sábado, 25 de junho de 2011

VOU FAZER UMA COLOCAÇÃO

O termo colocação é um modismo da linguagem popular muito usado atualmente em assembleias, reuniões e debates de agremiações não científicas. Não faz parte da linguagem culta. Portanto, se em uma reunião alguém pede a palavra e diz: "Gostaria de fazer uma colocação bastante polêmica". Ele está usando um modismo não recomendado pela gramática, principalmente para os textos formais. A terceira edição do dicionário Aurélio¹ já registra colocação como brasileirismo popular.
As palavras colocar e colocação devem ser usadas no sentido de arrumação, disposição, lugar. Elas não equivalem à observação, sugestão ou ideia:
   Ficou na segunda colocação.
   Não gostei da colocação do quadro acima do sofá.
   Conseguiu uma colocação na farmácia de um parente.
   Arranjou uma boa colocação no banco.
   Colocou a bola na marca do pênalti.
   Vou colocar o livro na estante.
No caso do vou fazer uma colocação, use termos mais precisos, como: exposição, argumentação, opinião, observação, afirmação...
   Posso fazer uma observação [e não: colocação] sobre este assunto
 Gostaria de fazer uma observação / afirmação / exposição [e não: colocação] bastante polêmica.
   Ele fez uma observação / afirmação [e não: colocação].
  Era uma observação / afirmação / exposição [e não: colocação] equivocada. ®Sérgio.
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1 - Novo Aurélio Século XXI: o Dicionário da Língua Portuguesa. 3a ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; 1999.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

O TERMO ADÁGIO

Adágio é o mesmo que os conhecidos ditos, provérbios, sentenças ou máximas, que segundo o filósofo alemão Friedrich Von Schlegel, um dos grandes teóricos do romantismo, é "a maior quantidade de pensamento no menor espaço". Não raro, o adágio registra a experiência culta dos Antigos, universalmente difundida. Quando o adágio tem origem não literária, diz-se adágio popular.
Um dos adagiários mais famoso é o Adágios (1500-1506) escrito por Erasmo de Roterdã (1466-1536), que compila mais de quatro mil sentenças colhidos nos autores da Antiguidade Greco-latina.
O termo adágio também é usado (ainda) na linguagem musical, para indicar um movimento vagaroso e gracioso. ®Sérgio.

sábado, 18 de junho de 2011

UMA JANELA PARA O MUNDO

"Tenho muitas deficiências físicas, mas no jogo Star Wars Galaxies posso pilotar uma moto voadora, enfrentar monstros ou, simplesmente, encontrar os amigos em um bar. Minha vida real é bem mais limitada. Como os movimentos de minhas mãos são restritos, não consigo pressionar as teclas de um teclado normal. Por isso uso um teclado virtual que me permite conversar on-line com outros jogadores. A tela do computador é a minha janela para o mundo. Online, não importa a aparência. Os mundos virtuais reúnem as pessoas – e todos estão na mesma situação (é uma pena que nem todos pensem assim) [opinião minha]. No mundo real, elas podem se sentir desconfortáveis perto de mim antes de me conhecer e descobrir que, sem levar em conta a aparência, eu sou como elas. Aí está uma vantagem da internet: é possível interagir com alguém antes de conhecê-lo fisicamente. Assim, uma pessoa é conhecida por suas ideias e personalidade, não pela aparência física. Num encontro de jogadores em 2002, a Ultimate Online Fan Faire, em Austin, percebi que as pessoas ficaram intrigadas, mas agiam como se eu fosse uma delas. Elas me trataram como igual, como se eu não fosse do jeito que sou – quer dizer, deficiente e em uma cadeira de rodas. Éramos todos apenas jogadores."
(Jason Rowe, 32 anos, Texas, Estados Unidos)
Em nossas leituras, de repente, “damos de cara”, com pequenas coisas que nos atinge de dentro e penetra as íntimas fibras do nosso ser e nos deixa envergonhados por acharmos que a vida, ás vezes, nos é injusta.
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Fonte e imagem:

