Foi então que esse caboclo convidou seu amigo, que
era muito medroso, para uma caçada em um lugar onde diziam haver onças.
— Nessa eu não caio – respondeu o convidado. Dizem
que por lá há cada pintada que é mesmo um perigo...
— Que perigo nada! Não aparece onça nenhuma! É tudo
conversa fiada!...
— E se aparecesse uma onça macha e viesse para nosso
lado? Onça é bicho doido; mal percebe no caçador qualquer sinal de vacilação, ela
vem feito gato querendo pegar passarinho: deitada, escorregando, devagarzinho,
com a barriga no chão, numa maciota, só com o rabo balançando... Os olhos
alumiando verde e as presas enormes começando a brotar dos cantos da boca...
— Se ela aparecesse, bicho doido ou não, fosse o que
fosse, engatilhava minha espingarda de dois canos, e esperava... Quando a onça
apanhasse certa distância, tacava-lhe fogo, e ela já era...
— E se o tiro falhasse?
— Disparava o outro cano.
— E se negasse fogo?
— Então, ora essa! Num pronto arrancava meu facão de
mato, e esperava a "bicha", e não tinha talvez...
— E se o facão não estivesse na bainha? Como às
vezes acontece à gente perder na mata ou esquecer em casa, com a pressa de
sair...
— Ah! Mano velho! Vou lhe dizer, nesse caso, não há
outro remédio: pernas para que te quero...
— E se a onça, vai que vai, estivesse quase nos
apanhando?
— Sem mais demora, ia para perto de um angico novo, trepava
mais que depressa e ali ficava, chamando a onça de todo o nome feio que tem,
até ver que a pintada alisasse a cara e fosse embora. Onça não sobe em árvore
fina – se diz – porque ela não tem poder de abraçar com as munhecas.
— E me deixava no perigo, não é?! O que eu estou
vendo é que você é mais "amigo da onça" do que meu! Nada de caçada! ®Sérgio.
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