terça-feira, 1 de outubro de 2013

A PEDRA DE DIAMANTE - Contos Populares

Já faz muito tempo, numa roda de boteco, nego João, velhaco como ele só, se gabava de que fazia somente aquilo que queria. Vai daí que um dos formavam a roda, querendo desmascarar a gabolice de João disse-lhe assim:
— Já que você é tão esperto, quero ver se é capaz de ir à casa do Dr. Glacindo e almoçar com ele na mesa. Se conseguir fazer isso, ganhará dez mil réis como prêmio pela esperteza.
Esse Dr. Glacindo era um sujeito bonachão, orgulhoso, muito cheio de si, e muito rico. Não tirava o chapéu a ninguém. Tratava a todos com pouco caso.
Nego João tomou um gole de cachaça, guspiu grosso, limpou os beiços com as costas da mão e respondeu:
— Eh! Nego João vai almoçá na mesa cum seu doutô. Num prometo o que num cumpro. Tô com esses mil réis na mão. Vou mostra a vancês tudo cumo se ganha dinheiro à toa...
No dia seguinte, justamente na hora do almoço de seu doutor, João foi rondar a casa e, quando viu que “seu” doutor já estava na mesa com a família e com dois manda-chuvas do lugar, bateu na porta com força. E, quando veio o criado abrir foi entrando muito tal e qual, com ar de importância, como se ninguém pudesse com ele.
Enveredou pela sala de jantar, encarou o doutor que olhava para ele carrancudo e espantado, e disse-lhe assim, baixinho, com jeito de quem pergunta:
— Eh, doutô, uma pedra de diamante deste tamanho quanto é que vale? E apontou para o bolso onde, supostamente, tinha a dita pedra do tamanho de um limão.
O doutor pensando que de verdade nego João havia encontrado algum diamante tão grande, não querendo revelar o segredo às outras pessoas daquele achado, mudou de conversa:
— Então João, você como vai? Já almoçou? Senta. Mariquinha traga prato e talher para o João.
O malandro do João que estava todo elegante, no terno branco que emprestou de um amigo, sentou-se à mesa e pôs-se a comer limpando o prato.
O doutor fez com que o almoço acabasse depressa tão aflito estava para ver a tal pedra de diamante.
Não demorou muito, levantaram-se todos da mesa e o doutor carregou João para o escritório e lhe perguntou, muito baixinho:
— Então, meu nego, que é da pedra?
— Pedra, que pedra...
— A pedra de diamante...
— Nego João não tem pedra de diamante nenhuma... Quem sou eu para possuí pedra de diamante!...
— Pois você, nego do diabo, não disse que achou um diamante?...
— Ieu!...
— Então, patife, porque é que perguntou quanto vale uma pedra de diamante deste tamanho?...
— Eh, doutô, ieu queria sabê que é pra quando ieu achá, ozoutros não mi lográ no preço...
O doutor, bufando de raiva, correu com ele pela porta fora. E nego João foi ao encontro do pessoal que o esperavam no boteco. O apostador lhe pagou os dez mil réis e depois fizeram uma grande bebedeira. ®Sérgio.

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