sábado, 25 de julho de 2009

A CORDINHA

— Sadija, não é preciso ficar segurando a cordinha; deixe-a solta. Entendeu?
— Entendi.
— No momento certo é só puxá-la.
— Entendi.
— Então, podemos ir.
Sadija Mubara e seu marido Ali Hussein deram os últimos retoques em suas roupas, e adentraram o Hotel Radisson, um dos mais elegantes de Amã, a capital da Jordânia. No salão de festas do hotel, onde se realizava uma festa de casamento, separaram-se. Sadija foi para um lado e seu marido para outro.
Enquanto caminhava, lentamente entre os convidados, Sadija repetia em pensamento: “A cordinha... é só puxar a cordinha... é só puxar...“ De repente, uma tremenda explosão irrompeu num dos lados do salão. O marido de Sadija havia puxado a cordinha dele e a bomba atada em sua cintura explodira junto com ele.
Hussein, o homem bomba, já era. O atentado havia se consumado!
A confusão no salão é total. Pessoas correm para um lado e outro, gritando, apavoradas, procurando sair, o mais rápido possível, do salão. Em meio às pessoas que fogem, apavoradas, quem se vê, também fugindo? Sadija, a esposa que jurou a Hussein ser fiel até na morte.
Ela havia entendido "tudinho" sobre a tal cordinha, porém, na hora de trocar sua santa "vidinha" aqui na terra pelo prometido paraíso celeste, ela resolveu ignorar o espírito da coisa e "deu no pé".
Com o poderoso explosivo, amarrado a cintura, por baixo de sua roupa, intacto, Sadija corria agora para sua casa quando foi presa. Na polícia ao ser interrogada, declarou, sem denotar arrependimento: "Meu marido se explodiu. Ele me ensinou como lidar com a cordinha para detonar o cinturão e me explodir como ele se explodiu, mas, talvez, eu tenha feito algo errado (amarelou) e a bomba não explodiu. Paciência. Todo mundo fugiu, e eu saí correndo também".
Salve-se quem puder! ®Sérgio.

REFLEXÕES DE LLOSA SOBRE LITERATURA

"Literatura é mais de que passatempo. É um meio indispensável para formar cidadãos críticos e livres."

"Nenhuma disciplina substitui a literatura na formação da linguagem."

"Uma sociedade sem uma literatura escrita se exprime com menos precisão, riqueza de nuances, clareza, correção e profundidade do que a que cultivou textos literários."

"A pessoa que nunca lê, lê pouco, ou lê apenas lixo pode falar muito, mas vai sempre dizer pouco porque dispõem de um repertório mínimo de palavras para se expressar. Não se trata de uma limitação somente verbal, mas também intelectual, uma indigência de idéias e conhecimento, [...]."

"Sem a literatura, a mente crítica – verdadeiro motor das mudanças históricas e melhor escudo da liberdade – sofreria uma perda irreparável."

"A literatura apazigua a insatisfação existencial apenas por um momento, mas nesse instante milagroso, nessa suspensão temporária da vida, somos diferentes: mais ricos, mais felizes, mais complexos e mais lúcidos."

"A literatura nos permite viver num mundo onde as regras inflexíveis da vida real podem ser quebradas, onde nos libertamos do cárcere do tempo e do espaço, onde podemos cometer excessos sem castigo e desfrutar de uma soberania sem limites."

"Como não nos sentirmos enganados depois de ler Guerra e Paz ou Em busca do tempo perdido e voltar a este mundo de detalhes insignificantes, obstáculos, limitações, barreiras e proibições que nos espreitam de todo o canto e em cada esquina corrompem nossas ilusões?"

"A vida imaginada dos romances é melhor: mais bonita e diversa, mais compreensível e perfeita. Talvez seja esta a maior contribuição da literatura ao progresso: lembrar que o mundo é malfeito e que poderia ser melhor, mais parecido com o que a imaginação é capaz de criar."

"Sem a insatisfação e a rebeldia, ainda viveríamos em estado primitivo, a história teria parado, o indivíduo não teria nascido, a ciência não teria alçado voo, os direitos humanos não teriam sido reconhecidos e a liberdade não existiria. Tudo isso nasce dos atos de desafio a uma vida que se mostra insuficiente ou intolerável."

