sábado, 19 de junho de 2010

DOR SEM NOME

Jamais nesta vida e, possivelmente, na outra, me cansarei de louvar o poeta Gonçalves Dias. De poesia genuinamente brasileira, foi ele o nosso primeiro e jamais excedido poeta. Digo jamais excedido porque falo de um poeta comum, escrevendo sobre uma realidade comum a todos, na linguagem do homem comum.
Quando Gonçalves Dias viajou para Portugal, acompanhava-lhe seu pai. O poeta buscava instrução e seu pai a saúde. Pouco depois de ali terem chegado, morreu-lhe o pai, que já saíra do Brasil muito doente. Com quatorze anos, achou-se Gonçalves Dias só, em terra estranha. Esta circunstância, agravada pela distância da pátria e da mãe, aumentou-lhe a natural dor da perda do pai. No belíssimo poema autobiográfico “Saudades”, que dedicou à irmã, retirei este fragmento, que expressa os momentos de uma dor que não tem nome:
[...]
De quando sobre as bordas de um sepulcro
Anseia um filho, e nas feições queridas
Dum pai, dum conselheiro, dum amigo,
O selo eterno vai gravando a morte!
Escutei suas últimas palavras,
Repassado de dor! — Junto ao seu leito,
De joelhos, em lágrimas banhado
Recebi os seus últimos suspiros.
E a luz funérea e triste que lançaram
Seus olhos turvos, ao partir da vida,
De pálido clarão cobriu meu rosto
No meu amargo pranto refletido
O cansado porvir¹ que me aguardava!
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1 - o tempo que está por vir, por acontecer; futuro.

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