terça-feira, 19 de abril de 2011

O ROMANCE POLICIAL

O Romance Policial clássico tem como enredo o esclarecimento de um crime pela habilidade e coragem de um detetive. As primeiras narrativas policiais se devem a Edgar Allan Poe. Um precursor do romance policial foi Conan Doyle, autor de O Cão dos Baskervilles (1902), e criador do detetive Sherlock Holmes. Doyle criou o esquema que dominou o romance policial até cerca de 1930. Entre os mais famosos autores destacam-se Aghata Christie e o belga Georges Simenon, que escreveu nada menos que 125 romances policiais entre 1931 e 1952. Na ficção brasileira Rubem Fonseca é considerado o melhor do gênero policial, sobretudo em A Grande Arte (1983). Outro bom autor é Marcelo Rubens Paiva (Bala na Agulha), entre outros. ®Sérgio.

O VISITANTE INESPERADO

Os sinos da paróquia de Monte Castelo começaram a tocar em horário bastante incomum, pois havia morrido um famoso juiz da região. Era um juiz orgulhoso, muito cheio de si, que não tirava o chapéu para ninguém. Além disso, não era para ninguém, modelo de virtude e de honestidade. Muitas das famílias que lhe caíram nas mãos, foram extorquidas. Tinha quarenta anos, alto, magro, meio curvo, o pescoço desabado sobre o ombro (como um atirador que aponta o alvo), os olhos inquietos e perturbador (como os de um alucinado), que lançava em redor de si um mal-estar, na alma e no corpo.
Era este senhor um daqueles a quem cristo chamou de sepulcros caiados: por fora caiado de branco, e por dentro podridão e vermes. Fingindo no exterior honestidade, e sendo no íntimo da alma um devasso.
Os sinos tocavam e a notícia se espalhava; na reação dos habitantes da região, não havia lamento. Pelo contrário, em muitos, notava-se uma ponta de júbilo. Por isso, era consenso geral que a alma daquele juiz não tinha salvação. Discutia-se até se ele teria direito a um enterro cristão. Criava-se, assim, a polêmica, e só não se acirrou porque os frades do Convento de Santo Antônio se ofereceram para sepultá-lo, porém, nem por sombras, eles podiam imaginar o que lhes iria acontecer.
Nesse mesmo dia à meia-noite, os franciscanos foram acordados por sonoras batidas na porta do convento e por uma voz que pedia para falar-lhes. Os frades estranharam estar alguém naquele horário a bater na porta, e foram todos para a capela. Quando abriram a porta, um vulto imponente, de olhar vivo e penetrante entrou. Os frades assustados reparam que apesar de estar muito bem vestido, tinha os sapatos grandes e toscos que deixavam os pés um tanto estranho. O visitante dirigiu-se para onde estava sendo velado o juiz e, parando à frente do caixão, levantou a tampa, segurou o corpo amortalhado e fez com que este vomitasse a hóstia que tinha na boca.
— Que é isto?! – perguntou-lhe com espanto um dos frades. – Não lhe tire a hóstia, pois ele era um homem endemoninhado!
— Não é um homem endemoninhado – respondeu o visitante. - É um servo meu!
E nesse ponto o visitante transformou-se num vulto negro e terrível; depois, elevou-se no ar com o corpo do defunto, e saiu por uma janela com um grande estrondo. Os frades correram para a janela, a tempo de ver os dois corpos unirem-se num só e, com uma risada diabólica, voarem rumo ao espaço, deixando atrás de si um medonho cheiro de enxofre queimado. ®Sérgio.