"A literatura, por sua vez, foi e, enquanto existir continuará sendo um denominador comum da experiência humana. Aquele de nós que leram Cervantes, Shakespeare, Dante ou Tolstoi entendem uns aos outros e se sentem indivíduos da mesma espécie porque, nas obras desses escritores, aprenderam o que partilhamos como seres humanos, independentemente de posição social, geografia, situação financeira e período histórico."

"O elo fraternal que a literatura estabelece entre os seres humanos transcendem todas as barreiras temporais. A sensação de ser parte da experiência coletiva através do tempo e do espaço é a maior conquista da cultura, e nada contribui mais para renová-la a cada geração do que a literatura."

"A literatura é a própria fonte que estimula a imaginação e a insatisfação, que refina a nossa sensibilidade e nos ensina a falar com eloqüência e precisão, que nos torna livres e nos garante uma vida mais rica e intensa, então devemos agir. Precisamos ler bons livros e incitar à leitura aos que vem depois de nós."

Mario Vargas Llosa (nascido Jorge Mario Vargas Llosa) ( Arequipa, Peru, 28 de março de 1936), é um dos maiores escritores de língua espanhola, reconhecido, em nível mundial, como romancista, jornalista, ensaista e político. ®Sérgio.

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O AFILIADO DO DIABO - Recontando Contos Populares

Conta-se que em um sítio do interior brasileiro, havia um pobre sitiante que tinha tantos filhos, que quando nasceu seu caçula, ele nem sabia mais quem convidar para ser padrinho do menino. Poucos dias antes do batizado, desesperado, o caboclo disse à mulher:
— Vou ver se acho alguém que queira ser padrinho de nosso filho.
Montou o cavalo, fincou as esporas e partiu a todo o galope para a cidade. Enquanto galopava pensava: “Arranjar padrinho para o quinto filho já tinha sido difícil, quem ia querer ser compadre de um pé-rapado como ele?” E quanto mais pensava mais inconformado e triste ficava.
O dia passou, e ele ainda não tinha encontrado ninguém que aceitasse ser padrinho do seu filho. Voltava para casa desanimado, quando num entroncamento, deu de cara com uma figura muito bem vestida, montada num belo cavalo.
— Se quiser, posso ser padrinho de seu filho – ofereceu-se a figura, com uma voz estranha.
Um tanto espantado com o cavaleiro que lhe adivinhara o pensamento, mas necessitando de um padrinho para o filho, o caboclo nem cogitou de fazer pensamento do caso:
— Aceito. Você me parece ser rico e culto, que seja meu compadre, padrinho de meu filho!
O cavaleiro abriu um estranho sorriso e respondeu:
— Então faço questão de dar uma festa enorme para celebrar o batizado!
E assim foi. Festa farta e alegre. No final, o estranho homem disse ao compadre:
- Meu compadre, quero lhe fazer um pedido. Quando o menino crescer, vou levá-lo comigo para lhe dar uma boa educação.
O caboclo não gostou da idéia, mas acabou concordando, afinal tratava-se de um homem importante e talvez isso fosse bom para seu menino.
Quando o garoto completou quinze anos, o compadre apareceu e o levou para uma casa imensa, isolada no interior duma floresta. Como passava grande parte do tempo sozinho, o jovem resolveu distrair-se lendo os muitos livros do padrinho. Descobriu então que eram todos livros de magia e bruxaria. Assustado, decidiu fugir antes que o pior acontecesse. Antes, porém, estudou alguns feitiços e aprendeu como poderia transformar-se em animais.
Assim, virou um cavalo e saiu de lá galopando. Mas o padrinho, que era o diabo, foi atrás dele montado em seu cavalo e logo o encontrou no pasto. A perseguição foi longa, e no fim o diabo conseguiu alcançá-lo. Porém, quando o diabo estava para pôr-lhe os arreios, o rapaz disse bem rápido:
— Quero, agora, ser um passarinho!
Imediatamente ele virou um passarinho e voou pelos céus.
E o diabo disse:
— Quero, agora, ser um gavião!
Transformou-se num gavião e saiu outra vez em perseguição ao afilhado. Foi então que, do alto do céu, o garoto viu uma linda jovem sentada na varanda de uma casa. E disse:
— Quero, agora, ser um anel!
Transformou-se num anel e foi parar no dedo da moça. Logo em seguida, virou o belo jovem que de fato era, e pediu à garota:
— Por favor, nunca se separe deste anel em que vou me transformar. Se você o tirar do dedo, eu morrerei. Se alguém quiser comprá-lo, não o venda, atire o anel rapidamente no chão.
Em seguida, virou anel de novo.
Nesse instante apareceu o diabo para comprar o anel. Mas a garota atendeu ao pedido do rapaz e atirou o anel no chão. O anel se transformou no rapaz, e este disse:
— Quero virar grão de milho.
O jovem transformou-se em vários grãos de milho, e o diabo virou um galo para comê-los. Esperta, a jovem pisou nos grãos e espantou o galo. Nisso, o rapaz disse:
— Quero, agora, virar uma raposa.
Transformou-se numa raposa e mordeu o galo. O galo saiu correndo, depois virou um cavalo e sumiu no pasto. A garota deu um beijo na raposa, a raposa virou um rapaz, os dois jovens se casaram e viveram felizes para sempre. ®Sérgio.
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sexta-feira, 17 de julho de 2009

