"Os Reis Fernando e Isabel de Espanha entraram
para a história por duas razões: o financiamento da viagem de Cristóvão Colombo
e o apoio total às execuções em massa ordenadas por Tomás de Torquemada, fins
do século XV, em nome da Inquisição. Tomás de Torquemada, inquisidor-mor
da Espanha, mandou para a fogueira, entre 1483 e 1498, nada menos do que oito
mil pessoas acusadas de feitiçaria."
No livro - La
Inquisición de Logrono y um Judaizante Quemado, em 1719, do historiador espanhol Fidel Fita Colomé
(1835-1918), descreve-se a queima de um cristão-novo:
Era uma manhã de agosto; o condenado já
está amarrado ao poste; um padre passa-lhe diante do rosto uma tocha (para
preveni-lo do que o espera se não se arrepender). A sua volta, acham-se outros
religiosos, todos insistindo para que o mesmo se converta. Tais pedidos (rogos)
se prolongam, cada vez com mais insistência, durante certo tempo; até que, em
dado momento, o réu decidiu-se à conversão. Com perfeita serenidade diz: "Quero
converter-me a religião de Jesus Cristo". Palavras, estas, que não se
ouvira dele até aquele momento. Isso deixou os religiosos bastante alegres, que
o abraçaram com ternura e deram infinitas graças a Deus por ter-lha aberto uma
porta para a conversão.
Quando fazia sua confissão
de fé, um padre da Ordem dos Franciscanos perguntou-lhe: "Em que lei
morrerá?" Ele virou-se, e olhando nos olhos do religioso, disse-lhe:
"Padre já lhe disse que morro na religião de Jesus Cristo." Todos
novamente se alegraram e o franciscano que se achava ajoelhado levantou-se e
abraçou o criminoso. Nesse momento, o criminoso viu o carrasco - que se mantivera,
até um pouco antes, atrás do poste onde aquela alma convertida se encontrava
amarrada, e perguntou-lhe: "Porque você me chamou de cão antes?" O
carrasco respondeu: "Porque negou a religião de Jesus Cristo; mas agora
que confessou, somos irmãos, e, se lhe ofendi pelo que falei, peço perdão de
joelhos." O criminoso perdoou-o e ambos abraçaram-se.
Desejoso de que não se
perdesse aquela alma que havia dado tantos sinais de conversão, dirigi-me (o
inquisidor) casualmente para trás do poste, onde estava o carrasco e dei-lhe
ordem para que o estrangulasse imediatamente, porque era muito importante não
haver demora. Ele fez isso com grande presteza.
Assegurando-se de que o
condenado estava morto, o carrasco recebeu ordem para atear fogo nos quatro
cantos da pilha de lenha e carvão. Fê-lo imediatamente e a pilha começou a
queimar de todos os lados, erguendo-se as chamas rapidamente na plataforma e
queimando a madeira e a roupa. Quando a corda que amarrava o prisioneiro
queimou-se ele caiu no alçapão para dentro da pilha e seu corpo ficou reduzido
a cinzas.
Cenas degradantes como esta, e outras ainda mais cruéis, iriam se
repetir milhares de vezes, desde que a Inquisição ou Santo Ofício foi
instaurado. Entre as vítimas da Intolerância religiosa, não estariam apenas os
conversos, os heréticos, os cristãos-novos e os feiticeiros anônimos, mas
figuras do porte de um Galileu, de um John Huss, de um Giordano Bruno ou de uma
Joana d’Arc. ®Sérgio.
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Nota:Fiz adaptações linguísticas no texto de Fidel Fita, para melhor situá-lo no vernáculo de nossos dias.
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Nota:Fiz adaptações linguísticas no texto de Fidel Fita, para melhor situá-lo no vernáculo de nossos dias.
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