segunda-feira, 29 de julho de 2013

O SONETO DO SEU GREGÓRIO

A capacidade, a habilidade e o ardil satírico de Gregório de Matos, deixam- me, sobremaneira, desconcertado. Com que facilidade, esse artífice do verso, trabalhava seus poemas. Veja:
De acordo com fontes históricas, certa vez, um conde pediu a Gregório de Matos que fizesse um soneto em seu louvor. O poeta, porém, não achou nele nada que pudesse ser enaltecido. Não querendo desagradar o nobre conde, compôs assim mesmo o soneto que vai abaixo:

   Um soneto começo em vosso gabo¹              (¹ louvor)
Contemos essa regra por primeiro,
Já lá vão duas, e esta é a terceira,
Já este quartetinho está no cabo²                  (² no fim)
Na quinta torce agora a porca o rabo:
A sexta vá também desta maneira,
Na sexta entro já com a grã³ canseira           (³ grande)
E saio dos quartetos muito brabo.
Agora nos tercetos que direi?
Direi que vós senhor, a mim me honrais,
Gabando-vos a vós, e eu fico um Rei.
Nesta vida um soneto já ditei,
Se desta agora escapo, nunca mais;
Louvado seja Deus, que o acabei.
Com que maestria Gregório compôs este soneto. O poeta obedecendo à estrutura do soneto e a ela referindo-se com palavras bebidas aqui e ali, ele esvaziou o conteúdo e não se comprometeu em falsos elogios. É por coisas assim que tenho de admirar a qualidade saborosa desse poeta. ®Sérgio.

CRUCIFICA-O, CRUCIFICA-O!

Por diversas vezes, questionei o porquê de no julgamento de Jesus Cristo, a multidão de Jerusalém ter escolhido que Barrabás (era costume, naquela época, libertar um prisioneiro na Festa da Páscoa) fosse solto, em vez de Jesus. Pois, em Mateus 21/8-11, Jesus entrou triunfalmente em Jerusalém com a multidão espalhando roupas pelo chão para Cristo passar. Ser trocado por Barrabás é uma cena tão ultrajante que nos faz questionar o motivo.
Pilatos queria soltar Jesus (Lucas 23/20). Teve até o impulso emocional da esposa, que reconheceu que Jesus era justo e disse ao marido que não se envolvesse naquilo. Depois Pilatos perguntou à multidão: "Que mal este fez?" (Lucas 23/22). Pilatos começa afirmando que Jesus é inocente, mas acaba concedendo a sentença de morte que a multidão exigiu (fico imaginando o barulho ensurdecedor da multidão gritando naquele lugar, em favor de Barrabás, a cada indagação de Pilatos). Diz-nos o estudioso H. Brownlee Reaves, que a multidão foi incitada pelos sacerdotes para o crucificarem.
Em livros e filmes, Barrabás é geralmente descrito como um homem mal, um criminoso. Mas ele pode realmente ter sido um combatente da liberdade na resistência judaica aos romanos, pois era integrante de um partido judeu que lutava contra a dominação romana. Foi preso após um ataque a um grupo de soldados romanos na cidade de Cafarnaum, onde possivelmente um soldado foi morto. Daí a teoria de que Barrabás foi escolhido porque era um tipo de “sicário”, ou seja, judeus que saiam armados de punhais para matar romanos na calada da noite como uma forma de vingança pela destruição do templo pelo imperador romano Vespasiano. Por isso, os sicários eram assassinos amados pela população. Evidência para isso pode ser encontrada em Marcos 15/07, que nos diz que ele estava na prisão porque tinha tomado parte em um levantamento recente. De fato, alguns estudiosos bíblicos acham que ele foi um líder rebelde importante. Se assim for, isso explicaria por que a multidão gritava por sua libertação.
Então, quando ocorreu o inimaginável, o que fez Barrabás? Será que ele decidiu dedicar a vida a Deus porque tinha recebido a liberdade? Será que ele se arrependeu e fez boas obras o resto da vida, tentando ser digno de seu bom nome, ou será que voltou à vida de crimes e degradação? ®Sérgio.