A REGÊNCIA DO VERBO ANSIAR

Ansiar no sentido de desejar ardentemente é transitivo indireto Use-o com a preposição [por]:
Ansiou por ir ao seu encontro.
Ansiava por me ver fora de casa.
Ansiava por me ver fora daquele bar.
Ansiava pelo novo dia.
Ansiar no sentido de causar mal-estar, angustiar é transitivo direto. Use-o sem preposição:
O cansaço ansiava o trabalhador.
A espera ansiava o noivo. ®Sérgio.

UMA HISTORIETA BEM CRETINA

Esta semana "correu" aqui, pela minha cidade, uma historieta bem cretina; tanto é cretina, que poderíamos classificá-la como "humor negro" - um gênero frequente na cultura popular brasileira. Fora a cretinice, tem um enredo bem desenvolvido e bem ao estilo do conto, onde tudo chama, tudo convoca, a um final bastante inspirado. Quanto à autoria, é de costume quando se narra oralmente uma historieta, ninguém perguntar pelo autor. De maneira que uns vão passando aos outros sem se preocupar com nome do "inventor"; e, foi assim, que ela chegou até minhas orelhas:
Um rapaz ganhara um reality show, e como prêmio, foi contratado para filmar um comercial com a Gisele Bündchen. Ao eufórico rapaz fora marcado o dia 15 de determinado mês, para o embarque rumo ao local da filmagem. No entanto, esta viagem poderia ser cancelada caso acontecesse algum imprevisto com a Gisele; neste caso ele seria comunicado via telegrama. Se não recebesse, embarcaria no dia determinado para iniciar as filmagens com a nossa famosa modelo.
O rapaz combinou com os colegas que se não viesse o telegrama até a véspera, daria, nesse dia, uma grande festa de despedida. E assim aconteceu. Na noite de 14, a casa se encheu e haja farra. Música e dança, comes e bebes, entre outras coisas. Como o dia 14 só terminaria à meia-noite, a angústia do rapaz era imensa. Por volta das 10 horas, alguém toca a campainha. Faz-se um silêncio de morte. Como se marchasse para a cadeira elétrica, o jovem se encaminha à porta, tentando convencer-se de que era algum convidado atrasado; de lá, porém, traz pálido e ansioso, o envelope do cabograma. Nervoso, tremulo, abre-o, para depois berrar numa imensa e não contida alegria:
— Pessoal, não é nada, não! Foi minha mãe que morreu!
Que falta de vergonha desse filho da mãe que morreu. ®Sérgio.

