sábado, 7 de maio de 2011

SHAKESPEARE X VOLTARIE

Creio ser conhecido de todos que Voltaire (François Marie Arouet – 1694/1778), traduziu para o Francês, muitos trechos de obras inglesas: "Arisquei traduzir alguns trechos dos melhores poetas ingleses". Entre esses poetas, como não poderia deixar de ser, está Shakespeare: "Escolhi o monólogo de Hamlet, conhecido de todos, e que começa com estes versos: To be or not to be, that is the question". Se você confrontar o texto de Shakespeare com o de Voltaire, notará que, Hamlet nos versos voltairianos, perde sua universalidade trágica para se transformar num nobre e atormentado católico francês, descontente com a decadente corte de Versalhes. É uma transição da problemática inglesa para a francesa. Eis a tradução livre de Voltaire:
Hamlet, príncipe da Dinamarca, fala:
"Fica. É preciso escolher e passar num instante
Da vida à morte, ou do ser ao nada.
Deuses cruéis! Se existis, iluminai minha coragem.
É preciso envelhecer curvado sob a mão que me ultraja?
Deve suceder talvez às doçuras do sono.
Ameaçam-nos. Dizem que esta curta vida
De tormentos eternos é logo seguida.
Ó morte! Ó momento fatal! Terrível eternidade!
Todo coração ao teu nome enregela, apavorado.
Oh! Quem poderia sem ti suportar esta vida,
De nossos Padres mentirosos suportar a hipocrisia?
De uma indigna amante incensar* os erros?                  *bajular
Arrastar-se sob um Ministro, adorar sua altivez?
E mostrar os langores de sua alma abatida
A amigos ingratos que desviam a vista?
A morte seria muito doce nesses extremos;
Mas o escrúpulo fala e nos grita: Parai!
Suportar ou acabar minha infelicidade e minha sina?
Quem sou? Que me detém? Que é a morte?
É o fim dos males, é meu único asilo;
Dorme-se e tudo morre. Mas um terrível despertar
Proíbe às nossas mãos este horrível homicídio,
E de um herói guerreiro faz-se um cristão tímido".
"Não acrediteis que traduzi o inglês palavra por palavra. Infelizes os que fazem traduções literais, que traduzindo cada palavra enervam o sentido."
"Perdoai a cópia em favor do original e lembrai-vos, sempre, quando virdes uma tradução, verdes uma fraca estampa de um belo quadro."
                    Voltaire.
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Seleção e tradução do texto de Marilena de Souza Chauí.

O APARTAMENTO SUSPEITO

A denúncia afirmava que, todas as sextas-feiras, no edifício Minas Gerais, aptº. 99, por volta das 10 horas da noite, várias pessoas de apa­rência suspeita entravam no edifício e lá ficavam até de madrugada. Que o apartamento enchia-se de gente, entretanto, os sons que vinham de dentro eram os mais discretos possíveis. As conversas eram quase murmuradas. Tudo era muito suspeito.
Tendo em mente, apanhar a possível quadrilha organizada - os frequentadores e o dono do apartamento - em fragrante; a polícia, em uma viatura, chegou de mansinho, encostou a uma quadra do edifício, para não ser identificada, e os componentes da patrulha desceram para adentrar o edifício e, posteriormente, o apartamento.
Foi tudo muito fácil. O militar que chefiava a turma subiu ao andar onde ficava o apartamento suspeito e - protegido pela sua metralhadora - bateu na porta devagarzinho, para que não desconfiassem. Abriram a porta e lá dentro estavam alguns casais jogando buraco (biriba).
Salve-se quem puder! ®Sérgio.