quarta-feira, 6 de maio de 2009

SOBRE UM DEPRIMIDO

É bem difícil julgar vultos do passado. Existiram homens estranhos, paradoxais que provocaram opiniões apaixonadas e, ainda hoje, continuam a ser bastante discutidos. O fator tempo, nossas simpatias, idiossincrasias, influem de modo decisivo em nossos julgamentos.

Na História da Humanidade também iremos encontrar muitos homens célebres que sofreram das mais variadas doenças. Veja-se Alexandre da Macedônia, que depois de derrotar Dario - rei dos Persas, de conquistar todas as fortalezas, de vencer todos os reis da terra e avançado até os confins do globo; caiu enfermo e compreendeu que ia morrer.

Dentre essas doenças muitos sofriam de depressão. Porém, destes, raros foram os que nunca se renderam totalmente ao seu desespero de deprimido.

Falo de um homem singular, Paulo VI, Giovanni Battista Enrico Antonio Maria Montini (1897 - 1978), foi Papa da Igreja Católica Romana do dia 21 de junho de 1963 até a data da sua morte, em 06 de agosto de 1978.

Um heróico deprimido, que como poucos, teve do mundo e dos homens uma visão tão angustiada e ao mesmo tempo cheia de esperança. Não muito antes que a morte o levasse, no final de uma tarde de verão, fez sua última anotação:

“Esta vida mortal, apesar das suas preocupações, dos seus mistérios obscuros, dos seus sofrimentos e da sua caducidade fatal, é um fato belíssimo, um prodígio sempre original e comovente, um acontecimento digno de ser cantado em [prosa e verso¹].”

Quando li suas últimas palavras diante deste mundo de Deus, recordei-me de um trecho do poema "Em Deus, meu Criador" de José de Anchieta, que, a bem da verdade, poderia ter sido o “adeus” de Paulo VI:

Contente assim minh'alma,

Do doce amor de Deus,

Toda ferida,

O mundo deixa em calma,

Buscando a outra vida,

No qual deseja ser

Absorvida.²

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1- Inserção feita por mim. No original está escrito: “em alegria e glória”.

2 - No poema "Em Deus, meu Criador", Anchieta traduz a sua visão do mundo arredia em relação aos bens terrenos.

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