segunda-feira, 27 de maio de 2013

A LENDA DO OVO

Vivia num belo país um casal humilde e feliz. O casal tinha tudo o que necessitava para viver em alegria. Um belo casebre, embora pequeno, com um bonito jardim, um rio que passava perto e um belo conjunto de árvores de diversos tipos. Sol brilhava radiante.
Mas um dia a tristeza começou a cobrir a casa. Havia uma coisa que o casal não tinha e desejava muito: filhos. Faltava-lhes o riso e as brincadeiras das crianças. Todos os dias acordavam com o mesmo desejo no coração.
Ora, numa bela noite estrelada, um raio de luz intenso entrou pela janela do quarto. Na sua cauda vinha sentada uma fada.
O casal ficou muito espantado, mas não se assustou porque sabia que a fada era boa. Então a fadinha começou a falar:
— Eu conheço os seus desejos, e já estava à espera que um dia isto lhes acontecesse. Fiz todo o possível para felicidade de suas vidas, mas calculei que não seria o suficiente. Pois bem, vou dar-lhes duas filhas, com dois anos de diferença. Terão de fazer com que elas sejam muito unidas, para que continuem a ser uma família feliz.
— Oh, sim! Nós prometemos boa fada. Isto foi tudo o que sempre desejamos - replicou o casal.
— Aviso-lhes que a tarefa não é fácil. Se o desejarem conseguirão cumpri-la, senão eu voltarei com melhor solução. E com estas palavras a fada desapareceu.
O casal ficou muito feliz e esperou ansiosamente pela chegada da primeira filha.
Um dia, finalmente chegou. Era uma linda menina. Tinha uma pele muito rosada, uns olhos claros e brilhantes e um belo cabelo muito louro, que mais tarde se tornou numa cabeleira loura. A esta filha, o casal deu o nome de Gema.
Tinham desejado tanto esta filha que lhe dedicaram todo o seu amor e acabaram por mimá-la demais.
Gema tornou-se indolente, vaidosa e preguiçosa, mas os seus pais não a achavam assim.
Passaram-se dois anos e a outra filha nasceu. Esta, ao contrário de Gema, não era tão bonita. O cabelo era muito claro, quase transparente como a água, a pele era muito branca - os olhos, esses, eram claros, cintilantes, a única semelhança com Gema. Os pais deram-lhe o nome de Clara.
As duas crianças cresceram felizes e muito brincalhonas, apesar das brincadeiras que Gema fazia a Clara. Elas pareciam gostar muito uma da outra. Gema era muito mais viva e brincalhona que Clara e muito mais forte também. Clara era mais séria e trabalhadora. Gema irritava-se com Clara, pois esta, nem sempre queria brincar, e por isso passava a vida a apoquentá-la.
O tempo foi passando e as maldades crescendo, assim como as arrelias que faziam uma à outra. Quando os pais repararam, já era tarde demais para que conseguissem mudar alguma coisa. A felicidade nunca mais voltou a reinar naquela casa. O tempo passou e a situação mantinha-se.
Um dia a fada voltou:
— Eu avisei-os, a tarefa não era fácil, não quiseram ouvir-me e deixaram que a alegria desaparecesse. Infelizmente, terei que agir e como castigo ordeno que Clara e Gema se unam num só alimento, rico e completo. As duas partes serão indispensáveis e assim vivam em conjunto para sempre.
Dizendo isto, apontou a varinha para Clara e Gema, apareceu uma luz muito forte e quando desapareceu no lugar das duas estava um ovo. E assim, Clara e Gema viveram juntas para sempre, tornando-se úteis para nós. O casal aprendeu bem a lição e a partir daí tiveram muitos filhos e filhas. ®Sérgio.
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Nota sobre o Texto: Alguns contos conseguiram manter suas autorias, outros, porém, como este, pularam das fronteiras do livro e do registro autoral e caíram na memória do povo, em tantas feições e línguas, que acabaram por passar ao domínio de ninguém, isto é, ao uso de todos.