Do Grego katákhresis (= uso impróprio, abuso) e denominada abusio em Latim. A catacrese é uma
metáfora estereotipada, mas obrigatória, por atender a uma necessidade de uso,
e não por um efeito expressivo. De feição nitidamente popular, resulta a
catacrese da ausência de um termo próprio para designar determinado objeto ou
coisa (pernas da mesa, cabeça de alfinete, etc.). É um fenômeno da pobreza (inópia)
do sistema linguístico, que falha diante da necessidade de designação de uma
palavra, fazendo esta representar com base numa pura analogia, um objeto ou
parte de um objeto para os quais não existem nomes de referência particulares; conduzindo-a,
às vezes, ao estabelecimento de relações de semelhança, até abusivas e
forçadas. Ou, existindo a palavra, no caso um termo exato ou técnico,
substituí-lo por um menos formal. A catacrese aproxima-se da metáfora, ou chega
mesmo a confundir-se com esta: Veja os exemplos:
- Barriga da perna em vez de
panturrilha.
- Céu da boca em vez de
palato.
- Embarcar num trem
(embarca-se na barca).
- Enterrou uma farpa no dedo
(enterra-se na terra).
-
Braço de mar - dente de alho - pé de montanha.
Essas metáforas já foram incorporadas pela
língua, ou seja, perderam seu caráter inovador, original e transformaram-se
numa metáfora comum, morta, que não mais causa estranheza. Em outras palavras, transformaram-se
numa catacrese. Porém será um deslize gramatical quando não vier duma
necessidade, ou seja, quando o ser ou coisa já ostentar expressão própria; por
exemplo:
- Bebeu a sopa, em vez de,
tomou a sopa.
-
Arrancou laranjas, em vez de, colheu laranjas.
Fora daí, admite-se a catacrese
como enriquecimento metafórico:
"Dobrando o cotovelo da estrada, Fabiano sentia
distanciar-se um pouco dos lugares onde tinha vivido alguns anos; [...]." (Graciliano Ramos, Vidas Secas.) ®Sérgio.
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