sexta-feira, 17 de junho de 2011

O CÉREBRO INIMITÁVEL

"A consciência baseada em silício, se ela algum dia surgir, certamente se manifestará de formas muito distintas daquelas exibidas pela versão humana. [...] Nossa peculiar história evolutiva não pode ser comprimida em nenhum algoritmo computacional, um fato que elimina qualquer esperança de que máquinas, simulações computacionais ou formas artificiais de vida poderiam ser sujeitas a uma lista idêntica de pressões evolutivas, geradas por qualquer código de computador ou outra máquina criada pelo homem. [...] Por carregar o legado de sua própria história impresso dentro de seus circuitos, o cérebro recebeu como recompensa a imunidade mais poderosa contra possíveis tentativas de copiar seus mais íntimos segredos e arte."
Trecho do livro Muito Além do Nosso Eu, do neurocientista Miguel Nicolelis. 

domingo, 12 de junho de 2011

O ENTERRO DO BOIADEIRO - Recontando Contos Populares

Certo dia, lá pros lados do sertão de Minas, morreu Bastião Boiadeiro. Caboclo novo ainda. Os parentes se debulharam em lágrimas. Houve muita tristeza entre os amigos boiadeiros. Mas Bastião tinha que ser enterrado. Chico do Laço, seu amigão do peito, arrumou mais cinco caboclo para carregar o corpo do defunto até o cemitério de Rio Claro. Caminho longo de quase quatro léguas. Botaram Bastião numa rede, onde passaram uma vara bem grossa e, dois a dois, foram carregando o amigo até a cidade dos "pés juntos". Vencida obra de duas léguas, o cansaço era muito. Por isso, diminuíram um pouco a marcha, porém continuaram a andar. O dia também andava. Chegou à tardezinha. O sol se some. À noite veem; não dá para chegar a Rio Claro antes do fechamento do cemitério. O negócio é descansar e continuar no rompante da manhã.
Colocaram o morto num canto, e cada qual se ajeitou como podia. Logo, puxavam um ronco danado. Cansaço dos diabos. Só o Chico Boiadeiro, pesaroso com a morte do amigo e medroso como ele só, não consegue pegar no sono e fica apreciando a lua cheia que alumiava até passeio de pulga no chão. Lá pelas tantas, com os olhos ainda arregalados, vê uma coisa que o deixou de cabelos em pé. O morto se levanta e meio no ar vem em direção ao grupo de amigos, no rumo dele. Passa por cima de um. Passa pelo outro e mais outro, até passar pelo quinto. Tudo muito vagaroso, como deve de ser um fantasma. Quando Bastião vai passar por cima do Chico, este não se contém e apronta o maior berreiro, soltando guinchos como os de boneca rapidamente apertada na barriga.
— Por amor de Deus, Bastião! Vai pro seu corpo, diabo! Cruz credo!... Avemaria!... Será possível, meu senhor?!
Com a gritaria do Chico Boiadeiro, os companheiros acordam querendo saber o que foi...
Chico explica bem explicadinho. Alguns acharam graça e outros ficaram com a pulga atrás da orelha, preocupados. Um deles foi o Italívio:
— Óia, gente! Isso é castigo de Deus. O morto num discansô até agora porque a gente num interrô ele. Bastião deve tá devera puto da vida com a gente!
E o diacho é que ele passô inriba de nóis, né sô? Tocou no crucifixo que no peito trazia... e continuou. Isso é mau siná. Queira Deus que certas coisa que o povo fala seja só boataria...
Foi o que conseguiu completar Manuel, todo cismado, o primeiro que o espírito do Bastião passou por cima. Daquela hora pra frente ninguém mais dormiu. Só o Deodoro que, de madrugadinha, conseguiu tirar uma pestana. Afinal, ele não acreditava nas lorotas que o povo contava.
— Deixa de bobage, gente! Larga de mão disso! Quem morreu, morreu! Num vorta mais. O Chico tava era com sonhação!
Saíram com o sol saindo, e, na metade da manhã chegaram com o corpo frio e duro do Bastião no cemitério. Enterraram o amigo. Passaram num boteco para molhar a goela e se mandaram de novo, estrada a fora, rumo do sertão, cada qual pro seu canto.
É crença no sertão de que, quando se vai levar um defunto para enterrar, não se pode parar. Pra nada. Parar é desgraça na certa para os carregadores.
Dê daí, ô gente... o Chico Boiadeiro, naquele ano, teve que fazer o mesmo trajeto de carregamento de defunto mais cinco vezes. ®Sérgio.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

