Vivia num belo país um
casal humilde e feliz. O casal tinha tudo o que necessitava para viver em
alegria. Um belo casebre, embora pequeno, com um bonito jardim, um rio que
passava perto e um belo conjunto de árvores de diversos tipos. Sol brilhava
radiante.
Mas um dia a tristeza
começou a cobrir a casa. Havia uma coisa que o casal não tinha e desejava
muito: filhos. Faltava-lhes o riso e as brincadeiras das crianças. Todos os
dias acordavam com o mesmo desejo no coração.
Ora, numa bela noite
estrelada, um raio de luz intenso entrou pela janela do quarto. Na sua cauda
vinha sentada uma fada.
O casal ficou muito
espantado, mas não se assustou porque sabia que a fada era boa. Então a fadinha
começou a falar:
— Eu conheço os seus
desejos, e já estava à espera que um dia isto lhes acontecesse. Fiz todo o
possível para felicidade de suas vidas, mas calculei que não seria o
suficiente. Pois bem, vou dar-lhes duas filhas, com dois anos de diferença.
Terão de fazer com que elas sejam muito unidas, para que continuem a ser uma
família feliz.
— Oh, sim! Nós prometemos
boa fada. Isto foi tudo o que sempre desejamos - replicou o casal.
— Aviso-lhes que a tarefa
não é fácil. Se o desejarem conseguirão cumpri-la, senão eu voltarei com melhor
solução. E com estas palavras a fada desapareceu.
O casal ficou muito feliz e
esperou ansiosamente pela chegada da primeira filha.
Um dia, finalmente chegou.
Era uma linda menina. Tinha uma pele muito rosada, uns olhos claros e
brilhantes e um belo cabelo muito louro, que mais tarde se tornou numa
cabeleira loura. A esta filha, o casal deu o nome de Gema.
Tinham desejado tanto esta
filha que lhe dedicaram todo o seu amor e acabaram por mimá-la demais.
Gema tornou-se indolente,
vaidosa e preguiçosa, mas os seus pais não a achavam assim.
Passaram-se dois anos e a
outra filha nasceu. Esta, ao contrário de Gema, não era tão bonita. O cabelo
era muito claro, quase transparente como a água, a pele era muito branca - os
olhos, esses, eram claros, cintilantes, a única semelhança com Gema. Os pais
deram-lhe o nome de Clara.
As duas crianças cresceram
felizes e muito brincalhonas, apesar das brincadeiras que Gema fazia a Clara.
Elas pareciam gostar muito uma da outra. Gema era muito mais viva e brincalhona
que Clara e muito mais forte também. Clara era mais séria e trabalhadora. Gema
irritava-se com Clara, pois esta, nem sempre queria brincar, e por isso passava
a vida a apoquentá-la.
O tempo foi passando e as
maldades crescendo, assim como as arrelias que faziam uma à outra. Quando os
pais repararam, já era tarde demais para que conseguissem mudar alguma coisa. A
felicidade nunca mais voltou a reinar naquela casa. O tempo passou e a situação
mantinha-se.
Um dia a fada voltou:
— Eu avisei-os, a tarefa
não era fácil, não quiseram ouvir-me e deixaram que a alegria desaparecesse.
Infelizmente, terei que agir e como castigo ordeno que Clara e Gema se unam num
só alimento, rico e completo. As duas partes serão indispensáveis e assim vivam
em conjunto para sempre.
Dizendo isto, apontou a
varinha para Clara e Gema, apareceu uma luz muito forte e quando desapareceu no
lugar das duas estava um ovo. E assim, Clara e Gema viveram juntas para sempre,
tornando-se úteis para nós. O casal aprendeu bem a lição e a partir daí tiveram
muitos filhos e filhas. ®Sérgio.
_____________________________________________________
Nota sobre o Texto: Alguns contos conseguiram manter suas autorias, outros ,
porém , como este, pularam das fronteiras do livro
e do registro autoral e caíram na memória do povo ,
em tantas feições
e línguas , que
acabaram por passar ao domínio de ninguém ,
isto é, ao uso
de todos .