QUANDO EU MORRER... - Seleta de Poemas

Seleta de Poemas representa as poesias que li e tocaram-me a alma. Assim, posso compartilhar com vocês as minhas preferências poéticas e homenagear os autores que admiro.
Quando Eu Morrer...
Quando eu morrer o mundo continuará o mesmo,
A doçura das tardes continuará a envolver as coisas todas.
Como as envolve agora neste instante.
O vento fresco dobrará as árvores esguias
E levantará as nuvens de poesia nas estradas...
Quando eu morrer as águas claras dos rios rolarão ainda,
Rolarão sempre, alvas de espuma
Quando eu morrer as estrelas não cessarão de acender-se
no lindo céu noturno,
E nos vergéis onde os pássaros cantam as frutas
continuarão a ser doces e boas.
Quando eu morrer os homens continuarão sempre os mesmos.
E hão de esquecer-se do meu caminho silencioso entre eles,
Quando eu morrer os prantos e as alegrias permanecerão
Todas as ânsias e inquietudes do mundo não se modificarão.
Quando eu morrer os prantos e as alegrias permanecerão.
Todas as ânsias e inquietudes do mundo não se modificarão.
Quando eu morrer a humanidade continuará a mesma.
Porque nada sou, nada conto e nada tenho.
Porque sou um grão de poeira perdido no infinito.
Sinto porém, agora, que o mundo sou eu mesmo
E que a sombra descerá por sobre o universo vazio de mim
Quando eu morrer...
Augusto Frederico Schmidt (1906-1965), poeta da segunda geração modernista, obcecado
com a ideia da morte, cujo sentimento escapa em muitos de seus poemas.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

A PANTERA - Memórias de Um Bipolar

Um dia, e isso já faz tempo, eu ainda era garoto, vi numa pequena jaula de um circo, uma pantera. Ela caminhava de um canto a outro da jaula, incessantemente, seguindo com matemática exatidão, uma linha invariável e virando, a cada vez, na mesma barra. A cada virada, seus pelos negros possuíam estranhos reflexos dourados.

Sua jaula era colocada à frente da entrada do circo; para chamar a atenção do público. Desde manhã até a noite, uma multidão se apinhava diante da jaula; gritavam, resmungavam, mas a pantera em sua patética caminhada, com o focinho abaixado, olhava direto diante de si, sem nunca voltar-se a multidão. Alguns espectadores sorriam, mas a maior parte, como eu, olhava sério, quase triste, aquela imagem viva de um infinito desespero.

Aquela imagem ficou gravada para sempre em minha memória. Sempre que algo não ia bem à minha vida, eu me lembrava da pantera; o que poderia ser pior do que a vida daquele magnífico animal, encarcerado para sempre em uma jaula pouco maior que o tamanho dele?!

Hoje eu acho que aquela visão me marcou, porque havia algo de comum entre o meu destino e o da infeliz pantera. Pois, agora em minha jaula de tijolos, eu também me tornei igual a ela.

Todos aqui são panteras enjauladas. Dia após dia, caminham de um canto a outro do corredor, seguindo sempre uma única direção, sem se importar com o que se passa a sua volta.

Minto!... Nem todos são panteras enjauladas. Há aqueles que abandonados pelos que o colocaram aqui, sozinhos, a mercê do destino, perderam qualquer esperança de dias melhores. Deixaram de caminhar e permanecem sentados, imóveis, mudos, sem um gesto, sepultados até os ombros nos sofás, poltronas e cadeiras do salão; como se todos fossem sombras do nada! Nada do nada!

Há, porém, algo inacreditável aqui: essas panteras enjauladas têm coragem de rirem. Trocam dizeres zombeteiros. Apelidam-se, ridicularizando suas próprias desgraças. Riem da própria infelicidade.

Dizem, entre risadas e gracejos "que aqui o diabo não entra para não ficar com complexo de inferioridade". ®Sérgio.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

