A capacidade, a habilidade e o ardil
satírico de Gregório de Matos, deixam- me, sobremaneira, desconcertado. Com que
facilidade, esse artífice do verso, trabalhava seus poemas. Veja:
De acordo com fontes históricas, certa
vez, um conde pediu a Gregório de Matos que fizesse um soneto em seu louvor. O
poeta, porém, não achou nele nada que pudesse ser enaltecido. Não querendo
desagradar o nobre conde, compôs assim mesmo o soneto que vai abaixo:
Um soneto começo em vosso gabo¹ (¹ louvor)
Contemos essa regra por primeiro,
Já lá vão duas, e esta é a terceira,
Já este quartetinho está no cabo² (² no fim)
Na quinta torce agora a porca o rabo:
A sexta vá também desta maneira,
Na sexta entro já com a grã³ canseira (³ grande)
E saio dos quartetos muito brabo.
Agora nos tercetos que direi?
Direi que vós senhor, a mim me honrais,
Gabando-vos a vós, e eu fico um Rei.
Nesta vida um soneto já ditei,
Se desta agora escapo, nunca mais;
Louvado seja Deus, que o acabei.
Com que maestria Gregório compôs este soneto. O poeta obedecendo à
estrutura do soneto e a ela referindo-se com palavras bebidas aqui e ali, ele
esvaziou o conteúdo e não se comprometeu em falsos elogios. É por coisas assim
que tenho de admirar a qualidade saborosa desse poeta. ®Sérgio.