quinta-feira, 22 de abril de 2010

O UNHA DE FOME - Recontando Contos Populares

Conta-se que morava em certa região do sertão, um fazendeiro bonachão, cheio de si e muito rico, porém unha de fome como ele só. Viúvo de muito tempo, só deixava como seu herdeiro dois sobrinhos aos quais em vida – verdade seja dita – nada lhes dera.
Um dia esse fazendeiro, que vivia sempre isolado, foi dado como morto no quarto da casa onde morava. Os sobrinhos foram chamados pelos empregados da fazenda, que trataram de lhe fazer o enterro.
Como o lugar ficava muito distante do arraial, onde seria enterrado, o corpo foi levado numa padiola. Vencida obra de meia légua, a padiola estremeceu e como ia acompanhando o enterro um benzedeiro do lugar, chamaram-no, e o charlatão examinado o fazendeiro avarento - que tentava sentar-se na padiola - tirou do bolso um vidro de cheiro, chegando-lhe ao nariz. O perfume era tão ruim que o avarento se pôs, mais que depressa, sentado na padiola e perguntou-lhe:
— E então, seu benzedeiro, quanto custou o seu trabalho?
E o benzedeiro, querendo aproveitar a ocasião para ganhar algum dinheiro daquele pão-duro, disse-lhe:
— Quase nada, seu Epaminondas, uns cem mil à toa pagam bem.
O avarento do Epaminondas ficou aturdido, meio que tonteou, levantou as sobrancelhas, arregalou os olhos e exclamou:
— Cem mil! Ara sô, tá doido homem! Sabe de uma coisa? Pessoal, toca pro cemitério!
E estendeu-se a todo comprimento na padiola. ®Sérgio.
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Nota: Este texto é uma variante do conto João Preguiça. Nos folclore tradicional português (Algarves) há variantes com o nome de Pedro Preguiça e A Preguiçosa. Alphonse Daudet aproveitou-o em um conto intitulado O Figo e o Preguiçoso.