A ÁRVORE QUE DAVA DINHEIRO - Histórias de Pedro Malasarte

Vendo-se apertado com a falta de dinheiro e não querendo ter arenga com o dono da pensão, Malasarte saiu bem cedo naquela manhã, para ganhar a vida. Arranjou com o vendedor de mel de jataí um bocado de cera; trocou na mercearia de Seu Joaquim a única nota de dinheiro que lhe sobrara, por algumas de moedas de vintém e caiu na estrada. Caminhou por obra de uma légua ou mais, quando avistou uma árvore na beira da estrada. Chegando ao pé da árvore, parou e pôs-se a pregar os vinténs à folhagem com a cera que arranjara. 
Não demorou muito, deu de aparecer na estrada um boiadeiro que vinha tocando uns boizinhos para vender na vila. E como já ia levantando um solão esparramado, a cera ia derretendo e fazendo cair às moedas. Malasarte, fazendo festas, as apanhava. O boiadeiro acercou-se, curioso, perguntou-lhe o que fazia, e Malasarte explicou:
— Esta árvore é deveras encantada, patrão. As suas frutas são moedas legítimas. Estou colhendo todas, porque vou me bandear pra outra terra e tô pensando em levar a árvore, apesar de todo o trabalho que vai me dar.
— Não me diga isto, sô!
— É o que eu lhe digo, patrão!
— Diacho! Se lhe vai dar tanto trabalho...
E o boiadeiro propôs comprar a árvore encantada. Malasarte, depois de muitas negaças, fechou negócio trocando a árvore pelos boizinhos; em seguida, bateu pé na estrada, vendendo-os na vila por um bom preço.
O boiadeiro mandou alguns de seus peões retirarem, com todo o cuidado, a árvore encantada e a replantou no pomar do seu sítio. Daquele ano até hoje, está esperando ela dar moedas de vinténs. ®Sérgio.

sábado, 13 de junho de 2009

REFLEXÕES SOBRE A INVEJA

"Raros são os homens dotados de bastante caráter para se regozijarem com o sucesso de um amigo sem uma sombra de inveja." (Esquilo, poeta e dramaturgo grego)

"Qualquer um de nós pode compadecer-se do sofrimento de um amigo, mas é preciso uma natureza muito elevada para compartilhar do seu sucesso." (Oscar Wilde)

"Toda a pessoa de valor social, vencedora na luta pela vida, bem sucedida em todos os seus esforços tem na sociedade número incontável de desafetos gratuitos, mesmo entre os que lhe são absolutamente estranhos." (Amadeu Amaral)

"A felicidade de qualquer um é desespero para muitos. Dizer mal e gostar de ouvir falar mal de alguém é um velho cacoete da alma humana." (Austregésilo, no livro Mal da Vida)

"A mais amarga das amarguras é a que nos causam os nossos "amigos". Os outros dissabores nos ferem, por assim dizer, de fora, ao passo que esta nos atinge de dentro e penetra as mais íntimas fibras do nosso ser." (Rohden)

