quarta-feira, 27 de abril de 2011

O ENCONTRO DE MALASARTE E O DIABO

Pedro Malasarte, em suas andanças, ouviu, por um acaso, que o diabo era a criatura mais esperta do mundo. Todos os dias que depois vieram, uma ideia fixa dominou-o por completo: enganar o diabo, para mostrar que era mais esperto que o maldito. Acordado, dormindo, amanhecendo, anoitecendo, por cada dia, Malasarte remoia mil e um planos. Nisto ele soube que sua mãe havia morrido, e, como era muito amoroso, foi logo a casa da mãe. Lá encontrou os irmãos que se fingiam de chorosos e, estirada sobre uma mesa, o corpo da pobre mãe. Foi nessa visão que lhe veio a ideia que andava buscando há tanto tempo. Ele derramou, também, algumas lágrimas e resolveram logo fazer a partilha.
Os irmãos começaram a escolher o que havia de melhor. Mas Malasarte disse:
— Eu quero somente duas coisas: o corpo de minha mãe e o cavalo.
Os outros estranharam, porém como eram umas "coisicas" de nada, aceitaram. Pedro amarrou o corpo da velha na sela do cavalo, em posição de cavaleiro e cobriu-a com um xale. Depois, saiu, puxando o cavalo, rumo ao inferno.
Quando o dia já estava pronto para amanhecer, Pedro foi dar numa grande e funda grota, entre duas montanhas. Escondido muito lá embaixo ficava o inferno, um casarão longo com teto de zinco. Malasarte bateu à porta e nada. Bateu de novo, uma, duas, três vezes, nada. Por "embirra" começou arremessar pedras no telhado de zinco; é inarrável a barulhada que fez. Não teve espera, a porta abriu-se surgindo um diabinho que perguntou a Pedro o que desejava.
— Falar com o diabo, respondeu.
O diabinho desapareceu e logo se apresentou o Diabo em pessoa. Malasarte mostrando-lhe a velha, que à luz minguada daquele lugar parecia viva, contou que se achava na extrema miséria e a família passando fome. Sabendo que o Diabo comprava almas, trazia ali a sua mãe, cuja alma estava decidido a vender; pois era o único recurso que tinha para salvar a família da fome. O Diabo consultou o livro do inferno e viu que o nome da velha não estava registrado, então pulou de contente e mostrou-se disposto a fechar o negócio.
Depois de discutirem todos os termos da transação, o Diabo entregou a Pedro 500 contos, conforme ficara combinado. Pedro voltou para a cidade, acompanhado por um diabinho que tinha por missão carregar a alma da velha logo que esta morresse. O diabinho que o acompanhava era um tanto sonso. Então, ao chegarem a uma campina, Malasarte, a pretexto de que a cidade, ainda, estava muito longe e que a velha não podia apanhar friagem, pediu ao diabinho para abrir um buraco fundo ao pé de uma árvore e nele colocou a velha mãe.
— Se ela morrer nesta cova, disse ao diabinho, mal não será.
O diabinho achou que era verdade e riu-se com gosto.
Como a noite vinha caindo, ali mesmo acamparam, e logo que raiou o dia, Pedro explicou ao emissário do demo, que a velha não tinha aguentado, morreu dentro do buraco, e pediu-lhe que fosse avisar o Diabo. Este logo viu que tinha sido ludibriado, pois a alma comprada não havia chegado ao inferno, sendo que não podia estar no Céu nem no Purgatório. Rubro de raiva partiu à procura de Pedro, e encontrou-o; mas este sem lhe dar tempo para o menor movimento, mostrou-lhe uma cruz que trazia consigo. E nesse ponto o diabo transformou-se num vulto negro e terrível; depois, elevou-se no ar, e desapareceu, com grande estrondo, numa nuvem negra. ®Sérgio.

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