O APÓCRIFO

Apócrifo, do Grego, apókryphos = oculto. Primitivamente, esse termo designava os textos que eram mantidos secretos, escondidos, como o Livro das Sabinas, na Roma Antiga.
Com o advento do cristianismo o termo passou a caracterizar os textos bíblicos isento de "inspirações divinas" e, por isso, não incluído nas escrituras, como o Livro de Enoch, Vida de Adão e Eva, de Salomão, pertencentes ao Antigo Testamento; Atos de Mateus, Apocalipse e Evangelho de Pedro, do Novo Testamento.
Modernamente, toma-se apócrifo como sinônimo de textos falsos, não autênticos, ou seja, falsamente atribuído a determinado autor, ou ainda de autor incerto. ®Sérgio.

A APOSIOPESE - Figuras de Linguagem

A Aposiopese - do Grego, aposiópesis = silêncio súbito - consiste na suspensão de um pensamento já iniciado, por meio de um corte repentino ao perceber que vai adiantar raciocínios, surpresas, ou quando pretende dar ênfase as suas palavras, ou ainda quando se dá conta que vai dizer mais do que deseja. De modo geral, a aposiopese, se evidencia, graficamente, pelas reticências.
"Seria inútil querer dissuadi-la, e ainda que não fosse inútil, seria desarrazoado, porque uma viúva moça... Ela amava muito o marido, não?" (M. Assis, Ressurreição)
"Deus tenha misericórdia de mim! E esse homem... Jesus! Esse homem era... esse homem tinha sido..." (Garrett, Frei Luís de Souza) ®Sérgio.

A LENDA DA JOVEM ARACNE

Numa antiga região da Ásia Menor chamada de Lídia, vivia uma jovem de nome Aracne, que tinha uma extraordinária habilidade e grande reputação na arte de tecer e bordar.
As tapeçarias que desenhava eram tão belas e perfeitas que pessoas vinham de terras distantes só para contemplá-las. Devido a tanta admiração, Aracne começou a comparar-se à Atena - deusa das fiandeiras – e que seria capaz de derrotá-la na arte da tecelagem. Quando a notícia chegou ao Olimpo, Atena ficou furiosa com a petulância da mortal. Sentiu-se desafiada e resolveu aceitar a competição com Aracne, para ver quem merecia de fato ser considerada a melhor na arte de bordar. Antes, porém, a deusa disfarçou-se de uma humilde velhinha e foi ter com Aracne. Pediu-lhe que a escutasse, devido à experiência de sua idade avançada: "Busque entre os mortais toda fama que desejar, mas reconheça a posição da deusa". Aracne, entretanto, não aceitou os conselhos da deusa, e, mais uma vez, a desafiou, dizendo: "Por que motivo sua deusa está evitando competir comigo"? Nesse momento, Atena tirou o disfarce e todos, ao redor, ficaram surpresos, exceto Aracne, que permaneceu impassível. As duas, então, dão início à competição.
 Ambas trabalharam com rapidez e habilidade. Atena representou sobre a tapeçaria os doze deuses do Olimpo em toda a sua majestade e para aviso da sua rival acrescentou nos quatro cantos a representação de quatro episódios mostrando a derrota dos mortais que tinham ousado desafiar os deuses. Aracne ousou ilustrar sobre o seu trabalho as conquistas amorosas de Zeus. Sob a forma de touro, arrebatando Europa; sob a forma de águia, abordando Astéria; sob a forma de cisne, conquistando Leda; sob a forma de sátiro, fazendo amor com Antíope; Zeus fazendo-se passar por Anfitríon para seduzir Alcmene, mãe de Heraclés (Hércules); Zeus, o pastor que fez amor com Mnemosine, mulher-titã; e, ainda, Zeus conquistando Egina, Deméter e Danae, disfarçado de chama, serpente e chuva de ouro, respectivamente. Isso deixou Atena tão enraivecida que rasgou em pedaços o trabalho e golpeou, com o bastão de tecer, a cabeça Aracne. Ultrajada e desesperada, Aracne enforca-se.
Atena, ao ver o que sua cólera havia provocado, compadeceu-se de Aracne e transformou a corda que ela usara para enforcar-se numa teia. Em seguida, derramou sobre Aracne fluidos retirados das ervas da deusa Hecate e transformou-a em uma aranha. Dessa forma, Aracne foi salva da morte e, embora condenada a ficar dependurada em sua teia, a fiar e a tecer para sempre. ®Sérgio.

