quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

O CLIENTE EM PRIMEIRO LUGAR


O PERDÃO MENTIROSO

"Os Reis Fernando e Isabel de Espanha entraram para a história por duas razões: o financiamento da viagem de Cristóvão Colombo e o apoio total às execuções em massa ordenadas por Tomás de Torquemada, fins do século XV, em nome da Inquisição. Tomás de Torquemada, inquisidor-mor da Espanha, mandou para a fogueira, entre 1483 e 1498, nada menos do que oito mil pessoas acusadas de feitiçaria."
No livro - La Inquisición de Logrono y um Judaizante Quemado, em 1719, do historiador espanhol Fidel Fita Colomé (1835-1918), descreve-se a queima de um cristão-novo:
Era uma manhã de agosto; o condenado já está amarrado ao poste; um padre passa-lhe diante do rosto uma tocha (para preveni-lo do que o espera se não se arrepender). A sua volta, acham-se outros religiosos, todos insistindo para que o mesmo se converta. Tais pedidos (rogos) se prolongam, cada vez com mais insistência, durante certo tempo; até que, em dado momento, o réu decidiu-se à conversão. Com perfeita serenidade diz: "Quero converter-me a religião de Jesus Cristo". Palavras, estas, que não se ouvira dele até aquele momento. Isso deixou os religiosos bastante alegres, que o abraçaram com ternura e deram infinitas graças a Deus por ter-lha aberto uma porta para a conversão.
Quando fazia sua confissão de fé, um padre da Ordem dos Franciscanos perguntou-lhe: "Em que lei morrerá?" Ele virou-se, e olhando nos olhos do religioso, disse-lhe: "Padre já lhe disse que morro na religião de Jesus Cristo." Todos novamente se alegraram e o franciscano que se achava ajoelhado levantou-se e abraçou o criminoso. Nesse momento, o criminoso viu o carrasco - que se mantivera, até um pouco antes, atrás do poste onde aquela alma convertida se encontrava amarrada, e perguntou-lhe: "Porque você me chamou de cão antes?" O carrasco respondeu: "Porque negou a religião de Jesus Cristo; mas agora que confessou, somos irmãos, e, se lhe ofendi pelo que falei, peço perdão de joelhos." O criminoso perdoou-o e ambos abraçaram-se.
Desejoso de que não se perdesse aquela alma que havia dado tantos sinais de conversão, dirigi-me (o inquisidor) casualmente para trás do poste, onde estava o carrasco e dei-lhe ordem para que o estrangulasse imediatamente, porque era muito importante não haver demora. Ele fez isso com grande presteza.
Assegurando-se de que o condenado estava morto, o carrasco recebeu ordem para atear fogo nos quatro cantos da pilha de lenha e carvão. Fê-lo imediatamente e a pilha começou a queimar de todos os lados, erguendo-se as chamas rapidamente na plataforma e queimando a madeira e a roupa. Quando a corda que amarrava o prisioneiro queimou-se ele caiu no alçapão para dentro da pilha e seu corpo ficou reduzido a cinzas.
Cenas degradantes como esta, e outras ainda mais cruéis, iriam se repetir milhares de vezes, desde que a Inquisição ou Santo Ofício foi instaurado. Entre as vítimas da Intolerância religiosa, não estariam apenas os conversos, os heréticos, os cristãos-novos e os feiticeiros anônimos, mas figuras do porte de um Galileu, de um John Huss, de um Giordano Bruno ou de uma Joana d’Arc. ®Sérgio.
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Nota:Fiz adaptações linguísticas no texto de Fidel Fita, para melhor situá-lo no vernáculo de nossos dias.

A LENDA SIOUX -

Há uma lenda dos índios Sioux que, com a devida licença, não poderia deixar de contar-lhes. Mas vou avisando que apesar da narrativa ser minha, a essência da lenda não foi modificada.
Conta-se que, certa vez, os jovens índios Sioux Touro Bravo e Nuvem Azul, foram à tenda do velho feiticeiro fazer um pedido:
— Sábio senhor, eu amo Nuvem Azul e ela a mim e vamos nos casar. Nosso amor é tanto que viemos lhe pedir um conselho: há algo que possamos fazer que nos garanta ficarmos para sempre juntos, um ao lado do outro até a morte?
 O velho feiticeiro, ao ver aqueles  jovens, tão apaixonados e tão ansiosos por uma palavra, disse emocionado:
— Há uma coisa que podem fazer, porém é uma tarefa muito difícil e exige muito sacrifício. Tu, Nuvem Azul, deves escalar o monte, ao norte da aldeia, levando consigo apenas uma rede, caçar o falcão mais vigoroso e trazê-lo aqui, com vida, até o terceiro dia depois da lua cheia. E tu, Touro Bravo, deves escalar a montanha do trono e também levar apenas uma rede; quando chegares lá em cima, encontrarás a mais brava de todas as águias. Deves apanhá-la e trazê-la para mim, viva!
Touro Bravo e Nuvem Azul abraçaram-se com ternura, agradeceram o velho feiticeiro e partiram para cumprir a missão.
No dia estabelecido, os jovens, com as aves, voltaram à tenda do feiticeiro. O velho tirou as aves dos sacos de couro e constatou que eram verdadeiramente os exemplares dos formosos animais que ele tinha pedido.
— E agora, o que faremos? Perguntaram os jovens, tomados de expectativa.
— Peguem as aves e amarrem uma à outra pelos pés com essas fitas de couro. Quando estiverem amarradas, soltem-nas para que voem livres.
Touro Bravo e Nuvem Azul fizeram o que lhes foi ordenado e soltaram os pássaros. A águia e o falcão tentaram voar, mas, o que conseguiram foi apenas saltar pelo terreno. Após várias tentativas, as aves, irritadas pela impossibilidade de voarem, arremessaram-se uma contra a outra, bicando-se até se machucarem. Então o velho disse:
— Jamais esqueçam o que estão vendo, esse é o meu conselho. Vocês são como a águia e o falcão. Se, um ao outro, estiverem amarrados, ainda que por amor, não só viverão arrastando-se, como também, cedo ou tarde, começarão a machucarem-se. Se quiserem que o amor entre vocês perdure, voem juntos, porém, jamais amarrados. Libere a pessoa que você ama para que ela possa voar com as próprias asas.
“A única verdadeira segurança não se encontra em ter ou possuir, nem em exigir ou prever; e sim na fluidez, na libertação.” ®Sérgio.