Venho de família campesina, de origem sulista, tanto paterna como materna. Cresci, portanto, ouvindo superstições, lendas e causos contados pelos meus avôs e pelos condutores de boiadas (comitivas) que passavam pelas nossas fazendas. De modo que a cultura popular tem raízes profundas em mim. Por isso, amo de coração as lendas e crendices de nossa gente. São tão incontáveis e lindas por sua cativante ingenuidade, que não consigo conter o desejo de expor a vocês as preferidas de minha antologia, todas colidas em diversas fontes. Aí vão elas, tal qual coletei-as:
• Pôr o chapéu em cima da cama traz azar.
• Mulher que está amamentando não deve visitar pessoa mordida por cobra . Se o fizer a pessoa morrerá.
• Quando está ventando muito forte é que o diabo está zangado.
• Criança que morre sem ser batizada vira serpente .
• Quando se vê uma pessoa muito preguiçosa, é costume se dizer: Coitado, aquele ali o diabo cruzou os braços.
• Não se deve pregar novamente um botão que cai de qualquer peça do vestuário, porque dá azar.
• Quando se empresta um canivete deve-se devolvê-lo aberto para não haver briga.
• Não presta saltar por cima de criança : ela não crescerá mais .
• Quando a porta bate forte, após a nossa saída ou entrada em casa, foi o diabo que a fechou.
• Fazer a barba depois da comida produz congestão.
• Apontar estrelas com o dedo faz nascer berruga na ponta do dedo .
• Quem quiser que lhe cresça logo a barba deve passar titica de galinha no rosto.
• Quando desaparece uma coisa qualquer, foi o diabo que levou. O jeito é esperar, porque quando ele não quiser mais, devolve.
• Não presta comer cabeça de galinha : faz perder o juízo .
• Redemoinho de vento é diabo está dançando. E se no redemoinho entrarmos, o diabo nos carrega.
• Não se deve passar a ferro as costas da camisa de um homem : este se tornará desmoralizado, sem-vergonha etc.
• Presente de lenço desfaz as amizades.
• Cortar as unhas na segunda feira é bom remédio para dor de dentes
• Queimar chifre de boi e casca de coco no canto da casa, à noite, espanta o capeta.
• Quando uma visita está demorando a ir-se embora e começa a aborrecer joga-se um punhado de sal no fogo . A visita vai-se embora logo .
• Pôr um chifre de boi estrepado na ponta de um pau, no terreiro, espanta o capeta.
• Quem quiser que lhe cresça logo a barba, deve passar titica de galinha no rosto.
• Cortar as unhas às segundas-feiras livra de dor de dentes. Às sextas-feiras evita nevralgias, unheiros.
• Raspa de dente de jacaré , tomada como chá , cura qualquer dor .
• Nas sextas-feiras, ao nos levantarmos, se virmos uma pessoa preta, o diabo vai nos atentar o dia inteiro.
• Borboleta preta é sinal de que algo de mal vai acontecer .
• Quando se perde alguma coisa e não se consegue encontrar , toma-se uma palha de milho e damos-se nela três nós , com o que se amarra o diabo , e o objeto perdido aparecerá. Mas , depois de encontrá-lo não se deve esquecer-se de desmanchar os nós , se não tudo de ruim acontecerá na casa .
• Quando a gente se despede de uma pessoa de quem não gosta, fala assim (alto no começo e baixinho no final): "Vai com Deus e Nossa Senhora... o diabo atrás tocando viola.
• Segundo a crença de nossos sertanejos , a figueira é planta do diabo . A sexta-feira não se deve passar por baixo de figueiras . É tido como certo que nas figueiras , nesse dia da semana , há reunião de demônios que ali fazem suas orgias .
Alguém, por certo, ira pensar: "Mas isso é criancice".
Criancice? Deus me conserve as minhas criancices! ®Sérgio.
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