terça-feira, 7 de junho de 2011

TESTANDO NOSSA PACIÊNCIA

Estamos vivendo um século das grandes conquistas tecnológicas. Apesar disso, quem se dispõe a abrir um CD recém-comprado, enfrentará um grande desafio se não tiver a mão um objeto cortante. Embora o plástico seja fininho, rasgá-lo é um teste para cardíaco.
Pior é o saquinho de sachê de ketchup, mostarda e maionese. Sem chance de você conseguir rasgar aquela pontinha sugerida pelo produto, principalmente se a mão estiver um tanto engordurada pelo sanduíche.
No pacote de bolacha, ao puxar a "abinha" identificada com os dizeres "abra aqui", automaticamente, duas bolachas serão sacrificadas no topo desprotegido da embalagem.
No copo de água mineral, a tampa de alumínio parece ter sido soldada ao copinho.
E a bandeja de frios? Encontrar a ponta do plástico é tarefa impossível.
Não podemos esquecer-nos da tampa do vidro de azeitona e outros similares. É rezar para vencê-la, ou ganhar um pulso aberto.
Pois é, apesar de tanta tecnologia, simples embalagens parecem que foram unicamente projetadas para dificultar nossa vida e testar nossa paciência. Não é mesmo? ®Sérgio.

sábado, 4 de junho de 2011

QUE LEITE MAMOU MEU PROCESSO?

Dizem que quem é criado no sertão com leite de cabra, fica ligeiríssimo no correr. Estou considerando que leite mamou meu processo na mão dos juízes e seus oficiais, pois não há remédio que o faça correr. Decerto bebeu leite de preguiça, que gasta dois dias em subir a uma árvore e outros dois em descer.
O processo a cada passo para e dorme. Dois meses para entrar o papel, e parou; outros dois para subir a consulta, e tornou a parar; outros dois para descer abaixo, e outra vez parado. Mais tantos meses para se consultarem os autos, mais outro tanto para se formar a resolução, mais tantos anos virão, para embargos, apelações, suspensões, dilações, vistas, revistas, réplicas, tréplicas... Já eu digo, não por ironia, senão por boa verdade: "Oh! Preguiça da Justiça"! ®Sérgio.
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Baseado no fragmento do texto Dá Duas Vezes quem Dá Logo do Padre Manuel Bernardes (1644-1710). In: Marques Rebelo, org. Antologia Escolar Portuguesa. Rio de Janeiro, FENAME/MEC, 1970. P.261.