terça-feira, 5 de maio de 2009

A MÁXIMA DE SALVADOR DALI

Em 1936, Salvador Dali foi com um amigo, Maurício Heine, a uma exposição de pintura abstrata. Enquanto estavam na galeria, Dali não tirava os olhos de um canto da sala onde não havia nada exposto.
— Você parece estar evitando olhar para as telas – comentou seu amigo – parece estar atraído por algo invisível.
— É verdade, mas não tem nada de invisível. Não consigo afastar os olhos daquela porta. É de longe o objeto mais bem pintado desta galeria – respondeu-lhe Salvador Dali.
Maurice, visivelmente interessado nas obras expostas, não a tinha reparado. Mas agora, ao notá-la, viu que não tinha como negar a observação de Dali.
— Nenhum dos pintores — continuou Dali – que estão expondo nessa mostra seria capaz de pintar aquela porta; por outro lado, o pintor de paredes que lhe aplicou a tinta poderia melhorar qualquer dos quadros expostos que quisesse copiar.¹
Nada mais coerente com esse pequeno acontecimento do que o próprio conceito de Dali sobre o artista plástico: "O verdadeiro pintor é aquele capaz de pintar cenas extraordinárias em meio a um deserto. O verdadeiro pintor é aquele capaz de pintar uma pera, rodeado dos tumultos da história".
Assim foi Salvador Felipe Jacinto Dali; excêntrico e possuidor de uma aguçada visão artística que conferiu a sua obra o reconhecimento de uma das mais apuradas e audaciosas da pintura surrealista. ®Sérgio.
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1 – Essa passagem da vida artística de Dali foi traduzida e adaptada a narrativa em terceira pessoa de Pensées et Anecdotes, Lê Cherche Mide, Paris.

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