SIMPATIAS PARA CURAR DOENÇAS - Coisas da Nossa Gente

As simpatias de nossa gente são tão incontáveis e interessantes por sua cativante ingenuidade, que não consigo conter o desejo de expor a vocês a minha antologia, todas colidas em diversas fontes:
01 - Quando uma criança está com coqueluche, é bom que uma vizinha, nascida em janeiro e em estado interessante, venha acudir o doente depois da meia-noite. Deve ela dizer todas as vezes que a criança perder o fôlego:
Tosse violenta,
tosse sem fim,
vai-te arrebenta
lá nos confins.
02 - Quando lhe surgir alguma inflamação na pele, unte-a com óleo, fazendo cruzes e pronuncie durante sete dias, a seguinte benzedura:
Eu te atalho
Bicho ou bichão,
Aranhiço ou aranhão,
Sapo ou sapão,
Bicho de qualquer feição.
Eu te atalho
Eu te mínguo
Eu te corto a cabeça
E te furo o coração
Aqui te atalho
Além de mirro.
03 - Para curar mau-olhado ou o quebranto, segure na mão um ramo de alecrim, e diga três vezes:
Virgem Mãe da Conceição,
Mãe do poderoso Deus;
Tirai este mal, este quebranto.
Do corpo de...
Deus te fez, Deus te criou;
Deus perdoa, a quem mal te olhou
Em louvor à Virgem Maria
Padre Nosso e Ave Maria.
04 - Quem sofre de epilepsia precisa beber, em seis dias seguidos, uma xícara de cachaça, que ficou de molho, durante uma semana, no umbigo de um recém-nascido.
05 - Cura-se bêbado inveterado dando-lhe um ovo de coruja mal assado e gotas de suor do cavalo misturado ao vinho.
06 - Quem quiser sarar de mau cheiro nas axilas, deve comprar um lencinho branco e virgem, amarrar numa das suas pontas um real, ir a uma encruzilhada, esfregar o lenço nos sovacos e atirá-lo no meio da estrada. Quem pegar o lenço leva também o bodum (o cheiro forte).
07 - Cortar as unhas na segunda-feira evita dor de dentes. Às sextas-feiras evita nevralgias e unheiros.
08 - Para evitar futuras dores de dentes, ao escurecer, quando o sabiá piar, dar três cuspidas para o lado direito e três para o lado esquerdo.
09 - Para enfermidades no peito, passar sangue de gato preto ou testículos de porco.
10 - Colocar uma cruz feita de palha de milho na cabeça de quem deita sangue pelo nariz, faz a hemorragia estancar imediatamente.
11 – Para curar dor de dente, esprema uma barata, ainda viva, num algodão e aplique o que dela resultar, no dente cariado.
12 – em ferimentos, para estancar a hemorragia, coloque, sobre a ferida, fezes de cavalo castrado, ou teia de aranha.
13 - Para curar o vício de urinar na cama, fazer a criança sentar num formigueiro.
14 - Para ter olhos grandes, brilhantes e bonitos, esfregue olhos de vaga-lumes na criança, diante de um espelho sem muita claridade. Se o trabalho não for bem feito, a criança pode perder "para sempre a vista".
15 - Para curar eczema faça o seguinte: Numa sexta-feira, antes do sol nascer, põe-se no meio do quintal uma bacia cheia d’água na qual, ao meio-dia em ponto, o doente lava o rosto ou outra parte afetada.
16 - Para curar dor de ouvidos, passar por dentro das orelhas o rabo de um gato preto. O doente deve estar em jejum e o tratamento precisa ser repetido três vezes.
17 - Para curar dor de ouvido, passar por dentro das orelhas pó de chocalho de cascavel.
18 - Cabeça de fósforo carbonizada, isto é, depois de usado o fósforo, depositada no orifício feito pela cárie, acaba com a dor de dente.
19 - Para icterícia, chá de grilo.
20 - Quando os pés ficarem adormecidos, trace sobre eles uma cruz com saliva.
21 - Para inflamação na gengiva, passar crista de galo, após ser extirpada do galináceo vivo.
22 - Para hidrofobia, chá de penas de urubu.
23 - Cura-se a asma, comendo, com um pouco de açúcar, uma lesma depois de esmagada e fervida.
24 - Quando se tem um terçol, chega-se a um companheiro e, com a mão, faz-se várias vezes o gesto de como quem passa o incômodo para o olho do outro, e diz-se: "passe pra você, passe pra você…".
25 - Evita-se câimbra, colocando-se um pedaço de aço sob o travesseiro.
26 – Para dor de dente coloque no dente cariado um algodão embebido de creolina.
27 - Raspa de dente de jacaré, tomado como chá, cura qualquer dor.
28 - Para acabar com os problemas de coluna: basta colocar um pau de cana, do tamanho de sua altura, debaixo da cama.
29 - Soprar na boca daquele que se queixa de dor de dente, elimina a dor. O hálito, expelido do interior dos pulmões, é força contrária à dor.
30 - Quando cai um dente, deve-se jogá-lo no telhado. Nasce outro.
31 - Para dores nos rins, chá de saco de bode. ®Sérgio.

domingo, 7 de junho de 2009

SUPERSTIÇÕES E CRENDICES DE NOSSA TERRA

Venho de família campesina, de origem sulista, tanto paterna como materna. Cresci, portanto, ouvindo superstições, lendas e causos contados pelos meus avôs e pelos condutores de boiadas (comitivas) que passavam pelas nossas fazendas. De modo que a cultura popular tem raízes profundas em mim. Por isso, amo de coração as lendas e crendices de nossa gente. São tão incontáveis e lindas por sua cativante ingenuidade, que não consigo conter o desejo de expor a vocês as preferidas de minha antologia, todas colidas em diversas fontes. Aí vão elas, tal qual coletei-as:

• Pôr o chapéu em cima da cama traz azar.

