terça-feira, 6 de julho de 2010

MINHA FÉ, MINHA DÚVIDA

“Levanta-te, por que dormes, Senhor? Levanta-te e não nos desampare para sempre. Porque apartas teu rosto, e te esqueces da nossa miséria e da nossa tribulação? Levanta-te, senhor, ajuda-nos, e resgata-nos por amor do teu nome.” (Davi, Salmo 43 - 24, 25, 26, 27)
Em certo momento aflitivo de minha vida, deparei-me com dúvidas em relação a minha fé religiosa. Naquele momento roguei a ajuda de Deus, pois só ele poderia ajudar-me; porém não o senti ao meu lado e duvidei de sua existência. No entanto, logo vem o arrependimento, o sentimento de culpa, e passamos a lutar contra a ausência de fé.
Consola-me a fato de que, o próprio Cristo, segundo os relatos bíblicos, teve um momento de dúvida na cruz, ao questionar: “Deus, Deus, por que me abandonaste?” Consola-me, também, ter Santo Agostinho (354-430) se deparado com muitas dúvidas em sua fé. O padre Antônio Vieira, indignado, em um de seus sermões, pergunta a Deus: “Sois o mesmo, ou és outro...?”
No entanto, deixou-me mais convicto de que não é nada anormal passarmos por essas crises de fé, o livro do padre Brian Kolodiejchuk, que traz o título: Madre Tereza: Venha Ser Minha Luz (uma compilação de cartas confessionais da Missionária).
A missionária deixou-nos o exemplo de uma fé inabalável e sessenta anos de trabalho ininterrupto com os miseráveis, doentes e abandonados, que lhe renderam a alcunha de “santa das sarjetas” e um Prêmio Nobel da Paz (1979).
Agora, dez anos após sua morte o livro do padre Brian, traz à tona outro lado da vida interior de Madre Teresa. No livro iremos encontrar cartas em que ela também manifesta dúvidas com a própria fé. Dúvidas quanto à presença de Cristo em sua vida, quanto ao poder das orações e até mesmo quanto à existência de Deus. No seu íntimo, Madre Teresa lutava para acreditar no que pregava.
Chamou-me a atenção este trecho de uma das cartas ao padre confessor:
“Disseram-me que Deus me ama, e ainda assim a escuridão, o frio e o vazio são tão grandes que nada toca minha alma. Terei eu errado ao me entregar cegamente ao chamado do Sagrado Coração?”
A certa altura, ela desabafa: “Há uma escuridão terrível dentro de mim. Tem sido assim desde que comecei meu trabalho”.
A Igreja considera que essas crises de fé são ritos de passagem, muitas vezes necessários para alcançar a verdadeira iluminação. O padre Brian, que conduz o processo de canonização da Missionária e que compilou e publicou as cartas, diz que essa longa jornada de angústia e de dúvidas, em vez de desmerecer Madre Teresa, apenas enaltece suas virtudes. “Ela não sentia o amor de Cristo dentro de si e poderia ter-se fechado. Mas estava de pé toda a manhã às 4h30, sempre pronta a se dedicar em tempo integral aos menos favorecidos. Isso continua sendo um exemplo poderoso”.
Quanto a mim e aos meus momentos de dúvida, só me resta repetir os versos de Camões:
“Que não se arme e se indigne o céu sereno

Contra um bicho da terra tão pequeno." ®Sérgio.

A TRADIÇÃO DO SANTO ROUBADO

Tenho um amigo cuja leitura favorita é antigos livros dos mais variados assuntos. Uma noite dessas, conversava com meu amigo e não me lembro, mais, de como a conversa recaiu em um antigo costume do interior da Paraíba. Não sei se esse costume ainda é praticado por lá, mas, com toda certeza, era.
Há uma frase filosófica que diz que a qualidade mais preciosa da arte, do costume, da tradição popular é a ingenuidade. E a tradição do santo roubado para que chova é mais um ato da magia popular que vem comprovar essa filosofia.
Um grupo de paraibanos combina com certa antecedência o roubo de uma imagem de santo. Escolhem o ladrão do santo e a casa onde deve o padroeiro ser tirado. De acordo com o combinado o plano é executado. Roubado, fica o santo em poder da pessoa que o roubou, até que ele (o santo) resolva fazer chover, quando, então, é devolvido.
Aqui, no meu Mato Grosso do Sul, chuva não falta. E, ao contrário do costume paraibano, há uma tradição muito antiga para fazer cessar a chuva, da qual, eu, na minha meninice, fiz uso muitas vezes. Vou lhe ensinar direitinho: Para fazer cessar uma chuva incômoda e inoportuna faça no chão o olho do sol, também chamado de olho de boi. Finque o calcanhar no chão e curve fortemente o dedão do pé para baixo; rode o pé, de modo a obter um círculo perfeito pelo dedão, com o sinal do calcanhar no meio. Assim, o sol é invocado e, rapidamente, a chuva cessa e ele aparece.
Fora cessar a chuva, tem uma simpatia muito boa para aquela visita que está demorando a ir embora e você não aguenta mais fazer sala. Peça para alguém de casa jogar um pouquinho de sal no fogo do fogão. A visita logo vai embora.
Você costuma (como eu costumo) perder alguma coisa em sua casa e não consegue encontrar? Pegue uma palha de milho e dê nela três nós, com o que se amarra o diabo que está escondendo o objeto; e o perdido aparecerá. Mas, depois de encontrá-lo não se esqueça de desmanchar os nós, se não tudo de ruim acontecerá na casa.
Têm outras, como chamar o vento, como impedir a chuva, como ter boa pescaria, para só citar essas. Outra hora eu lhe ensino, porque agora tenho de ir até a cozinha fazer uma simpatia para acabar com as formigas doceiras.
Inté! ®Sérgio.