quarta-feira, 5 de agosto de 2009

POR QUE TANTO PESSIMISMO?

A coisa, realmente, está feia, mas não cabe em você tanto pessimismo. Quê, qué isso? O Millôr já deu a receita, temos de evitar apenas os políticos corruptos, os atos secretos, a democracia do Senado, manobras suspeitas em Brasília, doutores do oculto, a violência crescente, os maníaco-depressivos armados, os batedores de carteira, menores sedutoras, sedutores de menores, menores delinquentes, caixas eletrônicas depois das 22 horas, seqüestro por telefone, os empréstimos consignados, telemarketing, Companhias de Seguro, juros bancários, dicas de investimentos, o caos do trânsito, motoristas cegos, buracos nas rodovias, a dengue, a gripe suína, a febre amarela, a malária, a epidemia de tiques nervosos, a macumba, a poluição do ar, a poluição da água, ostras e peixes contaminados, a devastação da Amazônia, a Extinção Sistemática da Flora e da Fauna, enchentes, a chatice organizada, estranhos movimentos na vizinhança, os missionários santimoniosos, a falta de sono, trocadilhistas, overdose de comunicação, golpes pela Internet, vírus de PC, violação de e-mails, PPEses de auto-ajuda, PPEses de auto de fé, PPEses de psicologismos, correntes virtuais, velhotas topless, divorciadas doidonas, ateus, hereges, cursilhos, psicologismos, o caminho das índias, imposto de renda, No Limite, terapia de grupo..., e pronto, cara. ®Sérgio.

PADRE ANTÔNIO VIEIRA E OS LADRÕES

Padre Antônio Vieira (1608 – 1697) escreveu muitos sermões, dentre os quais se destacam: Sermão da Sexagésima, sobre a arte de pregar; Sermão de Santo Antônio aos Peixes, em que trata da escravidão do indígena; Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal contras as de Holanda, que proferiu por ocasião do cerco dos holandeses à cidade da Bahia; Sermão do Bom Ladrão, que escolhi para retirar alguns trechos, pois apresenta uma visão crítica sobre a corrupção e o comportamento imoral da nobreza da época, e nos leva a refletir sobre a atual corrupção no Brasil.

Navegava Alexandre Magno em uma poderosa armada pelo Mar Vermelho, com o intuito de conquistar a Índia, quando em uma das aldeias conquistadas, trouxeram à sua presença um pirata, que por ali andava roubando os pescadores. Alexandre o repreendeu com severidade por andar em tão mau ofício; porém, o pirata, que não era medroso, nem lerdo, assim respondeu:

— Basta, Senhor! Porque eu roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em uma armada, sois imperador?

Assim é. O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza. O roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres. Mas Sêneca, que sabia bem distinguir as qualidades e interpretar as significações, a uns e outros definiu com o mesmo nome: Se o Rei de Macedônia, ou qualquer outro, fizer o que faz o ladrão e o pirata, o ladrão, o pirata e o rei, todos têm o mesmo lugar, e merecem o mesmo nome.

O ladrão que furta para comer, não vai nem leva ao inferno; os que não só vão, mas levam, de que eu falo, são outros ladrões de maior calibre e da mais alta esfera; os quais debaixo do mesmo nome e do mesmo calibre distingue muito bem São Basílio Magno. Não só são ladrões, diz o santo, os que cortam bolsas, ou espreitam os que vão se banhar para lhes colher a roupa; os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem lhes é dado o governo dos estados, ou a administração das cidades, ou ainda a representação do povo; os quais, com astúcia e malícia, roubam e despojam os povos. Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam países e cidades; os outros furtam debaixo do seu risco, estes sem temor nem perigo; os outros se furtam são enforcados; estes furtam e enforcam.

Diógenes, que tudo via com mais aguda vista que os outros homens, viu uma grande tropa de políticos e ministros da justiça levar uns ladrões para a forca, e começou a bradar: Lá vão os ladrões grandes a enforcar os pequenos! Afortunada Grécia que tinha tal pregador! E mais afortunadas as outras nações, se nelas não sofre a justiça as mesmas afrontas. Quantas vezes se viu em Roma, enforcarem um ladrão por ter roubado um carneiro; e no mesmo dia ser levado em triunfo um cônsul, ou ditador, por ter roubado um país. E quantos ladrões teriam enforcado estes mesmos ladrões triunfantes? De um, chamado Seronato, disse com discreta contraposição Sidônio Apolinar:

— Seronato está sempre ocupado em duas coisas: em castigar furtos, e em fazê-los. — Isto não era zelo de justiça, senão inveja. Queria tirar os ladrões do mundo, para roubar ele só.

Embora a época do Barroco tenha passado, a produção de textos críticos e religiosos não parou. Escritores contemporâneos têm se ocupado com os dilemas do ser humano quanto à existência ou não de Deus, quanto ao destino do homem depois da morte e quanto ao comportamento ético-político e ético-religioso. ®Sérgio.

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Nota: Fiz algumas adaptações no original, para melhor situá-lo no vernáculo de nossos dias.

PINTAR COMO UM CIENTISTA

O Realismo surgiu na segunda metade do século XIX, na França a princípio nas artes plásticas. Os pintores, antes que os literatos, reagiram duramente contra o Romantismo. Os pintores realistas desejavam registrar com realismo o mundo moderno, principalmente a partir de suas experiências pessoais.

A francesa Rosa Bonheur (1822-1889) destacou-se na pintura de animais, cujas imagens de um realismo impressionante, revelavam não só a paixão dela pelo reino animal, como também o trabalho de uma pesquisa quase científica sobre a vida animal. Para pintar a Feira de Cavalos, a artista se disfarçou de homem e, durante um ano e meio rabiscou esboços no mercado de cavalos em Paris, além de trabalhar em um matadouro a fim de melhorar seus conhecimentos de anatomia.

Outro realista radical foi Thomas Eakins (1844-1916), embora hoje ele seja considerado um dos mais importantes pintores norte-americanos do século XIX, seus métodos na época, foram criticados. De modo semelhante ao que ocorreu na literatura do período, sua pintura era o resultado de um verdadeiro estudo científico, como mostra o quadro (estampado no início do texto) A Clínica Agnew, de 1889, no qual está retratado o cirurgião Agnew em uma verdadeira cirurgia de câncer da mama. Chamado pelos críticos de "açougueiro", Eakins até mesmo dissecou cadáveres para aprender anatomia. ®Sérgio.

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Fonte: Guidin, Maria Lígia; Expressões Culturais no Tempo e no Espaço; São Paulo: Escolas Associadas, (sd).