Mulher que está amamentando não deve visitar pessoa mordida por cobra. Se o fizer a pessoa morrerá.

• Quando está ventando muito forte é que o diabo está zangado.

Criança que morre sem ser batizada vira serpente.

• Quando se vê uma pessoa muito preguiçosa, é costume se dizer: Coitado, aquele ali o diabo cruzou os braços.

• Não se deve pregar novamente um botão que cai de qualquer peça do vestuário, porque dá azar.

• Quando se empresta um canivete deve-se devolvê-lo aberto para não haver briga.

Não presta saltar por cima de criança: ela não crescerá mais.

• Quando a porta bate forte, após a nossa saída ou entrada em casa, foi o diabo que a fechou.

• Fazer a barba depois da comida produz congestão.

Apontar estrelas com o dedo faz nascer berruga na ponta do dedo.

• Quem quiser que lhe cresça logo a barba deve passar titica de galinha no rosto.

• Quando desaparece uma coisa qualquer, foi o diabo que levou. O jeito é esperar, porque quando ele não quiser mais, devolve.

Não presta comer cabeça de galinha: faz perder o juízo.

• Redemoinho de vento é diabo está dançando. E se no redemoinho entrarmos, o diabo nos carrega.

Não se deve passar a ferro as costas da camisa de um homem: este se tornará desmoralizado, sem-vergonha etc.

• Presente de lenço desfaz as amizades.

Cortar as unhas na segunda feira é bom remédio para dor de dentes

• Queimar chifre de boi e casca de coco no canto da casa, à noite, espanta o capeta.

Quando uma visita está demorando a ir-se embora e começa a aborrecer joga-se um punhado de sal no fogo. A visita vai-se embora logo.

• Pôr um chifre de boi estrepado na ponta de um pau, no terreiro, espanta o capeta.

• Quem quiser que lhe cresça logo a barba, deve passar titica de galinha no rosto.

• Cortar as unhas às segundas-feiras livra de dor de dentes. Às sextas-feiras evita nevralgias, unheiros.

• Raspa de dente de jacaré, tomada como chá, cura qualquer dor.
• Nas sextas-feiras, ao nos levantarmos, se virmos uma pessoa preta, o diabo vai nos atentar o dia inteiro.
Borboleta preta é sinal de que algo de mal vai acontecer.
Quando se perde alguma coisa e não se consegue encontrar, toma-se uma palha de milho e damos-se nela três nós, com o que se amarra o diabo, e o objeto perdido aparecerá. Mas, depois de encontrá-lo não se deve esquecer-se de desmanchar os nós, se não tudo de ruim acontecerá na casa.
• Quando a gente se despede de uma pessoa de quem não gosta, fala assim (alto no começo e baixinho no final): "Vai com Deus e Nossa Senhora... o diabo atrás tocando viola.
Segundo a crença de nossos sertanejos, a figueira é planta do diabo. A sexta-feira não se deve passar por baixo de figueiras. É tido como certo que nas figueiras, nesse dia da semana, há reunião de demônios que ali fazem suas orgias.
Alguém, por certo, ira pensar: "Mas isso é criancice".
Criancice? Deus me conserve as minhas criancices! ®Sérgio.

ADJETIVO POSPOSTO A DOIS OU MAIS SUBSTANTIVOS

Para o Adjetivo Posposto a Dois Ou Mais Substantivos haverá duas opções de concordância:
1ª. O adjetivo concorda com o substantivo mais próximo:
   Encontramos uma jovem e um homem preocupado.
   Encontramos um homem e uma jovem preocupada.
Ou vai para o plural, concordando com os substantivos. Se os substantivos forem de gêneros diferentes prevalecerá sempre o masculino:
   Encontramos uma jovem e um homem preocupados.
   Encontramos uma jovem e uma mulher preocupadas.
As Exceções:
a) Se os substantivos forem sinônimos ou puderem ser considerados sinônimos, o adjetivo concordará com o mais próximo:
   Luís tinha ideia e pensamento fixo.
   Luís tinha pensamentos e ideias fixas.
b) Se os substantivos forem antônimos o adjetivo deverá ir obrigatoriamente para o plural: Passei dias e noites frios na Europa.
c) Se o adjetivo só puder referir-se ao último substantivo porque o sentido assim exige, só com ele fará a concordância:
   Comprei livros e pera madura (livros não amadurecem). ®Sérgio.

