quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

A MULHER QUE PRENDEU O DIABO - Recontando Contos Populares

Um marido muito ciumento tendo que fazer uma viagem e não depositando confiança na mulher, disse aborrecido:
— Isto é o diabo!
Mal acabara de exclamar, o cujo lhe apareceu e perguntou:
— Por que me queres?
Como o marido não tinha mesmo solução para seu problema, respondeu:
— Tenho que viajar e queria que você tomasse conta de minha mulher.
O diabo que nem por sombras podia imaginar o que lhe ia suceder, aceitou a incumbência. Além do mais, ia ganhar aquela alma...
No dia seguinte o homem partiu, deixando em casa o diabo - na forma humana - como empregado de cozinha. Mas sua mulher, que não era nada tola, percebeu que o criado era o cujo, porque tudo o que lhe mandava fazer, fazia-o num repente.
— Vá moer aquele quarto de café!
E num instante o diabo voltava com o café em pó.
— Vá moer aquele meio saco de milho!
E, sem mais demora, ele estava de volta com o meio saco de fubá. Mas mulher é bicho pior que o diabo. Vai daí, que o chamou e lhe disse:
— Estou admirada com o seu poder, porque tem feito coisas que parecem milagres. Mas duvido que consiga fazer uma coisa. Não é capaz de entrar naquela garrafa...
E lhe apontou uma, vazia de líquido. Ora, o diabo que é muito vaidoso e orgulhoso, ficou tentado em mostrar todo o seu poder e mais que depressa se meteu pela garrafa adentro. Mal ele acabou de entrar, a mulher arrolhou a garrafa, de maneira que o diabo ficou preso e ela pode gozar da liberdade que ambicionava.
Quando o marido voltou, foi recebido com beijos e afagos pela mulher, a quem ele perguntou pelo criado.
— Ah, maridinho do coração, ele saiu, não sei para que, e não voltou mais. Também aquilo parecia o diabo. Olha que cheiro de enxofre ficou em casa...
Era uma catinga de pano queimado que ela pusera para queimar, pois o diabo estava preso na garrafa, danado de raiva...
— É mesmo, mulher, que catinga! O que havemos de fazer?
— Só há um jeito, corre à igreja com esta garrafa e enche-a de água benta para espalhar na casa. O marido, um tanto aturdido com os acontecimentos, pegou a garrafa e fez o que a mulher lhe mandava.
Quando entrou na igreja e desarrolhou a garrafa para encher na pia benta, esta, ao encostar-se a água, deu um estouro e o diabo atordoado com a água benta e avistando os santos nos altares, saiu zunindo, como um raio, e ninguém mais soube dele. O marido, muito espantado e mais aturdido ainda, voltou para casa sem saber explicar o acontecido e sem ter conhecido o segredo da mulher.
É como diz o ditado: mulher quando quer nem o diabo a guarda. ®Sérgio.
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Nota Sobre o Texto: Este causo também corre em Portugal. Serviu de tema para o conto O Almocreve e o Diabo.

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