segunda-feira, 11 de março de 2013

A PARÓDIA

A crítica literária moderna reconhece em Don Quixote de La Mancha a maior paródia (grego, paróidía) de todos os tempos. Ao parodiar as peripécias do romance de cavalaria, Cervantes criticou a vaidade, a presunção do gênero e criou a nova linguagem da ficção. De caráter lúdico (divertido) ou ideológico e conteúdo crítico mais ou menos explícito, mas, sempre presente, a paródia é a recriação cômica ou imitação burlesca (cômica) de uma obra. Um dos livros do escritor Mário de Andrade, por exemplo, recebeu o título de A Escrava que não era Isaura, numa referência cômica ao romance de Bernardo Guimarães, A Escrava Isaura.
A paródia é, geralmente, confundida com a sátira, a paráfrase e a alusão. Entretanto, é possível estabelecer uma distinção entre esses gêneros:
A sátira , por exemplo, censura um texto preexistente, mas não o deforma. A paráfrase desenvolve, ou seja, reescreve um texto preexistente, sem censurá-lo, não imita. A alusão faz, somente, uma referência indireta a um texto preexistente.
Observe, a seguir, o fragmento do poema Canção do Exílio (à esquerda), e a paródia (fragmento) escrita pelo poeta Murilo Mendes:
Nossos céus têm mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Nossas flores são mais bonitas,
Nossas frutas mais gostosas,
Mas custam cem mil réis a dúzia.
Aí quem me dera chupar uma carambola de verdade.
Embora conserve o tema de Gonçalves Dias, Murilo Mendes corrompe e modifica o conteúdo, transformando a exaltação de Gonçalves em ironia-crítica, criando, assim, uma paródia. ®Sérgio.