ADJETIVO ANTEPOSTO A DOIS OU MAIS SUBSTANTIVOS

O Adjetivo Anteposto a Dois ou Mais Substantivos concorda, por norma, com o substantivo mais próximo:
   Manifestou profundo respeito e admiração.
   Manifestou profunda admiração e respeito.
Se os substantivos forem nomes próprios, ou nome de parentesco, o adjetivo deverá ir ao plural, obrigatoriamente:
   Os esforçados Enéas e Luís.
   Os esforçados pai e mãe®Sérgio.

PENSAMENTOS DE UM DEPRESSIVO

"Aumenta meu sofrimento verificar que perdi aquilo que fazia o encanto de minha vida: a sagrada e tumultuosa força graças a qual podia criar mundos e mundos em torno de mim. Essa força não mais existe."

"Quando contemplo, de minha janela, o sol matutino rasgar a bruma sob a colina distante, iluminando a campina silenciosa no fundo do vale, e vejo o riacho tranqüilo correndo para mim serpenteando entre os salgueiros desfolhados, essa natureza me parece fria e inanimada como uma estampa colorida. Todos esses encantos não podem fazer subir do coração ao cérebro a menor sensação de felicidade, e todo o meu ser permanece perante Deus como uma fonte estancada, como um ânfora vazia."

Johann Wolfgang Von Goethe, Os Sofrimentos do Jovem Werther.

PEENSAMENTOS DE UM DEPRESSIVO (2)

"Aumenta meu sofrimento verificar que perdi aquilo que fazia o encanto de minha vida: a sagrada e tumultuosa força graças a qual podia criar mundos e mundos em torno de mim. Essa força não mais existe."

"Quando contemplo, de minha janela, o sol matutino rasgar a bruma sob a colina distante, iluminando a campina silenciosa no fundo do vale, e vejo o riacho tranqüilo correndo para mim serpenteando entre os salgueiros desfolhados, essa natureza me parece fria e inanimada como uma estampa colorida. Todos esses encantos não podem fazer subir do coração ao cérebro a menor sensação de felicidade, e todo o meu ser permanece perante Deus como uma fonte estancada, como um ânfora vazia."

Johann Wolfgang Von Goethe, Os Sofrimentos do Jovem Werther.

sábado, 6 de junho de 2009

II POVERELLO - Seleta de Poemas

Seleta de Poemas representa as poesias que li e me emocionaram. Assim, posso compartilhar com vocês as minhas preferências poéticas e homenagear os autores que admiro.

Poverello significa o Pobrezinho, diminutivo carinhoso pelo qual era tratado São Francisco de Assis.

II POVERELLO

Desgrenhado e meigo, andava na floresta.

Os pássaros dormiam em seus cabelos.

As feras o seguiam mansamente.

Os peixes bebiam-lhe as palavras.

Dentro dele todo o caos se resolvera,

Numa ingênua certeza: — “Preguei a paz,

Mostrei o erro, domei a força, curei o mal.

Antes de mim o crime. Depois de mim o amor.”

Mas a floresta esqueceu no outro dia,

O bíblico sermão e novamente o lobo comeu a ovelha,

A águia comeu a pomba,

Como se nunca houvera santos e sermões.

José Paulo Paes (1926 - 1998)

GALINHAS NO TRÁFICO

A leitura de revistas nos proporciona, muitas vezes, surpresas inacreditáveis. Vejam:

Na Colômbia, os traficantes estão aliciando até as galinhas para o tráfico. Mas é galinha mesmo, fêmea do galo, a tal da penosa.

A polícia colombiana prendeu uma galinha que continha pacotes de cocaína presos nas patas e nas asas. Com certeza, não era para consumo próprio, não consigo nem imaginar, como faria uma galinha viciada, para cheirar uma coca da boa.

Por lá, não chegou a ser uma grande novidade. Há um ano prenderam um pavão (ave) com drogas no organismo, isto é, com cápsulas de drogas no organismo. ®Sérgio.