quarta-feira, 6 de maio de 2009

A INVEJA É O DIABO...

O coronel José Lourenço era um fazendeiro corpulento quase um obeso, com olhos de uma brabeza que só com o olhar mandava um boi se ir de castigo. Naquelas redondezas ninguém era homem de acertar contas com o excomungado do coronel. Era dono de usinas, plantações, gado e uma enorme fazenda: dois mil alqueires de terra, toda em pastos; coisa para se perder de vista. Tanto pasto assim, necessita de muita gente para cuidar do gado; portanto, para comandar toda essa peonada, o coronel tinha dois bons capatazes, que eram na fazenda, seu braço direito e esquerdo.
Vai daí, que um dos capatazes, o Teodoro, tinha inveja do outro, o Francisco, braço direito do coronel por ser muito valente e excelente boiadeiro. Motivo pelo qual deixava Teodoro tomado de inveja e ódio.
Certo dia, o coronel resolveu apartar umas vacas no pasto. Partiu bem cedo, levando para lhe auxiliar o Teodoro, pois Francisco tinha de marcar uns bois comprados recentemente.
No caminho, quando os cavalos pegaram na marchinha costumeira, o Teodoro disse ao coronel:
— Tem uma coisa que careço de dar parte ao senhor.
— Que é que é, Teodoro?
— O que é? É que eu sei no certo, mas no certo mesmo, que o Francisco tá apaixonado pela Dona Alice (mulher do coronel).
— Eh, baio!... Eh-ê-ê-eh, baio!...
O Coronel puxa o freio do seu cavalo e as ancas do animal param de balançar; acende um cigarro de palha, cuspe grosso, como é de costume, e diz ao capataz:
— Ora, essa é boa. Esse bedamerda de capataz me querendo fazê de besta. Vou mostrar presse malagradecido que a mim José Lourenço Soares, filho do senador Agripino Soares ninguém logra!
Riu seu riso grosso, de dentes de ouro. Riso de quando irado. E num repelão, por riba dos ombros decretou:
— Escuta Teodoro: vá até ao alojamento da fazenda e diz pros dois soldados lá arranchados, que eu estou esperando por eles lá no engenho velho.
— Estou indo, seô Coronel...
— E vá a galope! – resmungou o coronel.
Na mesma hora os ferros das esporas do capataz tiniram, os arreios do cavalo rangeram e o animal arrancou, na carreira, jogando touceiras de pasto para trás.
Esses dois soldados, cedidos pelo delegado da cidade, eram soldados e, também, jagunços do coronel. Serviam para fazer o serviço "corretivo" da fazenda.
Quando os soldados chegaram ao engenho, imediatamente o coronel explicou a situação e combinou com eles de que, naquela tarde, o capataz viria ao engenho pegar umas rapaduras; quando então eles deveriam dar-lhe um fim e depois jogá-lo ao forno do engenho.
Chegando a fazenda o coronel Lourenço mandou chamar Francisco - vítima inocente da intriga de Teodoro - e lhe pediu par ir, no meio da tarde, até ao engenho buscar umas rapaduras. Em seguida, foi ter com Teodoro e lhe explicou o que ia suceder e que, algum tempo depois que o Francisco saísse para o engenho, lá fosse para certificar-se de que o serviço havia sido feito.
Beirando aí às três da tarde, Francisco encilhou o cavalo, montou-o e partiu a galope para a morte. Para chegar mais rápido ao destino, o capataz resolveu pegar um atalho pelo pasto donde estava parte de uma boiada. Foi quando um boizão bufou na orelha do seu cavalo, que refugou, arrancou para trás, para a esquerda e para a direita, entortando o pescoço. Francisco balançou, pendeu por meio segundo e veio sela abaixo, batendo com a cabeça no casco do cavalo; tonteou, desmaiou, e assim ficou, coberto pelo capim duro do cerrado, por um bom tempo.
Teodoro, ansiando por saber se as ordens do Coronel foram fielmente cumpridas, meteu galope em direção ao engenho. Ao chegar, não deu nem para perguntar, os jagunços o agarraram e... babau. Forno com ele. Assim morreu Teodoro, o invejoso, o intriguista.
É... seu Doutor! A inveja é o diabo, quem deve a Deus paga ao diabo! ®Sérgio.

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