“Levanta-te, por que
dormes, Senhor? Levanta-te e não nos desampare para sempre. Porque apartas teu
rosto, e te esqueces da nossa miséria e da nossa tribulação? Levanta-te,
senhor, ajuda-nos, e resgata-nos por amor do teu nome.” (Davi, Salmo 43 - 24, 25, 26, 27)
Em certo momento aflitivo
de minha vida, deparei-me com dúvidas em relação a minha fé religiosa. Naquele
momento roguei a ajuda de Deus, pois só ele poderia ajudar-me; porém não o
senti ao meu lado e duvidei de sua existência. No entanto, logo vem o
arrependimento, o sentimento de culpa, e passamos a lutar contra a ausência de
fé.
Consola-me a fato de
que, o próprio Cristo, segundo os relatos bíblicos, teve um momento de dúvida
na cruz, ao questionar: “Deus, Deus, por
que me abandonaste?” Consola-me, também, ter Santo Agostinho (354-430) se
deparado com muitas dúvidas em sua fé. O padre Antônio Vieira, indignado, em um
de seus sermões, pergunta a Deus: “Sois o
mesmo, ou és outro...?”
No entanto, deixou-me
mais convicto de que não é nada anormal passarmos por essas crises de fé, o
livro do padre Brian Kolodiejchuk, que traz o título: Madre Tereza: Venha Ser Minha Luz (uma compilação de cartas
confessionais da Missionária).
A missionária
deixou-nos o exemplo de uma fé inabalável e sessenta anos de trabalho
ininterrupto com os miseráveis, doentes e abandonados, que lhe renderam a
alcunha de “santa das sarjetas” e um Prêmio Nobel da Paz (1979).
Agora, dez anos após
sua morte o livro do padre Brian, traz à tona outro lado da vida interior de
Madre Teresa. No livro iremos encontrar cartas em que ela também manifesta
dúvidas com a própria fé. Dúvidas quanto à presença de Cristo em sua vida,
quanto ao poder das orações e até mesmo quanto à existência de Deus. No seu
íntimo, Madre Teresa lutava para acreditar no que pregava.
Chamou-me a atenção
este trecho de uma das cartas ao padre confessor:
“Disseram-me que Deus
me ama, e ainda assim a escuridão, o frio e o vazio são tão grandes que nada
toca minha alma. Terei eu errado ao me entregar cegamente ao chamado do Sagrado
Coração?”
A certa altura, ela
desabafa: “Há uma escuridão terrível
dentro de mim. Tem sido assim desde que comecei meu trabalho”.
A Igreja considera que
essas crises de fé são ritos de passagem, muitas vezes necessários para
alcançar a verdadeira iluminação. O padre Brian, que conduz o processo de
canonização da Missionária e que compilou e publicou as cartas, diz que essa
longa jornada de angústia e de dúvidas, em vez de desmerecer Madre Teresa,
apenas enaltece suas virtudes. “Ela não
sentia o amor de Cristo dentro de si e poderia ter-se fechado. Mas estava de pé
toda a manhã às 4h30, sempre pronta a se dedicar em tempo integral aos menos
favorecidos. Isso continua sendo um exemplo poderoso”.
Quanto a mim e aos meus
momentos de dúvida, só me resta repetir os versos de Camões:
“Que não se arme e se indigne o céu sereno
Contra um bicho da
terra tão pequeno." ®Sérgio.