado, mas viciado é viciado e lá se foi meu cenzinho. Sem olhar para os lados, saí da loja; já pensou se vejo outro livro interessante.
 Baixas vendas preocupam os livreiros e, etcetra. E altos preços a nós leitores viciados.
Viva o sebo; e, salve-se quem puder! ®Sérgio.